Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

A família estava reunida para mais um feriadão e Acácio sentara-se confortavelmente no balanço da varanda, com Janice a seu lado, observando os filhos tentarem jogar vôlei de dupla em uma rede improvisada. Poncho cortava como um profissional, mas sua força de nada valia sem mira e as bombas voavam para longe, acarretando protestos de quem tinha que correr atrás para recuperar a bola no meio do mato.

--Da próxima vez que jogar longe você é que vai buscar. – Cristian ameaçou o irmão.

--Quer parar de reclamar e jogar, sua mosca morta! – o outro devolveu o comentário mal-humorado.

Dulce trouxe a bola e passou para Alice sacar.

--Critsian tem razão, bocó, por sua culpa passo mais tempo no mato do que jogando.

Enquanto os quatro brigavam, Angelique, Lúcia e Anahí apenas observavam a disputa, cada uma em uma cadeira, trocando comentários divertidos e risadas galhofeiras a cada jogada que terminava em desastre.

--Quer saber de uma coisa? – Poncho pegou a bola e colocou-a embaixo do braço – Estou cansado e preciso de algum entretenimento.

--O que sugere? – Dulce indagou curiosa.

--Vamos deixar as meninas jogarem. Aí seremos nós a rir.

--Boa idéia. – Cristian concordou de imediato.

Alice colocou as mãos na cintura.

--E eu vou levar provocação dos dois lados? Primeiro delas e depois de vocês?

--Quem mandou ser bissexual? – Dulce tirou sarro, beijando-a no rosto.

--Bobona. – Alice empurrou-a brincando.

Os três irmãos pegaram cada um uma cerveja, sentaram-se na escadaria da varanda e começaram a acompanhar o jogo, esperando a hora das gargalhadas. Que não veio.

--Elas jogam bem, cara. – Poncho cochichou para as garotas não ouvirem.

--Principalmente Angelique. – Cristian completou.

Virou-se para Dulce, que também estava estupefata.

--Você sabia que ela era assim tão boa?

--Sabia. Só não tinha idéia que ela jogava vôlei também.

Os três deram risada da piada e continuaram bebendo suas cervejas.

--Ih, lá vem aquela mala sem alça! – Cristian exclamou olhando para o portão, onde o ex-namorada de Anahí estava parada.

Dulce seguiu o olhar do irmão e também ficou contrariada com a presença do insistente da garota. A sujeitinha não sabia quando desistir.

--O que ela quer aqui, afinal? Vou falar com ela. – ameaçou levantar-se.

--Fique exatamente onde está. – Acácio a deteve com um olhar de autoridade – Anahí sabe muito bem como enfrentar seus problemas sem precisar de ajuda.

--É, papis, mas não gosto dessa garota. Tem alguma coisa que não me cai bem.

--Se ela chamar, então vamos todos. Caso contrário, fiquem aqui e deixe ela resolver seus assuntos por si só.

A contragosto, Dulce deixou-se ficar onde estava, mas sem parar de acompanhar atenciosamente o encontro de  Anahí com a ex-namorada. Sentira antipatia imediata por ela e depois que a irmã terminara o namoro, gostava menos ainda da individua.

--Por que está com essa cara de pitbull? – Angelique brincou, sentando-se a seu lado e roubando sua cerveja.

--Aquela garota. – apontou para Carla no portão -- Não gosto dela.

Angelique virou-se para olhar e Anahí estava discutindo com uma moça alta e atraente que parecia implorar por algo.

--Ela é a ex-namorada?

Dulce limitou-se a responder com um rosnado.

--Não devia se intrometer nos negócios de sua irmã. – Angelique não resistiu ao comentário de censura – Ela já é uma mulher crescida.

--Todo mundo só sabe repetir isto pra mim, mas ainda assim não vou parar de me preocupar com ela.

--Não disse isso. Pode continuar sempre zelando por ela, desde que permita que  Anahí tome suas próprias decisões, quer sejam certas ou erradas. Compreenda que a vida é dela.

