Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

No trabalho o dia estava ligeiramente mais calmo, mas só pela manha, já que de tarde teriam muitas reuniões que com certeza durariam horas.

-- E aí Dul, tudo certo para o aniversario da Sara?

--Mais ou menos, já sei tudo o que ela quer, já sei onde comprar, quanto gastar, mas preciso me sentar com a Anahi e acertar tudo nos mínimos detalhes, afinal é ela que cuidará de tudo, ela e a minha mãe que deve estar a chegar um dia desses.

--E vocês, como estão? Tu e a Anahi?

--Quase não a vejo mais, é sempre numa correria...aqui é essa loucura e quando chego em casa parece que tudo o que ela quer é ir embora. Eu gosto dela, sinto falta, mas parece que só eu sinto...resolvi deixar para lá...

--Ai Dulce eu não entendo, esse tal de amor. É isso? Pessoas medrosas? Sem coragem para tomarem atitudes...

--Não posso querer sozinha Mai...dói muito Maite mas vou esquecer a Anahi...vai custar mas vou conseguir.

--E o Google, não pediu ajuda?

--Acredite que não tive coragem...sei lá, medo do que posso encontrar, deixa para lá...já sobrevivi a coisas piores. Mas e a senhora com esse sorriso de canto de olho, voltou com o insensato ou é outro homem problema?

--Nada...

--E esse sorrisinho, essa aura de felicidade...jura que não tem homem novo na parada.

--Absolutamente! -- Pensou na Angelique e sorriu com mais vontade ainda...

--Vamos trabalhar que hoje é sexta-feira e vou viajar na terça e quero deixar tudo organizado por aqui.

--Tu e a Liana, não é? Ela me disse e depois seremos nós duas.

--Sim. -- Respondeu sem muito ânimo.

-- Ela parou o ataque velado? -- Risos.

--Mais ou menos...não dei muito seguimento...

--Sei...a Anahi...mas convenhamos que a babá é quase imbatível, e esse quase é por conta da indefinição, do desconhecido...um dia cansas.

--Vamos trabalhar  Maite que hoje estás muito tagarela.

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Sábado! Passava do meio-dia quando Dulce abriu os olhos e encontrou o PC em cima dela. Dormira com ele, tinha sido vencida pelo sono depois de horas navegando...olhou pensativa para a varanda do seu quarto.

Desceu para tomar café e sentiu saudades da sua filha, ela era a alegria daquela casa. Tinha ido passar o final de semana com a Cecília, mas antes pedira à mãe que tratasse de tudo para a festa do seu aniversário. A pequena estava muito entusiasmada com a data que se aproximava.

Depois de um banho, decidiu ir a casa de Anahi para que pudessem definir tudo para a festa de Sara. Telefonou algumas vezes para o celular, mas ninguém atendeu, resolveu arriscar, não tinha outra data para resolver aquele assunto e era importante.

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Anahi passara a manhã toda ensaiando. Nas primeiras horas Angelique a acompanhara mas depois saíra alegando precisar resolver assuntos pessoais. Anahi não parou mais, adorava dançar, era uma espécie de gás para viver melhor.

Sentia que seu corpo estava muito melhor, respondia a todas as exigências, ela estava melhor preparada e muito mais confiante.

Mudou a música, colocou uma playlist que ia de Nouvelle Vague a Florence and the Machine, passando por Ilya...para relaxar nada melhor.

Fazia seus exercícios de relaxamento quando ouviu a campainha. Angelique claro, ela sempre esquecia as chaves...

Foi abrir como estava, de calcinha boxer, camiseta que deixava um dos ombros nus, com os cabelos mal presos e completamente suada.

Abriu a porta pronta para brigar com a amiga quando deu de cara com Dulce.

Ficou muda e estática e seu coração batia alucinadamente.

Dulce a olhou de cima a baixo...não disfarçou um sorriso de aprovação...Anahi era linda, mas com aquelas roupas e suada daquele jeito estava sexy...uma tentação.

--Desculpa, interrompi alguma coisa? Eu liguei várias vezes, mas não atendeu...

--Não, tudo bem...eu estava a fazer ginástica com a música alta e não ouvi...entra Dona Dulce e não repara na bagunça. -- Anahi tremia de ansiedade.

