Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon

Dulce estava no quarto há muito tempo tentando dormir. Tentara falar com Maite, sem sucesso. Liana ligara e ela não tivera muita paciência para conversar com ela, até porque não eram amigas nem nada que se assemelhasse, e a outra a queria na cama, só de pensar naquela possibilidade ficava desanimada, mas agradeceu pela preocupação.

Ouviu quando a mãe e a filha regressaram a casa e então pôde ficar mais calma.

Sem dormir e já madrugada alta, foi ao lounge e ali sim, não tirou Anahi da cabeça...aquele era o canto delas, lugar onde tantas vezes conversaram madrugada adentro, onde se descobrira apaixonada pela babá da sua filha, onde trocaram beijos de arrepiar...entre suspiros e pensamentos que remetiam sempre à mulher linda e eximia bailarina, conseguiu dormir para sonhar com ela.

Acordou cedo com o barulho de um navio deixando o porto. O dia se adivinhava lindo, mas ela ainda estava com sono e resolveu dormir no quarto.

Bem mais tarde, e depois de dormir bastante e tomar um banho revigorante desceu para ver a família.

Na cozinha, o assunto não poderia ser outro, Anahí e a dança, claro.

--Mãe, sabias que a Anahí dançava?

--Claro que sim, mas antes que me perguntes, eu não disse nada porque o assunto a ela dizia respeito, mas se quer saber, nem eu sabia que ela era tão talentosa assim... -- Disse Ana.

--Talentosa e profissional...

--Mãe, sabias que talvez a Any viaje o mundo todo dançando? Mas ela já me disse que posso ligar sempre. Tenho uma amiga famosa, eu também vou ser bailarina quando crescer e tão boa quanto ela.

Dulce ficou feliz com a empolgação da filha, mas ela estava cada vez mais afetada com aquela iminente partida de Anahi da sua vida...

Segunda-feira chegou e ela se arrastou até São Paulo, todo o ânimo a abandonara, mas precisava trabalhar.

Maite chegou um pouco mais tarde, com um ar cansado, mas feliz.

--O fim-de-semana foi forte pelos vistos. -- Brincou com a amiga.

--Muita emoção... – Maite passara uma noite com Angelique  e o sábado inteiro juntas, ate deixá-la no hotel onde estavam hospedados para se reunir com o grupo para preparem mais um espetáculo.

--Foste ver o espetáculo de dança? Não te vi por lá...mas era tanta gente...

--Claro!

--A Anahi bailarina...ainda acho isso tudo meio surreal...o que achaste do espetáculo?

--Maravilhoso! O espetáculo todo, de todas as companhias, mas o número de Angelique e Anahi...sem palavras. Eles foram convidados para vários espetáculos aqui no Brasil e no exterior também, agora é cair na estrada rumo ao sucesso.

--Hummm, -- Muito incomodada. -- Ela deve estar muito feliz, dançar parece ser o mundo dela e ainda tendo como parceira a namorada...-- Sim, estava dominada por ciúme e a sentir-se uma idiota.

--Quem? -- Maite não acreditara no que acabara de ouvir.

--Aquela parceira de dança dela é a namorada dela...moram juntas, dançam juntas...aquele dia no aniversário da Sara pude ver a sintonia...

--Nada a ver...

--Como nada a ver? Elas moram juntas, têm aquela sintonia toda, aquele entrosamento no palco...

--Elas são apenas excelentes profissionais e muito amigas.

--Como podes ter tanta certeza Maite? – Dulce queria entender a certeza da amiga em afirmar que elas eram apenas amigas, quando na sua opinião, eram namoradas e com muita sintonia.

--Por que...-- Maite estava sem coragem...já deveria ter contado à amiga há mais tempo...

--Por que... – Dulce a olhava expectante.

--Eu namoro a Angelique. -- Disse de supetão.

Dulce não ouviu direito, claro, era a única explicação.

--Tu o quê?

--Namoro a Angel ,Dul...desculpa se não te falei antes mas...

--Eu não posso acreditar Maite, gostas de mulher?

--Sei lá...eu adoro a Angel, nunca gostei de outra...tu sempre me disseste que talvez eu devesse me envolver com uma mulher, acho que resolvi ouvir teus conselhos. -- Risos.

Dulce foi da estupefação à alegria. Angelique e Anahi não namoravam e Maite estava a namorar uma mulher...

--Desde quando?

--Não muito tempo...alguns meses...

--Meses?

--Desculpa Dul, eu sei que deveria ter contado...

--Onde que eu estava que não percebi? Se bem que pensando bem, tenho visto a Senhorita bem alegre e eu pensando que era mais um homem problema...mas como é que isso aconteceu?

--Ah, um dia, nos encontramos numa boate aqui em São Paulo, ela estava entediada, eu também, conversamos, dançamos a noite toda, quando a fui deixar no hotel de manhã, ela me roubou um beijo. -- Disse sonhadora.

--Menina de atitude!

--Muita! Ela é maravilhosa Dul, nunca me senti assim...

--Na festa da Sara já estavam juntas?

-- Sim...tínhamos pouco tempo, mas já estávamos juntas.

--E eu morrendo de ciúme, achando que elas namoravam...a Anahi e a Angelique...

--Elas nunca tiveram absolutamente nada, são amigas, assim como nós duas somos Dul.

--Se tivesses ficado no teatro ontem terias visto a Angel me beijando na boca na frente de todo mundo e não estarias sofrendo à toa.

