Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Mal entrou em casa, Dulce ouviu a risada característica da mãe vindo da cozinha. Sentiu-se bem, era bom voltar para a casa, era bom ter a dona Ana por perto, e era melhor ainda tê-la como mãe.

Subiu as escadas rumo ao quarto sem que percebessem a sua chegada, precisava urgentemente de um banho, do seu banho.

Após se refrescar, entrou no quarto da filha e tudo estava em ordem, claro, Sara não estava. Suspirou de saudades e desceu as escadas para encontrar as outras mulheres da casa.

--Será que também posso fazer parte dessa farra toda? -- Perguntou sorrindo enquanto observava a mãe e Anahi tomando sorvete.

--Filha, a que horas chegaste? Se fosse um ladrão...--Risos.

--Acabei de chegar mãe, foi só o tempo de tomar um banho rápido. Também quero sorvete. A senhorita não estava resfriada? E esse pote de sorvete? -- Disse sorrindo, caminhando em direção a Anahí que não tirava os olhos dela.

--Já estou bem dona Dulce! -- Sorriu para imediatamente ficar vermelha de vergonha, uma vez que Dulce pegou a colher da sua mão e tomou sorvete da taça dela.

--Espero não pegar o teu resfriado...--Disse olhando nos seus olhos, com mil emoções espelhadas.

Ana percebeu o clima entre as duas, aliás qualquer um perceberia, elas não conseguiam disfarçar. Imediatamente inventou a necessidade de sair para comprar alguma coisa. Elas nem ouviram, apenas disseram adeus quando ela apareceu com a bolsa pronta para deixar a casa.

--Tudo bem? -- Perguntou Dulce a escassos centímetros de Anahi.

--Tudo! Me recuperei completamente da gripe...

--A mãe da Cecília me ligou todos os dias dando as coordenadas da Sara. -- Sorriu -- Veja só, uma pirralha já tirando férias sozinha.

--Eu morro de saudades dela, mas sei que está a divertir-se muito e é isso que importa.

--Eu também tenho tantas saudades da minha menina...assim como tive muitas saudades tuas...-- Colocou as mãos na cintura de Anahí que tremeu.

--Eu também...--Ela não conseguiu concluir a frase, Dulce a beijou com vontade, com saudade, quase desespero...a boca de Anahi era o alento que precisava naquele momento e em muitos outros.

Anahi, correspondeu, na realidade se doou inteira naquele beijo...queria tanto...pensara demais em Dulce, sentira falta dela. Cada vez mais tinha a certeza que, até onde lhe fosse permitido, iria viver o sentimento que a unia àquela família, uma relação terna, fraternal com Sara, e um amor pulsante, arrebatador que a impelia àquela mulher linda de estonteantes olhos verdes.

--Eu já disse que adoro te beijar? -- Perguntou Dulce com voz rouca, enquanto mordia os lábios de Anahi.

--Unrrum...-- Foi tudo o que Anahi conseguiu dizer, uma vez que um desejo louco que ela não sabia de onde vinha passou a comandar as suas ações.

Beijou tanto a boca de Dulce, com tamanha sofreguidão que algumas vezes ela viu-se sem ar. O corpo quente da sua patroa convidava as suas mãos a viagens de puro deleite e ela gemia e se apertava cada vez mais contra o corpo da outra amante, que puxava os seus cabelos, mordiscava em lugares estratégicos arrancando suspiros...elas se queriam tanto...

A timidez característica de Anahi a abandonou completamente, ao ponto de arrancar a blusa de Dulce e se deliciar nos seios que tanto adorava. Sugava, mordia de leve, beijava e Dulce sentia suas pernas fraquejarem...Anahi era perfeita, à sua medida...

Dulce viu-se deitada em cima da mesa da cozinha, enquanto era beijada ora com carinho, ora com tesão em várias partes do seu corpo...aquilo era bem mais do que pedira aos céus...Anahi era a mulher que queria e em todos os sentidos...entregava-se sem reservas, esquecia todos os medos e receios...era sempre assim...Anahi por perto e medos longe, dúvidas mais distantes ainda...era só amor, desejo, vontade crescente de ser dela e tê-la para si.

--Vamos para o meu quarto Any, lá é bem melhor...--Sussurrou no ouvido dela enquanto tentava tirar a sua blusa.

Anahi, despertou do delírio amoroso em que se encontrava. Quando se deu conta que estavam em cima da mesa da cozinha e prestes a fazer amor quase pulou para uma cadeira. O coração estava aos pulos, o corpo todo tremia de desejo, mas precisava de algum controle...mas se Dulce continuasse com aquele olhar doce não teria como não sucumbir...

