Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Algumas horas haviam passado quando Dulce foi acordada com o som inconfundível de um celular, foi aí que se deu conta que adormecera no sofá. Ficou parada tentando recuperar a noção de onde estava. O celular tocava insistentemente, e para interromper aquele som estridente (Sara vivia mudando o tom de toque do celular dela) ela se levantou contra a vontade e atendeu sem ao menos olhar o visor.

Era Liana, totalmente desolada porque não conseguiria descer para Santos, pelo menos não naquela sexta. A única irmã que morava em Campinas estava com problemas e pedira ajuda, não tinha como recusar. Dulce percebeu que ela estava realmente chateada com aquela situação, o tom de voz era de puro desalento.

A cordialidade mandou que ela agisse em conformidade com o desânimo da colega, mas a realidade era que não tinha ficado minimamente triste com aquele imprevisto. Gostava sim da companhia de Liana, ela era muito animada, inteligente, linda e tal, não escondia o desejo que nutria por ela, mas sendo sincera consigo mesma, não estava disposta a mergulhar em nenhum relacionamento, fosse ele puramente sexual ou outra coisa qualquer...sua alma respirava Anahi, sua cabeça ecoava Anahi o tempo todo, não conseguia olhar para outra mulher...pensar em ir para a cama com outra pessoa lhe parecia tão fora da realidade, quase inapropriado...sim, tinha enlouquecido, não tinha mais dúvida alguma, aquela babá de olhar e gestos tímidos e que simplesmente se transformava numa amante nota 10 preenchia todo o seu pensamento.

Seria tão bom se a paixão toda se resumisse a uma vontade doida de transar, sexo puro...mas não ia enganar a si mesma...sexo era muito bom, mas tinha alguma coisa que transcendia à química sexual...uma vontade de estar sempre junto, uma saudade boa, uma alegria ao vê-la sorrir, uma sensação de plenitude ao ver o carinho que tinha com Sara...aquele jeito de menina e as atitudes de mulher, aquilo a enlouquecia cada vez mais...mas quem era Anahi afinal? Tudo isso e mais outras tantas coisas que não sabia, que não fazia a menor idéia...talvez a paixão a tivesse cegado e não visse os defeitos todos que transformariam Anahi numa pessoa como outra qualquer, ou seja passível de esquecimento em pouco tempo...não sabia mais o que pensar...a raiva dava lugar a um sentimento bom, e de repente acontecia algo novo que a deixava sem chão, roda-viva emocional que não se lembrava de já ter vivido.

Sabia que precisava saber mais coisas sobre aquela mulher, aliás, precisava saber tudo, já que não conhecia o passado, não conhecia as expectativas para o futuro...nada. Quando estavam juntas, parecia que interessava só aquele momento, o que estavam a sentir naquele instante, nada mais importava, mas precisava ser diferente, precisava saber quem era Anahi de verdade...talvez não houvesse mais tempo e nem interesse da parte dela, já que parecia entusiasmada com a nova vida, às vezes Dulce tinha a sensação que ela contava as horas para deixar a sua casa e ir para a sua nova vida, seu coração ficava pequeno, mas isso também era especulação...as dúvidas proliferavam, certeza, só uma, gostava cada vez mais da Anahi.

Ela ficou o resto de sexta-feira naquele sofá, sem ânimo para qualquer coisa que implicasse sair da comodidade do seu lar. Muito mais tarde, comeu uma fruta e foi deitar disposta a se desligar um pouco daquela mulher. Rolou na cama madrugada adentro e quando dormiu teve sonhos desconexos.

Mais uma vez foi acordada pelo celular, e dessa vez teve vontade de atirá-lo contra a parede, só não o fez quando viu o número de Maite no visor.

--Maite, eu juro que te mato, são horas de ligar para alguém em pleno sábado?

--Bom dia para ti também minha amiga linda e maravilhosa. São 8 da manhã e é só para avisar que estou descendo. Já estou em Santo André, preciso de ti amiga, e vamos sim nos divertir muito em Santos, Guarujá, onde quiseres.

