Fanfic: Fearless - Sem medo
Olhares indiscretos
Seatle. Dezembro, 2013.
Seria hipocrisia dizer que Adam gostava de sair de sua casa em Minor, Seatle, para trabalhar em um restaurante chinês onde ganhava trezentos dólares por mês e era feito de escravo. Mas como todo jovem prestes a se formar e chegar a fase adulta, precisava de dinheiro para a faculdade e para a vida, que não estava fácil já que sua mãe Melinda Backer estava a algum tempo pulando de emprego em emprego.
Adam viu a placa em frente a loja do Sr Ming, não era nem de longe o emprego dos seus sonhos mas era o que tinha em mãos no momento. Ao entrar e avisar que estava se candidatando a vaga, foi imediatamente contratado antes mesmo de alguma entrevista, o que facilitou muito sua vida. O trabalho no Win Yao, restaurante de comida chinesa no centro de Seatle era árduo, cansativo e com certeza frustrante. O uniforme vermelho e chapéu com o rosto do Sr Ming desenhado davam um toque de vergonha com uma pitada de derrota a quem o vestisse. Adam conseguia deixar sua aparência pior, de alguma forma, mas seguia firme em suas entregas pela cidade.
Depois de três meses de trabalho, Adam ja conhecia quase todo o centro de Seatle e um pouco do subúrbio. Ao passar com sua bicicleta vermelha era cumprimentado pelos pedestres e respondia com um aceno a buzinadas eventualmente dirigidas a ele. Se não existia alguma forma de gostar daquele emprego, ele se acostumou. A força desconhecida que o mantinha na cama após o despertador já não existia mais, o rosto cansado mesmo dormindo bem, já não ocupava o reflexo no espelho. Assim, aquele era mais um dia de luta e molho de tomate derramado no uniforme, Adam levantou e se arrumou como de costume. No café, sua mãe contava o que iria fazer no novo emprego.
— Eu serei a secretária de um importante executivo. Parece que ele é dono de alguns prédios em Seatle e Nova Iorque, é muito rico. Greg O`conner, ja ouviu falar nele?
— Greg O`conner.. Não, acredito que não. Mas com certeza é um emprego muito bom, mãe!
— Claro que é! E desta vez não vou estragar tudo derramando café no terno novo dele, ou estapear a cara dele achando que esta dando em cima de mim. - Adam virou os olhos lembrando do motivo de sua mãe ter sido despedida do ultimo emprego.
— Se a senhora achar que ele esta dando em cima, finja que não é com a senhora. Mas se tentar algo, enfie a mão dele no triturador de papel.
— Querido, não vou enfiar a mão de um homem no triturador de papel, eu provavelmente seria presa.
— E ele provavelmente nunca mais iria tocar outra mulher sem a permissão dela. - Dessa vez, Melinda virou os olhos enquanto tomava o ultimo gole do seu café.
— Me deseje sorte. Estarei de volta as sete, então prepare seu lanche e eu preparo o jantar quando voltar.
— Ok mãe, Boa sorte! Não esqueça, triturador.. - Disse ele quando sua mãe se abaixou para beijar sua testa.
— Não vou esquecer. bom trabalho, mande um abraço ao Sr Ming!
Ela já se afastava com sua bolsa até a porta da frente quando Adam percebeu a chave do carro em cima da bancada, onde ela sempre deixava ao chegar. Pegou então a chave e foi correndo para alcança-la.
— MÃE, SUA CHAVE! - Ele a alcançou quase no carro, e Melinda já revirava sua bolsa a procura da chave. - Mãe.. sua chave, ficou na bancada..
— Oh querido, obrigado! Eu jurava que tinha posto ela na bolsa. Eu ando tão esquecida ultimamente, não sei o que dá em mim.. - Disse ela enquanto já se afastava para entrar no carro, esquecendo totalmente de seu filho ali parado.
Adam voltou para pegar sua mochila e se dirigir a parada de ônibus a uma quadra de sua casa. Verificou seu celular em busca de alguma mensagem de Peter ou Amanda, e como de costume, Amanda tagarelava sobre suas tentativas de flerte com os garotos da escola. Peter enviou uma de suas mensagens matinais "Traga alguma coisa do Yao para mim, cara? Aquele macarrão com molho é o melhor da cidade. Subi um nível no Warcraft, ajoelhe-se diante do rei. ", Adam riu e respondeu aos dois enquanto dirigia-se para a porta da frente.
