Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

--Não sei onde quer chegar, Cristal. Dulce é uma excelente companhia e nós gostamos de ficar juntas. Qual o problema? Ela pergunta como foi meu dia e ouve de verdade o que tenho para contar, assim como eu faço o mesmo com ela. O que, diga-se de passagem, é muito mais do que eu tinha com a Maite. E olhe que foram anos de convivência.

--Não estou defendendo a Maite. Sabe muito bem o que sempre achei dela: uma egoísta insensível que nunca lhe deu o devido valor.

--E é isto o que a Dulce faz. Ela presta atenção e se preocupa em antecipar meus desejos. Que outra mulher eu poderia encontrar que fizesse isto?

--Mas e quanto ao amor? Sente algo por ela além de amizade e atração sexual?

--E o que existe melhor que isto? -- Angelique debochou.

--Sabe muito bem do que estou falando. Você costumava flutuar nas nuvens com a Maite no princípio do namoro. Seus olhos brilhavam quando falava dela, sua voz mudava de tom.

--Éramos apaixonadas uma pela outra. E, no entanto, depois de anos ela nem sequer considerou a possibilidade, mesmo que remota, de repartirmos o mesmo teto. O que me dá uma boa idéia do quanto o amor é supervalorizado num relacionamento. E o quanto nos faz cegos para as verdades da vida.

--Está se tornando uma pessoa cínica, sabia?

--Realista, eu diria.

--E está realmente feliz com a Dulce? Você vê algum futuro com ela?

--Por que não? Ainda estamos no começo, precisamos de mais tempo para nos conhecer melhor, mas tenho para mim que a vida com ela seria bem satisfatória.

Cristal olhou para a amiga com desconfiança.

--Satisfatória?!

--Por que essa cara? Ela é uma pessoa muito fácil de se amar. Impossível é ficar indiferente a seu charme e personalidade.

--E esqueceu a Maite completamente?

Angelique  lembrou-se do encontro na faculdade e hesitou. Esquecera? Seu coração havia disparado descontroladamente ao vê-la. Era como se o que sentisse fosse uma doença tropical que vem e vai de tempos em tempos, mesclado com uma dose alta de revolta.

--Como já disse, as pessoas valorizam demais o amor. A vida funciona melhor sem essas emoções insanas.

Cristal preferiu ficar quieta e partir para uma conversa mais leve. Compreendia o temor de Angelique de se envolver profundamente com alguém. Ansiava por um pouco de harmonia após tantos dissabores. E Dulce  lhe dava essa sensação reconfortante de tranqüilidade e segurança que Maite com sua eterna busca por auto realização jamais fora capaz de lhe dar. Restava saber se isto era o fundamental para realmente fazer dela uma pessoa feliz.

*****


Cristian veio do banheiro enrolado com uma toalha na cintura após o banho. Alice já estava na cama, o controle remoto da TV na mão, navegando pelos canais em busca de algo para assistir.

--Amor, você viu meu creme para espinha? Acabou de sair uma bem no queixo.

--Está no armarinho, na direita, perto dos desodorantes. Como sempre esteve.

--Ah. -- voltou para passar o creme, saindo em seguida -- Amor, e o meu pijama azul?

--Na terceira gaveta do armário. -- Alice respondeu impaciente -- No mesmo lugar de sempre.

Cristian foi até lá e vestiu o pijama que desejava. Então pulou na cama ao lado da esposa. Estava cansado e pronto para dormir.

--Vai ficar mudando de canal até quando? -- reclamou.

--Até encontrar alguma coisa que mereça ser assistida. E olhe que está difícil!

--Pois desligue e vamos dormir.

--Estou sem sono.

--Precisa descansar para o vôo de amanhã.

--Eu sei, mas estou muito pilhada.

Cristian suspirou, desconfiado da inquietação da esposa.

--Podemos conversar um pouco até você ficar com sono.

--E sobre o que vamos falar?

--Que tal sobre a Dulce? O que achou da reação dela na casa do papis?

--Exagerada. Estava fora de si.

--Acha que ela enxergou a luz e descobriu que ama a Cachinhos?

Alice desligou a TV com brusquidão.