Dulce compreendia o que lhe era dito, mas interiormente não conseguia aceitar. Olhava para a jovem loira que ao longe no portão estava tendo uma acalorada discussão com Carla e mal se continha para não ir até lá colocar a intrometida para correr.

E assim que viu Anahí fazer menção de voltar para casa e ser detida pelo braço, levantou-se de um salto e partiu para satisfazer sua vontade de arremessar a abusada no meio da rua. Não hesitou em ir resgatar Anahí, seguida de perto pelos dois irmãos, que tentavam acalmá-la.

--Larga ela ou te enfio a mão na cara. – ameaçou já lhe dando um empurrão para que se afastasse.

Poncho e Cristian, mais ponderados, colocaram-se entre as duas para evitar um confronto.

--Vai pra casa, Carla. – o mais velho pediu com firmeza, mas sem agressividade. Não era de seu estilo a violência.

Enquanto isto Poncho segurava a irmã que ameaçava pular no pescoço da garota para esganá-la. Estava realmente possessa.

--Quer se acalmar, Dulce!

Alice também se juntou à tentativa de evitar um confronto direto.

--Venha comigo. – puxou-a pela mão – A garota já está indo embora.

A morena respirou fundo e tentou controlar seu ímpeto. Também não era do tipo agressivo e aquele comportamento era totalmente inusitado, chegando a pegar a todos de surpresa.

--Se chegar perto dela de novo eu acabo com você, ouviu?

Alice deu mais um puxão e carregou-a de volta à varanda, onde o restante da família a tudo observava abismados. A reação extrema de Dulce não passou despercebida por nenhum dos presentes. A razão, contudo, ficou no ar sem resposta.

Janice percebeu o estado exaltado da filha e chamou-a de imediato para uma conversa mais privada dentro de casa. Dulce obedeceu passivamente, envergonhada por ter perdido daquela forma a cabeça. Não tinha havido motivo para tanto. E se fosse indagar a si mesma, não tinha uma explicação para sua atitude intempestiva.

A porta da sala foi fechada e Janice ficou em silêncio por um tempo, apenas observando os trejeitos nervosos da filha, que andava de um lado a outro, inquieta.

--O que está acontecendo, afinal? – quis saber de pronto.

--Aquela monstrenga estava segurando o braço da Anahí. Não viu?

--E por isso precisava quase cortar a cabeça dela fora?

--As tetas já seria bom o suficiente.

--Dulce, isto não é uma piada. Você agiu como uma selvagem e se não fosse seus irmãos, poderia ter se machucado. A Carla tinha todo o direito de se defender da sua agressão imotivada.

--Como se ela pudesse me enfrentar sem levar uma boa surra. Poderia derrubá-la com uma só mão.

--E este é um comportamento civilizado?

--Mas mãe, não viu que ela está incomodando a Anahí? Fica atrás dela o tempo todo. Não desiste.

--A pobre moça está apaixonada pela sua irmã.

--Pois ela que vá cantar em outra freguesia.

--Por quê?

--Por que o que?

--Por que ela deveria desistir assim tão fácil? Quando o amor é grande, é preciso uma certa dose de persistência para conquistá-lo. É direito dela correr atrás do que deseja. E cabe a Anahí aceita-la de volta ou não. Você não tem nada com o que está se passando. Não é assunto seu e não vou permitir que faça outra cena deste tipo aqui em casa. Estamos entendidas, Dulce Maria?

Quando a mãe a chamava pelo nome inteiro e não pelo primeiro nome era sinal de que devia abaixar a cabeça e simplesmente concordar.

E sabiamente fez exatamente isto.

--Desculpe.

--E pensar que sua namorada teve que assistir a um espetáculo digno de beira de cais. Que papelão! Agora vá até lá e peça perdão para ela.

--Mas mãe...

--Faça o que estou mandando, mocinha, ainda não é tão crescida que eu não possa puxar suas orelhas.