A parada de ônibus estava vazia, apenas uma senhora que descia sempre três paradas antes da de Adam estava sentada ali. Ele esperou pelo seu ônibus, que já estava alguns minutos atrasado, quando seu celular vibrou em seu bolso e ele o buscou para verificar.
" Ele é tipo, muito fofo! Comprou algodão doce pra mim, me trouxe em casa e me convidou para o baile. Eu acho que vou dar uma chance para ele. " Dizia o sms de Amanda. Adam já conhecia o desfecho dessa história, o garoto magoaria ela e ele serviria de ombro para que ela chorasse, e de ouvido para que ela esparramasse todo o desgosto pelos homens.
" Você sabe como termina isso, certo? Já estou comprando o sorvete e os lenços de papel para quando ele te chutar. " Ao apertar o botão "Enviar", Adam sabia que estaria cutucando um leão com uma vara tão curta que provavelmente seria impossível escapar.
Ao sentar-se no ônibus ao lado de um garoto gótico mal encarado, Adam novamente sentiu seu celular vibrar.
" Você diz isso porque eu provavelmente não aceitaria ir ao baile com você, aliás, nenhuma garota aceitará ir ao baile com você. Aceite que os garotos me desejam e não querem só me usar. Fez o dever de História? "
Como dizer a uma garota que um garoto só quer usá-la, sem afetar seu ego? E agora, seu próprio ego estava ferido. É claro que alguma garota iria aceitar ir ao baile com ele.
" Droga! Eu esqueci completamente.. Talvez você me livre dessa? "
O Garoto tentava espiar o visor de Adam, e sem demonstrar aborrecimento, ele desviou o celular da visão do garoto estranho. O trajeto estava sendo rápido, para uma quarta feira que normalmente trazia engarrafamento de Minor até a quinta avenida. O celular novamente deu sinal.
" Eu já sabia disso, fiz duas cópias porque sabia que vocês se preocupariam mais com seus orcs virtuais do que com o dever. E aliás, o fim do trimestre se aproxima e se você quer ir pra faculdade, esqueça esse jogo idiota e aumente suas notas! "
Adam sorriu para ele mesmo. Amanda sempre se preocupou com ele e Peter, ela os levou nas costas na oitava série e eles até hoje devem uma viajem para a Disney a ela.
" Ok, mamãe. Te devo mais uma, como sempre. Eu te amo, vou trabalhar. "
Duas paradas após a senhora rechonchuda de Minor descer, Adam se levantou e apertou a campainha. O ônibus parava bem em frente ao restaurante, e ao descer, ele olhou para trás e encontrou os olhos do garoto gótico o fuzilando. Ele desviou o olhar e entrou no restaurante. Assim que o sino em cima da porta anunciou sua chegada, o cheiro de cebola frita inundou seu nariz, e a voz aguda do Sr Ming ja adiantava como seria a manhã dele.
— Ande logo garoto Griffim, você está um minuto atrasado! Tem três entregas pra você fazer, mexa este traseiro.
Ele respirou fundo, largou a mochila atrás do balcão e pegou as três sacolas para iniciar sua jornada. Pedalar por Seatle não era uma coisa ruim, e Adam vinha percebendo que as pedaladas diárias estavam lhe proporcionando alguns músculos que não estavam ali antes.
Primeira entrega, avenida Boren numero 15. Adam seguiu seu caminho, fez todas as entregas da manhã e adiantou as da tarde. Meio dia em ponto ele chegou no restaurante com a ultima entrega feita.
— Sr. Ming, terminei tudo por hoje. Estou levando um macarrão com molho para o almoço, tudo bem?
— Tudo bem, bom trabalho. Amanhã não se atrase, não te pago pra dormir um minuto a mais! - Gritou o velho chinês da cozinha.
— Tudo bem, obrigado. Boa tarde!
Adam pegou sua mochila, se trocou no banheiro dos funcionários e partiu para o colégio West Minor High School, onde cursava o ultimo ano do colegial.
Amanda o esperava no portão da escola, como sempre. Peter se apoiava no muro jogando seu psp distraído. Ao descer, Amanda jogou um caderno em suas mãos e começou o sermão sobre o dever de história.
— Não sei qual de vocês vai passar isso a limpo, já tive o trabalho de fazer uma segunda cópia. Se virem. - Adam sorriu com a tentativa de Amanda de parecer brava.
— Você é a melhor amiga que alguém poderia ter, Sanders! - Ele deu um beijo no rosto dela como agradecimento.
