Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Domingo, inicio da noite, Angelique e Anahi estavam deitadas no chão da sala depois de dançarem bastante. Angelique  tinha os olhos fechados e cantarolava uma canção, Anahi brincou:

--Pelos vistos a noite de ontem foi boa hein mocinha? Azarou muito?

--Não...aquilo estava caído...

--Voltou cedo? Eu dormi como uma pedra, estava cansada.

--Muito cedo...é como disse, estava sem graça...

--Ninguém veio para cima de ti? Duvido Angel, tu és sempre muito assediada menina louca e linda. -- Risos.

--Sim, um casal de loucos, mas a menina não fazia o meu gênero e o cara, Deus me livre, só falava bobagens...-- Sim, e uma Branquela que eu achava que era aguada mas que beija como ninguém, mas isso ela não disse, apenas pensou.

Pensou em perguntar mais coisas sobre Maite a Anahi, mas achou meio fora de propósito, primeiro porque a amiga era discreta e provavelmente não saberia responder nada da vida da outra e depois sabia que não passaria daquele beijo dentro de um carro, depois de uma noitada maravilhosa...ela parecia muito convicta da sua sexualidade não seria um simples beijo de uma menina muito mais nova que a faria cogitar qualquer mudança.

Estava perdida nos seus pensamentos quando Anahi quase gritou arrancando-a dos seus devaneios.

--Angel, gente essa noite rendeu mesmo hein...é a tua mãe ao telefone. Vou tomar banho que já sei que vão passar horas penduradas.

Anahi, sorriu e passou o aparelho à amiga dirigindo-se ao banheiro.

Algum tempo depois, sentada no sofá, olhava enternecida para Angelique enquanto ela ria, brigava, conversava, dizia coisas doces à mãe...uma relação linda entre mãe e filha.

Angelique desligou e veio sentar-se ao seu lado no sofá.

--Minha mãe é muito engraçada, ela já ligou ao Christian que como sempre é aquele cofre bem trancado, não diz nada, e agora ela me liga para saber da vida dele, que está preocupada, que o Cris não fala muito, mas que sente que tem alguma coisa o incomodando e não satisfeita começa a questionar a minha vida, se não vou namorar com uma menina direita, se vou ficar a minha vida toda fazendo descobertas...-- Risos de ambas.

--Ela quer que a louca da filha tome um rumo na vida, só isso...

--O único rumo certo que tenho é a minha dança, quero sempre melhorar...amores vem e vão, se bem que ultimamente ando mal de amor hein. -- Mais risos.

--Olha, eu juro que quando te conheci achei que fosses tipo don Juan de saias -- Risos --, alguma coisa tipo, uma mulher por semana e no entanto não é nada disso...

--Não espalha, adoro essa minha fama de galinha, assim ninguém pega muito no meu pé...não tenho tempo, sou muito focada na minha carreira e viver a coisa assim, meio sem compromisso é o melhor, nem eu me envolvo e nem as outras se envolvem, e a vida segue...

--Mas pode acontecer um amor de repente...nem sempre controlamos tudo...

--Pode, mas enquanto eu puder evitar...é mais fácil viver assim...ninguém se machuca...

--E a Sueca?

--Ah, essa já era. Acreditas que a bióloga que ela arranjou na selva tem 40 anos...porra se eu não tivesse certeza que sou boa no que faço ia achar que ela me trocou porque a outra, mais velha e mais experiente sabe melhor das coisas.

Muitas gargalhadas, tantas que Anahi teve dificuldade em respirar.

--Mas estavas apaixonada por ela?

--Paixonite...linda, solicita...aquele par de olhos azuis...-- E lembrou de outros olhos muito mais lindos e expressivos mas tratou de esquecer na mesma velocidade que a imagem viera à sua mente.

--Eu acho que precisas de uma mulher mais madura...

--Com 40 anos como a bióloga da Liv? -- Incrédula!

--Não necessariamente, mas uma mulher mais vivida, que saiba lidar com esse furacão que és tu minha querida...és muito doce Angel, linda, inteligente, sensível, maravilhosa bailarina...acho que mereces algo mais profundo.

--Ihhh agora parece minha mãe falando, ela disse a mesma coisa...disse que criou a sua princesa para ser feliz e não ficar pulando de galho em galho. -- Risos.

--Mas ela está certa...não que pules de galho em galho, eu já percebi que é mais uma fachada que criaste, mas sei que mereces viver uma coisa mais intensa...mas ainda tens muito tempo, afinal são só 23 anos...--risos.

