Fanfic: Razões do Coração (Terminada) Vondy | Tema: Vondy

Às cinco horas da manhã seguinte, depois de virar-se durante muito tempo de um lado para o outro da cama, Dulce finalmente desistiu de dormir. Estava a ponto de levantar-se, quando ouviu o som de um carro parando em frente a sua casa. Um casal vizinho usava os serviços de táxis com freqüência pela manhã, portanto ela não deu importância ao fato e se dirigiu ao banheiro.

         Sua mente estava ocupada com outras coisas, como o dia que tinha pela frente e que prometia ser tão traumático quanto fora a noite.

         Passando pelo quarto de Diego, ela abriu a porta para ver se ele ainda dormia. A visão de um tufo de cabelos pretos saindo de baixo de um edredom estampado foi como um bálsamo para ela. Ao menos Diego dormira, apesar da tensão nervosa.

         Fechando novamente a porta, ela desceu a escada com intenção de preparar um bule enorme de café, com o qual esperava reanimar-se antes da próxima batalha. Entretanto, à fraca luz da manhã, uma sombra projetou-se no vidro jateado da porta da frente.

         Dulce viu a silhueta de um homem alto, parado no pequeno terraço diante da porta.

         Franziu as sobrancelhas. Quem poderia ser? Era muito cedo para o carteiro, ela considerou.

         Naquele momento, percebeu que o homem inclinava-se para tocar a campainha.

         Entrou em ação rapidamente. Precisava evitar que, quem quer que fosse, tocasse a campainha e acordasse Diego. Abriu a porta da frente de repente, sem muita noção do que fazia.

         Só percebeu que se esquecera de pôr o pega-ladrão, na noite anterior, quando a porta escancarou-se.

         Mas, àquela altura, isso não tinha mais importância.

         Seu coração apertou-se. O choque de ver Chris ali, em carne e osso, depois de três longos anos, foi tão forte, que ela perdeu a capacidade de falar e de mover-se.

         Mas examinou-o detidamente, como que hipnotizada. Nada lhe passou despercebido. Ela viu o brilho dardejante dos olhos, a boca zangada, até o jeito com que ele, afastando ligeiramente o paletó, pusera a mão no bolso da calça.

         Chris usava terno preto e camisa branca, confirmando o que ela imaginara na noite anterior. Só faltava a gravata borboleta, e o botão de cima da camisa estava displicentemente aberto, mostrando o pescoço bronzeado.

         Dulce considerou a hipótese de ele ter ido diretamente para Londres, assim que saíra de sua casa, em Nápoles, na noite anterior. Como chegara tão depressa, ela não sabia. De qualquer forma, se Chris esperava impressioná-la com toda aquela pressa, demonstrando preocupação com Diego, não conseguiu.

         Ela não o queria ali. Não desejava ver aqueles olhos cor de mel escuro olhando-a de alto a baixo, avaliando-a como se ela ainda fosse um dos seus pertences.

         Isso a fez tomar consciência de sua própria aparência. Acabara de acordar! Seus cabelos, normalmente uma massa de fios cor de ouro acobreado, escorriam murchos até os ombros, e ela estava vestida apenas com um curtíssimo pijama de algodão semitransparente. Nada disso, porém, a perturbou.

         O olhar de Chris desceu lentamente pelo corpo esbelto, cílios escuros emoldurando olhos lânguidos, que pareciam acariciar a pele macia de Dulce. E, ela sentiu renascer em seu corpo algo havia muito adormecido: desejo.