Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Sara, ainda não tinha acordado, mas o médico tranqüilizou Dulce. Ela não tinha sofrido nada sério e deixaria o hospital no dia seguinte após serem realizados os últimos exames. Ela ficaria no máximo 15 dias com o gesso, já que não partira nada, mas como era criança, precisaram imobilizar para garantir o sucesso do tratamento. Tudo não tinha passado de um valente susto.

Assim que o médico deixou o quarto, Anahi e Maite entraram. Dulce estava sentada na cama da filha, beijando os seus cabelos enquanto acariciava a sua face.

As duas se aproximaram e Anahi sentiu seu coração quente...aquela velha sensação que só experimentara com Dulce e Sara... pelo menos naquela intensidade. Mas precisava ser forte, com a sua menina, seria a mesma de sempre, mas precisava se policiar para não se atirar nos braços da patroa. Difícil? Sim, muito, mas alguma coisa era fácil na sua vida?

Sorrindo e com o semblante muito mais calmo, Dulce socializara as palavras do médico. Ela estava abatida e Anahi só queria tirar aquele peso todo de cima dos seus ombros.

Maite a abraçou com carinho, sabia o quanto aquela criança era importante para a sua amiga.

Dulce precisava agradecer Anahi, o que ela fazia pela sua filha era indescritível...

Sentada na cama, ergueu uma das mãos em direção à babá que entendeu logo do que se tratava. Ela não pensou, apenas seguiu o seu coração. Caminhou em direção à cama e Dulce se levantou. Fundiram-se num abraço que ambas precisavam para aliviar aquela tensão, para dar algum sentido a tantas coisas desconexas que teimavam em dar o mote às suas vidas. O coração de uma, era o reflexo do batimento do outro...o abraço era terno, cabia agradecimento, saudade, pedido de perdão...mas os abraços nem sempre falam uma linguagem fácil de entender, e em se tratando daquelas duas, as palavras ditas eram muito importantes.

--Obrigada...obrigada, muito obrigada Anahi. -- Disse Dulce ainda abraçada a ela e sem a menor vontade de deixar aqueles braços que a envolviam com um carinho tocante.

Anahi não disse nada, apenas a apertou mais contra o seu corpo, ao mesmo tempo em que discretamente cheirava o pescoço dela...aquele cheiro de Dulce era um vício...

Maite olhava a cena e na sua cabeça algumas coisas começavam a ficar claras...elas se gostavam, aquilo era notório, aliás saltava à vista de qualquer um que prestasse um pouco mais de atenção.

A cena era linda, e a aura que as envolvia era a melhor possível...contudo, ela sabia que provavelmente a vida as separaria, as nuances dela...Dulce estava desconfiada do caráter de Anahi, e quando ficava com o pé atrás era um problema, mas Maite poderia jurar que Anahi era apenas humana e cheia de limitações como qualquer um...restava saber se ela teria paciência para entender a sua amiga cabeça dura...Maite conhecia Dulce como ninguém, e sabia que no fundo, ela só precisava ser amada, muito amada e aí sim, daria o salto para a felicidade, se permitindo a tudo de bom que o amor com certeza traria...seria Anahi a pessoa indicada para aquele feito? Não sabia, não poderia prever, mas qualquer um que visse aquelas duas mulheres atadas naquele abraço, saberia que o amor já deixara pelo menos uma semente plantada naqueles corações...

Sara, foi aos pouco abrindo os olhos...

--Mãe...Any, são vocês? -- Ela ainda estava meio sonolenta.

As duas viraram ao mesmo tempo e cada uma sentou-se de um lado da cama segurando as mãos de Sara.

--Meu amor, estás bem? Tens dores? – Dulce enchia a menina de perguntas...ansiedade.

--Estou bem mãe, não dói nada. Quero ir para a minha casa, cansei dessa cama... -- Ela fez aquele biquinho típico de quando estava chateada com alguma coisa.

Anahi e Dulce se olharam e sorriram. Pensaram a mesma coisa "se está a reclamar é porque já está bem".

--Sarita, vais ter de passar a noite aqui meu amor, ordens médicas...

--Mas mãe, já estou bem...

--Schatzie, se ficares aqui, quietinha, amanhã estarás melhor ainda, e aí, os teus amigos já poderão te visitar e vais ficar boa logo. -- Anahi, falava com ela naquele tom que a convencia de qualquer coisa.

--Ok! Mas quem vai dormir aqui comigo? Sozinha não fico.

--Eu! -- Disseram ao mesmo tempo e Maite soltou uma gargalhada.

Dulce sorriu e olhando para Anahi com afeição disse:

--Any, esta aqui desde cedo, é melhor ir para casa descansar, amanhã volta...

--Eu posso ficar dona Dulce, eu quero ficar...

--Moças, vocês vão ficar nisso até amanha se ninguém fizer nada. -- Disse Maite se fingindo de séria, mas quase rindo na cara delas. -- Sugestão: Dulce vai para casa, toma um banho, troca de roupa e volta para dormir com Sara e enquanto isso a Anahi fica tomando conta desta menininha sapeca, ou vice-versa, vocês é que sabem.

--Pode ir dona Dulce. Eu fico com a Sara até a senhora voltar. -- Disse Anahi não dando chances a Dulce de pensar noutra possibilidade.

--Tudo bem, mas eu volto num minuto Any. É só o tempo de tomar um banho, comer alguma coisa...obrigada mais uma vez. Já volto filha. -- Disse segurando a mão da pequena.