--Ah, minha mãe se esquece desse detalhe, ela disse que quer me ver casada com 25 anos e com uma mulher que ela terá de aprovar...eu? Casada com 25 anos? Nem nos meus melhores sonhos...ela transfere as frustrações da inércia do meu irmão para mim...eles querem netos, muitos netos, o Cris já viu né, sem chances, ainda mais que essa história com o Manfred não ata nem desata...eu vou ter que assumir os netos todos, eu?

--Não pensas em ter filhos?

--Sim, depois dos 30, quando minha carreira ganhar outro ritmo, for coreografa, tiver minha companhia de dança... ainda falta muito, mas minha mãe...mas eu adoro essa doidinha, aliás sou doida graças a ela...oh baiana louca essa minha mãe.

--Acho linda a vossa relação com a dona Beatriz e com o vosso pai também, mas com ela é intensa, calorosa, viva...

--Minha mãe é assim, muito intensa, eu amo demais minha Bia e o chato do João também. -- Sorriso lindo ao falar dos pais.

--Isso é tão precioso Angel...-- Anahi se emocionou ao lembrar da própria história.

Angelique percebeu que ela ficara emocionada, talvez por se lembrar da própria história que não era tão cheia de amor assim...

--Minha mãe está louca para te conhecer. O Cris fala muito de ti, agora nós estamos a morar juntas, ela disse que só podes ser uma menina muito boa. Ah claro que o delírio dela chegou ao extremo e disse que poderíamos namorar, aliás na cabecinha brilhante dela, nós estávamos juntas e só não assumíamos por excesso de juventude...posso? -- Gargalhadas.

--E ela já se convenceu que somos irmãs de alma?

--Até que enfim...o Cris que explicou tudo, nele ela confia de olhos fechados.

Anahi ficou um pouco olhando o vazio, apesar de o momento ser alegre, ela não conseguia parar de pensar na própria história...no quão diferente tinha sido a sua relação com a mãe...suspirou alto, com o peito carregado de emoções mal trabalhadas...

--Any...eu sei que és discreta e não falas muito da tua vida, mas sei também que essas lembranças te atormentam...nós somos amigas, podes desabafar...pareço louca e sem nada na cabeça, mas sei que sabes que não é verdade...confia me mim moça, partilhar lembranças menos boas às vezes dá outra dimensão a tudo.

Angelique era surpreendente, claro que Anahi sabia que ela se fingia de doida, desligada, para levar a vida de uma forma mais tranqüila, mas ela era tão sensível, e adulta também...suspirou mais uma vez e colocou a cabeça nas pernas da amiga que afagou os seus lindos cachos. Queria sim falar um pouco da sua história...não toda, ainda não estava preparada, mas parte dela sim...Angelique estava certa, falar poderia minimizar um pouco as dores...

--Eu já te disse que fui adotada...

--Sim...ainda muito nova aqui no Brasil por um casal de Alemães, os teus pais...

--Isso...eu tinha uns 9 anos se não me falha a memória. Antes disso vivia de lar em lar...tenho vagas lembranças de quando tinha uns 4 anos e que caminhava com outra pessoa por uma estrada enorme...mas não vejo o rosto e nem sei de quem se tratava...também vem flashes de uma mulher me batendo...fome, frio, sujeira...mas tudo em flashes, não consigo me lembrar com precisão de nada...a única lembrança mais clara que tenho é do meu ultimo lar antes de ser adotada pelos meus pais...lá não era um paraíso, mas era bem melhor que minhas outras lembranças e vivia angustiada porque sempre me diziam que as pessoas não adotavam crianças maiores e eu já tinha 9 anos...--As lágrimas começaram a passear pela sua face e Angelique percebeu pelas pernas molhadas.

--Amiga, só fala se quiser e tiver necessidade ok...

--Eu quero falar...preciso...lembro-me do dia em que Rudi e Ania chegaram no orfanato, eu brincava com minhas colegas de esconde esconde...ele olhou para mim e seus olhos brilharam...mais tarde ele me disse que sempre sonhara com uma menina cachos soltos e olhos doces como eu...eles me visitaram umas 3 vezes, até que um dia eu fui embora...fiquei com saudades de algumas amiguinhas e da minha árvore, tinha uma árvore gigante que era meu esconderijo quando estava triste...quase sempre.

Respirou fundo e continuou:

--Eu fiquei deslumbrada com minha vida na Alemanha, tudo era limpo, lindo...diferente. Aprendi a língua mais depressa do que o esperado e vivia feliz na minha inocência de criança. Meu pai me adorava, fazíamos tudo juntos, ele me ensinou a ver estrelas, me ensinou tudo sobre vinhos e uvas...ele trabalhava numa vinícola...ele lia histórias para mim, queria me levar para todos os castelos do mundo...eu queria ser bailarina, desde os tempos dos orfanatos já vivia rodopiando...ele disse que um dia eu brilharia nos palcos do mundo e que ele me aplaudiria de pé. -- Muita emoção e mais lágrimas.

