Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

Angelique terminou sua última consulta e a secretária veio a seu encontro com um enorme buquê de flores que chegara poucos minutos antes, junto com um cartão.

--Isto chegou para você agora há pouco.

Angelique deu mostras de surpresa e aceitou o buquê, tornando a entrar em sua sala para abrir o cartão e descobrir quem enviara flores para ela.

Abriu o envelope e dentro havia uma chave presa em uma argola, com um pedaço de papel escrito: “Chave do paraíso”. E mais embaixo: “20:00 horas. Não se atrase.”

Sorriu de imediato, não precisava assinatura para adivinhar que era coisa de Dulce. Ela a estava presenteando com as chaves de seu próprio apartamento e também a convidando para um jantar íntimo.

Esta era uma grande prova de que estava levando realmente a sério aquele namoro.

--Pela cara que está fazendo, é presente do novo amor. – a secretária adivinhou ao ver o ar de evidente contentamento da psicóloga.

--Ela é tão atenciosa! – suspirou.

--Que bom que está feliz, Angelique. É muito melhor vê-la sorrindo assim ao invés de triste como meses atrás.

--Iniciei uma nova fase da minha vida, Carminha. Finalmente me livrei do passado e começo a viver apenas o presente, sem grandes expectativas. Cada dia de uma vez.

--Boas novas. Quer alguma coisa a mais? Estou de saída.

--Não, pode ir. Até amanhã.

--Até.

Angelique foi até a pequena cozinha anexa ao consultório e buscou uma jarra para colocar as flores. E enquanto arrumava o arranjo em sua mesa de centro, não pode deixar de comparar sua atual namorada com a ex.

Maite jamais lhe dera flores ou a surpreendera com algum gesto romântico. Era pura razão e egocentrismo. Nem ao menos sabia por que ficara tanto tempo com uma pessoa daquele tipo, que não supria suas necessidades sentimentais de mulher.

Dulce sim sabia como preencher cada fantasia feminina, cortejar, adular e descobrir anseios não revelados. Era uma conquistadora por natureza, mas seus gestos não seguiam um plano predeterminado feito para iludir e assim conseguir realizar seus intentos. Antes de tudo era verdadeira e sincera. E este era o seu maior poder de sedução. Isto a fazia absolutamente encantadora aos olhos de qualquer mulher.

Então por que a imagem de Maite  não saia de sua cabeça? Por que insistia em relembrar os bons momentos que tiveram juntas, curiosamente ignorando os desastrosos?

Apesar de lidar com tantos problemas existenciais alheios durante todo o dia, seus próprios dilemas não conseguia sequer compreender.

Pegou a bolsa, fechou o consultório, e desceu para a garagem buscar seu carro. Resolvera não perder tempo se auto-analisando. Tinha um jantar romântico e não desperdiçaria seu tempo com suposições absurdas.

*****

Anahí estava entretida em aprontar o jantar especial que Dulce ofereceria para sua namorada e por pouco não se debulhava em lágrimas, pois era uma tortura gigantesca que não tivera como evitar. Como negar um pedido especial da irmã para ajudá-la a impressionar Angelique? Como justificar uma negativa daquelas? Seria o mesmo que assumir que aquele encontro a incomodava profundamente.

A única coisa que lhe restou foi aceitar e deixar tudo perfeito para as duas. Comida perfeita, bebida perfeita, clima perfeito. Coube-lhe garantir uma noite inesquecível para Dulce e Angelique, algo que ela mesma jamais teria direito.

--Hum, que cheiro delicioso! – Dulce chegou por trás e fungou por cima de seu ombro.

Anahi fechou os olhos e por um instante fantasiou que aquela exclamação de satisfação fosse dirigida a ela e não ao rosbife com batatas gratinadas que acabara de tirar do forno.

--Alguma coisa errada? – Dulce segurou-a pela cintura ao perceber seus olhos cerrados, como se fosse desfalecer a qualquer momento.

Anahi encontrou forças para sorrir.

--Não seja boba. Só estou experimentando o aroma para ver se está bom.

--Pois por um momento achei que estava prestes a desmaiar.

--Pode me soltar, não vou cair aqui na sua cozinha. Seria tremendamente deselegante. E inconveniente diante dos seus planos de sedução.

Dulce hesitou um pouco antes de retirar suas mãos, deixando a irmã livre da proteção de seus braços.

--Se estiver sentindo alguma coisa...

--Por favor, Dulce, deixe de me superproteger. Não sou uma menininha que precise de auxílio o tempo todo. Aliás, nunca fui. Só você faz questão de nunca enxergar isto.

O tom irritado da irmã a pegou de surpresa e prontamente se afastou. Ultimamente Anahi parecia viver em uma eterna TPM e sempre a escolhia para desabafar suas tensões. Algo não estava bem com ela, mas não conseguia descobrir o que. O diálogo era sempre bloqueado e todas as tentativas de aproximação eram rechaçadas.

--Sei que é uma garota bem grandinha. Não queria infantilizá-la. Apenas me preocupo com o seu bem-estar. É coisa de irmã mais velha e não posso evitar.

--Pois evite! Não quero saber de suas brincadeiras bobas e dos apelidos idiotas que você insiste em me chamar. Chega, entendeu?

Dulce ficou sem ação. Era isto? Ela se ressentia do tratamento carinhoso que lhe dirigia?

--Sou uma mulher, Dulce! Consegue compreender isto?

--Claro que compreendo. Mas você é a caçula da família e sempre a paparicamos por isto.

--Não quero paparicos. Quero ser tratada como uma pessoa adulta de vinte e três anos e não uma retardada que você faz cosquinhas para provocar.

--Tudo bem. Desculpe se fiquei parada no tempo e não atentei para o fato de que agora está crescida e deve sentir vergonha de minhas brincadeiras. Prometo que vou parar com isso, principalmente na presença de sua namorada, que aliás a madame ainda não me apresentou.

Anahí ficou encabulada. Estava usando Carla, tinha consciência disto, mas não sabia mais o que fazer para superar sua paixão.

--Ainda é muito cedo. – desconversou.

--Está bem. Mas não sei se vou gostar dela. Ninguém é bom o suficiente para você.

Anahí sorriu sem alegria. Sempre seria a irmã mais nova. Sempre.

*****

Maite estava em sua sala na faculdade, revendo sua programação de aula para aquela semana. Haveria uma palestra na quarta e nem ao menos sabia qual seria seu enfoque sobre o tema. Ainda não escolhera. Mas tanto fazia já que era mestra em improviso. Não seria a primeira vez que iniciaria uma explanação a partir das vibrações que sentia da plateia. Era até mais interessante. Gostava de ousar e ir aos limites de sua criatividade.

Seus colegas de trabalho não aprovavam muito seu estilo didático, mas os alunos aprovavam e era para eles que lecionava e não para um bando de velhos retrógrados que ensinavam a mesma coisa por anos, repetindo as mesmas palavras, a mesma entonação e até as mesmas brincadeiras sem graça.

--Toc toc! – uma voz feminina chamou-lhe a atenção.