Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

Era Letícia, a garota mais insistente que já conhecera na vida. E também a mais sexy.

Vestia uma calça jeans justa com diversos rasgos e uma blusa branca de mangas curtas e decote pronunciado. Por cima de tudo vinha um vestido curto, translúcido, que mais parecia uma camisola. Na cabeça um chapéu redondo e um sorriso nos lábios que refletia um frescor adolescente mesclado à volúpia adulta. Era um visual para lá de ousado, que não combinaria com qualquer uma, mas que nela encaixava-se com perfeição à sua personalidade atrevida.

Letícia era uma menina-mulher. Uma moleca que provocava com seu deboche e ao mesmo tempo seduzia com seu sorriso.

--Precisa de algo? – Maite indagou com seriedade, tentando não envolver sua libido naquela interação que espera que fosse breve.

--Preciso. – ela se aproximou, sentando-se na beirada da mesa – Mas você não quer me dar.

--Acho que já tivemos essa conversa antes.

--E eu disse que não era mais sua aluna.

--Mas ainda é da universidade. Os empecilhos são os mesmos.

--Peço transferência.

--E a resposta continuará sendo não.

--Por quê?

--Não saio com garotas da sua idade.

--Somos muito imaturas para alguém assim de tamanho intelecto?

--Exatamente.

Letícia riu da sinceridade da professora.

--Pois eu acho que o segredo de um bom relacionamento não está em um cérebro superdotado. Afinal, ninguém discute teoria quântica na cama.

--E eu não acho que a cama seja o mais fundamental numa relação.

--Claro que não. Tem o companheirismo, a cumplicidade, o carinho, a coincidência de idéias, os projetos para o futuro...

Fez cara de nojo como se fosse vomitar, para em seguida recuperar o sorriso.

--Desculpe se considero a compatibilidade sexual como quesito importante de qualquer envolvimento entre duas pessoas. O resto é de uma monotonia insuportável. Eu gosto de ferver, pulsar, me arrepiar, me entregar, fundir os corpos em um e gritar de prazer, gemer de paixão.

Maite engoliu em seco e Letícia percebeu.

--Se tudo o que quer é uma tarde comendo pipoca na frente da televisão, então não estamos em sintonia. Consegue isso?

--Isso o que?

--Imaginar-se passando uma tarde de domingo ao meu lado no sofá, assistindo Domingão do Faustão?

Maite novamente apreciou Letícia de alto a baixo, não conseguindo por um segundo sequer imaginar-se ficando pacificamente ao lado dela em um sofá sem pular sobre seu corpo e despi-la com os dentes se fosse necessário.

Era muita tentação para uma pobre professora universitária que acabara de terminar um namoro de anos em circunstâncias injustas e que estava magoada a ponto de querer se vingar da ex.

Letícia se deliciava em ver escrito nos olhos da professora todo o desejo que sentia por ela.

--Uma pessoa de sua inteligência deve saber a hora de entregar os pontos.

A respiração de Maite estava acelerada. Sentia-se perto de um enfarto.

Neste instante seu amigo e colega Isaac apareceu na porta distraído.

--Mai, queria falar com você... – parou de imediato ao ver a cena.

Letícia debruçada na mesa exibindo seus dotes, que não eram poucos, e Maite hipnotizada pelo seu charme.

De imediato a professora recuperou a sanidade e desviou o olhar daqueles olhos de feiticeira que ameaçavam dominá-la.

--Não temos mais nada para conversar, Letícia. Se não se dedicar mais aos estudos vai rodar mesmo. De mim não vai ter condescendência.

--Tudo bem, professora. – a jovem deu prosseguimento à farsa, mas dando ao título uma conotação jocosa – A gente se vê então na classe.

Saiu após cumprimentar seu outro professor.

-- Sei o que vai dizer. – Maite interrompeu o princípio da fala de Isaac – E não está rolando nada entre nós duas, ok? Ela bem que se esforça na sedução, mas estou firme em minhas convicções.

Isaac deu uma risadinha de deboche.

--Então repita isto depois de limpar o baba que encharcou o chão só de olhar para a garota.

