Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Dulce estava sentada na sala de TV aguardando para conversar com Anahi. A moça lhe parecera um tanto atrapalhada, mas queria saber um pouco mais...para ela, o importante era Sara estar bem e pela cena da madrugada, só podia concluir que elas se davam bem. Estava ao telefone com Mai, quando a figura esguia da babá apareceu à porta da sala e ela lhe fez um sinal para que aguardasse um pouco. Deu as costas e continuou a conversa calmamente.

--Está tudo bem sim Maite, como sempre tinha razão...mas no dia em que for mãe vai  entender todo esse exagero.

Anahi estava um pouco apreensiva, mas resolvera dar crédito às palavras de Júlia e esperar uma conversa amena com a patroa. Ficou parada observando tudo ao redor e parando ocasionalmente na figura enigmática daquela mulher de costas falando ao telefone. A única fotografia dela que vira na casa não fazia justiça ao seu porte. Na foto ela parecera uma pessoa sem graça, comum...agora a impressão que dava era que era uma pessoa cheia de energia, viva e muito bonita. "Sara teve a quem sair" --Pensava enquanto a outra continuava ao telefone. O seu cabelo liso e do mesmo tom de ruivo de Sara era simplesmente lindo, o seu pescoço comprido e delicado compunha um conjunto bastante harmonioso.

--Vamos conversar agora, mas em princípio vai dar tudo certo. -- Disse à pessoa com quem falava enquanto olhava diretamente nos olhos de Anahi.

--Ok Mai, eu sei...relaxa ok. Mais tarde eu vou ao escritório, mas bem mais tarde. Ainda tenho que resolver algumas coisas por aqui e ver a minha filha que está na escola. Ok encontramo-nos às 15 no escritório da Paulista.

--Desculpa, mas eram assuntos de trabalho e não podia adiar. Sente-se se faz favor.

Anahi sentou-se a frente de Dulce e já sentia o seu coração a dar pequenos sobressaltos no peito. Ela já sabia de cara que aquela conversa não seria amena como a que tivera com Ana, que simplesmente não fora fundo em nenhuma questão mais íntima. No dia, ela soube que a senhora tinha percebido que algumas coisas não eram muito fáceis para ela e simplesmente não dera importância. Com Dulce seria diferente. Então Anahi, me fale um pouco de ti. A minha mãe me deu excelentes referências, mas gostaria de saber mais de ti. -- Ela falava com um sorriso quase circunstancial enquanto analisava cada reação de Anahi às suas palavras.

Anahi, fez um breve relato, o mesmo que fizera a Ana e que fora inúmeras vezes ensaiado com Beth. Tentava demonstrar uma calma que estava longe de sentir.

Dulce ouvia tudo com um ar impassível, Anahi não fazia a menor idéia se estava a ser convincente ou não.

-- A minha mãe te explicou que terá direito a um dia e meio de folga em que poderá fazer o que quiser, digo, sair daqui no sábado depois do almoço e só regressar domingo à noite? A hora que regressa não interessa desde que esteja aqui na segunda logo cedo.

--Disse sim senhora e ainda me disse que esporadicamente poderia haver alguma situação diferente, mas que a senhora me avisaria com antecedência e que combinaríamos a melhor forma para todo mundo.

--Sim, às vezes tenho trabalho sábado à tarde, ou algum evento em São Paulo ou mesmo no Rio ao qual não posso faltar e como é óbvio a minha filha não pode ficar sozinha, mas fique tranqüila que essas ocasiões não acontecem sempre e se acontecerem terá remuneração extra. E também tem as viagens como acabou acontecendo agora em que também terá de se dedicar exclusivamente à Sara. Também será remunerada de forma adequada e se precisar de uma folga a mais por conta dessas situações podemos negociar.

Tudo ia bem, até que Dulce começou a ir um pouco mais para o lado pessoal:

--Anahi, tenho uma curiosidade que considero normal...porquê que vieste morar no Brasil depois de tantos anos fora? Até o teu sotaque demonstra que passaste muito tempo longe...

Anahi ficou um pouco nervosa e tal não passou despercebido a Dulce.

