Fanfic: Razões do Coração (Terminada) Vondy | Tema: Vondy

No pequeno mas ensolarado quintal, Dulce pendurava roupas no varal, buscando esquecer os últimos acontecimentos com aquela tarefa trivial.

Haviam brincado de “família feliz” durante toda a manhã, tomando um delicioso café da manhã juntos, enquanto planos e mais planos para uma vida futura eram os temas da conversa animada entre Christopher e Diego. Em seguida, o garoto levara Christopher para conhecer seu quarto, seus tesouros, seus brinquedos. Parecia estar no sétimo céu. Naquele momento, estava na casa de seu vizinho e melhor amigo, contando as novidades. Isso deixara Christopher livre para juntar-se a Dulce.

"Não tem secadora de roupas?" ele perguntou, franzindo a testa.

Em vez de responder, Dulce tirou outra peça de roupa do cesto e concentrou-se em pendurá-la. Não tinha consciência de como o sol brincava com seus cabelos, já presos firmemente num coque, separando fios de ouro e de cobre numa fascinante dança de cores.

Tampouco imaginava que Christopher observava sua saia justa, que realçava as curvas perfeitas, e a curta blusa branca que denunciava os seios que transbordavam do sutiã.

Ele a contemplava da sombra projetada pela casa e pensava no que ocorrera naquela manhã. Dulce suspirou, e atirou-se com mais afinco à tarefa, pois sentia as velhas sensações aflorarem de novo.

"Não pode deixar isso para depois?" Christopher perguntou de repente. "Temos muito que conversar, enquanto podemos."

"Acho que já falei demais por hoje" ela respondeu, irônica.

"Está nervosa" ele comentou.

"Estou?" Ela se voltou para ele. "Pensei que estivesse absolutamente calma."

Ouviam vozes de crianças no outro lado da cerca, e uma delas podia ser a de Diego. Christopher parecia saber disso muito bem, pois se aproximou de Dulce para que sua conversa não pudesse ser ouvida além do quintal.

"Sabe que eu não tinha alternativa" ele tentou se justificar.

"O todo-poderoso" ela revidou. "Fiquei impressionada, Christopher."

"Não me pareceu" ele suspirou, enquanto pegava outra peça de roupa no cesto e entregava a ela.

Christopher Von Uckermann ajudando a pendurar roupas no varal! Por alguma razão absurda, aquele quadro fez com que o instinto sexual de Dulce reagisse novamente de maneira familiar.

"Fiz minha vida aqui" ela começou. "Tenho um trabalho que adoro e compromissos que preciso cumprir."

"Com suas qualificações como secretária, não lhe faltará trabalho" Christopher apressou-se em assegurar. "Templeton & Lang não é a única firma de advocacia especializada em direito europeu."

"Sabe onde eu trabalho?" ela perguntou, surpresa.

"Diego tem sido um pródigo contador de histórias sobre o trabalho importante de sua mamãe."

"Você certamente não aprova" ela presumiu.

"Que você trabalhe?" ele perguntou, tirando mais uma peça de roupa do cesto. "Sabe que eu gostaria que ficasse em casa com Diego."

"A necessidade obriga" ela rebateu.

Não queria entrar novamente naquele assunto que já rendera inúmeras discussões. A primeira acontecera logo que se casaram. Com sua fluência em idiomas, fora fácil para Dulce arranjar trabalho. Em Nápoles, por exemplo, conseguira emprego numa agência de turismo. Christopher ficara furioso, argumentando que todos iam comentar, se ele permitisse que sua esposa grávida trabalhasse.

Fora apenas uma de suas malditas brigas, Dulce lembrou, entristecida.

"Não é culpa minha" Christopher falou secamente. "Foi você que recusou minha ajuda, quando me deixou."

"Posso me manter" ela afirmou.

Na verdade, sempre fora capaz de se sustentar, mesmo quando morava na luxuosa casa de Uckermann, podendo levar a vida de milionária. Nunca ficara desamparada na vida, pois seu pai fora previdente e a deixara em boa situação, quando falecera. Ela era dona da pequena casa onde morava, não tinha dívidas, e ainda conseguia poupar algum dinheiro para eventuais necessidades.

