Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

--Anahi, a Carla chegou!!!

--Poncho, pare de gritar para sua irmã e vá lá falar de perto.

O rapaz recebeu humildemente a reprimenda da mãe e subiu até o quarto de Anahi para alertá-la da chegada da namorada.

--A Carla está lá embaixo. – informou da porta.

--Eu sei, não sou surda.

--Cruzes, que mal humor!

--Você é que não cresce e fica correndo pela casa gritando. Não sei como a Lúcia tolera namorar você.

Poncho sorriu com o mesmo deboche dos demais irmãos.

--O sexo é incrível.

--Convencido.

--É uma característica de família e não tenho como fugir. Nós os Savinon somos todos bem dotados pela natureza. Quer dizer, menos a Dulce que nasceu com algumas partes faltando. – e soltou uma risadinha -- Mas ela compensa com outras.

A última coisa que Anahi queria ouvir era uma pregação sobre os dotes sexuais dos três irmãos. Ainda mais quando queria esquecer um deles namorando Carla.

--Pare de dizer asneiras e avise que já vou descer.

--Claro que sim, sinhazinha. Mais alguma ordem?

--Sim. Fique quieto.

Poncho entrou no quarto e deu um beijo rápido no rosto de Anahi

--Você está de arrasar, Cachinhos. É bom aquela salafrária lá embaixo te tratar muito bem.

Anahi sorriu da bravata do irmão.

--E o que é você? Meu cavaleiro protetor?

--E sempre vou ser. Lembra quando surrei aquele garoto que grudou chicletes no seu cabelo?

--Claro que lembro. Você tinha acabado de se mudar para cá e já foi direto para o gabinete do diretor. Causou uma ótima primeira impressão.

--Na verdade aquilo me deu um bocado de popularidade na escola.

--E desde então já surrou perto de meia dúzia para defender minha honra. Não acha que está de bom tamanho?

--Enquanto estiver morando aqui, está sob minha guarda. Portanto, avise a franguinha da sua namorada para tomar cuidado que estou de olho nela.

Desta vez foi Anahi quem lhe deu um beijo amoroso.

--Agora suma daqui e me deixe terminar a maquiagem.

Poncho deu uma piscadela e desapareceu.

Anahi ainda ficou sorrindo por um bom tempo, recordando o dia em que os Savinon entraram em sua vida.

Após aquele dia, nunca mais teve que temer um mundo hostil. Estava sempre protegida pelos três, que rapidamente se tornaram seus melhores amigos. Brincavam juntos, se metiam em encrenca juntos e também ficavam de castigo juntos.

Era uma irmandade nascida da simpatia mútua, da convivência estreita, e que seria uma relação perfeita se ela, Anahi, não tivesse estragado tudo se apaixonando por Dulce

A culpa era sua se agora estava sofrendo por um amor impossível. Deixara-se cair por alguém que fazia questão de reafirmar a todo momento o elo fraternal que as unia.

Deu uma última olhada no espelho e satisfeita com o produto final, pegou a bolsa sobre a cama e desceu para juntar-se à namorada. Iam ao cinema e depois a um barzinho encontrar os amigos. Uma noite de curtição como a de qualquer jovem de sua idade e que por algum tempo havia abandonado em nome dos estudos e da carreira. Agora estava focada em equilibrar sua vida e aproveitar o momento.

--Tchau, gente. – despediu-se com um leve aceno.

Carla igualmente acenou para os parentes da namorada e saiu com ela a tiracolo. Desde que Anahí a deixara se aproximar, estava estupidamente feliz e sentindo-se a garota mais sortuda do universo. Finalmente o objeto de seu amor resolvera dar-lhe uma chance e faria de tudo para não desperdiçá-la. Provaria que era capaz de fazê-la feliz. Não se permitiria falhar.

Acácio viu a filha entrar no carro da moça e suspirou. Não sabia se achava bom ou mau que Anahi tivesse tomado a iniciativa de namorar outra pessoa, afastando-se um pouco de sua fixação por Dulce. Temia que ela se acomodasse com um relacionamento morno e desistisse de buscar alguém que realmente pudesse amar.

--O que achou dela, Jani? – indagou à esposa, querendo comparar as impressões.

--Bonita, educada... – Janice começou a dizer.

