Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

Angelique chegou cedo ao hospital para visitar Dulce. Havia cancelado todas as consultas da parte da manhã para dedicar-se à namorada. No entanto a cena que presenciou ao abrir a porta do quarto do hospital deixou-a ainda mais desconfiada de que algo ocorria entre as pseudo-irmãs.

Anahi estava sentada na beirada da cama, debruçada sobre Dulce, alimentando-a na boca. Em seguida pegou um guardanapo e cuidadosamente limpou-lhe os resquícios de comida que haviam ficado em seus lábios.

O sorriso delicado de total enlevo denunciava seus sentimentos, não deixando uma réstia sequer de dúvida: a garota amava Dulce. E, definitivamente, não como irmã.

Porém dava para ver que  Dulce ignorava o que estava literalmente à sua frente, agindo com uma inocência que ultrapassava todos os limites da ingenuidade. Ainda mais para uma pessoa de sua vivência. Não era possível que ela não se desse conta do brilho nos olhos de Anahi quando a fitava como naquele momento. 

Ficou óbvio para Angelique que sua namorada estava em negação. Recusava-se a tomar ciência do que se passava no coração de quem aprendera a tratar como irmã.

Com um pigarro chamou a atenção das duas e Anahi disfarçou seu incômodo por ver que a namorada de Dulce viera mais cedo do que imaginara para interromper aquele momento especial. Conseguiu sorrir ao cumprimentá-la e se ofereceu para deixá-las a sós, afinal, precisava trabalhar.

Ao ver a porta fechar-se Angelique ficou em dúvida sobre como agir. Deveria comentar sua descoberta e alertar Dulce do que se passava com a Anahi ou ignorar tudo e continuar como se nada houvesse ocorrido.

Por fim preferiu não se intrometer em assuntos de família e guardou silêncio. O mais importante era assegurar-se de que a namorada se recuperasse de sua aventura policial. Tinha sido uma experiência surreal e tremendamente assustadora receber um telefonema de Cristian para avisar-lhe que Dulce tinha sido ferida e estava hospitalizada, enfrentando uma cirurgia para a remoção de uma bala alojada em seu ombro. Poderia ter esperado qualquer coisa, menos ver-se em uma sala de espera aguardando juntamente com toda a família dela, alguma notícia do que se passava no centro cirúrgico.

Nos rostos ao seu redor podia enxergar um misto de preocupação e ansiedade. Estavam numa espécie de transe, presos em um universo que se restringia àquela sala, onde um relógio movia seus ponteiros com uma lentidão torturante, como se um simples minutos passado durasse horas.

O alívio só chegara após os médicos garantirem que tudo correra como deveria e que Dulce passava bem.

Agora lá estava sua namorada, sorrindo para ela com seu habitual charme, que a encantara desde o primeiro momento.

--Agora sim estou preocupada. – Dulce esticou a mão boa para que ela a pegasse.

--E por que seria?

--Estou tendo visões com um anjo que entra pela minha porta e vem me ver.

Angelique sacudiu a cabeça diante da cantada barata.

--Sei que está fragilizada com a perda de sangue, por isto não levarei em conta esta tentativa claudicante de me adular.

Dulce não perdeu o comando da situação.

--Sei que posso fazer melhor, mas estou guardando minhas melhores cantadas para um momento mais propício, fora deste hospital. Por ora estou utilizando as tiradas reservas só para não perder o jeito da coisa, entende? Quero manter os motores funcionando.

--Não precisa gastar combustível comigo, minha querida, vou ficar aguardando o tempo que for até que se recupere. Sei que vai valer a pena.

--Neste caso, vou me resignar com um pequeno beijinho para que me sirva de alento até que eu possa mais uma vez provar da macies de sua pele.

Angelique riu e deu-lhe o beijo solicitado.

--Pode ser uma cantada do baú reserva, mas ainda assim é deliciosa de ouvir.

A enfermeira do dia anterior entrou para mais uma vez realizar seus exames e desta vez Angelique deixou bem claro a quem Dulce a pertencia, não abandonando o seu lado por instante algum. Por fim a jovem saiu frustrada e as duas riram juntas.

--Você assustou a moça. – Dulce afirmou divertidamente.

--Acontece que sou um bocado possessiva com o que é meu.

--Nossa! E eu achando que pertencia à minha mãe.

--Somos coproprietárias.

--Entendi. E quando pretende marcar o meu corpo com ferro em brasa?

--Nunca. Gosto muito desse seu corpinho para querer estragá-lo com tamanha violência. Prefiro marcá-la com meus beijos incendiários.

Dulce deu um sorriso de troça.

--Acho que vou gostar de ser sua.

*****

Anahi chegou no trabalho e logo na entrada dos funcionários estava Carla, que a aguardava por horas. Soubera do acidente naquela manhã e viera de pronto prestar seu apoio, sabendo o quanto sua namorada tinha apreço pela irmã.

Mas o olhar que recebeu não foi promissor. Anahi parecia aborrecida com sua presença e deixou isto bem claro com suas palavras.

--O que está fazendo aqui? Tenho que trabalhar e já estou atrasada. Não posso ficar aqui de bate-papo.

Aquela rudeza de palavras a deixou sem palavras. Esperava ser recebida com ansiedade por ser alguém com quem ela poderia desabafar. Mas Anahi mostrava uma singular agitação e evidente mau humor.

--Desculpe atrapalhar você, mas fiquei sabendo pelo Cristian do que aconteceu com a Dulce e queria te dar uma força. Aliás, por que não me ligou avisando? Eu poderia ter ido ao hospital ficar com você.

Anahi não tinha resposta e por isto tentou dispensar a moça o mais rápido que podia. Estava se sentindo tensa e exausta depois de passar a noite zelando por Dulce. Tivera medo de adormecer e algo de ruim vir acontecer sem que percebesse, por isto esforçou-se o mais que pode para permanecer acordada.

--Olhe, Carla, estou muito cansada para conversar, está bem? Tenho um longo dia de trabalho pela frente e não preguei os olho esta noite. Depois a gente se encontra.

A moça concordou com a cabeça e deu-lhe um beijo rápido nos lábios.

Anahi teve ânsia de limpar sua boca daquele contato indesejado e a custo controlou-se. Estava indignada consigo mesma por seu comportamento reprovável dando falsas esperanças a Carla. Estava mais do que provado que não conseguiria esquecer Dulce assim tão fácil e não podia continuar com aquele arremedo de namoro. Tinha que por um fim naquele relacionamento sem futuro.

Respirou fundo e entrou no restaurante para usufruir do único prazer que tinha na vida: cozinhar.

*****

Letícia chegou à faculdade e alguns amigos vieram até ela para saber de sua noite com Maite.

--Não rolou nada, pessoal. Levei-a em casa e fui embora. Na boa. Juro.

--Não enrola a gente. Ela é tudo isso que dizem dela?

--Já disse que não rolou, está bem! Vocês parecem um bando de velhinhas assanhadas vivendo de fofocar da vida dos outros. Vão arrumar o que fazer.

E contrariada se afastou do grupo, sendo alcançada por Liandra.

--Por que está jogando tudo pro alto, mulher? Se não rolou sexo entre você e a Maite, pelo menos podia ter mentido pra gente ganhar a aposta. A galera não ia nunca desconfiar que não fosse verdade. Com a fama da profe, era esperado que as duas terminassem na cama.