Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

Anahi saiu do trabalho no restaurante perto das quatro e tentou ligar o carro para ir embora, mas nada aconteceu. Tentou mais algumas vezes a ignição e não havia jeito de fazer o danado do carro funcionar. Apenas fazia plac plac quando ela girava a chave.

Resignou-se em ter que pegar o ônibus para voltar para casa. Não gostava muito de usar transporte público, mas como o trajeto era relativamente curto, ficou menos preocupada com a violência reinante na cidade. Saiu do carro e o trancou, guardando as chaves na bolsa que carregava a tiracolo, e equilibrando três recipientes de plástico, um sobre o outro.

--Quer uma carona?

Ouviu uma voz conhecida dizer-lhe. Sentada em uma mureta próxima estava Carla, com um sorriso que intencionava ser charmoso, mas que nada provocava em Anahi.

Sem perceber isto, Carla continuou em sua missão santa de conquistar o coração da loira, mesmo que até naquele momento só colecionasse foras. Eram mil e uma desculpas que recebia para suas aproximações serem rechaçadas. Mesmo assim não desistia de cortejá-la. Se fosse questão de persistência, sua vitória estava garantida. Contudo, o olhar que obteve da moça não lhe deu muitas esperanças. Parecia até contrariada com sua presença.

--O que está fazendo aqui? – Anahi foi ríspida. Já estava cheia de explicar a Carla que não estava interessada em namorá-la.

--Estava passando e pensei em te esperar para conversarmos. Mas vendo que seu carro não pegou, ofereço então uma carona até em casa.

--Não precisa, o ônibus passa logo ali.

Passou por ela, indo em direção ao ponto de ônibus. Estava cansada e o que menos queria era suportar investidas de alguém que não lhe interessava.

--Mas o meu carro está mais perto e a deixarei na porta de sua casa em completa segurança. Sabe como tem ocorrido violência dentro dos ônibus. É muito perigoso para uma garota indefesa como você.

--Não estou indo para casa.

--Te levo onde você quiser. – e pegou as embalagens das mãos dela.

Anahi parou e pôs as mãos na cintura.

--Carla, será que não percebe que não quero te namorar? Desculpe se estou sendo rude, mas suas insistências só causam constrangimento a nós duas.

--Por que não me dá uma chance? Sei que posso te fazer feliz.

--E eu sei que não daria certo. Vamos deixar as coisas como estão, está bem? Podemos ser amigas e mais nada além.

--Você ama outra pessoa?

Anahi ficou estática com a indagação da moça.

--Claro que não. – mentiu de imediato, disfarçando o incômodo que a pergunta lhe causara.

--Neste caso, continuarei reivindicando o posto de namorada. Mas não se preocupe que entendi a mensagem e não vou te aborrecer insistindo o tempo todo. – e completou com um sorriso safado -- Vou aborrecer só de vez em quando. Está bem assim?

E seu sorriso se assemelhou tanto ao de Dulce, que não resistiu a retribuí-lo.

--Neste caso aceito sua carona. – Anahi concedeu.

No fundo gostava da garota e de seu jeito otimista de encarar a vida, nunca se entregando depois de uma derrota. Mas não estava preparada para esquecer de vez seu amor e partir para outra.

As duas entraram no carro e Carla virou-se para ela.

--Para onde, madame?

--Vou dar uma passada na empresa dos meus irmãos.

--E esses tupperwares são para eles?

--Sempre levo comida para eles quando faço algo diferente.

--Bom, o cheiro é ótimo, e o gosto, tenho certeza de que é melhor ainda.

A Anahi só restou deixar-se levar por Carla, a garota mais grudenta que já conhecera na vida.

Para a insistente garota, já era uma vitória ter  Anahi a seu lado, mesmo que por um curto intervalo de tempo. Seu instinto lhe dizia que um dia a loira seria sua. Era só esperar pacientemente e não deixar espaço vago junto a ela.