Aquilo pareceu pegá-la de surpresa, pois Adam percebeu seu rosto enrubescer.
— É, eu.. Vamos.. Entrar. - Disse ela tropeçando nas palavras. Peter tirou seus olhos do psp pela primeira vez, era raro verem Amanda gaguejando.
— Vamos. - Respondeu Adam.
Peter e Adam seguiram conversando sobre Warcraft e seus guerreiros virtuais, Adam entregou a caixa de macarrão a Peter, que logo abriu e atacou com vontade. Amanda caminhava atrás deles distraída em seus pensamentos, ela queria entender porque sempre que ficava perto de Adam seu coração batia mais forte, porque ela sempre fazia tudo para ele sem pestanejar e de bom grado. Seu rosto ficava vermelho sempre que ele chegava muito perto ou a elogiava, desde o primário . Ela se recusava a pensar na possibilidade de estar gostando dele, eles eram amigos a anos, contavam tudo um ao outro. E porque não Peter? Porque com Peter era tudo tão normal? Adam vinha apresentando mudanças físicas visíveis, as meninas agora prestavam a atenção nele e ela não gostava da ideia de ter garotas comentando o corpo de Adam. Isso era ciúme? Mas amigos também tem ciúme..
— AMANDA! Está me ouvindo? - Gritou Peter ao não receber resposta nas primeiras três vezes que a chamou.
— Oi! É, sim, estou ouvindo. O que foi?
— Em que planeta você está, garota? Te perguntei se tem certeza sobre o dever de história, quero mudar alguma coisa pra não ficar idêntico ao de vocês. - Peter tinha molho vermelho por todo o seu rosto, mas parecia não notar, ou não ligar para isso.
— Ah, sim. Esta tudo certo, mude algumas palavras e isso vai bastar. Peter, ta meio sujo ai.. - Ele passou a mão na boca algumas vezes, mas voltou a comer.
Adam segurou seu olhar um pouco em Amanda, tentando entender o motivo da sua distração, mas logo continuou a conversar com Peter, que sussurrou: "Não dá pra entender essas garotas..".
No decorrer das aulas, Adam sentiu que estava sendo observado mas não encontrava o olhar direcionado a ele. Ele encontrou Eva, uma garota que senta ao seu lado na aula de biologia o encarando uma vez, e Amanda, algumas vezes durante a aula de História. Na quarta vez que ele a flagrou olhando, resolveu perguntar. Alguns segundos depois o celular de Amanda vibrou sobre a mesa, chamando a atenção de alguns alunos. Ela o pegou imediatamente, ignorando os olhares, e abriu a mensagem de Adam.
" Algum problema? Você parece preocupada.. eu te fiz alguma coisa? "
Ela se apressou em olhar para ele e negar firmemente com a cabeça.
" Não, ta doido? É só que.. Eu só ando confusa, sobre algumas coisas. "
O olhar de Adam foi de dúvida, e preocupação ao mesmo tempo.
" Quer conversar? "
" Eu não acho que você poderia me ajudar. " Respondeu Amanda, com medo de que tivesse que falar sobre isso com Adam.
" Nós vamos, hoje. Vou a sua casa e conversaremos sobre isso. "
O celular dela caiu sobre a mesa, fazendo um barulho estrondoso ecoando por toda a sala. A professora olhou para ela cuidadosa, procurando o motivo do estrondo.
— Me desculpe professora, deixei cair meu celular.
A professora continuou a aula, e Amanda levou seu olhar para o celular para responder um enorme "não" a Adam, mas ele ja havia mandado outra mensagem.
" Não existe nada que me impeça de ir até sua casa hoje, conviva com isso. "
Seus olhares se encontraram novamente, Adam olhava fixamente bem dentro de seus olhos e piscou vagarosamente com um olho, sorriu de lado e voltou a prestara atenção na aula. Aquela cena fez Amanda esquecer de respirar, e quando ela lembrou, o ar veio como um tufão em seus pulmões a fazendo arquejar. Seu coração batia tão rápido que ela pensou que pudesse ser ouvido do lado de fora, e isso definitivamente a fez temer ainda mais o que estava por vir esta noite.
Autor(a): Faruk
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Observando As outras aulas passaram rápido, e quando o ultimo sino bateu, o aglomerado de jovens correndo para a porta com suas mochilas tomou conta da sala. Adam e Peter costumavam ir juntos para a casa, pois moravam a algumas quadras u ...
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