Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

Segunda-feira  Dulce chegou tarde à empresa e exibia um enorme sorriso presunçoso. Jogou um beijo para Suzy, a fiel secretária, uma senhora roliça perto dos sessenta anos, que lhe devolveu um sorriso de quem entendia muito bem o significado de tanta alegria.

Dulce percebeu e colocou as mãos na cintura.

--Nem me venha com esse olhar.

--Que olhar? – Suzy fingiu inocência.

--Sabe muito bem. Esse olhar de quem sabe todos os segredos do universo.

--Do universo, não sei, mas os seus com certeza. Aliás, eles nem são tão difíceis assim de serem decifrados, se quer mesmo saber. Giram em torno de pouquíssimos temas. Dois, para ser mais exata: trabalho e sexo.

--Pois está absolutamente errada. Sou muito mais do que uma farrista incorrigível e viciada em trabalho.

--Hum hum. – Suzy concordou para não destruir o ego da patroa. Então voltou para seus papéis, mas não sem antes resmungar baixinho um “Me engana que eu gosto.”

“Sem graça”, Dulce resmungou também e em modo contínuo entrou na sala do irmão, como sempre sem bater na porta. Imediatamente recuperou a empolgação.

--Tomou distância, mirou no ângulo, correu, chutou. Gooooooooool!!!!!!!

Cristian teve que dar risada do modo irreverente da irmã para contar que faturara a psicóloga, como se fosse uma partida de futebol.

--Você é mesmo convencida.

--Passa pra cá os cinqüenta pilas que apostou.

O irmão puxou da carteira e entregou-lhe o dinheiro.

--Mais uma para coleção?

--Nãaao. Essa eu vou namorar. Ela é realmente especial: inteligente, bem-humorada, boa de cama e... Tchan tchan tchan tchan! Sabe cozinhar!

--E quando vou conhecer essa sua maravilhosa, esplendorosa e insuperável namorada? – Cristian tirou sarro do deslumbre da irmã.

--Sai dessa. A coisa ainda está em fase de experiência.

--Sei que é meio cedo para isso, mas com o seu currículo, pode ser que mês que vem não estejam mais namorando.

Dulce o olhou torto, mas teve que concordar que não era do tipo de se amarrar a alguém. Seus namoros eram sempre relâmpagos e não dava nem tempo de apresentar a garota para a família antes de estar terminado.

--Se tudo der certo, pode ser que eu a leve para conhecer vocês no próximo feriadão.

--Em três semanas? Essa mulher tem que ser muito especial para se manter no cargo até lá.

--Acho que dessa vez vai dar liga. Estou otimista.

--Alice vai ficar louca de curiosidade e não me dará sossego tentando garimpar informações. Ela nunca acredita que não sei de nada. Ainda mais sendo seu irmão preferido e coisa e tal...

Dulce deu a ele seu olhar mais desdenhoso.

--Não tenha delírios. Você está bem atrás na fila.

--Sei muito bem que Anahi vem em primeiro.

--Tem que ver que ela é muito mais bonita que você.

Crsitian, como de costume, aproveitou o ensejo para jogar mais uma indireta para a irmã mais velha.

--Esta é uma verdade que não discuto: ela é mesmo uma mulher linda. Deve ser porque não tem qualquer laço sanguíneo com a gente. Se fosse nossa irmã de verdade não sei se teria tanta beleza.

--Ei, fale por você. Eu sou bem ajeitadinha.

Cristian não parou por ali. Tentou mais uma vez defender a causa de Anahi.

--Nunca ficou tentada a dar um bote nela?

--Nela quem?

--Anahi.

Dulce pareceu refletir por um instante para logo em seguida rechaçar a idéia absurda que lhe passara pela cabeça, ficando até mesmo irritada com esta.

--Pare de falar dessa forma. Ela é nossa irmã e não uma mulher qualquer.

--Calma, só estava brincando. – Cristian defendeu-se.

--Brincadeira sem graça.

--Está bem, patroa. Já que não agradei, volto de imediato para o trabalho.

Dulce pensou em dizer mais alguma coisa, porém desistiu. Retirou-se para sua sala e concentrou-se no trabalho.

Cristian ficou por um tempo quieto, cismando com a estranha reação de Dulce. Por um instante ela dera mostras de perceber que, além de Anahi não ser sua irmã de verdade, tornara-se uma mulher por demais atraente. Então fugira do pensamento como se a queimasse.

*****

Angelique parecia mais entretida em olhar para a mesa do que almoçar. E um arzinho bobo de deslumbre que enfeitava sua face fez Cristal exasperar-se.

--Vai me contar a razão de estar toda contentinha desse jeito? Estou aqui em cólicas.

--Nada demais.

--Ah não?

--Não.

--Angel!

A psicóloga sorriu, satisfeita em ter deixado a amiga desesperada por informações.

--Se quer saber, os bolsos da Dulce não eram furados e ela ligou para mim.