--Não me olha assim...

--Assim como?

--Ai meu Deus...--E beijou mais uma vez aquela boca vermelha que clamava pelos seus lábios.

A volúpia daqueles corpos se encaixava em sincronia, mas o mais vibrante era o encontro das almas, essas há muito se pertenciam, ainda que os corpos que as abrigava desconhecessem.

Dulce percebeu a inquietude de Anahi e a razão dela, Ana poderia voltar a qualquer momento. Levou-a para a sala de TV onde puderam matar um pouco mais a saudade que era recíproca.

Estavam abraçadas e deitadas no tapete se olhando sem nada dizer. Na cabeça de cada uma passava tanta coisa...Dulce pensava que  Anahi era a mulher que queria ao seu lado enquanto existisse aquela sintonia perfeita que as envolvia, e já pensava nos passos seguintes que daria para consolidar aquela certeza, um deles, sem dúvida seria conversar com a mãe e explicar que a babá não seria mais babá e sim sua companheira, amante, mulher, dona da casa assim como ela, aquela era uma certeza que gritava, a vontade de Anahi ser a sua metade, o seu complemento...talvez fosse amor, dos mais bonitos...sim era amor...Anahi pensava que não queria sair dali, que Dulce e Sara eram a sua família, que queria fazer parte da vida delas para sempre...jamais se sentira tão plena e integrada...Dulce era maravilhosa em todos os aspectos...às vezes se desentendiam, mas sabia que a culpa quase sempre era dela, seus medos, suas inseguranças na linha de frente...talvez Dulce fosse impaciente, talvez egoísta como Angelique dizia, mas ela era a pessoa que queria ao seu lado.

Poucas vezes na vida tivera tanta certeza de alguma coisa como tinha daquilo, na realidade era a primeira vez que tinha uma certeza fruto da sua mente, do seu coração...mas ainda tinha medos, muitos...insegurança, também...mas queria recomeçar a sua história, queria o amor de Dulce, queria que ela lhe amasse também, que se orgulhasse dela. Queria que compartilhassem tantas coisas...Sara, queria ajudá-la na criação daquela princesa linda, queria fazer parte da vida delas, nos bons e nos maus momentos...queria dançar num grande palco, queria ouvir aplausos nem que fosse uma única vez...aquele sonho era para aplacar tanta frustração, tanto descaso da mãe que nunca se cansara de gritar na cara dela que jamais seria uma bailarina, que aquela arte não era para ela, mas era também para, de alguma forma, realizar um sonho do pai...o sonho era dela, mas ele sempre acreditou e à sua maneira, tudo fizera para transformá-lo em realidade...olhou para Dulce e pensou que teria de ficar um pouco afastada, por alguns dias, teria que se concentrar, retiro total...queria que fosse um espetáculo lindo, por ela, mas também por Manfred que confiara nela e por  Angelique que era a melhor parceira do mundo...apertou  Dulce como se fosse a ultima coisa que lhe restava na vida.

--O que foi? -- Ela tinha adorado aquele rompante de carinho, mas preocupou-se por sentir alguma angústia associada.

--Nada...apenas um abraço, eu adoro te abraçar...Dul. -- Sorriu com os olhos e Dulce a amou mais um pouco...Dul era doce na voz dela...tudo era bom com aquela mulher, a sensação que só existia as duas no mundo era estranha e ao mesmo tempo natural...mas ela tinha um brilho diferente nos olhos...preocupação? Com o quê?

--E essa nuvem no seu olhar lindo hein moça? -- Beijou a ponta do seu nariz.

--Tu percebes tudo...preciso falar uma coisa...-- Não sabia porquê mas estava sem coragem.

--Fala Any. -- Dulce sentiu um desconforto se formar na altura do seu estômago, embora não fizesse a menor idéia do que viria a seguir.

--Preciso de umas férias! -- Aquilo soou-lhe estranho, parecia que queria férias dela, e não era nada disso, mas como falar da dança? Que estrearia numa mega sala de espetáculo de São Paulo? Que iria dançar na Alemanha, e que se Manfred e Angelique não estivessem completamente loucos, ela iria dançar na Europa toda?

Dulce se inquietou, sua mente ficou baralhada, seu coração agitado...férias? Aquilo lhe parecera tão fora de hora, mas ela tinha direitos, claro...misturar relação profissional com outros sentimentos estava a perturbar mais ainda aquela história. Claro que a Anahí babá tinha direitos a férias e pedi-las seria justo e natural, mas a Anahí que ela amava e queria por perto sempre...estava confusa, mas preferiu ficar calada, ou diria alguma asneira...não estava preparada para lidar com aquela confusão de sentimentos...

