Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Anahi abriu os olhos e ficou momentaneamente curtindo um pouco a preguiça típica ao acordar. Olhou para o relógio de princesa na parede e viu que já era quase sete horas. Espreguiçou-se e acordou Sara suavemente, que ainda relutou um pouco, mas por muito pouco tempo.

Ao sair da cama percebeu que estava de short jeans e então lembrou que só tinha entrado ali para acudir a pequena e que diante da súplica dela ali permanecera, só não lembrava de estarem cobertas por um lençol, mas não deu importância a esse fato.

Abriu as janelas do quarto da pequena e um sol lindo já brilhava lá fora. Respirou o ar puro da manha e abriu os braços como que a saudar o dia. Correu para o seu quarto, entrou no banheiro e tomou um banho rápido, vestiu calças jeans e blusa de alça branca. Prendeu os caracóis num coque como sempre fazia enquanto trabalhava, passou protetor solar, colônia fresca e antes que Sara saísse do banheiro ela já estava no seu quarto arrumando as coisas dela para o colégio. Algo chamou a sua atenção no corredor que levava aos quartos, um cheiro que ela nunca havia sentido estava presente naquele ambiente, um cheiro de perfume de mulher, um aroma suave e ao mesmo tempo marcante. Aspirou em profundidade aquela fragrância e concluiu que só podia ser coisa da sua cabeça, já que as únicas mulheres da casa eram ela, e Júlia e nenhuma delas usava nada parecido.

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Anahi voltava da escola de Sara de bicicleta desfrutando daquela calmaria das primeiras horas do dia. Deu umas voltas pelo bairro que ela ainda não conhecia bem, era mais fresco que o bairro onde morava, tinha arvores espalhadas por todo o lado, ela gostava daquilo, lembrava-lhe Munique na primavera. Estava distraída e não percebeu um cão que atravessava à sua frente e numa freada brusca caiu da bike. Sentiu um imediato ardor nos cotovelos e soube que tinha se ferido.

--Scheisse mann...-- esbravejou em Alemão, enquanto olhava o tamanho do estrago que causara aos seus cotovelos, doendo-lhe também a mão direita.

--Desculpa moça, o Thor é muito impulsivo, é apenas um filhote de golden e são terríveis nessa fase.

O homem tentava se desculpar, mas a culpa tinha sido exclusivamente dela, que não prestara atenção ao cão, já que a mente viajava a quilômetros dali...

--A culpa não foi do Thor, eu é que estava distraída. -- Disse enquanto aceitava o auxílio do homem de sorriso bonito para se erguer.

--Vamos à farmácia de serviço, esse braço precisa de um curativo.

--Não, claro que não... Foi só um arranhão. -- Anahi detestava hospitais e afins.

--Nem vou discutir, vamos sim. Tem uma logo ali...é só para termos a certeza que está tudo bem. Não vai me dizer que uma mulher do seu tamanho tem medo de médico. -- Ele tentava brincar para convencê-la a ir ao menos a um farmacêutico.

--Medo? Claro que não...apenas acho um exagero mas se insiste não custa nada.

--A propósito, meu nome é  Christian Chaves, e o seu?

--Anahi, Anahi Portilla

Foi constatado que ela não tinha fraturado nada, eram apenas arranhões que foram devidamente desinfetados e ela pode ir embora sem maiores preocupações.

Ao saírem da farmácia, Christian convidou-a para um sorvete na sorveteria de esquina e que segundo ele tinha o melhor sorvete da baixada. Ela pensou em não aceitar já que tinha que voltar ao trabalho, mas pensando bem ainda tinha todo o tempo do mundo para organizar as coisas de Sara, preparar umas tarefas para ela exercitar depois das aulas, fazer uma mágica para que ela pudesse comer as verduras e os legumes sem chiar...ainda tinha tempo.

Thor e a bike dela ficaram presos a um poste do lado de fora da sorveteria enquanto eles sentavam-se naquele ambiente agradável.

--Não posso me demorar muito...tenho de trabalhar. -- Adiantou-se Anahi.

