Fanfic: Razões do Coração (Terminada) Vondy | Tema: Vondy

Um som ainda distante chegou até eles. Um carro aproximava-se por um caminho alternativo, usado às vezes pelos vizinhos.

Christopher puxou Dulce pelas mãos, obrigando-a a levantar-se e entrar no Mercedes.

"O que foi?" ela quis saber.

"Fique quieta" ele comandou.

Dirigiu-se apressado para a casa, voltando momentos depois com as chaves do carro na mão. De passagem, ele apanhou a bolsa de Dulce e recolheu o conteúdo espalhado. Jogou-a no banco de trás, junto com os dois óculos escuros.

Dando partida no carro, colocou-o em movimento rapidamente.

"Diego e minha mãe estão voltando" ele explicou. "Acho que você não gostaria que a vissem nesse estado."

Parando o carro depois de algum tempo, Christopher Uckermann olhou para Dulce, uma mulher que já conhecera mais do que a dose justa de dor e sofrimento na vida.

"Quantas destas deixou de tomar?" ela perguntou de chofre.

Dulce ergueu os olhos apagados para ele.

"Você mesmo pode contar" respondeu.

"Acho que meus olhos recusam-se a ver que a de ontem continua aqui" Christopher comentou em tom azedo.

Uma pílula anticoncepcional para cada dia, desde que ele voltara à vida dela, pensou. Três. Ela só tomara duas.

"Odeio você" Dulce murmurou. "Tem estragado minha vida desde que eu tinha vinte e três anos! E continua estragando, seis anos depois!"

Christopher esteve a ponto de comentar que não fora ele que esquecera de tomar a maldita pílula, mas engoliu as palavras.

"Discutir para saber de quem é a culpa, não resolverá o problema" ponderou.

"Nada resolverá" ela falou, desolada. "O estrago já está feito."

Christopher não disse mais nada. Tomou a pôr o carro em movimento e dirigiu-o até o topo da colina, de onde descortinava-se uma vista daquelas que as pessoas pagam fortunas para apreciar.

Eles, porém, não viam aquela beleza. Estavam cercados pelo mais absoluto silêncio. Nenhum pássaro, nenhum carro, nem mesmo uma brisa. Pareciam as duas últimas criaturas na face da terra, o que condizia com o estado de espírito deles. Duas pessoas sozinhas, unidas por um problema que as isolava do resto do mundo.

"Sinto muito" Christopher murmurou por fim.

"Não foi sua culpa" Dulce respondeu, dando de ombros. "Eu é que fui estúpida."

"Talvez tenhamos sorte e nada aconteça" ele sugeriu, tentando animá-la.

"Não conte com isso" ela retrucou. "Corremos o risco duas vezes, e nas duas eu engravidei. Por que seria diferente desta vez?"

"Deve haver alguma coisa que se possa fazer!" – Christopher disse, irritado. Então, ocorreu-lhe um pensamento. "Vamos procurar um médico" ele decidiu. "Existe aquela pílula do dia seguinte, como dizem..."

Dulce encolheu-se.

"Sabe como chamam essas pílulas, Christopher? Pequenos abortos" ela informou. "Porque é isso que provocam. Abortam o óvulo, fertilizado ou não!"

"Mas você sabe perfeitamente o que os médicos nos disseram" Christopher lembrou-a. "Outra gravidez poderá ser perigosa."

Os olhos de Dulce brilharam ao sol poente.

"Então, extermino uma vida para proteger a minha?" ela perguntou debilmente.

Deixando Christopher sozinho, Dulce desceu do carro e caminhou descalça até o velho cipreste.

Encostada no tronco rugoso, deixou-se levar pelas lembranças.

Primeiro quase perdera Diego, devido a complicações no meio da gravidez. Depois, contrariando as previsões médicas perdera o segundo bebê.

"Nada mais de filhos" o médico dissera "Seu corpo poderá não agüentar."

Um movimento ao seu lado indicou que Christopher juntara-se a ela.

"Diego precisa da mãe, Dulce" ele observou.

Ela entendeu perfeitamente o que ele queria dizer.

Lágrimas queimaram seus olhos novamente.

"Vou tomar a tal pílula do dia seguinte" rendeu-se conformada.

Sem mais palavras, caminhou de volta para o carro. Christopher seguiu-a prontamente.