Fanfic: Como o Vento | Tema: Portiñon
Não demorou muito para que Anahi percebesse que as pessoas não tinham exagerado, na realidade não tinham a mínima noção do quão obcecada por trabalho era aquela Dona Dulce. Já fazia um mês desde que ela regressara da viagem à Europa e sem exagero algum não passara mais do que meia hora com a filha...pelo menos durante a semana. Aos finais de semana, que supostamente teria mais tempo para saber da vida da menina ela simplesmente, na maioria das vezes, se trancava no quarto e trabalhava sem parar, sob o pretexto que precisava de muita concentração para criar. A criança parecia não se importar com aquilo, para ela a situação era perfeitamente normal, ou então era uma forma que a cabecinha dela encontrara para lidar com tamanho descaso.Anahi não sabia se ela fizera o mesmo com todas as babás que passaram por aquela casa, ou se pelo fato de todos dizerem que ela era ótima com Sara permitira que Dulce simplesmente esquecesse que a mãe era ela. Não via problema algum em assumir algumas responsabilidades que eram exclusivamente dela, vez ou outra, era natural, até essa era uma das razoes da sua contratação, mas sempre? Ela respondia na escola da menina, escolhia as suas roupas, ela lhe levava ao médico, tirava-lhe dúvidas, fossem elas de qualquer natureza...qualquer coisa que a pequena precisasse era a ela que recorria. Se não gostava daquilo? Claro que gostava, adorava, mas sabia que não estava certo, a mãe era a Dulce...era importante de mais ter uma mãe presente. Lágrimas quentes inundaram a sua face ao lembrar-se da própria história...aquela mulher insensível um dia sentiria na pele a gravidade daquela situação e talvez já fosse tarde, muito tarde.
Muitas vezes elas nem sequer viam Dulce, saía antes das nove para o heliporto onde o helicóptero da empresa a buscava e só regressava depois das nove da noite. De manha a menina já estava na escola e à noite já dormia. Naquela sexta feira não estava a ser diferente, passava das 18 horas quando ela ligara avisando que voltaria bem mais tarde porque tinha uma vernissage... tudo era mais importante do que cinco minutos com a filha. Anahi já estava a ponto de explodir e tal ficou claro à amiga com quem conversava ao telefone:
--Any, sinto-te tão distante...tem certeza que está tudo bem? -- Beth conhecia a amiga suficientemente para saber que havia algo que a incomodava.
--Estou de saco cheio! -- Explodira!
--O que foi Any? Não gostas mais do trabalho? -- Beth estava apreensiva, mas no fundo já esperava aquela reação.
--Eu não agüento mais essa mulher... --Falou num tom seco.
--O que foi que aconteceu? Ela fez-te alguma coisa? Ela... -- Beth não teve coragem de terminar a questão. Sabia que Dulce era lésbica, mas não acreditava que ela tentasse alguma coisa com Anahi...não, isso estava fora de cogitação.
--Ela é uma idiota Beth...bem pior do que qualquer coisa que tenha ouvido.
--Any, se ela tentou alguma coisa contigo, pode arrumar as tuas coisas e vir logo para São Paulo, ou se quiser passo ai e te pego.
--Comigo? Como assim? O que ela poderia fazer comigo? -- Ela não estava a perceber o grau de preocupação da amiga com ela, quando a vítima era uma criança de apenas 8 anos.
--Não deixa para lá...acho que entendi errado. -- Pelos vistos não era nada do que estava a pensando.
--Do que é que esta falando? -- Anahi ficou curiosa.
--São só boatos amiga, e não acreditamos em boatos pois não?
--Em se tratando de Dulce, todos os boatos confirmam-se, portanto diz-me o que é que passou-te pela cabeça.
--Ah sei lá...dizem por ai que ela gosta de mulheres e por momentos pensei...
Anahi deu uma sonora gargalhada.
--Ela o quê? Duvido Beth...ela não gosta de ninguém, só do trabalho, aliás é escrava dele...
--Ainda bem que não é nada disso...não que eu tenha alguma coisa contra mas sei que não tem nada a ver contigo. -- Beth respirou aliviada, por instantes teve medo de ter metido a amiga numa grande encrenca, afinal não se tratava apenas de boatos, Dulce não fazia questão de esconder de ninguém a sua orientação sexual, aliás aquilo não era segredo e nem problema para ninguém.
--Relaxa Beth...ela jamais me disse ou fez alguma coisa que levasse a pensar nisso, aliás se não tivesse dito eu diria que é assexuada. Eu nunca a vi com ninguém...
--Mas então o que é?
--Ela não liga para a filha, Beth é impressionante. Eu gosto da pequena, muito, mas eu poderia não estar nem ai para ela, eu poderia ser uma louca que maltratasse a filha dela e sabes quando é que ela iria descobrir? Tarde, muito tarde...
Anahi fez um relato de todos os absurdos que vivera naquele mês e Beth apenas disse que já ouvira que ela era obcecada por trabalho mas que jamais imaginara que fosse tanto.