--Quis mudar de ares...não consigo ficar muito tempo a fazer a mesma coisa e já estava cansada do frio. -- Sorriu com algum nervosismo, rezando para que Dulce mudasse de assunto.

--Hmmm, só peço para que me avise um pouco antes de se cansar de ser babá da minha filha para que eu possa providenciar outra.

Isso queria dizer que ela também a tinha aprovado? Não deveria ter dito aquilo, agora a mulher não ia contratar uma instável como babá...

--Os teus documentos já estão em minhas mãos, as tuas credenciais são as melhores possíveis e sugiro que façamos uma experiência de um mês, se tudo der certo será a babá da Sara até se cansar...

Anahi sentiu uma ponta de ironia naquela colocação, mas não deu importância, estava feliz de mais por ter conseguido agradar àquela mulher indecifrável.

--Anahi, não és obrigada a viver aqui em casa. Agradeço apenas que neste inicio seja assim, mas tão logo faça um esquema que funcione perfeitamente, pode morar fora, se assim entender...

--A Ana já me tinha dito isso, e se a senhora não se importar prefiro ficar aqui. Prometo ficar invisível quando estiver em casa. -- Anahi sorriu tentando brincar um pouco mas não muito certa se agia corretamente.

"Invisível? Será? -- Pensou Dulce ao mesmo tempo que se espantava com a forma como Anahi  falara da mãe...Ana...se bem que aquilo não a espantava nada, a mãe era assim mesmo, completamente solta...

--Não precisa ficar invisível, e eu não me importo que cá fique. Quando estou em casa, e quero que saiba que é muito raro, trabalho muito, fico mais no meu quarto, ou então lá em cima...ginásio, enfim, devo ficar mais invisível do que tu -- Também sorriu e deixou Anahi intrigada. Como assim ficava raramente em casa, e quem cuidava da filha? Ela era deixada sempre aos cuidados de estranhos? Aquela questão ficou pairando na sua mente...

--Está tudo bem com o salário? Tem alguma questão a mais que queira esclarecer?

--Está tudo bem com o salário -- Muito bem mesmo, pensou. -- Só tem mais uma coisa que gostaria de comentar. -- Anahi estava sem jeito de dizer que levava e buscava a menina de bicicleta, ainda mais depois daquele tombo de logo cedo e que Dulce percebera pelo machucado no cotovelo.

Dulce a olhou com aqueles olhos cor de Mel meio rasgados que brilhavam de forma diferente. Anahi susteve o seu olhar nos dela por alguns instantes ate que ambas instintivamente e ao mesmo tempo desviaram.

--Sim? Algum esclarecimento? -- Dulce estava sentada e com as pernas cruzadas de forma elegante e despretensiosa.

--É que levo e busco a Sara de bicicleta da escola, e das aulas de dança e de inglês...-- Anahi estava com um ar meio receoso que quase provocou um riso em Dulce, mas ela conteve-se.

--E? -- Ela estava a divertir-se com o constrangimento da outra.

--Não tem problema? -- Ela tinha se revirado no sofá.

--Não vejo problema algum, a menos que me diga que é uma louca que anda a cem por hora numa bike pelas ruas de Santos -- Ambas sorriram e de novo seus olhares se cruzaram e desta vez Dulce desviou.

--A senhora pode ficar tranqüila, ando muito devagar e sou muito boa em cima de uma bicicleta, pode perguntar à Sara...ela adora. -- Anahi estava contente por poder fazer mais uma coisa que a pequena adorava e mais tranqüila por nãos ser nada que a mãe não aprovasse.

--Tudo bem com a bike. Gostou da cidade? Sei que vivia em São Paulo...é bem diferente.

Anahi não entendeu aquela pergunta...parecia-lhe meio despropositada naquela mulher sempre tão objetiva.

--Na realidade eu adorei, ainda não conheço muita coisa, mas sim, adorei. -- ela sorriu, um sorriso largo, bonito, vivo...Dulce  mais uma vez não conseguiu suster o olhar.

