Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

Dez anos depois...

--Cristian, o que foi que eu disse para você, teimoso?

O rapaz, apesar de seus vinte e cinco anos, sentiu-se de volta à infância e por pouco não se encolheu diante do aparente mau humor da irmã mais velha.

--Que não era para fazer um jardim interno. – respondeu bravamente. Não se deixando intimidar.

--E foi exatamente o que você fez, não foi?

--Achei que ia aproveitar melhor o espaço útil e favorecer a incidência de luz das vidraças inclinadas.

Então Dulce abriu um largo sorriso.

--E você estava certo, seu maldito! Me deixou com cara de tacho outra vez. Parabéns!

Cristian soltou um suspiro de alívio e abraçou a irmã, que nunca perdera o costume de lhe passar trotes.

Trabalhavam juntos na Savinon Engenharia, empreiteira que Dulce havia iniciado alguns anos antes e que crescia rapidamente, conforme a demanda do mercado de construção civil disparava.

--Você é o verdadeiro herdeiro do talento do nosso pai. – Dulce elogiou com orgulho – Eu construo prédios comuns, práticos e funcionais, mas sem a menor inspiração. Você, meu irmão, projeta arte. E faz bem em não me dar ouvidos. Tem que lutar por suas convicções, mesmo arriscando me desafiar.

O rapaz ficou sem graça e chegou a ruborizar-se. Tudo o que sempre quis foi corresponder às expectativas da irmã, que para ele era a pessoa mais importante em sua vida. Dulce era sua tutora, protetora, incentivadora... Era por causa dela que havia terminado a faculdade. E era para agradá-la que dava tudo de si em seu trabalho.

--Vou almoçar com o papis. Quer alguma coisa de lá?

“Papis” era como os três irmãos chamavam o padrasto. Era uma maneira carinhosa de demonstrar o quanto o amavam e respeitavam. Acácio os recebera de braços abertos quando se casara com sua mãe e o sentimento filial nasceu como uma conseqüência inevitável.

--Não. Dê um beijo na mamãe e diga para Cachinhos que estou com saudades das visitas dela. Faz dois sábados que ela não aparece lá em casa.

--Que cascata! Está com saudades da comida dela, isto sim.

--Ei, se minha irmã é uma grande chef de cozinha, por que não tirar proveito?

Cristian não agüentava a cara-de-pau de Dulce, sempre dando um jeito de Anahi cozinhar para ela. E a jovem nunca se negava. Ao contrário, corria para satisfazer seus mínimos desejos.

--Por que não arruma logo uma namorada que entenda de culinária e sossega um pouco?

--Mal consigo uma garota e você ainda quer que eu fique escolhendo? Dou graças a Deus quando arrumo uma bis..cate.

O irmão riu em zombaria.

--Como se não tivesse uma fila atrás de você. Olha que eu não sabia que existissem tantas lésbicas no mundo.

--Nem todas são. O que elas querem e dar uma experimentadinha só para sair da rotina.

--E para você tudo bem?

--Não tenho tempo para namoros sérios Cris, Preciso me firmar no mercado e isto exige muito trabalho. As mulheres exigem atenção o tempo todo e acabam causando um grande transtorno. Por enquanto estou até preferindo as héteros. A coisa é mais simples, entende? Lesco-lesco e bye-bye.

--Mas e se pintar a garota certa? Vai dar o fora?

Dulce deu um sorriso de canto. Como se existisse mesmo essa história de “garota certa”. O que havia era uma opção racional por alguém mais compatível e a partir daí partia-se para um relacionamento supostamente estável. Pelo menos eram estas suas convicções. O amor não lhe trouxera muitos dividendos no passado e isto a fizera deixar de ser a ingênua romântica.

--Vai trabalhar que não te pago para se meter na minha vida. – cortou aquele papo que não levava a nada.

--Sim senhora. – Cristian acenou e voltou para sua própria sala, deixando a irmã entregue a seus pensamentos.

Ultimamente Dulce só fazia trabalhar e até se esquecera de que existia mais coisas na vida. Rompera com sua última namorada um ano antes e desde então sua vida se restringia a encontros esporádicos. Estava sem muita disposição para testar as águas e novamente se envolver com alguém. E o motivo tinha sido justamente os excessos de cobrança por atenção. Ficava pensando se existiria uma só mulher no mundo que não demandasse dedicação exclusiva.

Mesmo assim, tinha consciência de que em algum momento precisaria se aventurar novamente em busca de alguém para dividir seu espaço. Não queria passar a vida toda sozinha num apartamento vazio, tendo como única companhia seu cachorro.

E nem ao menos tinha um cachorro!

Mas não seria naquela noite a tal busca de uma mulher para compromisso. Aprontou-se com seu estilo casual e partiu para a luta em busca de alguém que pudesse levar para a cama. Algo simples e sem complicações.

Entrou em uma balada conhecida e foi logo ao bar em busca de algo para esquentar o clima. Passou-se um longo tempo enquanto ela bebericava tranquilamente seu uísque sem que alguém lhe enchesse olhos. Todas lhe pareciam extremamente comuns e pouco atrativas. Contudo a noite estava só começando e quem sabe uma linda princesa entrasse pela porta.