--Serão poucos dias...preciso resolver problemas pessoais...

Pronto, a semente da discórdia estava plantada...Dulce já não ouvia com os ouvidos e sim com a emoção aflorada e quando assim era...

--Vou aproveitar que a Ana está cá e ela poderá tomar conta da Sara enquanto resolvo minhas coisas...

--Pelos vistos já está tudo decidido. -- Ironia em primeiro lugar.

--Não, claro que não...até porque estou a conversar contigo, para que possamos chegar a um consenso...apenas preciso de uma semana fora do trabalho... -- Anahi estava confusa, aquele olhar não era mais o doce e aquela Dulce não era a sua Dul...

--Posso saber para quê essa necessidade de se ausentar? -- A diversidade de sentimentos naquele momento, deixavam-na tonta.

Anahi ia abrira boca para falar quando foi interrompida.

--Desculpa, não tenho nada a ver com a sua vida. -- Disse já sentada no sofá e com um ar impaciente.

--Ei, não fala assim...--Anahí sentou-se ao seu lado e segurou-lhe as mãos entre as suas.

--Vai viajar? -- Dulce sentia a garganta seca.

--Não...quer dizer vou, mas só até São Paulo...

--Hummm, sei...--Ironia total.

--Eu e a Angel...-- Mais uma vez interrompida.

--Ah, serão umas férias com a amiga...--Ciúme no mais alto grau.

--Vamos juntas...--Anahí falava sem entender o que na realidade se passava na cabeça de Dulce.

--Que mais fazem juntas? -- Ela não falava, o ciúme e a insegurança gritavam.

--Não entendi! -- Ela realmente não tinha alcançado o rumo que Dulce dera àquela conversa.

--Jura que não? Deixa-me adivinhar...riem da minha cara?

--Dulce... -- Anahi não acreditava no que estava a ouvir.

--Eu sou uma idiota mesmo. -- Gritou já de pé.

--Para com isso, não estou a entender essa tua reação. – Anahi estava agastada.

--Analisa comigo, eu chego aqui cheia de saudades tuas, com muita coisa na cabeça e tu me pedes para viajar com a tua amiga? -- Ela deu uma entoação diferente à palavra amiga.

--Eu também estava com saudade...muita. -- Anahí era sincera.

--Eu sei a saudade que tinha. – Dulce ironizou e despertou a raiva de Anahí.

--Quer ficar nessa conversa de surdos, fique sozinha. Tenho direito às minhas férias e vou tomá-las. A Angel precisa de mim, assumi um compromisso com ela e vou até ao fim. Sou babá da Sara, ela não está, vai passar uma semana fora, eu não vejo nada demais em tirar uns dias para mim...

--Pode ir para os braços da sua amiga e sejam muito felizes nas férias.

Anahí não se agüentou e riu muito...Dulce estava com ciúmes dela...só podia ser aquilo...ciúme de Angelique? Nada a ver...o riso dela não caiu bem em  Dulce.

--Pode rir...sou otária mesmo...

--Não é nada disso, apenas achei engraçado...é ciúme? -- Perguntou meiga e ainda não acreditando que Dulce pudesse ter ciúme dela e muito menos com Angelique.

--Ciúme? Deixa de ser presunçosa...--Tentou desdenhar mas era claro que estava com ciúme, sempre teve ainda que Anahí não soubesse.

--Não é nada demais Dulce, apenas vamos dançar...

--Vão o quê? -- Ela a interrompeu completamente admirada.

--Vamos dançar em São Paulo...

--Oh, isto está a ficar cada vez melhor, com é, então tenho uma babá bailarina. -- Ironia e sarcasmo num duelo para saber quem ganhava.

--Sinceramente não estou a entender essa reação... -- Anahí estava assustada, por momentos Dulce lhe lembrou da mãe que mudava de comportamento numa velocidade assustadora.

--Que mais vou descobrir hein Anahí? Que outros segredos terríveis escondes?

--Vou embora daqui, nunca ouvi tanta idiotice na minha vida...-- Ela sentia-se derrotada.

--Pode ir! -- Disse com raiva.

--Eu achava que te conhecia minimamente...-- Tristeza e apatia tomavam conta de Anahí.

--O mesmo digo eu...quem és tu? Quem é a droga da Anahí? -- Gritou na cara dela.

Com os olhos ardendo de lágrimas, Anahí foi embora deixando para trás uma Dulce desnorteada.