--Aiiii porque não fico com ódio de ti hein sua sem noção? -- Sorria -- Venha logo, que também preciso de ti.

--Chego em pouco tempo, saia dessa cama e prepare um dia lindo para nós, merecemos amiga. Saia dessa cama já. Beijo. -- E desligou.

Dulce sorriu bem mais animada. Maite era sinônimo de diversão e também de muita reflexão, já que a amiga a conhecia como ninguém e sabia puxar-lhe as orelhas quando necessário.

Passariam um dia de rainhas no Spa do hotel dos amigos.

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Anahi, Angelique, Sara e Christian se divertiam na praia do Mar Casado no Guarujá. A babá fizera questão de levar a pequena para a praia já que ela pedia há muito tempo.

Angelique parecia uma menina da mesma idade de Sara, corriam na areia, pulavam as pequenas ondas daquele mar calmo, Sara subia nas suas costas e pulava na água, riam de tudo, era bonito de se ver aquele entrosamento todo entre a criança e a adulta com alma de criança.

Anahi e Christian ficavam mais à sombra no quiosque, ambos com pensamentos que muitas vezes viajavam para longe dali.

Christian pensava em Manfred que mais uma vez tinha viajado. As saudades eram uma constante, rindo de si próprio, pensava -- "Quem mandou namorar um coreografo de fama mundial?" -- Mas o bom daquilo era que não estava sozinho, Manfred com aquele seu excesso de seriedade e profissionalismo, aos poucos tornava-se mais afetuoso a ponto de ligar dizendo que estava com saudades, antes ligava apenas para contar das coisas de trabalho, das conquistas, das coisas que não corriam muito bem, mas aos poucos, Christian com o seu jeito carinhoso, conseguiu quebrar o gelo do Alemão.

Anahi... olhava para a pequena Sara e pensava na mãe que por mais que a fizesse sofrer, muitas vezes por sua própria culpa, por não saber lidar com suas frustrações, pelos seus medos de sofrer, ainda assim, a queria por perto...queria que estivesse ali também, desfrutando daquele cenário lindo, queria poder olhar para ela, sentia-se muito bem apenas por olhá-la...aquele jeito meio sério que depois desmontava com um sorriso lindo que apertava mais ainda aqueles olhos rasgados...tinha certeza que o envolvimento mais a sério com a dança a faria esquecer a patroa, mas estava tão enganada...queria ter coragem para mergulhar naquele sentimento bom que a preenchia cada vez que olhava para Dulce, queria passar horas, dias, meses com ela em algum lugar onde pudessem conversar sem ressalvas, onde os medos dessem lugar a muita coragem...pensava naquele beijo que começava terno e que aos poucos ia ganhando contornos arrebatadores e sentia água na boca, literalmente, às vezes tinha tanta vontade de sentir aquele prazer todo que experimentara com a patroa que tinha a sensação que lhe doía o baixo-ventre, não uma dor lancinante, mas uma sensação de falta de alguma coisa...um vazio...loucura, muita, mas Dulce a deixava assim...e não entendia nada, os mal entendidos perpetuavam...ela era sim complexa, mas Dulce não tinha paciência, ou não sabia lidar com os sentimentos...mas também não sabia se ela tinha esses mesmos sentimentos que a dominavam...para ela era tudo novo, não só o fato de Dulce ser uma mulher, esse era o menor dos detalhes, novidade mesmo eram as sensações, as descobertas de um prazer que preenchia tudo, que a fazia quase delirar, a descoberta de uma vontade pulsante de dar prazer a outra pessoa, ela queria dar todo o prazer possível a Dulce...a praia estava quente, mas o calor que a invadiu naquele instante, sol nenhum provocava...ainda bem que a estréia se aproximava, o seu foco teria de ser a dança e com certeza esqueceria aquela mulher que por instantes transformara sua vida num sonho...