--Tudo bem, eu também tenho que correr daqui a pouco...Anahi, você és estrangeira? É que o teu R é engraçado. --Ele sorriu e a olhou nos olhos.

--Hmmm, não...nasci no Rio de Janeiro...mas vivi muito tempo na Alemanha...expliquei-lhe a origem do meu R engraçado? -- Sorriu de volta, aquele seu sorriso largo e encantador.

--Hmmm Deutschland...interessante, logo vi que tinha algum mistério ai. E o que uma linda mulher como você está a fazer por aqui, férias? -- Ele estava realmente interessado em saber mais sobre ela.

--Obrigada pelo elogio...trabalho aqui...sou babá de uma pequena princesa. Aliás tenho que ir porque o dever me chama e a minha pequena exige exclusividade. -- Dito isso, ela se levantou, agradeceu o sorvete e já subia na bike quando Christian disse:

--Podemos trocar telefones? Quem sabe um dia desses repetimos o sorvete, desta vez com mais calma -- Sim, queria vê-la de novo, gostara daquela moça de sorriso encantador.

--Ihhh acredita que ainda não tenho um celular...do trabalho não dá, então é melhor passar-me o teu que prometo ligar. -- Ela estava sendo sincera, ainda nem sequer tinha comprado um celular, mas agora precisaria urgente de um, já que a patroa chegando ela não usaria o telefone de casa nem mesmo para receber alguma ligação urgente...

Ele não acreditou nela, achava que era uma desculpa, mas mesmo assim deu-lhe um cartão com os seus telefones que ela enfiou no bolso sem ao manos dar uma olhada.

Christian ficou observando aquela moça esguia e particularmente linda afastando-se a pouco e pouco em cima de uma bike. Sorriu para o seu cão e desejou que ela lhe ligasse.

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Dulce tomava um chá no Lounge enquanto lia alguns jornais. Dormira muito bem, mas ainda sentia-se um pouco cansada. A odisséia para chegar a casa tinha sido desgastante. Como era bom estar em casa...nos últimos tempos viajava demais, gostava até, mas o seu corpo já dava sinais de cansaço. Lembrou das palavras da mãe, precisas de férias Ta que ela quase nunca dava muito credito ao que a mãe dizia, mas agora ela estava certa. Precisava de uns dias num lugar relaxante, só ela e a filha...sim não poderia deixar Sara para trás. Estava com saudade da sua pequena, muita mesmo...lembrou da cena da madrugada...a sua filha dormindo completamente tranqüila nos braços de uma mulher que nem parente era...a sua filha que sempre era muito reservada, característica herdada dela mesma e que odiava todas as babás...agora estava lá abraçada a uma moça que só conhecia há no máximo duas semanas...uma parte dela gostara daquilo, afinal queria que a filha ficasse sempre bem e em melhores mãos possíveis, ela trabalhava demais e não podia dar a atenção que uma criança demanda...mas alguma coisa dentro dela ficara incomodada com aquela visão...que capacidade aquela moça tinha para em tão pouco tempo conquistar a confiança da sua filha? Seria aquilo natural, ou forçado? Estaria errada em não permitir mais contato entre ela e a filha? Nunca permitia que elas dormissem juntas...mas apenas porque queria que ela fosse independente, queria criá-la para o mundo, não queria que ela cometesse os mesmos erros...

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Anahi já tinha organizado tudo no quarto de Sara e aguardava que Júlia regressasse do mercado com as compras da semana para inventar mais uma forma milagrosa que fizesse com que a menina não comesse apenas o que gostava, mas também o que fazia bem ao seu corpo. Ela sorriu ao lembrar da primeira vez em que a vira comer, ela dizia que não gostava de cenoura, nem de espinafres, nem de courgettes, nem de Zukine e nem Júlia e muito menos Ana protestavam, limitavam-se a colocar no prato apenas o que ela pedia. Achou que fosse ter mais trabalho em fazer com que ela mudasse os hábitos, mas estava enganada. Fazia pratos bonitos, cortava os legumes de forma engraçada e a menina comia tudo, e alem do mais ela sentava-se junto e comia tudo com gosto e dizia que aqueles alimentos fariam com que ela crescesse bonita e saudável...simples assim. Ainda tinha que fazer algumas mágicas quando no prato havia iguarias como beterraba, mas sabia que chegaria o dia em que Sara comeria tudo sozinha e com muito gosto.