Ela entrou e gostou do ambiente, ainda que tivesse olhado de relance.

--Vim para combinarmos os detalhes da festa da Sara, ela me disse que já sabes de tudo, mas como quem paga sou eu, vim para vermos custos essas coisas. -- Riu e foi acompanhada por Anahi.

--Tudo bem. Senta um pouco, ouve música que eu vou tomar um banho de um minuto e já volto mais apresentável, suada desse jeito não dá. -- Sorriu e saiu correndo para o interior do apartamento deixando Dulce boba enquanto pensava que Maite tinha razão...as pernas de Anahi eram perfeitas.

Rezava para se controlar, mas aquela mulher a deixava noutra esfera...e pensar que acreditava piamente estar a esquecê-la...aquela sensação de que nada mais importava a não ser o fato de estarem juntas voltava com toda a força.

Anahi voltou bem á vontade, de short e blusa de alça, com os cabelos levemente molhados e caindo em cascata...cheirosa, aquele cheiro bom que ela tinha...aquele sorriso, a forma de gesticular...linda.

Conversaram com a afinidade de sempre, a cumplicidade natural...riram e sorriram. A atmosfera era perfeita...elas se encaixavam perfeitamente.

--Anahi, pelo amor de Deus não vá atrás dos delírios da minha filha porque senão vou à falência.

Anahi riu dos exageros de Dulce...riu com gosto.

--Não vai, eu tenho noção...

--Mas a Sara não e o poder de persuasão daquela minha filha é respeitável.

--Não se preocupe, vai dar tudo certo e dentro do orçamento.

--Minha mãe é que vai oferecer o lanche e ela é como a neta, sem noção.

Mais risos.

--Aqui está o cheque, fiz os cálculos todos. Há dias que não faço outra coisa. Pode contratar o pessoal para montar a selva, a decoração, a roupa da Sara, as musicas, o dinheiro dá e aumentei um pouco mais para algum extra. Minha mãe chega no inicio da semana e ela trata do buffet, ajudas porque já sabes como é a dona Ana...vou viajar mas estarei aqui para o aniversário, claro.

Anahi a olhava e pensava como não gostar de alguém como Dulce...ela era encantadora, além de linda, era uma mulher de fibra, educava a filha sozinha e com esmero, era excelente profissional, uma companhia muito agradável...excelente amante, adivinhava tudo o que ela queria, a tratava com respeito...estava com saudades dos beijos dela, do abraço dela, dela inteira...há muito que vivia de saudades...ainda bem que tinha a dança para ocupar a mente, mas a presença dela deitava tudo por terra e a paixão, o tesão, o amor, sim o amor, vinha por cima numa velocidade que entorpecia...

--Tudo bem? -- Perguntou Dulce a uma Anahi nas nuvens.

--Sim...estou com fome, quer alguma coisa?

--Não obrigada. -- Sorriu feliz, lá estava a Anahi que a encantava...

--Não tenho nada interessante para oferecer, mas vou buscar umas frutas...estou faminta.

Ela foi para a cozinha e Dulce sentiu seus pés fora do chão...queria ficar ali o dia todo, o resto do tempo...aquela música, aquela mulher, aquele sentimento todo...era ali que queria ficar.

Anahi, voltou com um tacho cheio de uvas, pedaços de pêssego e manga.

Conversavam sentadas no sofá da sala quando Dulce foi tirar uma mexa de cabelo de Anahi que teimava em querer entrar na sua boca enquanto ela se deliciava com um pedaço de pêssego.

Aquilo foi o estopim para a explosão do desejo que queimava aqueles corpos.

Dulce a olhou nos olhos e viu nada mais do que um desejo imenso espelhado naqueles olhos. Os lábios de ambas tremeram ansiando por um beijo, aquele beijo que só aquelas bocas sedentas eram capazes de proporcionar...Anahi se aproximou um pouco mais, pegou uma uva e colocou na boca de Dulce que saboreou de olhos fechados. Quando os abriu, tinha os lábios porque ansiava a escassos centímetros dos seus.

Beijaram-se! O mundo parou, não se ouvia nada a não ser corações galopantes...bebiam-se, queriam-se...morriam de saudades...