--Não tem baba nenhuma. – Maite negou, tentando se convencer disto – Sou capaz de resistir a uma adolescente cheia de hormônios. Ainda não estou em crise de meia idade.

Isaac sentou-se na cadeira em frente a ela.

--Vamos falar sério aqui, Mai. Essa garota é simplesmente um tesão. Eu sei disso e todo mundo nessa universidade sabe também. A Letícia consegue quem ela quer com um piscar de olhos e ela sabe muito bem disto. Deve estar entediada com a facilidade com que conquista suas vítimas e você é o desafio que a atrai. Não vai desistir até consegui-la.

--Não está dizendo novidade alguma. Sei disto desde o princípio. Sou o joguete dela e por isto mesmo não vou deixar que ela me envolva. Confie em mim quando digo que ela está perdendo o tempo.

Isaac lembrou-se do olhar que surpreendera há pouco e duvidou daquelas palavras. Maite já havia subido o primeiro degrau da forca e nem se dava conta.

--Cuidado, Mai, excesso de confiança foi a razão da derrocada de muitos impérios.

--Tenho consciência disto. Não se preocupe.

Contudo lá no fundo de sua mente sabia que estava enganando a si própria. Havia um abismo enorme entre o que é sabidamente errado e o que o desejo determina.

****

Angelique chegou pontualmente para o jantar com a namorada. Trocaram um beijo delicado, que era apenas o início dos muitos que trocariam naquela noite e Dulce buscou duas taças de vinho.

Sentaram-se no sofá para relaxar após um dia cansativo  de trabalho e só então Angelique percebeu a música suave que tocava ao fundo e também a iluminação discreta que acentuava o clima propício ao romance.

Tentou lembrar-se da última vez que alguém tentara agradá-la daquela forma e não pode encontrar em sua memória algum fato recente. No princípio Maite até se esforçara, mas não era esta sua vocação. Pelo menos não como Dulce.

--Preparei um jantar especial para comemorarmos.

--O que exatamente estaremos comemorando?

--O fato de você existir e ter me dado bola naquele táxi.

Angelique riu.

--Só para constar, eu não te dei bola. – protestou– Você é que foi tremendamente atrevida pedindo meu telefone descaradamente.

--E consegui. – Dulce deu um sorriso convencido.

--Conseguiu mesmo. – Angelique concordou, fitando intensamente aqueles olhos que a atraiam como a luz de uma lâmpada atrai uma mariposa. Poderia muito bem ficar horas orbitando ao redor.

Dulce estava igualmente presa ao momento, mas despertou de seu transe para tornar-se novamente uma boa anfitriã. Não desejava apressar as coisas e estragar o cenário de sedução.

--Está com fome? – indagou para quebrar o feitiço.

Angelique pensou um pouco e realmente estava faminta.

--Adoraria alguma coisa para comer, sem dúvida.

--Então venha comigo. – Dulce a guiou pela mão até a sala de jantar.

A mesa estava cuidadosamente posta, com um requinte que Angelique desconfiava que a namorada não teria capacidade de prover.

--Pediu ajuda à sua irmã, não foi?

Dulce arregalou os olhos em surpresa.

--Como desconfiou?

--Intuição.

--Ah é? Pois eu acho que no fundo você não confia no meu talento para preparar um jantar.

--Isso também.

Dulce fez ares de deboche.

--Qual a vantagem de se ter uma irmã que cozinha maravilhosamente se não podemos pedir um favorzinho aqui e outro lá.

--Não tiro sua razão. É uma pena que meu irmão seja dentista. Não faço muita questão de usufruir do trabalho dele.

--Então saboreie a obra de arte que Anahi preparou para nós.

Angelique  fez exatamente isto e deleitou- se com o tempero único que a irmã de Dulce utilizava em suas receitas. Era um desafio resistir à gula despertada e depois de mais algumas taças de vinho, a psicóloga não estava disposta a resistir a nada.

Após o jantar dançaram juntinhas ao som de músicas românticas e após um beijo infindável, finalmente tomaram o rumo do quarto, onde se amaram pela noite adentro.