Criada por um pai sozinho, Dulce aprendera desde muito jovem a ser independente e confiante. A única ocasião em que sentira sua autoconfiança abalada fora durante sua segunda gravidez. Estava fraca e doente demais para lutar pelo que quer que fosse, inclusive seu marido.

A velha ferida começou a doer de novo, o que sempre a deixava desolada.

"Não posso viver com você novamente, Christopher" ela sussurrou. "Não posso!"

Um lampejo de tristeza passou pelo olhar dele, mas Christopher não mostrou compaixão.

"Tarde demais" ele declarou com aspereza. "Não se trata de sua vontade, nem da minha, mas sim da vontade de nosso filho."

"O filho que sobreviveu" ela complementou em tom de sofrimento.

"Podemos chorar os mortos" ele murmurou "mas temos que cuidar dos vivos. Não vou permitir que você faça Diego pagar pela morte do irmão!"

Dulce concluiu que Christopher certamente possuía as táticas certas, pois o ódio dele acendeu o dela novamente.

"Acredita mesmo que é isso que estou fazendo?" ela perguntou, exaltada.

Christopher deu de ombros.

"Não sei, nem quero saber" ele resmungou. "Mas nosso futuro está resolvido. Aceite o fato e deixe o passado para trás."

Dizendo isso, ele se virou, a cabeleira escura cintilando ao sol.

"Isso inclui Belinda?" Dulce ainda perguntou.

Ele já não escutava. Sua atenção estava voltada para as cercas baixas das casas vizinhas, por cima das quais algumas cabeças sobressaíam curiosas.

"Mas que inferno!" Dulce praguejou baixinho.

Então o telefone da cozinha tocou. Ela apressou a entrar aliviada por deixar o quintal.

Que Christopher fique com a curiosidade dos vizinhos, pensou.

De tão tensa, quase gritou ao atender o telefone.

"Cuidado, querida" uma voz brincalhona protestou. "Tenho ouvidos sensíveis!"

"Derick!" ela saudou alegremente. "O que o faz ligar para mim tão cedo?"

"Linda manhã, não?" ele prosseguiu. "Como tenho um tostão sobrando para gastar com minha pessoa favorita, pensei em você."

Dulce já não o escutava. Sua atenção estava voltada para Ucker, parado à porta da cozinha. Ele certamente já ouvira o suficiente para identificar o tom de intimidade que ela usara. Ela, então, com prazer perverso, concentrou-se no que Derick dizia.

"Quando lembrei que hoje seu filho vai viajar para a Itália, pensei em arrastá-la para almoçar à beira do rio, já que estará livre dos afazeres habituais" ele explicou.

Dulce não se sentia livre, mas sim encurralada, prisioneira de um par de olhos quase dourados, que brilhava com expressão ameaçadora.

Dulce sentiu arrepios na nuca.

"Desculpe, Derick" ela começou "mas a viagem de Diego foi... adiada."

"Oh..." ele murmurou, desapontado.

"Posso ligar outra hora, quando estiver livre?" ela pediu. "É que não posso conversar neste momento..."

"Há alguém aí com você" ele deduziu.

O advogado experiente soubera interpretar corretamente a hesitação na voz dela.

"Isso mesmo" ela confirmou, sorrindo.

"Homem, mulher ou criança?" Derick indagou, brincando.

Eu diria que é uma fera pronta para atacar, Dulce pensou.

"Obrigada por ser tão compreensivo. Ligo assim que puder" ela prometeu.

Despediu-se apressadamente e desligou.

"Era Derick" ela disse a Christopher, sorrindo para esconder o nervosismo.

"E?" ele ergueu uma sobrancelha, curioso. "Presumo que esse... Derick desempenhe um papel por aqui, não?"

"Não é da sua conta" Dulce respondeu.

Foi na linguagem corporal que Dulce se expressou, cruzando os braços numa atitude de claro desafio.

A porta dos fundos bateu de repente, fazendo-a pular.

"De novo a linguagem corporal" ela resmungou por entre os dentes.

"Ele é seu amante" Christopher acusou.