Fanfic: Razões do Coração (Terminada) Vondy | Tema: Vondy

O carro subia a colina, e quanto mais alto chegavam, maiores eram as residências e mais extensos os jardins.

Ao passarem por um portão duplo de ferro trabalhado, que se abriu automaticamente, Dulce começou a observar o caminho ladeado de árvores de sua antiga casa.

O jardim, tipicamente italiano na forma, era um encanto, todo em terraços, com caminhos, cercas-vivas e degraus de pedra ligando um terraço ao outro. Havia vários pequenos pátios, com fontes encantadoras, emolduradas por cercas-vivas de jasmim e primaveras que floriam, exuberantes, naquela época do ano.

A Vila Uckermann existia há séculos, fora reformada e ampliada até tornar-se a propriedade mais cobiçada do lugar.

Muros brancos, de até um metro de espessura em alguns pontos, guardavam o interior. Bom gosto e senso estético faziam parte dos genes dos Uckermann. Não havia exatamente terraços no andar de cima, mas cada suíte tinha uma sacada realçada por um arco de pedra que encimava colunas, também de pedra. Essas sacadas prolongavam-se para dentro dos quartos, com o propósito de oferecer, ao mesmo tempo, sombra e uma esplêndida vista da baía de Nápoles. No andar de baixo, outros arcos seguiam o mesmo desenho, porém abriam-se para um terraço que circundava toda a casa.

Nada fora neglicenciado. Até os quatro degraus muito largos, que levavam à entrada, haviam sido projetados com o intuito de engrandecer a residência.

O caminho curvava-se em direção aos fundos da casa, onde Dulce sabia estavam as garagens, ladeadas pelos estábulos, duas quadras de tênis e uma piscina estrategicamente construída num vale natural no terreno. Mas Christopher estacionou o carro na frente da casa e Diego já quis sair.

"Depressa, mamãe" o menino exclamou, impaciente, "Quero fazer uma surpresa para a nonna!"

Saindo do carro, Dulce destravou a porta traseira, libertando o filho, observando-o correr para a porta da frente.

"Nonna! Onde você está? Sou eu, Diego! Cheguei!"

O coração de Dulce contraiu-se. Seu filho parecia mesmo em casa. As palavras dele tinham fluído no mais perfeito italiano, como se aquela fosse a única língua que ele conhecesse.

Do outro lado do carro, Christopher também observava o filho. Então, virou-se para Dulce.

"Tome" murmurou, atirando algo para ela. "Um presentinho para dourar a pílula amarga."

Surpresa, ela percebeu que ele lhe jogara as chaves do carro.

Por um momento, pensou que Christopher esperava que ela levasse o carro à garagem. Em seguida, compreendeu a ironia das palavras dele.

Christopher a presenteara com aquele lindo carro! Ela o olhou, tentando, através das lentes escuras dos óculos de sol, decifrar se aquilo era uma brincadeira.

Debaixo do céu de sua terra natal, Christopher era, mais do que nunca, o típico italiano arrogante. Arrogante e sexy.

Dulce sentiu novamente o desejo brotar dentro dela. Era horrível, como se fosse bruxaria! Até o modo como Christopher enrolara as mangas da camisa azul-clara, deixando à mostra braços fortes e másculos, pareceu-lhe vergonhosamente sensual.

"Não posso aceitar!" ela exclamou.

Surpreendeu-se, imaginando se era o carro ou o apelo sexual que não queria aceitar.

"É demais, Christopher. E eu tenho um carro por aqui, em algum lugar" ela lembrou, olhando a sua volta, como se esperasse ver seu pequeno Fiat.

"Ele perdeu a vontade de viver há mais de um ano, porque ninguém o usava" Christopher informou, referindo-se ao carro. Então, recitou, sarcástico: "Aceite, simplesmente, e agradeça gentilmente."

"Tão gentilmente quanto você me ofereceu o presente?" ela retrucou no mesmo tom.

Ele sorriu e ia dizer algo mais, quando sua mãe apareceu no terraço.

Aos sessenta e poucos anos, Alexandra ainda era uma mulher realmente bonita. Um pouco mais baixa que Dulce, e esguia, ela parecia destinada à eterna juventude. Sua pele era tão macia quanto a de uma jovem de vinte anos, e os cabelos continuavam pretos com a ajuda ocasional de seu cabeleireiro.

Mas era seu interior que fazia com que as pessoas gostassem dela. Não havia traço de egoísmo em seu caráter. Alexandra era boa, gentil e carinhosa. Recusar-se teimosamente a ver defeitos nos outros era seu único e pequenino pecado.

Isso incluía a nora, o filho e, claro, a afilhada Belinda.