Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Sem que tivessem percebido, Ana tinha regressado e ouvira toda a discussão. Elas falavam alto e do quarto pôde ouvir tudo e por muitas vezes teve vontade de dizer alguma coisa, de acordá-las para o obvio, estavam apaixonadas e claramente metendo os pés pelas mãos, mas conhecia a filha e sabia que ela não gostaria de tal intromissão e alem de tudo, oficialmente não sabia do que se passava entre ela e a babá. Apesar de estar feliz pelo romance iminente entre as duas, tinha medo que a falta de tato da filha colocasse tudo a perder, e também, embora não conhecesse tão bem a  Anahi, sentia que ela tinha fragilidades que lhe impedia um diálogo claro, expor o que sentia, o que queria, via uma tristeza permanente naqueles olhos tão afetuosos. Precisava fazer alguma coisa, queria demais a felicidade da filha, com quem acreditava ter uma divida, e gostava muito da babá e acreditava piamente que ela era a mulher certa para Dulce...não sabia o que fazer, mas parada não ficaria.

Foi com tristeza e sensação de impotência que viu aquela linda moça deixar a casa da filha.

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Anahi, não falou nada do que tinha acontecido na  casa de Dulce a Angelique. Fez da dança o seu escape para todos os problemas que teimavam em povoar sua mente. Ensaiaram noite e dia, ela não se cansava, queria nada menos do que a perfeição. O fim-de-semana foi inteiramente dedicado aos ensaios, muitas vezes Angelique se cansava e Anahi puxava por ela. Manfred estava satisfeitíssimo, ainda mais depois de garantir mais dois espetáculo da academia, um na Suíça e outro na Áustria. Para Anahi aquilo tudo parecia um sonho, ou melhor, a realização do seu sonho mais ousado de sempre. Entretanto, lá no fundo, uma certa insegurança se abatia sobre ela, medo de não acertar, medo de decepcionar, de não conseguir, ouvira essa frase a vida toda, "não vais conseguir, jamais serás uma bailarina...isso não é para ti...) e se a mãe estivesse certa? Angelique dizia que ela era brilhante, Manfred idem, na academia todos paravam para ver o número protagonizado por ela e a amiga...será?

Nessas horas que queria alguém que a impulsionasse, que a mostrasse que tinha tudo para brilhar, um suporte emocional...mas não tinha...tinha os amigos, mas era de algo mais abrangente que precisava... de um amor, fosse ele de pai ou mãe, de um irmão...ou de alguém que amasse como acreditava que amava Dulce, apesar de todos os pesares....queria Dulce por perto, já que muitas vezes, só de olhar nos olhos dela, sentia uma calma transformadora. Não se falaram mais, ela estava magoada com a atitude intempestiva da ex patroa, sim, porque não se via mais a trabalhar naquela casa. Mas de Sara não abria mão, iria vê-la sempre que tivesse vontade.

Pensava, que após a estréia iria tentar uma ultima conversa com Dulce, não queria que as coisas ficassem naquele ponto...gostava muito dela para desistir sem ao menos uma última tentativa. Só não fora lá ainda, porque precisava se concentrar ao máximo, qualquer altercação poderia colocar tudo a perder, ainda mais que ela se sentia insegura...

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O humor de Dulce não era dos melhores por aqueles dias. Passou o final de semana trancada em casa, trabalhando sem parar. Mal trocara duas palavras com a mãe, que entretanto saíra para se divertir com as amigas.

A semana começou e a irritação aumentou por vários motivos. Maite, sua amiga e colega favorita tinha viajado, não agüentava as investidas cada vez mais escancaradas de Liana, mas também não tinha coragem de dizer que não queria...aquilo fazia bem ao seu ego tão fragilizado por aquela babá...aliás não parava de pensar nela, o dia todo o tempo todo...Anahi... não conseguia esquecê-la, mas como esquecer alguém que em momentos nos leva à lua? Alguém que só de nos olhar faz tudo parecer possível, alguém que num simples roçar de pele eleva todos os nossos sentidos? Alguém cuja presença significa tranqüilidade na medida exata e ao mesmo tempo erupção também na medida certa? Alguém que apenas pelo fato de estar no mesmo espaço físico, dá-nos a sensação de plenitude?