--Isso é sério mesmo Mai? -- Dulce não acreditava na desenvoltura da amiga...as coisas eram simples assim?

--Da minha parte sim, sei que sou mais velha, que ela é quase uma menina, mas sabe bem o que quer e pelos vistos me quer, então não vou perder tempo com bobagem.

--E agora que ela vai estar sempre a viajar?

--Saudade... nem gosto de pensar nisso, ma é a vida dela, ela já era bailarina quando a conheci e me apaixonei. Ela é muito carinhosa, e apesar de mais nova é centrada e não me parece do tipo que vai se encantar por uma mulher diferente em cada palco que pisar e não me preocupo com isso, só vivo o momento e esse está muito bom.

--Meu Deus, estás mesmo apaixonada...a cara de boba diz tudo. – Dulce sorriu e a amiga retribuiu.

--Completamente! E sem risco de parecer presunçosa, ela também está...é muito bom Dulce.

--Sexo? Já aconteceu, claro...

--Ooohh...-- Muitos risos. -- Encantada com a minha Angel!

Dulce passou muito tempo questionando a amiga, querendo entender tudo, mas Maite sempre fora assim, sem muita complicação, quando queria uma coisa ia lá e fazia, e pelos vistos agora queria Angelique e iria viver a sua história. Isso era admirável, mas ela não era assim, pensava demais. Adorara saber que Anahi não tinha nada com Angelique quanto sofrimento em vão, quanto mal entendido engendrado pela sua mente privilegiada...mas Anahi poderia ter dito que não tinha nada a ver, mas ela escutaria? Claro que não...que vergonha de ser tão intransigente...colocara tudo a perder...

Mais tarde, no almoço, Maite a confrontara:

--Dulce, eu sei que gostas da Anahí e agora que sabe que ela não tem absolutamente nada com a Angel, vai ficar parada?

Dulce não conseguiu dizer nada, sentia-se uma idiota e das piores.

--Dul, tu és uma pessoa maravilhosa, mas tens umas características, que se não trabalhadas, vão te fazer muito infeliz.

--Como assim?

--Dulce, tu és muito egoísta. Não em todas as situações, longe disso, mas nas relações sim...eu sempre convivi contigo e sei do que falo. Com essa menina então...meu Deus, só vale o que tu pensas, não conversas com ela e já tiras conclusões disparatadas, só pensas em ti. Ela te ensinou tanta coisa, mesmo com as fragilidades que é claro que tem, ela conseguiu te ensinar muita coisa...prestar atenção na tua filha...nossa, só por isso terias que amá-la pela vida inteira. Ela te devolveu teu maior tesouro, e esse mesmo tesouro adora a Anahi, tua mãe a adora também, precisavas ver a conexão delas ontem naquele teatro, pareciam uma família, e são uma família...só faltavas tu Dul. Eu não conheço muito bem a Anahi, mas das poucas vezes que já conversamos eu senti que ela é uma mulher maravilhosa, tem problemas, e acho que sérios, mas ela não foge à luta e quer ser feliz.

Dulce ouvia com atenção, concordando com Maite em tudo.

-- Ontem, ela fugiu do teatro, teve medo de encarar o público, e segundo o que Angel me disse, foi porque a vida inteira ela ouviu da própria mãe que não conseguiria, que dançar não era para ela. E sabes quem a convenceu a voltar e encarar aquela platéia? A tua mãe, que por um acaso do destino, ou obra de Deus, a encontrou vagando pela cidade completamente atordoada. Ela foi lá e fez o que fez, o que viste, o que todos nós vimos...um show irrepreensível. Ela teve uma infância cheia de problemas, foi adotada por Alemães e a mãe nunca gostou dela, acho que tinha tudo para ser revoltada, amargurada, e entretanto é um doce com a tua filha, ama a Sara de um jeito que comove...e é linda Dulce, linda por dentro e por fora...vocês se dão bem que já me disseste, têm muita sintonia sexual, ela é uma pessoa do bem, que mais queres Dulce? Olha, sem querer dramatizar nada, mas acho que se ficares com essas tuas verdades aí, perdes a Anahi, e outra mais esperta e desencanada a fará feliz...

--Não...eu vou conversar com ela, só não sei quando...elas não vai viajar muito? -- Desespero definia a atitude de Dulce naquele momento.

--Vão sim, interior de São Paulo, Rio de Janeiro e depois Europa. Tente falar com ela antes de embarcarem para a Alemanha. Não sei o que ela sente nesse momento, mas ela gosta de ti Dulce e muito. Não desperdice a chance de ser feliz minha amiga...eu acho que é essa menina que vai te fazer muito feliz e tu a ela.

Sorriram e Dulce teve vontade de sair correndo para procurar Anahi por cada esquina da cidade. Mas segundo Maite, elas ficavam concentradas antes dos espetáculos e não podiam ter muitas interferências do mundo externo. Ainda mais que o número delas exigia muita concentração e esforço físico.

O resto da semana se arrastou, talvez porque Dulce quisesse que Anahi voltasse logo do Rio para tentar conversar com ela. Na internet proliferavam artigos sobre a companhia de Manfred, um coreografo de renome internacional, mas a tônica caia sempre no número de Angelique e Anahi. Angelique já era conhecida, mas Anahi era a surpresa, e todos especulavam quem era aquela maravilhosa bailarina. Há medida que lia aquelas coisas, sua coragem ia diminuindo, Anahi já era do mundo e provavelmente ela já não tinha lugar naquele mundo.