Fanfic: Razões do Coração (Terminada) Vondy | Tema: Vondy

Seu corpo conhecia o dele. Dulce gemeu ao sentir a mão forte deslizando por suas costas, insinuando-se por baixo do elástico de seu short.

Os olhos dele brilharam de triunfo.

"E ainda recupero meu orgulho ferido" ele falou."Orgulho que você roubou no dia em que me obrigou a implorar a um juiz o direito ao amor de meu filho!"

Sem mais, soltou–a.

Dulce demorou alguns segundos para compreender o que Christopher acabara de fazer. Horrorizada, percebeu como facilitara o trabalho para ele, e encolheu-se, consumida pela vergonha.

Em seguida, ergueu o queixo e preparou-se para dizer a Christopher o que ele devia fazer com seu orgulho, sua vingança e sua proposta indecente.

Um ruído na escada a fez voltar-se.

Ambos olharam para a porta da cozinha e, em seguida, para o relógio na parede: seis e meia. Aquilo significava que haviam acordado o garoto antes do horário.

Pelo canto dos olhos, Dulce notou que Christopher empalidecera.

Seria medo? Dulce lembrou-se do que Alexandra dissera, e sentiu pena dele. Christopher amava o filho. Ela nunca, jamais duvidara disso.

Sem pensar, estendeu a mão e tocou-o no braço, num gesto de solidariedade, então, dirigiu-se para a porta.

Ao pé da escada, estava Diegoo, usando jeans, camiseta e um boné de beisebol que cobria os cabelos escuros, com a mochila de viagem na mão, perto dele.

A expressão do menino era vazia. Ele ignorou totalmente a presença do pai e pousou desafiadoramente os olhos escuros na mãe.

"Vou fugir" anunciou. "E não tente me seguir."

Poderia ser cômico, mas Dulce nunca sentira menos vontade de rir em toda sua vida. Diego falava sério, queria ir embora por acreditar que ninguém o amava.

Dulce quis correr para o filho, abraçá-lo com força, mas Ucker foi mais rápido. E mais sábio. Nem tentou tocar o menino. Em vez disso, começou a falar em italiano, num tom suave e tranqüilo.

Diego respondeu com um breve olhar ao seu papá.

"Fale em inglês" mandou. "Não falo mais italiano."

christopher mudou de idioma sem hesitar, ainda que a rejeição do filho certamente o tivesse atingido feito uma punhalada.

"Mas para onde você vai?" perguntou a Diego. "Tem dinheiro para viajar? Quer algum emprestado?"

Os olhos do garoto piscaram, denotando desalento. Ele certamente não pensara em dinheiro, enquanto preparava a fuga. O que havia na mochila abarrotada, só Dulce podia adivinhar: brinquedos prediletos, algumas camisetas favoritas e o conjunto de moletom novo, pois ele não o estava usando. E lá no fundo, escondido, devia estar o pedaço de tecido velho e macio, que ele segurava para dormir, algo que os italianos chamavam de nana e de cuja existência só Dulce sabia. Diego preferiria morrer a deixar que seu papá soubesse daquela sua mania.

"Não quero seu dinheiro"  recusou, orgulhoso.

"Que tal tomar o café da manhã?" Dulce sugeriu, agachando-se ao lado dele. "Ninguém foge de casa sem tomar o café. Venha sentar-se, vou preparar seu suco" ela convidou, estendendo a mão.

Diego ignorou o gesto, enquanto seu olhar ia de Christopher para Dulce e dela para ele novamente.

Um profundo vinco apareceu em sua fronte.

hristopher praguejou baixinho, quando compreendeu o que se passava. Dulce levou mais alguns segundos para entender. Era a primeira vez, desde que sua memória tão jovem podia registrar, que o garoto se deparava com os pais, ambos juntos, a sua frente!

Subitamente, Dulce sentiu o braço caloroso e forte de Christopher envolver seus ombros.

Ele raciocinava depressa, Dulc pensou. Fazia jus a fama de exímio estrategista.

"Nós não queremos que nos deixe, filho" ele falou.

Os olhos de Diegoo procuraram os de Dulce.

"Você quer que eu fique?" ele perguntou em tom triste.

"Claro que quero, eu amo você!" ela falou simplesmente. "Nós dois amamos você" completou, decidindo incluir Christopher.

Mas diego estava desconfiado.