--Ainda bem...tem muitas coisas boas por aqui, com o tempo vai ver. – Dulce permanecia sentada mas Anahi deu um pulo do sofá o que a surpreendeu.

--Desculpa dona Dulce, mas tenho de ir, daqui a pouco a Sara sai das aulas e se ela não me encontra depois tenho mais dificuldade em negociar outras coisas com ela. -- Anahi piscou-lhe um olho e saiu voando escada abaixo. Dulce sorriu ainda que não tivesse entendido nada. Tinha ficado com uma boa impressão da moça. Ela parecia ser eficiente, meio atrapalhada, mas muito engraçada e espirituosa. Parecera-lhe inteligente e era de uma pessoa assim que a filha precisava. Só não gostara de uma coisa...dona Dulce na voz daquela moça não combinava em absoluto. Sorriu ao chegar àquela conclusão...às demais sempre exigira esse tratamento mas naquela moça de sorriso aberto e extraordinariamente lindo, o Dona soava estranho...talvez porque ela era mais nova do que as outras...mais nova do que ela...não sabia ao certo...

Sara estava super excitada com a idéia de ter uma surpresa em casa à espera dela. Anahi não contara que a mãe tinha chegado e a menina queria que ela voasse na bike para chegarem logo em casa. Entretanto não tinha encontrado com a mãe da pequena que deveria estar trancada no quarto, e ela deixara bem claro que ali era território exclusivo.

Anahi conseguiu convencer a criança que a surpresa viria depois do almoço, assim ela comeria as beterrabas com uma carinha menos tediosa.

As duas comiam uma salada de legumes, com todos aqueles que Sara anteriormente detestava que servia como acompanhamento a um peixe de forno que estava simplesmente divino, Salve Júlia.

--Hmmm, Any a comida está maravilhosa. – Anahi adorava aquela espontaneidade da garota e sim, a comida estava muito boa.

-Comeu a beterraba todinha, como estou orgulhosa da minha pequena. – Anahi afagou os lindos caracóis avermelhados da menina.

--Siiiiiiiim, sabe que até já gosto...mas como também porque quero crescer e ficar linda como tu. Tu não me disse que comia muita beterraba quando tinhas a minha idade?

--Siiiiiiim, muita beterraba, Zukine...como é que se chama aqui? -- Anahi sempre se confundia...

--Abobrinha! -- Disse a menina contente por ensinar algo à sua babá.

--Pois, Abobrinha, beterraba, cenoura, vagem...tudo o que é bom para crescer e olha que eu cresci muito. – Anahi sorria enquanto a menina a olhava admirada.

--Eu adoro tomate, e lembra que me prometeste que faríamos um espaguete ao sugo, é assim que se diz? --Ela era encantadora.

--Sim, assim mesmo ou então se quiseres ao pomodoro que é a mesma coisa.

--Hmmm, acho que pomodoro é mais chique...vou dizer às minhas amigas que sei fazer espaguete ao pomodoro. A Giovnana vai morrer de inveja, ela é Italiana, mas não sabe fazer nada na cozinha.

Elas conversavam animadamente após o almoço e eram observadas com muita atenção por Dulce. "Como é que aquela moça tinha conseguido fazer com que a filha comesse legumes e ainda mais com muito gosto? Que habilidade era aquela? Estava completamente admirada e mais ainda pela cumplicidade que duas pessoas de idades tão diferentes e que se conheciam há tão pouco tempo demonstravam".

--Any, e a minha surpresa? Já comi tudo e tenho de descansar antes de regressar à minha aula favorita -- Ela referia-se à dança, mais uma paixão em comum entre ela e a sua babá, ainda que a pequena não soubesse.

--A surpresa pode ser o retorno da tua mãe? -- Dulce entrou definitivamente na cozinha deixando Anahi sobressaltada e Sara completamente feliz.

--Mãaaaaaaaaaaaaaaae, que bom que voltaste! Estava com saudades. -- A menina correra para os braços da mãe que a ergueu no ar numa clara demonstração de alegria.

Anahi assistia a tudo com uma felicidade enorme...afinal a mãe gostava sim das filha...as pessoas exageravam...