Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon
Cristian entrou na sala de Dulce e ela assoviava alegremente, entretida em alguns papéis e esboços. Era a figura do bom humor e da disposição. Estava relaxada e pronta para encarar um dia puxado de fiscalização das obras em andamento. Pelo bafo morno que entrava pela janela, ela iria suar até derreter-se por inteira, mas assim mesmo demonstrava contentamento.
--Bom final de semana? – indagou como se já não soubesse a resposta.
--Excelente.
--Algo em especial? – tentou prospectar informações.
--Nãaaao. E nem tente vir com essa conversa mole. Não vou te entregar os detalhes picantes da minha intimidade com minha namorada.
--Pelo menos agora sei que foi com a sua namorada. Isto significa que ainda está namorando, o que é uma excelente notícia. Acaba de estabelecer um novo recorde: um mês e duas semanas com a mesma mulher.
--Você está contando?!
--Eu não, mas Alice sim. Acho que minha esposa continua tendo uma quedinha por você.
Apesar da frase ter sido proferida em tom de brincadeira, guardava um fundo de preocupação por parte de Cristian.
--Quem mandou ela me trocar pela versão econômica? – Dulce zombou para espantar o clima que sempre surgia quando se incluía o seu nome e o de Alice na mesma frase -- É o mesmo que trocar salmão por sardinha.
--Hehehe... Você se acha, né?
Dulce fez cara de presunção.
--Não sou eu que digo: são as mulheres.
Lucas resolveu não dar mais corda para o ego superinflado da irmã.
--Vamos falar de trabalho?
Dulce sentou-se em sua cadeira e começou a se balançar para frente e para trás.
--Pode falar. Algo errado?
--Não. Só queria saber se vai visitar o condomínio da zona sul. Recebi da contabilidade uma planilha com os gastos de material e achei um pouco disparatado. Parece que foi solicitado muito mais do que precisava pelos meus cálculos.
--E quem autorizou a compra?
--Eles dizem que foi você, mas não acreditei muito e pedi a cópia dos papéis.
Dulce franziu a testa.
--Fica de olho,Cris, pode ser que alguém tenha forjando minha assinatura. Não me lembro de ter liberado nada para lá. Além do mais a construção é sua e teria te repassado a solicitação de alguma coisa extra.
--Foi o que achei. Pode deixar que eu estou em cima. Só queria confirmar se tinha sido mesmo você quem mandou efetuar a compra.
--Tem alguém em vista como suspeito?
Cristian deu uma risadinha de ironia.
--As únicas pessoas que lucrariam algo com isto seria alguém do departamento de compras, que bem poderia forjar uma nota fria e embolsar a grana; ou então o capataz da obra, que pode estar desviando material para seus próprios interesses.
--Vou ver se descubro algo conversando com os pedreiros.
--Mas tome cuidado para não levantar a lebre. Se formos pegar o salafrário, tem que ser no ato ou ele sai por cima. E ainda mete um processo em cima da gente.
--Pode deixar, vou ser discreta.
--Não sei, talvez fosse melhor que eu fosse. Afinal, a responsabilidade por esta obra é minha e não sua.
--Deixa disso, brou. É no meu caminho para o outro canteiro. Não esquente a cabeça.
*****
Maite terminou sua palestra e foi cercada por alunos com as mais diferentes perguntas sobre o tema. Queriam mais informações, discutir novos ângulos de observação e o mais importante: sugar todo o conhecimento que a professora possuía, até a última gota.
--A gente vai se reunir hoje à noite no barzinho aqui perto às sete. – um dos alunos mais sedentos por saber tomou a liderança do grupo – Bem que você podia aparecer por lá.
Os demais deram total apoio à idéia.
--Chega lá, teacher. Vai rolar um sonzinho bem legal da galera. O Ronald aqui é fera na batera. – apontou para um rapaz baixo e musculoso.
--É sim. Não faz parte da antropologia sacar as culturas e prestar atenção às interações dentro do grupo a ser estudado? Nós somos uma tribo a ser desvendada. Pense nisso.
Maite deu uma risadinha. Seus próprios ensinamentos estavam sendo usados contra ela. Mas não deixavam de ter razão. Os jovens formavam um mundo cultural totalmente aparte dos adultos. E era muito interessante imergir naquele grupo e ter uma visão mais clara de seus usos e costumes.
--Ok, meninos, apareço lá depois.
Gritos e assovios foram ouvidos. Apesar de alguns considerarem as aulas de antropologia por vezes teóricas em excesso, como Letícia, a maioria sentia-se cativada pelo jeito simples e informal que Maite usava para burlar a chatice e trazer para o cotidiano as discussões e embasamentos. Não se arvorava dona da razão, era apenas mais uma estudiosa desvendando as relações sociais entre os seres humanos. O debate era sempre incentivado.
--Até lá, pessoal. – despediu-se e foi em direção à sua sala.
Mal tinha virado o corredor e lá estava Letícia, com seu habitual sorriso moleque, aguardando-a para mais uma sessão de sedução.
Para Maite aquela insistência já passara dos limites e mal conseguiu disfarçar seu desprazer.
--O que você quer agora?