"Belinda disse que você não gosta de mim" disse, olhando acusadoramente para o pai. "Ela disse que fui um erro que só atrapalha."

"Você deve ter entendido mal" Vito respondeu com evidente tristeza.

"Não. Belinda disse que você odeia mamãe porque ela obrigou você a ter um filho" Diego prosseguiu. "Disse que é por isso que você mora em Nápoles, enquanto eu moro em Londres, bem longe."

Os dedos de Christopher apertaram o ombro de Dulce. Seria possível que ele acreditasse que ela envenenaria a mente do filho àquele ponto?, Dulce pensou, amargurada.

"O que Belinda diz não tem importância" ela garantiu ao filho. "O importante é o que papá diz. E nós dois amamos muito você. Acha que papá teria ficado sem dormir, pilotando seu avião durante a noite para vir até aqui, se não o amasse muito?"

A observação atingiu o alvo. Dulce notou uma sombra de dúvida nos olhos de Diego, quando ele olhou para Christopher.

"Por que você veio?" o menino quis saber.

"Porque você não vai me visitar" Christopher respondeu francamente. "E eu sinto muita, muita saudade de você."

Dulce deixou-se levar pelas lembranças que a palavra “saudade” evocaram. Ela sentia saudade de um outro ser pequenino que nunca estaria com eles. Christopher pareceu lembrar a mesma coisa, pois puxou-a para mais perto dele.

Diego suspirou profundamente e pareceu relaxar um pouco, apesar de ainda não estar pronto para baixar a guarda. As palavras de Belinda haviam deixado marcas profundas demais para serem apagadas com algumas frases.

"Onde está a nonna?" o garoto perguntou, tentando mudar de assunto.

"Prometi a ela que o levaria comigo para Nápoles amanhã, se pudesse convencê-lo a ir."

"Não gosto mais de Nápoles"  respondeu rapidamente. "Não vou voltar para lá, nunca mais!"

"Sinto muito ouvir isso, Diego" Christopher falou suavemente "Pois essa sua decisão vai estragar a surpresa que sua mamãe e eu planejamos para você."

"Que surpresa?" O menino perguntou, curioso.

Dulce olhou inquisitivamente para Christopher.

"Não vou morar em Nápoles!" Diego gritou, tirando suas próprias conclusões. "Nunca vou morar onde Belinda mora!"

"Belinda não mora na minha casa" Christopher observou.

"Mas vai morar, quando você casar com ela! Odeio Belinda!"

Christopher congelou Dulce com o olhar. Ele ainda acreditava que era ela quem punha idéias maldosas na cabeça de Diego.

"Mas como poderia me casar com Belinda, se continuo casado com sua mamãe?" argumentou, sabendo que atingira um ponto vulnerável do filho. "Sua mãe e eu queremos continuar casados, Diego. Nós nos amamos tanto quanto amamos você! Vamos morar juntos na mesma casa!"

Foi o golpe de misericórdia, desfechado com maestria.

Pelo canto dos olhos, Dulce viu Christopher olhar para ela com aquela expressão capaz de transformar um homem em demônio, num instante. Ele parecia dizer: negue, se for capaz!

Ela não podia, claro, pois o rosto de seu filho já se iluminara de felicidade. Tudo o que podia fazer naquele momento era observar.

"Você se unirá a nós, Diego?" Christopher convidou. "Vai nos ajudar a formar uma verdadeira família?"

"Quer dizer, você, mamãe e eu, juntos na mesma casa?"o garotinho perguntou, incrédulo.

"E a nonna" Vito completou "pois teremos que morar em Nápoles. É lá que eu trabalho, compreende?"

Compreender? O garoto estava mais do que pronto para aceitar qualquer coisa, desde que Christopher não alterasse aquele cenário de sonho.

"Mamãe gosta de Nápoles" Diego informou, enfático. "Sei disso porque ela gosta de ouvir sobre os lugares onde passeamos e as coisas que fazemos, quando vou para lá."

"Então, daqui por diante poderemos fazer tudo juntos, como uma família."

Nesse ponto, Dulce percebeu que a situação estava fora de seu controle.

"Vou me vestir" anunciou.

Os dois pareceram não escutá-la. Diego já correra para os braços de seu papá, feliz e animado.

"Se ainda tem alguma preocupação com seu bem estar físico, mantenha distância" Dulce advertiu.