Fanfic: A Sensual Dulce - Portinõn | Tema: Portinõn

Anahí dormiu mal. A tortura de pensar se Dulce havia atendido ao seu pedido ou não. Será que havia resistido ao desejo de Alfonso? Tinha suas dúvidas. Maite também passou por sua mente torturada. Ela era mais uma prova que não devia confiar em uma mulher. A traição dela fora baixa. Se tivesse uma atração por Christopher, até entenderia. Mas havia sido uma traição fria, calculada, apenas para se vingar dela com aquele idiota.
Acordou cedo, depois de uma noite insone na maior parte do tempo. Olhou para o relógio. Sete horas. Dulce devia estar dormindo. Os convidados deviam ter se retirado tarde. Isso, sem contar de ela ter tido sexo com Alfonso.

Levantou, tomou um banho, vestiu-se e foi para o estúdio. Olhou pensativamente para os três quadros de Maite. As três faces da inocência! Que ironia! Deviam se chamar era as três faces da traição! Mas não podia colocar aquele título, que ficaria em desacordo com as imagens representadas. Iria permanecer com o título escolhido antes e os colocaria à venda. Não os queria mais em sua casa.
Saiu e fechou a porta do estúdio. Estava sem inspiração para pintar. Foi para a cozinha. A empregada lhe sorriu, preparando o café da manhã.

- Bon giorno, signorina Anahí! Acordou cedo hoje! O café está quase pronto! 

- Bon giorno, Rosetta. Vou querer apenas um copo de suco de laranja.

- Ah, isso já está pronto! Um momento...

A moça serviu o suco e Any o tomou de uma só vez. Ela depositou o copo na bancada da pia.

- Devo servir a signorina Maite no quarto?

Any a fitou, estacando sua ida para a sala de estar.

- Ela já chegou?

- Sim, quando a signorina estava no estúdio.

- Oh... Não, não a sirva no quarto, Rosetta. Vou conversar com ela e não quero ser interrompida, entendeu?

- Tutto bene, signorina.

Anahí se dirigiu para seu quarto. Era estranho, não estava sofrendo. Só estava sentindo a expectativa desagradável de quem vai cumprir um compromisso aborrecido. Nem raiva, nem ódio. Só desprezo. 
Maite estava sentada na cama de cabeça baixa. Ao vê-la entrar, ergueu o rosto e a encarou. Parecia abatida e seus olhos estavam vermelhos, mas isso não comoveu Anahí nem um pouco. Notou que ela ainda vestia a roupa da noite anterior. Devia ter chegado direto do motel onde dormira com Christopher.

- Any... Preciso conversar com você – Disse, com voz baixa.

Anahí cruzou os braços e a encarou friamente.

- Muito bem. Fale!

Os olhos de Maite se encheram de lágrimas.

- Ontem você magoou-me muito com suas palavras... Percebi que você não gosta mais de mim. E sei de quem é a culpa: Dulce! Você ficou furiosa porque eu falei mal dela! Eu falei tudo aquilo de propósito, para ver sua reação! E você reagiu além do que eu esperava! Ficou com ódio de mim porque falei mal dela! Confesse que está interessada nela, Any! – Terminou, em tom acusador.

Anahí a fitou se contendo para não jogar logo na cara dela a acusação de traição. Queria ver até onde Maite iria em seu papel de vítima.

- Quer dizer que a culpa é de Dulce, por você ter falado aquelas coisas? E que eu estou interessada nela? É o que acha? E já que pensa isso, o que pretende fazer?

Maite baixou os olhos.

- Eu... fiquei com muita raiva de você... Mas... Passou... Eu... Eu... Resolvi... Nos dar outra chance...me entender com você...

- Ah!... Então, você se arrependeu do que fez e veio consertar o seu ato?

Ela ergueu os olhos, a fitando com receio.

- Eu... Não sei do que está falando... Não fiz nada demais, apenas saí com Christopher e passamos a noite conversando em um bar...

Anahí riu, seu olhar endurecendo. Sua voz soou cheia de sarcasmo:

- Oh, a doce e inocente Maite... Você é uma vítima de Dulce, tudo que acontece com você é culpa dela, não é? Muito bem... Então, diga-me, foi culpa de Dulce você ter se entregado à Christopher no terraço, ontem à noite?

Maite empalideceu, fitando-a assustada. Mas reagiu:

- Tenho certeza que foi Dulce quem lhe contou isso! Mas é mentira dela!

Any perdeu a paciência. Pegou-a pelos ombros e a sacudiu, gritando:

- Eu pensei que você fosse assumir o que fez! Mas você é muito mais dissimulada do que eu pensei! Fui eu quem viu tudo, Maite! Eu vi você trepando com Christopher no terraço! E quase vomitei de nojo! Quer que conte os detalhes? Você segurando o pa*u dele? Você levantando o vestido...

- Pare! Pare, por Deus! – Gemeu Maite, escondendo o rosto nas mãos.

- Ah, agora está com vergonha? Não se preocupe. Não vi até o fim. Saí dali com ânsia de vômito – Disse Anahí, soltando-a e recuando.

Maite começou a soluçar. Isso irritou Anahí ainda mais. Ela usava o choro como arma para comover. Mas nunca mais cairia na encenação dela.

- Não devia chorar, Maite! Devia estar contente! Arranjou um namorado e passou a noite fazendo amor com ele! – Disse, com sarcasmo.