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Depois de terem passado um dia memorável de autênticas rainhas no hotel, Dulce e Maite estavam rendidas à preguiça no lounge da casa dela, na companhia de um excelente vinho e de uma tábua de frios. As horas passavam sem que dessem conta e a lua já se erguera imperiosa.

--Ah isso agora me lembrou a nossa adolescência, quando roubavas vinhos da adega do teu pai e ficávamos horas conversando bobagem de adolescente olhando a lua...

--E ficando bêbadas -- Disse Dulce sorrindo.

--Muito bêbadas, mas não éramos tão adolescentes assim...uns 17, quase 18...bons tempos Dul.

--Agora me diz como é possível que uma mulher linda, e essa bunda redonda e durinha que me mata de inveja -- Risos -- pode estar em pleno sábado jogada num lounge com outra amiga falando besteira...

--Ah, e detalhe, essa amiga com quem a morena Linda e bunda arrebitada está jogada, é uma ruiva lindíssima, com olhos lindos, uma boca que dá vontade de morder, um corpo que só não é tão maravilhoso quanto o da Morena, porque a ruivinha odeia academia...amiga, estamos mal...ou será que o mundo virou de cabeça para baixo e não nos demos conta? -- Maite fez uma careta que arrancou uma risada gostosa de Dulce.

--Mas é sério Dul, eu fiz minha última tentativa com aquele idiota ontem à noite...por isso que madruguei aqui...não dá mais, ontem tive a clara noção que estou remando contra a maré, e odeio perder tempo...sim, já perdi muito com esse cara, mas chega...nem prazer sexual eu sinto mais...

--O que falta Mai? Não nesse cara idiota que eu considero pura perda de tempo, mas o que falta no geral?

--Falta tudo! Falta admiração de parte a parte, falta tesão, companheirismo, comprometimento, rir das mesmas coisas...falta o querer estar realmente junto, sabe aquela coisa de fazer tudo para se estar junto...

--Como assim? Tu fazes tudo para estar com esse babaca...desculpa amiga, mas é um babaca mesmo.

--Disseste bem eu faço tudo...mas nos últimos tempos o que percebo é que o encanto acaba depressa, se é que existe algum...e fica uma espécie de estar por estar...esse meu ultimo caso por exemplo, a impressão que tenho é que ele fica comigo por não ter mais nada para fazer...não quero isso...

--Discordo Mai, gata você é linda, inteligente, maravilhosa...

--Obrigada Dul, mas não me sinto assim com esses meus casos...

--Mas Maite convenhamos, é cada playboy...

--Esse último tem 40 anos...

--E daí? Pior ainda...homem querendo ser garoto sem compromisso, ninguém merece! Mulher é difícil, mas homem...só vejo minhas amigas reclamando.

--Acho que é o ser humano em geral...tudo é muito efêmero, descartável...

--Relaxa Mai, quando menos esperar vai aparecer alguém interessante, quem sabe um homem mais jovem?

--Ah não, pirralhada comigo não dá. Para mim, gente com menos de 30 anos não dá!

--Não restrinja tanto Mai, abra os teus horizontes...-- Mais risos.

--Olha só quem fala, uma pessoa que só namora mulheres entre os 30 e os 40, bem sucedidas, lindas, fúteis, boas de cama, ah e que não pegam no teu pé... -- Muitos risos.

--É amiga, estamos mal...

--Dul, tu não vive nada de verdade com essas doidas do jet set. Acho que a única historia normal que tiveste foi com a Silvie, a Americana...mas também ela não era celebridade...

--Bons tempos, minha melhor história mesmo Mai, tem razão. Ela foi a única que tinha paciência com a Sara, gostava da minha filha, eu também gostava dela, mas infelizmente não deu certo...

--Sim, porque ela foi intransigente. Queria que fosses morar nos EUA , sendo que para ti seria complicado, enquanto aqui ela já estava com a vida mais ou menos organizada.

--Terminou porque o amor acabou...

-Dul, o que esperas de uma mulher?

--Como assim?

--Quais são as características necessárias? O que te atrai?