--Tive tantas saudades disso...-- Disse Dulce entre suspiros.

--Não mais do que eu. -- Disse Anahi segurando a face dela e beijando cada pequeno detalhe.

O sofá não cabia a fúria que as consumia, elas queriam extravasar o desejo há muito reprimido.

--Eu quero fazer amor contigo Any...quero muito...tem uma cama por ai? – Dulce estava descontrolada de desejo.

Anahi sorriu também ardendo de desejo e a levou para o quarto entre beijos e abraços repletos de carinho.

A cama foi testemunha de horas de amor, elas não se cansavam, queriam sempre mais...a sintonia que claramente existia, ganhava contornos de perfeição, elas eram perfeitas juntas.

Gritaram, sussurraram, gemeram, explodiram em gozo inúmeras vezes e choraram juntas...Dulce pôde finalmente entender a razão do choro de Anahi...ela também chorara depois de um orgasmo que a deixou desnorteada e  Anahi chorou junto...tremeram juntas, e se acalmaram juntas para começar tudo de novo...a paixão, o amor, atingiram picos onde não era possível mais retorno...

Muitas horas depois, cansadas, satisfeitas e abraçadas sentiam o respirar uma da outra e sabiam-se apaixonadas...enamoradas, atingidas por um magnífico sentimento que só aumentava.

Dulce sorriu abraçada às costas de Anahi e a apertou mais ainda.

--O que foi? -- Perguntou Anahi com meiguice enquanto se aconchegava um pouco mais naqueles braços.

--Não sei porque brigamos tanto...ai que tortura meu Deus...—Dulce a apertava tanto, como se tivesse medo que ela pudesse ir embora.

--Porque somos duas bobas de personalidade forte e cheias de imperfeições...

-Any...ah Any, não é difícil te amar menina...nada difícil. -- Ela falara com o coração e se fosse coerente saberia que já amava a babá da sua filha como jamais amara outra mulher.

Anahi, virou-se ficando frente a frente a Dulce. Seus olhos brilhavam e diziam tanta coisa, ... a esperança estava estampada ali, a certeza de que tudo estava bem. Beijou Dulce com doçura, se entregando de corpo e alma.

Dulce sentiu confiança, vontade de compartilhar tudo e foi movida por essa vontade que disse algo que transformaria amor em dor, esperança em descrença e a doce Anahi numa pessoa carregada de sofrimento...

--Eu te achei linda com vestidos de gala, produzida...já és maravilhosa assim, simples, com aquelas roupas e com aquele ar de mulher fatal...wow...mas eu prefiro assim, essa é a minha Any...-- Beijou-a e sentiu que ela tremia, mas era um tremor diferente.

--Como assim, do que estás a falar? -- Anahi já estava apreensiva, alguma coisa não estava bem e seu coração batia com medo...muito medo.

--Eu vi algumas fotos tuas em jantares, em festas, sempre muito elegante e acompanhada...

--Para com isso! -- Anahi gritava e já estava sentada na cama tremendo sem parar.

--Calma Any, o que foi que eu fiz? -- Dulce também já estava sentada e tentava abraçar Anahi que a repelia.

Ela gritava, completamente descontrolada e olhava o vazio.

--Anahi, pelo amor de Deus o que houve...estás assim porque falei do teu casamento, do Johan Wetter?

--Sai daqui...fora daqui...me deixa em paz, pelo amor de Deus me deixa em paz. -- Gritava e soluçava, se debatia e chorava com raiva...

--Anahi...por favor...-- Dulce estava assustada, jamais vira nada parecido, tentava abraçá-la e era repelida com força.

--Sai daqui...sai sai saiiiiiiiiiii -- Anahi batia com a cabeça na parede e chorava.

Dulce entrou em desespero mas acatou o pedido dela, sabia que se ficasse ela se machucaria. Pegou suas roupas correndo, se vestiu e foi embora completamente destruída.

Sozinha, Anahi chorou horas até secar tudo...tudo veio como enxurrada derrubando suas defesas...todo o sofrimento vivido, todas as lutas para ultrapassar, todas as esperanças transformadas em cinzas...o seu sonho do castelo encantado transformado em escombros...caiu na cama sem forças, abraçou-se e fechou os olhos...queria esquecer tudo...tudo.