Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Dulce mal conseguia dar partida ao carro, suas mãos tremiam, ela não conseguia enxergar nada. Parou por alguns minutos, tentando recuperar a calma e só então deixou a frente do apartamento de Anahi.

Vagou pela cidade chorando de raiva, de dor, de descrença...que loucura era aquela? Que mulher doida era aquela por quem se sentia tão apaixonada? Como alguém podia se transformar em tão poucos segundos? O que fizera de errado? Ela escondia alguma coisa terrível? Seria assassina do marido? Sim, pela sua cabeça já passavam as piores coisas possíveis...aquela imagem de Anahi transtornada, se debatendo...era muita loucura, não queria mais passar por nada assim...ela se declarara, não dissera com todas as letras mas ficara claro que a queria de uma forma completa e acreditava que Anahi também queria a mesma coisa, entretanto aquele surto deitara tudo por terra...ela não podia cogitar alguma possibilidade de relacionamento com uma pessoa descontrolada e pior, não sabia nada daquela mulher...e pela reação concluía que a doçura, a meiguice, o ar de gente de bem, não passava de fachada..."que loucura meu Deus...e minha filha convive com essa desequilibrada"...Maite, claro a amiga era a única pessoa no mundo que podia ajudá-la a entender o que não tinha explicação, ela sempre tinha as palavras certas e mesmo que não as tivesse, a sua presença já ajudava e muito.

Ligou para Maite umas 4 vezes e ela não atendeu. Teve vontade de gritar pelo nome da amiga em altos berros, mas aí a doida seria ela e não podia perder o controle...não parava de pensar na cena de Anahi batendo a cabeça na parede...jamais vira nada parecido e não queria ver nunca mais.

Com o coração despedaçado e a cabeça explodindo resolveu voltar para a casa, muitas horas depois de ter tido uma das maiores desilusões da sua vida.

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Anahi abriu os olhos e sentiu a cabeça latejando. Continuava em posição fetal e abraçada a si mesma. O corpo doía, a cabeça parecia que ia explodir, mas a alma, essa estava em mil pedaços. Não tinha mais forças para chorar e nem lágrimas...um vazio tomava conta de tudo.

Teve consciência da sua fraqueza ao levantar-se e cambalear. A tontura fez com que sentasse de novo na cama. Respirou fundo e levantou-se. Eram seis da manhã. Procurou por Angelique, mas ela não estava...sentiu muita solidão, a certeza de estar sozinha no mundo, e ela conhecia bem aquela sensação. Deixou que a água caísse sobre a sua cabeça e chorando desejou que tudo não passasse de um sonho ruim, como tantos outros que já tivera...mas não era e ela precisava de ajuda. Não soube como mas conseguiu entrar num ônibus e partir para São Paulo...precisava desesperadamente de um abraço, de carinho, de palavras que a colocassem novamente num rumo certo...Beth, claro.

Beth entrou em pânico quando recebeu a ligação de Anahi, ainda nem eram 8 horas da manhã e ela parecia desesperada. Estava na rodoviária do Jabaquara e implorava que a amiga fosse buscá-la já que não tinha forças para fazer mais nada.

Beth conhecia aquele tom de voz, conhecia aquele desespero e por isso voou até a amiga que estava em pedaços, nem de longe lembrava a Anahi que vira há pouco tempo atrás...aquela Anahi lembrava uma outra, a que chegara em São Paulo, depois de muita tormenta na Alemanha. Ela a abraçou e sentiu toda a fragilidade pulsante daquela mulher guerreira, mas que naquele momento era pura fraqueza.

Beth a levou dali sem que ela dissesse uma única palavra, parecia quase catatônica e a preocupação só aumentava.

Um tempo depois, mais calmas e em casa:

--Queres falar Any? Sei que não estás bem, mas falar às vezes ajuda...-- Disse Beth com a amiga abraçada às suas pernas.

Anahi suspirou, parecia carregar um peso enorme...algum tempo depois respondeu:

--Quero sim Beth, e preciso.

Fez um relato de tudo o que tinha acontecido entre ela e Dulce. Não foi um relato fluído, ela parava, chorava, olhava o vazio, continuava, às vezes parecia confusa, mas conseguiu concluir o raciocínio.

Beth estava pasma, sabia que a amiga nutria uma admiração pela patroa, ela até já tinha dito que tinham se beijado, mas jamais imaginaria que as coisas tivessem chegado àquele ponto.

--Eu sei Beth que parece tudo meio doido, insensato talvez...eu não te contei o que realmente sinto pela Dulce...

--Anahi, eu sempre achei que fosse uma admiração normal, e que ela sendo gay assumida, talvez tivesse uma atração por ti, mas jamais pensei que chegasse a esse ponto...por ela...ela namora pessoas tão diferentes de ti meu amor...por ti também...eu jamais pensei que com os medos todos que tinhas conseguirias gostar de novo de alguém...e eu fico tão feliz  Any...nem tudo está perdido, o teu coração respondeu Any...

--Nem eu acreditava Beth...apesar do medo todo, da descrença, meu coração bate por ela, sinto esperança, vontade de estar junto...ela é tão diferente de mim...é forte, sabe de tudo...

--Any, não conheço ninguém mais forte do que tu, ninguém...

--Será que sou tão forte assim Beth? Eu me sinto tão sem forças...

--Normal, mas vais vencer mais esse desafio e sabes o que é melhor, vais ficar cada vez mais forte, pronta para enfrentar qualquer situação na vida.

Anahi suspirou se sentindo muito mais calma, Beth tinha esse dom...