Angelique a apertou e beijou seus cabelos.

--Eles não eram ricos, tinham uma vida normal, e meu pai na ânsia de melhorar de vida, acabou perdendo as poupanças todas num investimento insensato...ele era sonhador...

-- E a tua mãe?

--Ela nunca demonstrou o mesmo entusiasmo do meu pai...acho que disfarçou melhor na altura da adoção, mas nos primeiros tempos na Alemanha já dava para perceber que o sonho de ter uma filha era apenas do marido...mas eu era criança e carente, demorei a perceber.

--Ela te maltratava?

--Ela às vezes nem olhava na minha cara...e eu só queria atenção. Meu pai passava algum tempo fora por causa do trabalho e nessas ocasiões eu vivia um inferno...ela era possessiva, queria meu pai só para ela, gritava na minha cara que nunca quis ter uma filha como eu, que queria viver apenas ela e o marido e que se um dia tivesse uma filha, não seria de forma alguma como eu...

--Meu Deus...e ela fazia isso na frente do marido?

--No inicio não...ela não fingia que me adorava, mas mal falava comigo, toda a atenção era para ele, era como se eu fosse um estorvo...eu fui crescendo e minha sintonia com meu pai aumentando...e a loucura dela também. Nos meus dezesseis anos, meu pai foi diagnosticado com uma doença degenerativa...ele foi perdendo a vida aos poucos, o brilho foi se apagando dia após dia...eu fiquei ao lado dele o tempo todo...ele sofrendo e a única preocupação era com minha escola de ballet, quem ia pagar quando ele morresse...logo depois de completar 17 anos, ele faleceu. Minha mãe entrou em surto e por várias vezes tentou o suicídio.

Respirou mais uma vez e continuou:

--A vida que já não era muito fácil, ficou pior ainda. Ela me dizia tantas barbaridades...que eu tinha roubado o amor dela, que antes de mim tudo era dela, mas que depois toda atenção era para mim...depois desses surtos ela ficava calma e chegava a me olhar com carinho...não entendia nada. Minha avó que raramente nos visitava, aliás eu e meu pai é que íamos de vez em quando, desapareceu...ela não gostava da Ania...sugeri à minha mãe que fossemos morar em Munique, lá era mais fácil ela arranjar um trabalho e eu poderia trabalhar e continuar meus estudos. Ela relutou durante um tempo, mas depois aceitou...sempre surpreendente.

--E vocês se deram bem?

--Não necessariamente, ela tinha problemas psicológicos...mais tarde descobri que ela tinha alguns distúrbios...o humor oscilava, tivemos que mudar de casa umas 3 vezes porque os vizinhos não agüentavam...tive que parar minha escola para cuidar dela...a morte do meu pai foi fatal. Ela gritava dizendo que ser bailarina famosa não era para mim, que era delírio meu e do meu pai, que jamais pisaria um palco e depois trabalhava muito para me ajudar a pagar as aulas...uma loucura...gritava pelo nome do meu pai, pedia que ele voltasse...Ela desistiu de viver no dia em que ele foi cremado...

--E ela morreu de doença natural ou foi suicídio?

--Ela desistiu de viver, não deixa de ser uma forma de suicídio...mas não se matou se é isso que quer saber...foi piorando, desenvolveu outras doenças e morreu...mas antes me pediu perdão, ela já não atinava bem, mas me pediu desculpas e disse que o problema era que amava demais o meu pai...

--Que barra amiga... Any, tu tens uma história forte e de superação...como entendo as tuas atitudes...

--E tem muito mais Angel, essa é só uma parte...mas outro dia falamos mais sobre a minha vida, agora estou esgotada, mas muito obrigada por me ouvir. -- Disse entre soluços.

--Eu te adoro mocinha de cachos lindos. -- Disse Angelique enchendo-a de beijos.

--Eu sei Angel, e acho que Deus também gosta de mim...sempre nos momentos difíceis e de descrença aparece alguém com luz...meu pai, a Beth, o Cris, a Sara, você, a Júlia...sou abençoada.

--Sim, muito! E vais brilhar muito num palco qualquer desse mundo e teu pai lá onde estiver, vai se orgulhar muito da filha.

Angelique deu muito carinho à amiga, era apenas disso que ela precisava...

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Dulce e Sara voltavam para casa depois do final de semana inteiro no Guarujá e a menina não parava de contar as novidades.

--Hummmm já vi que a senhorita se divertiu e tanto hein?

--Muito mãe, fomos na praia várias vezes, comi coisas deliciosas, brinquei até ficar cansada...a Júlia é um amor...briguei com a Giovana...

--Como?