--Quer desistir Any?
--Não Beth, é uma questão de honra...eu adoro a Sara, ela não merece essa mãe...mas só que não sei até quando vou agüentar sem explodir. Daqui a poucos dias vai ter uma apresentação da menina, uma apresentação de Dança. Ela está tão empolgada com a idéia, e é uma coisa grande, todas as mães que trabalham tanto quanto a Dulce estão envolvidas nos preparativos, na escolha das roupas, das músicas, e a Sara só é orientada por mim. Eu a ensaio, eu escolho tudo, já até me perguntaram na escola se sou a mãe dela...acho que essa louca nem sabe desse evento, isso porque já vieram mil bilhetes na agenda da menina e ela nem sequer leu... -- Anahi tinha a voz cansada.
Beth entendia o estado da amiga, por muito tempo ela não tivera mãe, ninguém que se preocupasse verdadeiramente com o seu bem-estar e de repente a vida lhe colocara numa situação de choque...ela acreditava em destino e na sua cabeça estava claro que o de Sara e Anahi cruzaram-se por uma razão maior.
Ouviu a amiga por mais um bom tempo, sempre tentando amenizar o que sabia ser impossível. Anahi estava coberta de razão e sabia que mais cedo ou mais tarde o senso de justiça da amiga viria ao de cima e aí sim as coisas se complicariam...estaria sempre por perto para a acudir.
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Já passava das dez quando Anahi conseguiu que Sara dormisse. Naquela noite em particular ela queria dar um beijinho à mãe antes de dormir, mas como sempre ela não estava. A menina estava agitada, empolgada com o grande dia que estava prestes a chegar, carente de afeto de mãe, cansada de tanto brincar, enfim, um misto de emoções para a cabeça de uma criança.
Anahi tentava concentrar-se num livro mas a mente voava sempre para longe. Resolveu deixar o livro num canto e arrumar as suas roupas. Ao dobrar umas calças que não usava há um bom tempo viu um papel que parecia um cartão de visitas cair de um dos bolsos. Pegou-o e abriu um sorriso, era do homem cujo cão a atropelara, Christian Chaves. Decidiu que ligaria para ele na manha seguinte, já estava farta de ficar em casa o tempo todo, queria conhecer a cidade, outras pessoas, queria voar...precisava fazer alguma coisa em prol da sua paixão maior, a dança. Não pretendia mais fazer parte de um corpo de ballet moderno como era em Munique, mas queria tentar algo como coreografa, algo assim, mas para isso precisava sair de casa, aquelas paredes já a sufocavam e aquela mulher mais ainda. Não pretendia ser babá a vida inteira, aliás nunca pensara sequer em fazer aquilo como forma de ganhar a vida, mas essa mesma vida a tinha levado para tal situação. Não se arrependia, afinal tinha conhecido a sua Schatzie e por ela tudo valera a pena, mas a vida ia alem daquilo e ela tinha sido uma exímia bailarina e amava a sua arte. Colocou o cartão em cima do criado mudo na certeza que o dia seguinte ligaria para Christian .
Estava sem sono e sem saber o que fazer. Olhou para o lado e deu de caras com o seu skate e o violão, outras paixões que tinham ficado adormecidas, mas já era hora de acordá-las. Iria recomeçar a praticar o skate como desporto e o violão não esperaria nem mais um minuto, pegou-o e subiu para o lounge. Desde que a dona da casa voltara ela nunca mais estivera ali, até porque ela sempre estava no quarto ou nesse lado da casa, mas naquela noite sabia que estaria sozinha ate de madrugada e nada a impedia de curtir com o seu violão e os seus pensamentos.
Foi à cozinha buscar uma garrafa de água e um copo e instalou-se no parapeito da sacada encostada à enorme janela de vidro com vista panorâmica que permitia uma visão magnífica do porto. Os barcos iam e vinham e ela tirava acordes do seu violão. Aquilo era um encanto para a sua alma. Estava tão compenetrada que não percebeu quando o carro de Dulce entrou na garagem.
Já passava das duas da manha quando Dulce largou as chaves em cima do móvel da entrada de sua casa. Estava muito cansada, o dia tinha sido longo, mas muito frutífero. Na vernissage conseguira mais dois excelentes clientes para a empresa, tudo graças à brilhante idéia de Maite em levar o portfolio. A amiga passava a vida a dizer que ela era imbatível na arte de negociar e de um talento único...de repente ela tinha razão, já que os clientes não pestanejaram um segundo em contratar a empresa que elas representavam. Estava cansada, mas feliz, deu um suspiro de alívio. Como sempre fazia ao chegar em casa mais tarde, passou pelo quarto de Anahi que estranhamente tinha a porta toda aberta. Ela nunca a fechava completamente, mas desta vez estava escancarada. A babá não estava ali...no quarto de Sara, claro. Subiu as escadas de dois em dois graus na ânsia de comprovar logo que a filha dormia tranqüila com a babá, mas para o seu desespero a menina dormia tranqüila, mas sozinha. O ar faltou-lhe, teria a empregada saído e deixado a sua filha sozinha numa casa daquele tamanho e àquela hora da noite? O sangue subiu-lhe à cabeça, a boca estava seca. Desceu voando, pegou o celular da bolsa e ligou para o número de Anahi, ouviu o telefone a tocar dentro do quarto dela.