*****

Anahi entrou na empresa da irmã e cumprimentou a secretária com um largo sorriso. Trazia nas mãos as três embalagens e uma delas deixou sobre sua mesa.

--Você foi recrutada a provar minha mais nova produção culinária.

Suzy aceitou de pronto, abrindo a embalagem e se deliciando com o aroma.

--Pode me usar como cobaia a hora que quiser. – ofereceu-se alegremente.

--E meus outros ratos de laboratório?

--Na sala da Dulce, confabulando. Só não tenho certeza se sobre trabalho. As risadas me dão uma dica de que não.

--Então vou continuar com minha experiência científica. Preciso analisar os efeitos desta comida nos seres irracionais.

Suzy riu e Anahi bateu duas vezes na porta do escritório antes de entrar, surpreendendo-se ao vê-los jogando pela internet, cada qual sentado com seu laptop no colo e os pés em cima da mesa.

--O patrão sabe que os dois matam serviço com joguinhos on-line?

--Não vai contar para ele, não é? – Dulce fingiu-se assustada, tentando comprar seu silêncio.

Anahi fez cara de advertência.

--É a última vez que uso de minha influência para poupar seus empregos.

--Ficamos te devendo nossos rins, caso um dia precise. – Cristian fechou o laptop e colocou-o sobre a mesa de Dulce.

--Os rins ainda podem ser aproveitados, ao contrário do fígado, que já deve estar completamente detonado com a quantidade de álcool que ingerem.

Cristian foi o primeiro a pular da cadeira e se apoderar de uma das embalagens.

--Como adivinhou que estou morto de fome?

--Pura dedução.

--O que é? – Dulce recebeu seu quinhão, abrindo-o de imediato.

--Ainda não tem nome. Espero que me ajudem com isto também.

--Humm... Cheira bem! – Cristian aprovou.

--Muito bom. – Dulce afirmou com a boca cheia.

Anahi sorriu satisfeita vendo os dois soltarem exclamações de prazer enquanto comiam.

--Vocês comem como selvagens. – admoestou-os.

Dulce ergueu a cabeça e o canto de sua boca estava sujo de molho.

Anahí pegou um dos lenços de papel que trouxera e agachou-se junto a ela, delicadamente limpando seus lábios. E em retorno recebeu um sorriso de agradecimento que a fez estremecer.

Por um momento as duas se olharam intensamente, até que a loira se afastasse precipitadamente, com o coração em disparada, desesperada por um pouco de distanciamento.

--Bem, tenho que ir. – dirigiu-se à porta, disfarçando o abalo que sentira com a proximidade de Dulce – Depois façam sugestões para o nome, está bem?

--Claro. – Cristian respondeu com naturalidade. Estava tão entretido com a comida que não percebera o que se sucedera.

Dulce permaneceu quieta, tentando racionalizar o estranho episódio que acontecera entre ela e Anahi. E com a máxima rapidez de que foi capaz, enviou para o limbo a insensata atração que sentira naquele curto intervalo de tempo, por quem considerava como irmã.

Anahí despediu-se de Suzy e correu para a segurança da rua, a respiração entrecortada.

Não podia mais continuar assim. Era preciso por um fim de vez naquela tortura que era seu amor por Dulce.

E a única solução em que pode pensar, foi encontrar outra pessoa para se dedicar e assim deixar que o tempo a fizesse esquecer de vez seus sentimentos.

Por que não? Talvez devesse dar uma chance para Carla, que em tantas oportunidades dera provas de amá-la. Precisava muito sentir-se desejada, mesmo que fosse por outra pessoa que não Dulce. Era chegada a hora de abandonar suas ilusões e suas esperanças em nome de algo real e não uma fantasia impossível de acontecer. Seria por demais cruel consigo mesma prosseguir sem se dar a oportunidade de ser feliz. Mas como doía livrar-se do sonho que a acalentava desde menina!