Fanfic: Razões do Coração (Terminada) Vondy | Tema: Vondy

Dulce silenciosamente admitiu que não. Sem alternativa, mudou de assunto.

"Mas você me prometeu que, se eu voltasse, Belinda ficaria fora de nossa vida, não é?"

"Não" ele negou isso também. "Se pensar bem, Dulce vai lembrar que eu disse que não podia fazer tal promessa."

Ela suspirou aborrecida.

"Tenha decência, Christopher!" ela exclamou. "Um homem não pode manter a esposa e a amante sob o mesmo teto!"

"Não vou lhe dizer de novo que ela não é minha amante!"

"Ex-amante, então" Dulce concedeu. "Ela não devia estar aqui!"

"Você está louca, obcecada e enganada" ele concluiu.

"Então estou louca" sibilou. "Você se casou com uma lunática com delírios paranóicos. É bom que você saiba lidar com esses “delírios”, antes que eu mesma tente me livrar deles."

Christopher riu.

"Está mesmo louca" ele murmurou, fingindo pesar.

"É genético" ela informou, irônica. "Como os cabelos claros e os olhos verdes!" ela explicou. "Acredito que possa fazer bruxarias também, e voar numa vassoura. Isso significa que posso identificar outra bruxa quanto a vejo."

"Refere-se a..." Christopher sorriu, interrompendo-se.

"Belinda" ela resmungou. "Bruxa completa, com olhos, cabelos e coração negros! E com uma queda por maridos alheios!"

"Ela tem sido amiga da família há anos" Christopher lembrou-a. "E não vou, de maneira nenhuma, afastar Belinda, simplesmente porque você não gosta dela."

"E que tal fazer isso porque Diego não gosta dela?" ela sugeriu.

"Ele não gosta do que você não gosta" Christopher acusou.

"Ah, então a culpa é minha" ela retrucou, zombeteira. "Eu deveria saber."

"Recuso-me a me render a preconceitos infundados" ele falou com firmeza.

Ele queria uma prova da maldade de Belinda, Dulce ponderou. Bem, ela possuía uma, ainda que circunstancial.

O ponto era: devia contar a ele? Na última vez em que ela tocara no assunto, ele ficara tão arrasado! Mas, lembrando do filho que perdera e das profundezas em que Belinda a lançara tomou uma decisão.

"No dia em que comecei a perder o bebê, liguei para todos os lugares possíveis, procurando você. Por fim, encontrei-o no apartamento de Belinda."

"Sei disso" ele confirmou. "Nunca neguei que estava lá."

Só que a desculpa dele fora a de que queria embebedar-se para esquecer a amargura causada por sua última briga.

A versão de Belinda fora bem diferente, Dulce lembrou.

"Por quê, então, se Belinda o acordou imediatamente, você levou seis horas para chegar ao hospital?" perguntou. "O trânsito estava horrível, não? Ou você ficou sem gasolina? Parece que essa é uma das desculpas masculinas mais freqüentes. Ou, talvez, Belinda tenha esperado demais para lhe dar o recado."

"O que isso lhe diz a respeito de sua preciosa Belinda? Não me diga, pois na verdade não me interessa saber, mas, de agora em diante, quando eu lhe disser que aquela mulher é puro veneno, é bom que acredite. E mantenha-a longe de mim e de meu filho, ou iremos embora. Se isso for preconceito, tudo bem, que seja. Mas também é um juramento!"

Dulce tinha certeza de uma coisa. Se Christopher continuasse a ficar ao lado de Belinda, seu casamento estaria definitivamente acabado.

"Está bem" ele finalmente falou. "Vou ver o que posso fazer. Existem alguns projetos na espera. Um em Nova York, outro em Paris. Belinda seria a pessoa ideal para supervisioná-los, mas ela terá que finalizar outras negociações, antes de poder sair do país. E o aniversário de minha mãe está se aproximando. Sessenta e cinco anos, e ela está planejando uma grande festa. Espera que Belinda esteja aqui. Tente compreender."

Dulce admitia que Christopher tinha o direito de não querer magoar a mãe, da mesma forma que ela se achava no direito de evitar que Diego fosse magoado.

"Duas semanas, e prometo que ela sairá desta casa e de Nápoles" ele afirmou.

Duas semanas, Dulce pensou. Poderia aturar Belinda duas semanas inteiras?

Não tinha escolha, estava presa naquela casa quaisquer que fossem, as circunstâncias, pois era ali que Sandro desejava estar.

"Está bem" ela concordou. "Tem duas semanas. Mas nesse ínterim, mantenha aquela mulher longe de mim e de Diego!" advertiu.

Dizendo isso, começou a andar para a porta de vidro.

"Não dormi com Belinda no dia em que nosso filho morreu" ele declarou com voz grave, indo atrás dela.

"“Dormir” parece ser a palavra chave" ela observou com desdém.

"Alguma vez pronunciei o nome de Belinda enquanto dormia ao seu lado?" ele quis saber.

Dulce parou. Sabia exatamente onde ele queria chegar.

"Não" admitiu.

"Diferente de você com aquele seu Derick. Ainda bem que foi poupada de tamanha indignidade!"

"Nunca dormi com Derick" ela confessou.

Na sacada vizinha, Belinda deu um passo à frente, tomando mentalmente nota do novo nome que surgia naquele contexto. Sentiu-se reanimada. Poucos momentos antes, vira-se quase derrotada.

"Estranho" Christopher murmurou "mas não acredito em você. O que restou de nossa confiança?"

"Nunca houve nenhuma" Dulce observou, pesarosa. "Você se casou comigo porque precisou. Aceitei por achar que devia. Não se constrói confiança sobre tais bases."

Ele não parecia ter resposta, por isso Dulce abriu a porta e entrou no quarto.

Christopher não a seguiu. Permaneceu na sacada por muito tempo.

Quando finalmente entrou, tinha a expressão carregada e tensa.

Toda a intimidade que haviam conseguido alcançar naquela tarde, na cama, fora irremediavelmente abalada.