Não entendia aquela mulher, não sabia nada dela, achava que mantinha uma história em paralelo com a amiga e companheira de casa, ou seja, que a enganava deliberadamente, mas mesmo assim não a tirava da cabeça ou do coração.

Pensara em bater na porta dela e gritar que não conseguia mais conceber a sua vida sem a sua presença, que não parava de imaginar o que ela estaria a fazer, mas o medo de parecer ridícula sobrepujara a coragem. Mas lá no fundo, sabia que precisava resolver aquela história de uma vez por todas. Anahi, dançava? Não tinha certeza se entendera bem, mas a impressão que ficara era que ela daria um espetáculo e em São Paulo, logo não poderia tratar-se de amadorismo...mas como? Algo assim exigia muito ensaio, profissionalismo...definitivamente não conhecia aquela mulher... e a amiga, a tal da Angelique (detestava esse nome...ciúme bobo) era bailarina...elas se completavam...dor de cabeça, vontade de desaparecer.

E para piorar tudo, o chefe inventou mais uma viagem ao Rio, relâmpago, mas ela não estava minimamente interessada. Iria na terça e voltaria na quinta à noite, ah e na companhia da Liana, fato que não lhe agradava de todo.

Graças a Deus a mãe estava em Santos, já que a filha regressaria ao final da manhã de quinta das suas férias e ela só chegaria em casa à noite. Estava com tantas saudades da sua menina, nada fazia sentido sem a alegria daquela criança por perto. Já adivinhava alguns problemas, já que Anahí não estaria em casa para recebê-la, mas Sara era uma criança com particularidades cativantes e Dulce sabia que ela entenderia...provavelmente já sabia da faceta bailarina da babá, elas eram muito amigas e por conseguinte não se incomodaria de ficar sem ela enquanto dançava, só não sabia se ela regressaria...provavelmente não, mas não ia se preocupar com aquele fato agora, até lá encontraria uma solução.

Quarta-feira seria feriado em São Paulo e ela estava disposta a organizar muita coisa, quer a nível de trabalho, quer a nível da própria vida, mas mais uma vez tinha que adiar tudo por causa de uma viagem. Maite tinha razão, precisava de férias e estava certa que brevemente pegaria a sua filha e iriam passear um pouco pelo mundo.

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Anahí e Angelique terminavam mais um dia árduo de muito ensaio, afinal a estréia estava próxima e o nervosismo só aumentava.

Angelique estava admirada com o profissionalismo de Anahi, afinal ela jamais participara de um evento de tamanha envergadura. A dedicação era integral, ela se doava e o resultado saltava aos olhos, perfeição. Ela jamais se enganara, aquela moça era a partner perfeita.

Entretanto, como boa observadora que era, percebeu que alguma coisa não ia bem no íntimo da amiga, mas respeitara o seu momento e não se imiscuíra na vida dela. Já percebera que Anahi tinha seu "timing" próprio para se abrir, conversar, e respeitava, sabia que quando as coisas tomassem uma proporção que ela não conseguiria lidar sozinha, normalmente a procuraria, ou à amiga Beth em São Paulo.

Cada dia mais respeitava aquele ser humano que não se deixara abater pelas inúmeras intempéries da vida, Anahí era lutadora, da sua forma tímida que muitas vezes poderia ser confundida com apatia por pessoas menos sensíveis, ela ia vencendo uma batalha atrás da outra, e aquela mulher merecia o que de melhor a vida poderia reservar.

