Fanfic: Razões do Coração (Terminada) Vondy | Tema: Vondy

Diabos, ela praguejou consigo mesma.

         Era mesmo Chris. Uma súbita onda de calor percorreu seu corpo. A garganta parecia fechada. Tentou falar e não conseguiu. Fechando novamente os olhos, ela pode vê-lo tão claramente quanto se ele estivesse a sua frente: alto, cabelos pretos, pele morena e corpo esbelto, sempre na característica postura de firmeza e arrogância.

         Ele estava usando um terno escuro, ela sabia, pois aos domingos a família Uckermann sempre se vestia formalmente para o jantar. Era domingo, e em Nápoles a hora do jantar estava próxima. O terno seria preto, ela concluiu, a camisa branca, e a gravata borboleta, preta.

         Dulce podia ainda visualizar os olhos cor de mel com aqueles longos e espessos cílios que pareciam capazes de hipnotizar. Ninguém podia pensar em outra coisa quando preso àquele olhar, portanto o pensamento de Dulce passou à boca  máscula. Lábios sensuais, boca de amante nato: bonita, sedutora e perturbadoramente expressiva, que podia caçoar, ofender ou beijar como nenhuma outra. E mentir, e proferir palavras de ódio.

         -Quem fala, por favor? -  Ele perguntou em italiano.

Alô, Christopher¾ ela murmurou roucamente. - Sou eu Dulce...

         A bomba fora detonada, na forma de um silêncio terrível, daqueles que deixam os nervos em frangalhos. Com a boca seca, pernas bambas e o coração ao saltos, ela tentou falar novamente.

         Mas Chris foi mais rápido.

         -O que houve com meu filho? - Ele quis saber, trocando o italiano por um inglês carregado.

         -Está tudo bem -  Ela conseguiu falar. - Diego não está doente.

         Houve mais um momento tenso, enquanto Chris absorvia a informação.

         -Então, o que a fez telefonar para cá? - Ele perguntou friamente.

         Com uma careta, Dulce reconheceu o direito dele àquela pergunta, e fez um esforço para não retrucar.

         O fim de seu casamento não fora agradável, e a hostilidade entre eles resistira aos três anos de separação.

         Três anos atrás, Chris ficara tão furioso com a partida de Dulce, levando Diego, que fizera toda sorte de ameaças ruidosas.

         Ela respondera com uma ação na justiça que proibia Chris de entrar em contato com ela, a não ser através de uma terceira pessoa. Nunca achara que Chris a perdoaria por tê-lo feito passar pela humilhação de jurar, perante o juiz, que nunca procuraria Dulce pessoalmente nem tentaria tirar Diego do país, apenas para conseguir permissão de estar com seu próprio filho.

         Eles não haviam trocado uma palavra desde então.

         Chris tivera que esperar um ano para conseguir legalmente o direito de levar o menino para Itália. Antes disso, tivera que ir à Inglaterra para ver o filho. E até o presente momento, Diego tinha sido levado e trazido de volta pela avó, para que seus pais não se encontrassem.

         Na verdade, o único ponto amigável mantido por Dulce e Chris fora reconhecer que Diego tinha o direito de amá-los igualmente, sem sentir-se pressionado ou influenciado pelas desavenças entre os pais. Isso fora sempre enfatizado por uma enérgica avó, que fora alçada à posição de juiz muitas vezes, quando a hostilidade entre eles estava no auge.

         Dulce acostumara-se a ouvir calmamente, quando Diego discorria apaixonadamente sobre as virtudes de seu adorado papá, e imaginava que Chris se habituara a fazer o mesmo com relação a ela.

         Isso, entretanto não significava que a animosidade entre eles tivesse diminuído. Era só disfarçada, para o bem de Diego.

         -Na verdade, eu estava querendo falar com Alexandra -  ela explicou o mais fria e rapidamente que pode. - Se puder chamá-la, eu agradeceria.

         - E eu insisto em saber -  ele retrucou, incisivo. - O que está havendo de tão importante, para você ousar ligar para cá?

         Dulce percebeu que ele não deixaria Alexandra interferir.

         - Prefiro falar com sua mãe - ela insistiu, teimosa.

- É claro - ele respondeu calmamente. - Quando ela for buscar Diego pela manhã.

         - Não, Chris, espere! - ela gritou, pondo-se de pé, com um salto.