--Persistente com certeza. – Acácio interrompeu-a. Na verdade não simpatizara muito com a namorada da filha e nem sabia bem a razão.

--Bom, pelo menos soube lutar pelo que queria e acabou conseguindo a atenção de Anahí.

--Mas vai ter que suar muito para conquistar seu coração.

--Deveria ficar feliz que ela está superando seu amor por minha filha.

--Gostaria muito mais que sua filha sentisse o mesmo por ela e as duas fossem felizes juntas.

--Isto não está em nossas mãos, Acácio. Infelizmente. Daria tudo para entrar na cabeça de Dulce e fazê-la enxergar o que está a seu redor, mas não posso.

--Acha que ela ama Anahi?

--Sei que ama, só não tenho certeza do quanto. E ela jamais vai se permitir descobrir.

Acácio sacudiu a cabeça em sinal de resignação.

--Vamos deixar então que a vida siga seu rumo, meu amor.  É tudo o que podemos fazer.

*****

As duas namoradas chegaram ao point da galera e foram recebidas com muita alegria pelos amigos. Não era novidade que Carla estava totalmente apaixonada por Anahi. Não parava de falar dela o tempo todo ao ponto de encher o saco de todos à sua volta com aquele lenga-lenga interminável de como a sua amada era linda, maravilhosa, inteligente, talentosa...

Ao mesmo tempo, Anahí parecia correr dela em todas as oportunidades, inventando as desculpas mais esfarrapadas possíveis para desaparecer de suas vistas. Aliás, a jovem loira dificilmente se envolvia com alguém, como se estivesse se guardando para um grande amor que jamais chegava.

Ver as duas juntas foi algo perto de surreal. Quando foi que Anahí entregara os pontos diante das insistências de Carla?

Jussara, a melhor amiga da jovem loira e conhecedora do seu maior segredo, mais que depressa aproximou-se do casal e puxou Anahí para um lugar mais reservado.

--O que está fazendo com a Carla? Pirou de vez? Achei que tinham dado umas pegadas e pronto, mas não que estivessem realmente namorando.

--Qual o problema? Você mesma sempre me disse que preciso esquecer a Dulce namorando com outra pessoa.

--Mas não quis dizer com ela, o clone da sua irmã. Pelo menos fisicamente, é claro. Em matéria de charme ela está a anos luz de distância.

--Não é nada disso. – Anahí tentou negar, mas era óbvia sua intenção de criar uma ilusão namorando alguém que num relance até poderia ser confundida com Dulce

--Está aumentando seus problemas, minha amiga. Jamais vai conseguir amar a Carla, pois interiormente vai sempre saber que ela não é quem deseja que fosse. Melhor seria escolher alguém totalmente diferente e assim partir para um relacionamento novo que não a fizesse lembrar o tempo todo do que não pode ter.

Anahi baixou a cabeça desolada.

--Sei que está certa no que diz, Ju, mas não consigo esquecer a Dulce. É como se fosse um feitiço do qual não consigo me livrar.

--Ou não quer.

--Acha que sofro por escolha própria?

--Podia terminar com isso de uma vez por todas confessando seus sentimentos para ela.

--Por que ninguém me entende? – Anahi chegou a irritar-se – Se ela disser que não sente o mesmo por mim, como poderíamos sentar na mesma mesa nos almoços de domingo, nos aniversários ou no Natal? Haveria sempre aquele clima pesado entre nós e nossa amizade iria para o espaço. Não estou preparada para isso.

--E vai viver eternamente nesta dúvida? Ninguém merece, Anahí. Santa covardia! Se o barraco tem que cair, pois que caia logo e fique tudo às claras. Talvez pinte um clima estranho, mas é melhor do que esse sofrimento sem fim. Não enxerga isso?

--Me deixa, Ju, da minha vida cuido eu. Agradeço sua preocupação, mas esta decisão é toda minha.

--Esta in-decisão, você quer dizer.

Antes que pudesse retrucar mais alguma coisa, Carla aproximou-se pegando com firmeza sua mão e a conduziu à pista para dançarem junto com outro grupo de amigos.

Depois de alguns goles de bebida, a mente de Anahí começou a girar criando um véu de irrealidade. A percepção começou a fugir da lucidez e por um momento sua maior fantasia foi-se revelando: que a boca que beijava ardentemente fosse a de Dulce.