Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Dulce andou de sala em sala atrás de Maite, sem sucesso. Até que alguém lhe informou que ela estava em reunião com alguns clientes no último andar. De repente lembrou-se do que se tratava e não poderia interromper, eram clientes importantes e  Maite precisava estar concentrada para melhor atendê-los.

Entrou numa sala isolada e ficou sozinha por um tempo indeterminado. A sensação que tinha era que sua cabeça era atingida por muitas flechas ao mesmo tempo e seu coração diminuía a cada flechada. Sentia-se perdida, sozinha, desamparada...a hipótese de não ver Anahi nunca mais a deixava sem chão...sabia que gostava dela, aliás gostava muito, mas aquela sensação de perda iminente dava outra dimensão àquele sentimento...Anahi...aquela mulher simplesmente tomara conta de tudo, todos os seus pensamentos eram dela, tudo o que queria fazer tinha Anahi, pelo menos na sua cabeça...já se surpreendera fazendo planos para o futuro...futuro? Como incluir alguém que não se conhece no nosso futuro?

Sim, era despropositado, mas era o que acontecia...pensava nela nas mínimas coisas, o que ela diria, o que acharia...até com raiva pensava na Anahi. Sentia-se no céu e no inferno, céu era sempre que estavam juntas, a calma de Anahi era apaixonante, seu olhar doce, seus gestos meigos e ao mesmo tempo decididos...beijar aquela mulher era uma loucura, subia um calor dos pés ate a raiz dos cabelos, causando uma explosão de desejo...fazer amor com ela era qualquer coisa de especial, único...Dulce sabia que jamais fizera amor antes, não com a entrega que tivera com Anahi...linda, doce, intensa...maravilhosa...e o inferno... não sabia ao certo quem ela era, e cada dia se surpreendia mais, bailarina profissional? Que mais desconhecia? Seriam coisas graves? Ela não falava da sua vida, absolutamente nada...mas será que alguma vez perguntara?

Quando estavam juntas, só se interessava pelo momento, aproveitá-lo ao máximo...esquecia de tudo...e aquela amiga bailarina? O que sentia em relação a ela era um ciúme estranho, inédito. Parecia que elas se entendiam tão bem, o carinho mútuo era explícito, eram lindas, e agora Anahi bailarina também...sua cabeça ia explodir se ficasse ali.

Entrou na sua sala e deu de cara com Liana que a olhou com um ar assustado:

--Dulce, estava à tua procura...está tudo bem?

--Não. -- Quase gritou. -- Preciso ficar sozinha.

--Posso ajudar? -- Liana já se aproximava dela.

--Vou sair...desculpa...

E pegou a sua bolsa e saiu sem rumo certo, precisava de ar ou enlouqueceria entre aquelas paredes.

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O frenesi tomava conta do teatro, as três companhias que se apresentariam já estavam todas no local, fazendo os testes de iluminação, cenário, ensaios propriamente ditos, correria total.

À medida que se aproximava a hora da estréia, Anahí ficava mais insegura. Um medo inexplicável foi tomando conta dela, dominando-a por completo. Aquele era o mundo que queria abraçar, mas agora, estando tão perto, não se sentia capaz. A ansiedade tomava conta dela, mal conseguia respirar...nunca conseguiria subir no palco e foi com essa certeza que com os olhos petrificados disse a Angelique:

--Não posso, não conseguirei subir naquele palco, nunca vou conseguir encarar o publico...me perdoa, por favor me perdoa...

Antes que Angelique pudesse dizer alguma coisa, Anahí já tinha sumido do alcance dos seus olhos deixando-a sem ação.

Anahi, andou sem rumo pelas ruas da cidade, na cabeça martelavam as frases da mãe que ouvira a vida inteira, o desprezo de Johan por sua arte...e se eles estivessem certos? E se ela não tivesse talento algum como a mãe sempre gritara? E se fosse apenas um sonho estúpido como Johan cansara de repetir? Não se sentia capaz...não tinha forças para encarar...

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Ana e Sara se preparavam para deixar o restaurante onde tinham passado grande parte da tarde, quando a pequena disse:
--Vó, aquela ali na rua não é a Any? Ela parece estranha...mas é a Any sim. -- A menina apontava para uma mulher que parecia andar sem rumo pelas ruas.

Ana olhou admirada, por mais estranho que pudesse parecer era sim a Anahi, que normalmente deveria estar num teatro se preparando para a estréia...

--Sara, fique ali no pula-pula meu amor, vou lá fora falar com ela e já volto.

Ana pediu à relações públicas do restaurante que olhasse um pouco a neta e foi lá fora tentar entender o que estava a acontecer.

--Anahi, não deveria estar no teatro?

Anahi a olhou sem acreditar...Ana...Deus existia, definitivamente.

Caiu em prantos nos braços dela e foi imediatamente acolhida.

Ana a deixou chorar por alguns minutos até que estivesse mais calma, sempre acolhida em seus braços.

--O que foi  Anahi?

--Não tenho coragem de subir ao palco Ana, não sou capaz...

--Claro que és Any.

--Eu fugi do teatro...todos meus medos e inseguranças resolveram me atormentar ao mesmo tempo. Tudo o que minha mãe me disse a vida inteira ecoa na minha cabeça, toda a ironia de Johan ao falar da dança...eles devem ter razão.

Ana a olhou nos olhos e segurou as suas mãos com força dizendo:

--E o teu sonho? Vai deixar morrer assim, sem tentar? A tua coragem de enfrentar tanta coisa vai te abandonar na melhor hora?

--Será que consigo?