Cristal se debruçou na mesa esperando que a amiga abrisse o bico de uma vez.

--Fomos jantar.

--E o que mais?

Angelique fez suspense, mas o seu rosto revelava toda a história que queria esconder.

--Bebemos um bom vinho, conversamos, trocamos confidências...

--Sua danada! Vocês dormiram juntas, não foi? – Cristal quase deu pulinhos de alegria. Há muito acompanhava as penúrias sentimentais de sua amiga e talvez aquela tal de Dulce fosse a resposta às suas preces. Alguém para fazê-la esquecer de vez de Maite.

--Me conta agora como foi. Tudo, entendeu? Quero até os detalhes sórdidos. – fez uma pausa -- Pensando bem, pode me contar apenas isto e já vai ser o suficiente.

--Esqueça.

--Então faça um resuminho básico e não me mate de curiosidade.

O olhar de Angelique  suavizou-se.

--Foi absolutamente fantástico, Cris. Ela é tão... sei lá como dizer.

--Uma deusa do sexo?

Angelique balançou a cabeça em reprimenda.

--Será que você só pensa nisso?

--E o que existe de melhor? Agora mesmo você está toda fascinada porque passou a noite com uma mulher praticamente desconhecida. Será que ficaram jogando videogame, assistindo TV? Não né? Então não me venha com essa de que o mais importante foi o elo espiritual que se formou entre as duas. Rolou foi uma foda poderosa. Disto tenho certeza.

--Em termos chulos, foi o que realmente aconteceu. – Angelique resolveu satisfazer um pouco da curiosidade da amiga.

--E como as coisas ficaram?

Cristal estava bastante surpresa com o comportamento de Angelique. Por anos toda a sua vida revolvera em torno da eterna namorada Maite, e para ter entregado os pontos assim, era porque a coisa tinha sido mesmo quente. A tal de Dulce devia ser um vulcão e a pegara de surpresa.

--Foi só uma noite e ponto final ou vão haver outros encontros?

--Passamos o fim-de-semana inteiro juntas.

Cristal dessa vez abriu um sorriso malicioso.

--Angel, você está consciente de que rompeu com todos os seus próprios postulados?

--Foi por uma boa causa.

--Tenho certeza.

E Angelique assumiu um olhar sonhador.

--Terra chamando Angel!

--Desculpe, mas acho que fiquei mesmo deslumbrada com ela. E pode rir de mim, mas não foi só pelo sexo em si, mas pelo modo como ela se comportou durante ele. Sua delicadeza, sua atenção, sua intensidade... Estávamos acima de tudo trocando prazer, conhecendo o corpo uma da outra, nos entregando a uma brincadeira erótica. Não foi aquela corrida louca pelo orgasmo.

--Ela se importou com você. É isto?

--Também isto. Quantas vezes me senti usada por uma parceira que só se importava com o próprio prazer. Elas exigem tudo da gente, mas não são capazes de alguma reciprocidade. Simplesmente executam os movimentos mecanicamente, sem demonstrarem a menor empolgação com o que estão fazendo.

--Nisso tenho que concordar. Odeio aquelas lingüinhas encolhidas que parecem ter nojo. Prefiro que digam logo que não praticam sexo oral. Tenho o direito de saber o que posso esperar de uma transa e me decidir se quero continuar com o lance ou não. Sabe como é? Como são as bases da coisa e se vale a pena prosseguir.

--E tem aquele detalhe do olhar que faz você se sentir a pessoa mais especial do mundo. Dá para perceber a vontade de descobrir como você gosta de ser tocada, o que desperta seu tesão. Não segue um script pré-determinado até chegar no fim do ato. Com ela existe uma sinfonia sendo escrita e não uma partitura pronta sendo interpretada.

Cristal suspirou.

--Quando não quiser mais nada com ela, manda pra mim?

Angelique riu do ar sonhador da amiga.

Então Cristal se lembrou de um detalhe importante que parecia esquecido em meio a tanta empolgação.

--E quanto a Maite? Quando vai dar o pé na bun..da dela?

--Assim que ela se dignar a aparecer. – Angeliquea fez cara de aborrecimento -- Mesmo ela sendo uma desgraçada promíscua, não consigo terminar tudo com uma mensagem de celular. Sei que sou uma idiota, mas iria me sentir muito mal agindo com tamanha falta de cortesia.

--Com certeza é uma idiota mesmo porque ela não merece uma só gota de sua bondade. E se eu fosse você, punha um fim logo antes que isto cause problemas com este seu novo relacionamento. Você sabe que ex só causa transtorno. Ainda mais quando ela não sabe que já dançou.

--Vou esperar mais um pouco e se ela não der o ar da graça, mando tudo às favas. Ela que se dane.

--É isso aí. Nada de amolecer por conta dos olhinhos de filhotinho abandonado que ela faz quando quer seu perdão.

--Não vou cair mais nessa. Pode deixar.

--Vou ficar de olho, hein!