--Mãe, traz o meu ursinho.

--Trago sim filha, já volto.

Ela e Maite deixaram o quarto e Anahi e Sara iniciaram mais uma daquelas suas longas conversas.

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Maite preparou uma sopa rápida que praticamente obrigou Dulce a tomar. Ela queria voltar logo para o hospital.

--A Anahi está lá e a Sara não poderia estar em melhores mãos, portanto sossega e coma, porque senão daqui a pouco a Sara tem alta e tu fica internada. -- Maite parecia uma mãe brava.

--Ok! Eu como. -- Disse Dulce já sentada à mesa.

Depois de começar a degustar aquela sopa, ela percebeu que realmente estava faminta e não é que Maite tinha dotes culinários.

--Hummm, boa essa sopa. É de quê mestre cuca?

--De abóbora com gengibre e mestre cuca é a...

--Maite olha essa boca...obrigada amiga, nossa, obrigada mesmo. Que seria de mim sem essa doida hein?

--Nada! -- Risos. -- Para com isso Dul, tu também já fizeste muito por mim...e amigos são para essas coisas.

--Preciso voltar Mai, mas antes vou tomar um chá que minha mãe trouxe das viagens dela.

--Falaste com ela sobre o acidente da Sara?

--Não, já sabes como ela é, ia voar de Curitiba para cá e não há necessidade.

--Mas tem que contar Dul, deixa a Sara voltar para a casa, aí liga e elas se falam e ela percebe que não foi nada de mais serio.

--Claro Mai, dona Ana é chata mas é tão bom saber que ela existe...

--Hã? Abduziram minha amiga e colocaram um clone no lugar dela...Dulce falando bem da mãe? – Maite dramatizava mais para brincar com amiga, para tirar um pouco do peso que tinha sido aquele dia.

--Maite, parece que sou um monstro...eu adoro a minha mãe, não demonstro tanto porque não sou dada a rompantes de amor e essas coisas, e também sabe como foi a minha adolescência...Ana mais parecia minha irmã...hoje eu consigo vê-la como a minha mãe, antes não...e digo-te, é muito bom ser filha dela.

--Mas diga isso a ela, não a mim, mas a ela. A Ana vai adorar saber que não a vês como uma senhora de meia-idade sem nada na cabeça.

--Meu Deus, ainda bem que és minha amiga...puxa Mai, sou assim tão chata com a minha mãe?

--É, e sabe que é, mas o importante é que já tomou consciência disso. E outra coisa, a Anahi, como foi a conversa com ela?

--Ela vai ficar...

--Graças a Deus!

--Mas não vai mais morar aqui...-- Aquilo ainda não soava bem aos ouvidos de Dulce.

--Mas isso é o de menos Dulce, precisas é que ela continue tomando conta da Sara tão bem como tem feito. Elas se adoram e essa moça é especial, não me lembro de outra babá tão prestativa que tenha passado por aqui.

--E a Sara deixava as mulheres se expressarem? Minha filha odiava todas, entretanto foi essa moça aparecer e ela cair de amores...

--Mérito da Anahi, mas e aquela confusão entre vocês? --Maite estava louca para abordar aquele assunto.

Dulce pensou um pouco antes de falar:

--Nada demais Mai, acho que foi carência da minha parte...embarquei numa aventura meio louca. Confundi o carinho e a atenção que ela tem pela minha filha com outra coisa, sei lá...chegar em casa e achar essa mulher linda todas as noites, e vê-la cuidar tão bem da minha filha, acho que fiquei confusa...

--Ela é muito linda mesmo...às vezes ela anda como uma bailarina...entendo amiga, não deve ser nada fácil resistir a uma mulher linda como a Anahi...-- Ela dava corda para que a outra falasse mais.

--Maite, sinceramente se eu não te conhecesse desde bebê -- Risos -- eu poderia jurar que sentes atração por mulher, era só o que faltava para completar essa dupla dinâmica. -- Mais risos.

--Não Dul, mas a Anahi é linda e qualquer um, gostando ou não de mulher vai dizer a mesma coisa. Ela tem um jeito que mistura doçura, fragilidade, altivez...ao mesmo tempo que seu olhar doce dá vontade de colocá-la no colo, ela é capaz das atitudes mais vibrantes que denotam muita força...a Anahi é sim apaixonante.

Dulce viajou na análise da amiga que acabara de descrever Anahi com perfeição...ia ser uma luta diária e constante mas transformaria aquela paixão em outro sentimento menos carnal.

--Amiga, levas jeito para a coisa. Pense bem, de repente não dás certo com homem algum porque o teu destino está nas mãos de uma linda mulher, ou de várias. -- Gargalhadas e  Maite a olhou com cara de poucos amigos.

A única forma que Dulce encontrou de aliviar a sua alma, foi brincar com a amiga sobre a sua sexualidade. A realidade era que estava baralhada, confusa, mas acreditava que o tempo e a ausência de Anahi colocaria tudo no seu devido lugar.

--Vamos logo que ainda tenho que encarar a serra até São Paulo. -- Disse Maite mudando de assunto já que percebeu a estratégia de Dulce para desviar o foco da conversa.

--Não Mai, dorme aqui em casa. Amanhã voltas para São Paulo. Não me olha com essa cara, estás cansada Maite, e não vais encarar estrada alguma. Deixa-me no hospital e volta para cá, a casa é tua.

--Ok general Dulce Saviñon -- Riram muito e deixaram a casa rumo ao hospital.