--Nossa, que mal humor! Só pode ser falta de sexo. Se quiser posso resolver isto rapidinho.
--Letícia, isto é assédio e vou denunciá-la para a diretoria da universidade.
A jovem riu.
--Todo esse estresse ainda vai matá-la, Mai. Nem sou mais sua aluna. E também já pedi transferência para outra faculdade.
Maite a olhou desconfiada. Não dava para acreditar naquela garota louca que a escolhera para ter um romance e assim tornar sua vida menos monótona.
Letícia percebeu o que significava aquele olhar e ficou indignada. Abriu a bolsa e tirou de dentro alguns papéis, que ofereceu a Maite.
--Uma cópia do meu pedido. Já que não acredita na minha palavra.
A professora pegou os papéis e folheou-os atenciosamente, confirmando que Letícia estava se desvinculando da universidade.
--Para mim tanto faz onde estudo. – a jovem falou com inesperada seriedade – Se for preciso arrumo uma faculdade do outro lado da cidade. Mas não me trate como seu eu fosse uma psicótica só por querer ficar perto de você.
--Eu não disse que era psicótica, apenas obsessiva. Cismou de me querer e agora não me deixa em paz, faz marcação cerrada e espera com isso me vencer pelo cansaço. Mas não é assim que as coisas funcionam. O interesse deve ser mutuo e a relação boa para ambas as partes.
--Quer dizer que não está interessada em mim?
--Já não deixei claro várias vezes? Você é uma menina voluntariosa e não vou ser o seu divertimento da semana. Escolha outra vítima e divirta-se colocando a vida de alguém de cabeça para baixo. Não é isto o que sempre faz? Acha que eu vou perder a noção de propriedade e jogar toda a minha vida profissional pelo ralo por uma transa? Ninguém vale isto, Letícia. Ninguém merece que eu desista do meu trabalho e dos meus planos futuros. Dediquei toda a minha vida à antropologia e no final das contas foi só o que me sobrou.
Maite estava nervosa e desabafava descontroladamente.
--Sinto decepcioná-la, mas se estou sem sexo, como você mesma disse, é porque todos parecem achar que sou a maior pegadora do universo, a grande conquistadora, quando na verdade passo minhas noites sozinha assistindo TV na monotonia do meu apartamento gelado. Minha fama acabou por me transformar numa pessoa solitária, que perdeu a namorada por conta de rumores totalmente infundados. Então não queira continuar com esse jogo absurdo achando que em algum momento vou marcar bobeira e me deixar seduzir pelo seu charme irresistível. Cresça um pouco, Letícia, e olhe menos para si mesma e mais para o mundo ao seu redor. Tem gente sofrendo e sangrando fora deste seu mundinho dedicado unicamente à sua própria adoração. O planeta gira enquanto você passa horas se olhando no espelho e pensando no quanto é gostosa.
Maite parou, tentando recuperar o equilíbrio.
--Eu só queria te conhecer melhor.
--Se é assim vou logo matando a charada. Sou uma criatura enfadonha, cheia de manias irritantes. Estou longe de ser a deusa do sexo que povoa o imaginário dos meus alunos. Cometi, sim, alguns enganos terríveis no passado, e por eles estou pagando caro. Não vou cometer outro me envolvendo com você. Por favor, me esqueça.
Continuou andando visivelmente abalada. Não queria ter falado tanto para uma garota que mal conhecia e na qual não confiava, mas o fluxo emocional foi impossível de ser detido. Vomitou o que estava preso em sua garganta, o que estava causando-lhe mal.
Autor(a): angelr
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Acompanhando seus passos estava Letícia, pega de surpresa com todas aquelas palavras atiradas violentamente sobre ela. Pela primeira vez depois de sua perseguição implacável a Maite, percebeu a seriedade do que estava fazendo. Se para ela era uma brincadeira inconseqüente, para a professora era uma pressão que não estava pronta ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 98
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annecristine Postado em 11/03/2014 - 00:22:09
Amei o final.. Muito lindo... Entao vamos com mais uma fic.. Rs
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angelr Postado em 10/03/2014 - 23:22:37
delmyra - Espero que goste da proxima *__*
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angelr Postado em 10/03/2014 - 23:22:13
claricenevanna - Ufa convenceu hahaha
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delmyra Postado em 10/03/2014 - 22:20:08
pronta pra ler a proxima fic. As suas são de mais. Cada uma q me faz chorar. Foi otima.
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claricenevanna Postado em 10/03/2014 - 19:56:49
Pensei que a Dulce não ia convencer a Anahí! Hahaha. Que pena que acabou. :( E eu vou ler a outra.
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annecristine Postado em 10/03/2014 - 17:11:18
Aiiiin elas são lindas demais! Ansiosa para o final! Pena q já vai acabar! Dulce até q enfim né! kkkkkkk
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angelr Postado em 10/03/2014 - 00:23:45
lunaticas - breve hahaha
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angelr Postado em 10/03/2014 - 00:23:25
vverg - Sim muito linda essa web
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angelr Postado em 10/03/2014 - 00:22:56
claricenevanna - hahahaha
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lunaticas Postado em 08/03/2014 - 21:41:21
Ansiosa para o final *-*