Maite tirou as mãos do rosto e a encarou entre lágrimas.

- Any, eu estava louca de despeito e ciúmes! Eu a amo quero ficar com você! Ter tido sexo com Christopher foi um erro! Perdoe-me, Any! Faço o que quiser, mas fique comigo!

Os olhos de Anahí brilharam de raiva.

- Por que esse teatro todo? Não seria mais digno você pegar suas coisas e ir embora de minha vida, seguir o seu caminho? Suas palavras de desculpas não me comovem mais! Assuma as conseqüências de seus atos, Maite!

- Como você é fria! - Soluçou Maite – Any, não entende? Eu estava revoltada com suas palavras! Queria vingar-me, estava de cabeça quente! Se não estivesse com Christopher, teria feito alguma loucura! Passei a noite no motel chorando, e ele procurando acalmar-me! Christopher é um rapaz muito bom, mas não o amo!

- Chega de justificar a sua traição! Eu não quero continuar com você Maite, aceite isso! Eu não posso ficar com uma mulher em quem eu não confio mais, que me traiu! E também eu não a amo, eu já havia dito a você inúmeras vezes que nossa relação não tinha futuro. Mas você preferiu insistir, remar contra a corrente, e agora se afogou em sua própria onda!

Maite ergueu-se e tentou abraçá-la, mas Anahí recuou, dizendo entre dentes:

- Não toque mais em mim! Você escolheu isso, quando resolveu trair-me com Christopher. Agora, não há mais retorno. Pegue suas coisas e vá embora, Maite. Eu vou para meu estúdio e vou lhe dar duas horas para pegar suas coisas e sair. Após esse tempo, não quero ver você aqui ou achar nada seu em minha casa. 

- Any... Você me odeia tanto assim? – Perguntou Maite, com os olhos cheios de lágrimas.

Any a encarou. Agora que havia desabafado, só sentia um grande vazio. Maite agora lhe parecia uma estranha. A Maite que pensara conhecer, não existia mais.

- Ódio é uma palavra muito pesada. Estou é magoada, decepcionada com você. Mas não a odeio, nem a amo. Esse foi nosso erro. Insistir em uma relação sem amor verdadeiro. É um tipo de relação frágil, que não resiste às tentações. Espero que encontre alguém que a faça feliz, Maite. Porque eu não sou essa pessoa. 

Ela saiu e fechou a porta atrás de si. Foi até a cozinha e falou com Rosetta, que descascava batatas:

- A signorina Maite vai voltar para sua casa. Quando sair, peça as chaves do apartamento. Eu vou para o meu estúdio. Deixe pronto o almoço e pode ir embora mais cedo.

- Si, signorina Anahí.

Anahí foi para o estúdio e se jogou no sofá, fechando os olhos. Lágrimas escaparam de seus olhos. E ali sozinha, sem testemunhas, chorou. Chorou sua decepção, seus medos, suas perdas. Angelique, Maite... Tão diferentes e tão iguais. E Dulce? Ela a surpreenderia também? Ali no silêncio do seu refúgio foi se acalmando e acabou adormecendo, vencida pelo cansaço emocional.
Acordou com o seu telefone celular tocando. Pegou-o no bolso do casaco e atendeu. A voz aflita de Dulce chegou aos seus ouvidos: 

- Any, está em casa? Estou preocupadíssima! Maite ainda não voltou para casa!

Any olhou para seu relógio de pulso.

- Ela já deve estar chegando aí, Dulce. Faz quase duas horas que falei com ela.

- Falou com ela? Pessoalmente, ou por telefone?

- Pessoalmente. Ela chegou quando eu estava no estúdio. Minha empregada me avisou que ela havia chegado e fui falar com ela.

- E como foi a conversa? Falaram civilizadamente, ou Maite se descontrolou?

A voz de Dulce estava cheia de ansiedade. Any contou todo o diálogo que tivera com Maite. Ouviu Dulce suspirar.

- Estou com medo que ela faça alguma bobagem, Any.

- Bem, vamos aguardar. Me ligue quando ela chegar. Se der para você vir para cá, venha, Dulce.

- Vou aguardar a chegada dela e ver o que posso fazer. Ciao, Any.

Dulce desligou e Anahí ficou pensativa, fitando o teto. Levantou quando ouviu baterem na porta. 

- Entre! – Gritou. 

Rosetta entrou, já sem o seu uniforme.

- Signorina Anahí, a signorina Maite já saiu há meia hora e eu a ajudei a levar as malas até o carro dela. Ela entregou-me as chaves. Aqui estão.

Any estendeu a mão e Rosetta lhe entregou o chaveiro com as chaves.

- O almoço já está pronto na estufa. Posso ir agora? – Perguntou a empregada.

- Sim, obrigada, Rosetta.

A empregada se foi e Any foi para seu quarto. Inspecionou o closet na parte destinada à Maite e viu que Maite havia levado tudo que pertencia à ela. Sentiu alívio e também tristeza. Mais uma mulher que saía de sua vida, depois de terem partilhado tantos momentos juntas. Um rompimento que não deixava margem à uma amizade, porque havia sido um rompimento com ressentimentos e traição.
Ela foi para a sala de estar e deitou em um sofá. Se Dulce chegasse, ela ouviria a campainha. Cenas do passado dela com Maite se desenrolavam em sua mente até que adormeceu novamente.