--Pense na alegria do teu pai lá onde ele estiver, pense na felicidade dele, pense na tua felicidade quando as palmas ecoarem naquela sala. Eu sei que vão ecoar Any, tu és dedicada e brilhante, o teu único caminho é o sucesso alcançado com muita luta. Não entendo nada de técnica de dança, mas entendo de beleza e o que fazes é belo.

Anahi, sorriu e a esperança começou a invadi-la.

--O mundo precisa ver o teu talento. Estamos todos aqui para ver-te meu bem, até a Júlia veio com os filhos dela, nós acreditamos em ti. Pense nos teus amigos que te acolheram, que te deram a oportunidade, eles devem estar loucos com essa tua atitude. Eu te entendo, mas e eles?

--Obrigada Ana. -Disse com um semblante mais alegre e confiante. -- Eu vou e seja lá o que Deus quiser, ainda estou insegura, mas tens razão, não posso desapontar pessoas que me ajudaram, que acreditaram em mim.

--E nem podes deixar morrer o teu sonho de vida.

Ela sorriu e abraçou Ana suspirando alto.

--É isso mesmo Any, e vai ser o inicio da tua gloria minha menina linda.

Ela sorriu, mas com uma ponta de tristeza nos lindos olhos que agora estavam mais claros do que nunca.

--E essa pontinha de tristeza?

--Eu sei que é bobagem...mas queria que a dona Dulce estivesse no teatro...-- Disse meio envergonhada.

--Não é bobagem Any, e ela vai estar, garanto. Sei que é muito importante para ti que ela esteja presente...agora precisamos nos apressar mocinha, caso contrário não chegamos a tempo.

--Vieste de carro? - Anahi, sorriu, de repente tudo estava no lugar certo.

--Sim, mas não dirijo muito bem e o trânsito dessa cidade é louco e com a minha neta tenho atenção redobrada, tenho que zelar pela integridade dela.

Mais sorrisos cúmplices.

--Eu dirijo, se deixares, é claro.

--Fazes isso por mim? Muito obrigada! Vamos logo então.

--Ainda temos tempo, nossa companhia é a ultima a atuar e o meu número com a Angel é o ultimo. -- Olhou no relógio -- Ainda temos algum tempo. E a schatzie? Estou morrendo de saudades da minha princesa.

--Está dentro do restaurante, vou lá buscá-la e vamos voar para esse teatro.

Anahi, sorriu confiante, iria sim dançar e se dependesse da sua vontade, iria ser um sucesso.

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Angelique já perdera a conta das vezes que ligara para o celular de Anahi totalmente sem sucesso. Ela não atendia e seu desespero apenas aumentava. Ligou para Beth que já estava a caminho do teatro, mas ela não sabia absolutamente nada de Anahi e também ficou preocupada, mas garantiu a Angelique que ela voltaria a tempo de dançarem juntas.

Ela não era muito dada a dramas, mas estava com vontade de chorar...tanto esforço, tanta preparação... Manfred ainda não sabia do sumiço de Anahi, e ela não queria dizer antes de ter certeza que ela não voltaria. Olhou para o celular e discou o número de Maite...queria falar com ela, queria pedir ajuda.

--Oi linda, muitos nervos? -- Ela atendeu ao primeiro toque, muito feliz.

--Nem imagina...estou quase a enlouquecer aqui...-- A voz dela estava pesada, nem parecia a mesma pessoa.

--O que aconteceu? -- Maite ficou preocupada, Angelique era sempre muito alegre, mas algo sério estava a acontecer.

-- A Any...-- E começou a chorar.

--O que aconteceu com ela? -- Maite se inquietou.

--Ela sumiu, simplesmente sumiu...disse que não tem coragem de subir ao palco, que tem medo...tanto ensaio, tanto tempo...

--Mas ela foi embora? Deixou o teatro?

--Sim...ela me pediu mil desculpas e foi embora...eu entendo a Anahi, ela nunca subiu num palco como esse, passou a vida ouvindo que nunca seria bailarina, que isso não era para ela, e na pressão de encarar ela se amedrontou...mas eu tenho a certeza que ela é brilhante e que juntas iríamos arrasar com essa platéia...

--Ela vai voltar meu bem, acredita, ela vai voltar...-- Maite não tinha a menor idéia se ela voltaria ou não, mas não agüentava ver Angelique naquela tristeza toda.

--Eu posso fazer o numero sozinha, mas a peça chama-se espelho e é muito mais bonita a duas, e nós estávamos tão bem...ela é a partner perfeita, Mai a Any é maravilhosa, só ela que não sabe disso...

--Ela vai voltar a tempo, tenho certeza. Vou mais cedo dar-te um abraço e tenho certeza que a Any estará contigo para entrarem juntas naquele palco.

--Obrigada!

--De nada e espero que saibas que podes sempre contar comigo. -- Maite tinha certeza que faria qualquer coisa para ver aquela mulher feliz...

--Beijo gata, o Manfred chegou e preciso distraí-lo enquanto aquela maluca não chega. Venha logo, preciso do teu abraço. -- E desligou.

Maite ficou parada olhando para a enorme janela de vidro que a separava da azáfama da cidade. Era engraçado como tudo fazia mais sentido na sua vida desde que conhecera aquela menina. A leveza de Angelique era contagiante, ela não pensava em nada, apenas vivia, ah pensava sim, nela o tempo todo, e era bom, estimulante. Pegou as suas coisas e já estava perto da porta quando Dulce entrou com um aspecto nada tranqüilo.

--Preciso falar contigo Mai.

--Oh Dul, agora não dá. Estou de saída, tem alguém precisando de mim e preciso voar para atender...é importante?

--Não...depois falamos. Boa sorte!

Maite saiu quase voando para acalmar Angelique e Dulce se afundou no sofá sentindo-se quase morta.