Angelique queria que ela encontrasse um amor à sua altura, alguém que a entendesse, que a amasse incondicionalmente, aí sim, não tinha duvidas, Anahi desabrocharia para a vida, ela precisava de amor, todos nós precisamos, mas ela precisava ainda mais. Precisava sentir-se amada, acolhida, integrada...ela pouco falava, mas Angelique sabia exatamente do que ela precisava para ser feliz e despertar a Anahi adormecida, um amor imenso. Ela encontraria, já que não despertava nada além de amor nas suas diferentes formas.

Estavam exaustas estendidas no soalho de madeira quando o telefone de Anahi começou a tocar insistentemente.

--Any, o teu celular...

--Hummm, não aguento me levantar daqui. -- Ela tinha os olhos fechados, completamente esgotada.

--Pode ser importante amiga, o amor da tua vida, já pensou? -- Angelique adorava brincar.

--O amor da minha vida ainda está em Saturno...--Risos.

-- Ok, velha, eu vou lá buscar o teu celular que esse barulho é irritante.

--Foi a Sara que mudou o toque, ela vive fazendo isso. -- Sorriu com saudades da sua schatzie.

Angelique entregou-lhe o telefone e ela não reconheceu o número.

--Alô!

--Any! -- A voz inconfundível de Sara soou do outro lado da linha.

--Schatzie? -- Ela já estava sentada, a sintonia com aquela menina era impressionante.

--Sim, sou eu. Any, estou com tanta saudade, aqui é lindo. Depois quero que venhamos todas, eu, tu, a minha mãe e a vó Ana. Vai adorar.

--De quem é este número meu amor?

-- É da babá da Cecília, eu pedi para te ligar e ela deixou. Minha mãe me liga para o celular da mãe da Cecília, mas eu queria falar contigo.

--Fiquei muito feliz Sara, muito mesmo...eu também estou com tantas saudades...-- Emoção ao rubro.

--Any, minha mãe disse-me que pediste umas férias...é por causa do teu show de dança não é?

--É sim...

--Eu já sabia, mas depois volta a ficar lá em casa, não volta?

Não fazia a menor idéia do que lhe reservava o futuro, mas disse que sim.

--Claro que sim Sara, achas que eu consigo viver sem ti? -- Brincou.

--Eu sei que não, nem eu vivo sem ti e minha mãe também te adora então seremos sempre uma família, não é?

--Unrrum...-- As palavras não saiam. Tudo o que mais queria na vida era formar uma família com Dulce e Sara, mas infelizmente não dependia apenas de sua vontade.

--Any, o teu show com a Angel é na sexta-feira não é?

--Sim Sara, que bom que não esqueceste. -- Felicidade era tudo o que sentia naquele momento.

--Claro que não me esqueci. Eu a avó Ana vamos estar na primeira fila do teatro em São Paulo e vou te aplaudir até doerem as minhas mãos.

Anahi teve vontade de chorar, mas segurou.

--Obrigada minha menina linda. Eu vou ficar muito feliz. Voltas quando?

--Volto na quinta e na sexta eu e a minha avó vamos a São Paulo te ver. Minha mãe também vai, ela trabalha muito, mas com certeza irá.

Anahi duvidava, aliás tinha a certeza que Dulce não pisaria naquele teatro...ela estava com raiva e não sabia que dançava...quanta confusão e de alguma forma desnecessária, mas só chegara a essa conclusão um pouco tarde talvez...

-- Schatzie, adorei que tivesses ligado, estava mesmo precisando ouvir a tua voz...estou um pouco nervosa. -- E estava mesmo, não um pouco, mas muito nervosa.

--Eu sei que estás Any, mas é normal...achas que eu quando danço na escola não fico roxa de nervoso? Imagina numa sala grande, acho que morreria...mas tu és forte, minha babá favorita, minha amiga e vais fazer tudo lindo, ah e tem a Angel, não vais estar sozinha, sei que será maravilhoso.

Maravilhoso é ter-te na minha vida, pensava Anahí.