--Mas e agora, mais calma, queres me contar o que aconteceu que te deixou assim? Já sei que estás apaixonada pela Dulce e que aparentemente ela também nutre um sentimento bom por ti, mas o que aconteceu?

--Ela sabe do Johan...-- Olhos marejados de lágrimas.

Beth se agitou!

--Contaste? -- Achava pouco provável, Anahi não falava daquele assunto...

--Não...sabe que não consigo falar disso com outra pessoa além de ti...eu não sei Beth...estávamos na cama, depois de horas em que me senti a pessoa mais feliz do mundo, e ela começou a falar que viu minhas fotos em festas glamorosas...falou do Johan...eu me desesperei, a dor veio como uma onda gigante...eu não a via mais na minha frente, via sofrimento...me vi em desespero, sem saber o que fazer... -- Chorava.

--Calma Any. -- Beth a abraçava forte, sabia que era daquilo que precisava. -- Ela deve ter visto na internet...não sei...de repente ficou curiosa e sei que és muito reservada...deve ter sido isso...mas não tem nada demais na internet, só algumas fotos de festas, jantares, essas coisas bobas...

--Agora, mais calma, eu sei disso, mas na hora eu só via meu sofrimento, as dores daquele tempo e na minha cabeça ela sabia de tudo...senti vergonha...

--Não, vergonha nunca...tu só foste vitima Any...e eu vou carregar essa culpa pelo resto da minha vida, afinal fui eu que te coloquei na vida daquele idiota e ainda dei forças para o casamento...que loucura a minha meu Deus...nunca vou cansar de te pedir perdão...

--E eu nunca vou cansar de te agradecer pela tua existência na minha vida...não tiveste culpa de nada Beth, foste tão vítima quanto eu...

--Mas quem sofreu na pele aquilo tudo foste tu Any...ai isso me tira do sério...

--Já passou Beth...durante muito tempo eu acreditei que não superaria aqueles anos, mas a terapia na Alemanha...

--Continuaste com aquela minha indicação em Santos? -- Beth a interrompeu.

--Sim, e muito obrigada. Ela é ótima...vou uma vez por semana e tem me ajudado muito. A princípio, ainda na Alemanha, eu não acreditava que poderia superar, mas nada como um dia após o outro...quando vim para cá, bem melhor, é certo, mas ainda muito fragilizada, eu não acreditava...mas sabe o que a doutora Tânia me disse e que cheguei a duvidar...ela disse que tudo o que preciso é de amor, nenhum remédio vai me curar além do amor.

--Ela está certa Any e tu mereces todo o amor do mundo. -- Abraçou-a com carinho.

--Aí me aparece a Sara, eu amo essa menina, eu não sei explicar, mas amo muito. Ela me dá força, esperança...às vezes, estou mal, as lembranças...ela vem com aquele jeitinho meigo, aqueles olhos que brilham mais que estrelas, diz alguma coisa, ou apenas me abraça e tudo parece tão menos importante...

--Que lindo isso Any...

--Tem o Christian e a Angelique...que amigos maravilhosos...são um presente e tanto...a Angel me trouxe a dança que sempre foi minha grande paixão e tão negligenciada por esse período conturbado da minha vida...tem a Júlia que é um amor, que demonstra o quanto gosta de mim em pequenos atos...tem a Ana que é maravilhosa, não nos vemos muito mas eu sinto que aquela senhora tem afeto por mim, e eu por ela...tem você que é meu anjo...-- Beijou a amiga.

--E a Dulce...

--A Dulce é uma confusão. -- Sorriu timidamente, mas conseguiu sorrir -- Eu acho que gosto dela...eu gosto dela Beth...nunca gostei assim de ninguém...e não me importa se ela é uma mulher, isso não me interessa...meu pai sempre me disse que o amor não escolhe caras, ele explode e nos carrega...é isso, uma coisa explode dentro de mim quando ela aparece...uma coisa boa, tenho vontade de estar junto, de beijar muito, de abraçar, de ouvir tudo o que ela tem para dizer, de ficar em silencio, de fazer parte da vida dela...

--Isso é amor Any...-- Beth estava emocionada.

--Acho que sim...eu me desesperei quando ela falou do Johan, exatamente por isso, ela representa tudo de lindo, colorido, limpo, construção e de repente ouvir aquele nome na boca dela me fez perder a noção da realidade...foi como se o Johan assombrasse minha felicidade...eu gritei mais para exorcizá-lo...mas agora, mais calma, eu sei que ele não pode mais nada contra mim...ainda não estou 100% pronta, ainda tenho medos, pesadelos, alguma insegurança, mas vou vencer Beth.

--Vais sim Any e a minha admiração por ti só aumenta moça...tu não tens medo de recomeçar, isso é maravilhoso.

--Eu não queria misturar a Dulce com essa parte triste da minha vida...

--Any, essa parte triste, infelizmente também faz parte da tua história e quem estiver ao teu lado terá de conhecê-la e te apoiar...

--Eu sei...a psicóloga me disse que não posso negar nada...tenho que falar e que aos poucos as coisas vão ganhando outra dimensão...

--Vejo que o que te une à Dulce é algo forte -- Sua face se iluminou ao ouvir aquilo -- se for recíproco, não deixe acabar, corra atrás da tua felicidade, mereces demais ser feliz Any.

Anahi se sentia estranhamente mais leve e quase em paz. O amor da amiga transformara dor em esperança...sim, ela ia conversar com Dulce, contar a história da sua vida, quem sabe ela não pudesse servir como mais uma ajuda para a sua total recuperação.

Passou o resto do domingo com Beth, sendo acarinhada e ganhando forças para enfrentar mais um desafio.