--Por que acha que ela ama Anahi?

--Já te falei várias vezes das minhas observações.

--Pois se estiver certo, nada vai rolar. A Dulce sempre foi uma lerda.

--Não acho. No nosso caso, quando percebeu que estava rolando algo entre nós, terminou tudo com você e se retirou da competição.

E Alice ficara bastante magoada com aquilo.

“Se é o meu irmão que você quer, então fique com ele. Mas não faça esse joguinho sujo de nos colocar um contra o outro. Nunca vou permitir que algo ameace a harmonia da nossa família, muito menos uma briga por mulher. Ele te ama e merece ser feliz.”

“Está me entregando para ele de mão beijada?”

“Você fez a sua escolha quando deu em cima do Cris. E se o conheço bem, ele deve estar neste momento se martirizando por ter sido fraco e traído minha confiança. Então volte lá e fale para ele que nós já estávamos nos separando e que eu não ligo a mínima para o que aconteceu. Vai ser isto que vou dizer também.”

“E você não liga mesmo, não é? Para você tanto faz. Nunca me amou de verdade.”

Dulce  não ficou para responder a acusação. Saiu pela noite e se entregou à bebedeira até o dia amanhecer.

Cristian, ignorando as reminiscências da esposa, prosseguiu com sua defesa à irmã.

--Foi por causa dela que nossa família continua unida do jeito que é. Devo tudo a ela. E até agora não fiz nada para agradecer. Muito pelo contrário.

Alice deu um sorriso torto.

--Com certeza ela é uma pessoa íntegra. Mas para você, meu amor, Dulce é uma espécie de heroína que caminha sobre as águas. O que ela diz é lei.

--Não é tão cega assim minha admiração. Sei que algumas vezes no passado ela mentiu pra mim. Mas suas intenções sempre foram generosas. E eu não merecia tanta consideração.

--É mesmo? Por que não me dá um exemplo?

Crisian encarou a esposa dentro dos olhos.

--Ela me disse que vocês duas nunca dormiram juntas, mas nem por um momento acreditei nisto.

Alice desviou o olhar encabulada.

--Por que está dizendo isto?

--Você me pediu um exemplo, não foi?

--E por que acha que ela mentiu?

--Conheço muito bem minha irmã e ela não é do tipo que namora de mãos dadas na sala de estar. Ela queria poupar meu ego e eu o dela. Não deve ter sido fácil saber que a namorada estava de caso com o próprio irmão e eu estava envergonhado o suficiente para não querer insistir em saber a verdade. Então fiz de conta que acreditava na versão dela e desta forma todos ficaram felizes.

Cristian ficou pensativo. A rapidez com que Alice correra para o lado de Dulce durante a briga, puxando-a para longe da confusão, o deixara intrigado. Alguma coisa no olhar, no modo de protegê-la, na maneira como a tocou e acariciou seu braço e seu rosto com delicadeza... Alguma coisa lembrou-o do passado, quando ela ainda era namorada de Dulce e as duas trocavam pequenas carícias quando se falavam, como se não conseguissem ficar longe por muito tempo uma da outra.

Depois do rompimento elas mantiveram um bom relacionamento, mas evitavam tocar-se a todo custo. Foram anos até que finalmente abandonassem a postura defensiva, proporcionando que usufruíssem até de certa cumplicidade.

--Alice, você ainda sente alguma coisa pela Dulce?

--C-claro que não! Não seja bobo. Somos apenas amigas.

A gaguejada da esposa não serviu à sua causa. Cristian sempre desconfiara que a esposa continuava sentindo um certo fascínio por sua irmã. Sempre levara com bom humor as piadas sobre querer saber detalhes da vida sexual de Dulce, contudo tinha dúvidas sobre ser tudo uma simples pilhéria ou interesse genuíno.

--Vamos tocar em frente nossa vida e esquecer esta conversa, está bem? Só queria que você soubesse que não sou tão alienado quanto você pensa. Não sou mesmo.

Alice concordou com a cabeça e acomodou-se ao lado do marido. Fechou os olhos, mas ficou rolando na cama por boa parte da noite. Remoia o passado e suas armadilhas.

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