Resolveu entrar um pouco na biblioteca e ler alguma coisa enquanto esperava que Júlia voltasse. Achava engraçado que numa casa em que a única adulta nunca tinha tempo para nada que não fosse trabalho, houvesse um acervo tão rico de livros. Havia-os de todos os gêneros, livros de arte, romances mundiais, ficção, obras dos grandes mestres, enfim, mas parecia-lhe tudo tão sem sentido...a menos que a descrição que tinham feito de Dulce não correspondesse à realidade, ou quem sabe ela já fora diferente. Estava tentando pegar uma antologia Alemã quando escutou alguém dizer:

--Tem uma escada de auxilio para pegar os livros nas prateleiras mais acima.

Anahi, levou um susto tão grande que voltou-se de rompante batendo o cotovelo machucado contra a enorme estante.

--Mann, Schei... - ia esbravejar mais uma vez quando olhou para a pessoa que tinha falado com ela e ficou lívida. Só podia ser a mãe de Sara..."Nossa como ela é pouco fotogênica" -- foi a única coisa que consegui pensar.

--Desculpa, não quis assustá-la. acredito que seja a babá da minha filha, estou certa? -- Dulce a observava com um olhar firme enquanto estendia uma das mãos para cumprimentá-la.

Anahi estava pasma. Já se tinha preparado tanto para aquele encontro com a dona da casa e agora ser surpreendida assim a deixara quase sem ação. Olhou para a mão da mulher à sua frente e instintivamente limpou a sua nas calças antes de cumprimentá-la.

--Sou sim a babá da Sara...Anahi

--Tudo bem Anahi? Vejo que tem um machucado no cotovelo...

--Ah, não foi nada de mais...apenas um descuido meu...Desculpa Dona Dulce, eu não costumo invadir a sua biblioteca, apenas queria ler alguma coisa enquanto...

--Não precisa se desculpar... Não fez nada de errado. E o único lugar que é exclusivo aqui é o meu quarto...o resto é comum a todos que cá vivem. -- Ela a tratava com educação e um certo distanciamento, mostrando que era bem diferente de Ana.

--Vou vestir algo mais adequado e depois gostaria de conversar um pouco contigo sobre as minhas regras e também esclarecer alguma dúvida que possa ter. -- Saiu da biblioteca e só aí Anahi  pode ver que ela estava de pijama, calça e blusa brancos de listra azul...seda pura.

Anahi sentiu que as suas pernas tremiam. Não queria que nada daquilo tivesse acontecido...aquela mulher no mínimo estava a pensar que ela era uma intrometida...e o que ela estava a fazer ali tão cedo? A que horas tinha chegado? Não era suposto voltar apenas de madrugada?

Saiu dali quase correndo e foi para a cozinha encontrar uma feliz Júlia que preparava o almoço cantarolando.

--Que foi Any? Está pálida...

--A Dona Dulce voltou...e me surpreendeu na biblioteca tentando pegar um livro dela...

Júlia sorriu diante do constrangimento da colega.

--Pois, ela voltou mais cedo. Disse-me que chegou na madrugada e que foi um inferno até conseguir chegar em casa, por causa de um vulcão...não entendi direito, mas o importante é que ela está de volta e em segurança. Relaxa Any, Dona Dulce não morde e tenho certeza que ela não se importa se lê os livros dela.

--Tomara...ela quer conversar comigo, mas daqui a pouco tenho de buscar a Sara...será que ela se importa que eu pegue a menina de bicicleta? Tenho feito isso, mas ela não estava e a Ana disse que tudo bem e a Sara, simplesmente adora...sei lá.

--Calma Any, já disse, ela não morde. Converse, escute o que ela tem a dizer, conta que leva e busca a Sara de bicicleta, se ela não gostar ela diz e vocês se entendem...entendo o teu nervosismo querida, mas vai dar tudo certo. Você vai ver, a Dona Dulce é uma pessoa como poucas...