--Merda! Eu não acredito que ela fez isso com a Sara...
Subiu para o quarto com uma súbita vontade de chorar. Entrou no chuveiro e deixou que todas as lágrimas caíssem. A filha estava sozinha, desde quando? Aquilo acontecia sempre? A casa tinha toda a segurança, mas Sara era uma criança e não poderia de forma alguma ficar sozinha. Para isso ela pagava uma verdadeira fortuna àquela mulher, para isso ela trabalhava tanto, para que não faltasse nada à sua filha, jamais. Tudo bem que a moça quase nunca tinha folgas, ela tinha trabalhado muito nos últimos tempos, mas era bem recompensada, e não conhecia nada em Santos, ou será que conhecia? Teria um namorado na história? Mil perguntas atormentavam a sua cabeça, sabia que não iria conseguir dormir até a babá voltar e com isso vestiu um robe e dirigiu-se ao seu recanto favorito. Faltava apenas três degraus para entrar no lounge quando escutou acordes de um violão e uma voz linda cantando em inglês uma música que Maite cantarolava quase todos os dias no trabalho. Dulce levou um susto quando viu Anahi sentada no parapeito da sacada com a cara para o céu dedilhando aquelas suaves notas no seu violão. Ela não soube definir o que sentiu naquele instante, mas não conseguiu mover-se dali. Respirou aliviada, ela não tinha abandonado a sua filha à própria sorte, mas no fundo acreditava em qualquer coisa menos na possibilidade de Anahi ter feito algo assim, mas vê-la ali tão entregue àquele violão tinha sido um alívio daqueles...
Ficou parada por muito tempo vendo aquela mulher cuja beleza jamais tinha notado. Ela era simplesmente linda. Nunca a tinha visto de cabelo solto, estavam sempre presos num coque ou apenas presos. Agora estavam soltos e eram lindos, fortes e cheios de caracóis. Ela estava alheia a tudo ao seu redor, entregue a uma música, outra linda, desta feita em Alemão. A forma como tirava notas do violão era tão sensual que fez com que Dulce suspirasse várias vezes, o simples ato de tomar água num copo era algo quase como um passo de dança, percebeu que ela tinha dedos esguios, aliás como ela inteira. Cada vez que a alça da blusa amarela que usava caia, Dulce sentia uma leve vertigem...às vezes ela subia, outras não, estava alheia, concentrada na música e também no movimento no cais do porto.
Dulce não soube precisar, mas ficara ali, estática vendo a babá da sua filha tirar sons do seu violão por muito tempo, até que com receio que ela a visse, desceu e se trancou no seu quarto. Alguma coisa pulsava dentro de si, mas não sabia definir o que era, por fim, antes de dormir, concluiu que precisava com urgência sair com uma mulher.
Autor(a): angelr
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 172
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santox Postado em 20/10/2015 - 19:19:52
ATENÇÃO!!! PLÁGIO!!! Apesar de ter citado a autora da história, Nadine Helgenberger, essa adaptação não foi autorizada pela mesma. PLÁGIO É CRIME!!! :(
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ace Postado em 20/10/2015 - 15:38:32
Essa história foi modificada sem o consentimento da autora que seria Nadine Helgenberger. PLÁGIO É CRIME!!!
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justin_rbd Postado em 01/06/2014 - 20:37:17
amei a história ,parabéns !!!!
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delmyra Postado em 21/01/2014 - 00:04:05
linda história. Pena q acabou. Amo portiñon. Sensacional a fic.
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claricenevanna Postado em 19/01/2014 - 23:10:49
Onw, eu vou sentir tanta saudade dessa web. Perfeição deveria ser o nome dela. Amei demais cada capitulo, embora que as vezes, surtava, mas foi muuuito perfeita.
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maralopes Postado em 19/01/2014 - 19:46:33
amei e ja favoritei sua web vou acompanhar bjaum angel
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vverg Postado em 19/01/2014 - 19:04:58
Já está favoritada a outra fic, acompanharei com certeza...^_^ E esta história gostei do começo ao fim... =)
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vverg Postado em 19/01/2014 - 12:32:51
Tudo tem um fim... Amei a história.... =]
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maralopes Postado em 19/01/2014 - 07:28:39
eu estou muito triste pq vai acabar mas feliz pq as duas realmente se amam e poderão ser felizes juntas e a mai com a angel tão perfeitas' ai nem sei mas o que escrever pra ti mas só sei que te adoro e fico aguardando pelo ultimo capitulo e tua nova web' bjaum Angel
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delmyra Postado em 19/01/2014 - 00:50:18
nem acredito q a fic esta acabando. Eu amei. A fic é d+. Chorando em 5 4 3 2 1. Ansiosa pela próxima fic.