Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

Dulce entrou na empresa com a cabeça baixa e a fisionomia fechada. Nem ao menos cumprimentou a secretária, enfurnando-se em seu escritório.

Suzy estranhou aquele comportamento incomum, porém achou tratar-se de mais uma das desagradáveis sequelas de uma ressaca poderosa. Depois do que bebera na noite anterior, parecia-lhe a explicação mais plausível.

E pelas olheiras, passara a noite rendendo homenagens à deusa da porcelana, despejando as tripas no vaso sanitário.

Cristian chegou em seguida, no seu horário habitual.

Ao contrário da irmã, era do tipo madrugador. Gostava de começar cedo o dia, cheio de disposição. E só não estava mais esfuziante, por conta da bebida que ingerira na festa do dia anterior.

--É bom dar uma olhada na Dulce. – Suzy foi logo avisando.

--Por que?

--Acho que não está muito bem.

Cristian riu, pois também estava com uma insistente dorzinha-de-cabeça, que insistia em acompanhá-lo mesmo depois de tomar algumas pílulas de analgésico no café-da-manhã.

--Vou lá prestar minha solidariedade. – piscou para a rechonchuda secretária, que balançou a cabeça em sinal censura.

--Parecem duas crianças. Pra que beber tanto, pode me dizer?

--Tem razão, Suzy, agimos como dois grandes idiotas. Mas quem nunca fez algo assim, que jogue a primeira pedra.

--Crianças tolas, é o que eu digo. – resmungou em voz baixa, voltando para o trabalho.

Cristian ainda estava rindo quando entrou na sala de Dulce e achou cômico o ar de desalento da irmã, sentada em sua cadeira e debruçada sobre o tampo da mesa.

--Bom dia! – falou mais alto só para provocar – Pronta para o trabalho?

Dulce não retribuiu a brincadeira. Nem ao menos ergueu a cabeça.

--O que está acontecendo? Que cara é essa? Está passando mal de verdade?

Pelo que sabia Dulce tinha saído da festa totalmente mamada e sendo uma grande preguiçosa, avessa a acordar antes das oito, sua presença não era de modo algum esperada. Ainda mais se estava tão ruim assim do estômago.

--Não me pergunte nada, Cristian – ela respondeu ansiosa -- Preciso sumir por uns tempos, só isso. Você segura as pontas?

--Claro, mas que loucura é essa?

Ficou pasmo ao ver a irmã levantar-se da cadeira para recolher rapidamente alguns objetos pessoais de dentro das gavetas, jogando-os em um pequena mochila.

--Quando é que volta?

Novamente não houve resposta.

Subitamente Dulce esbarrou no porta-retratos com a foto de Anahí e ao vê-la começou a chorar descontroladamente. Colocou as mãos no rosto e ficou de costas para o irmão, a testa apoiada na parede, soluçando.

Cristian aproximou-se coberto de preocupação. Nunca a tinha visto tão fora de si.

--Pelo amor de Deus, conte para mim o que houve? Não posso ver você assim e simplesmente ignorar. Fico aqui desesperado sem saber o que pode ter acontecido para que chegasse a este ponto. Não consigo nem imaginar algo tão grave para transtorná-la desse jeito.

--Não posso contar, Cris. Não consigo. É forte demais para verbalizar, entende? Estou arrasada com o que eu fiz.

O irmão a tirou da parede e a fez retornar para a cadeira acolchoada.

--Relaxe, está bem. Conheço você e sei que não faria nada de errado propositalmente. Se algo aconteceu, não foi sua culpa.

--Queria que assim fosse. Mas a culpa é toda minha, que não consegui segurar minha maldita libido. E não poderia jamais ter feito isto.

--Transou com a vizinha?

--Não tem nada a ver, Cris. Não quero falar a respeito.

--Ela é casada, é isto o que a incomoda?

Dulce balançou a cabeça em negativa e novamente escondeu o rosto com as mãos.

--Pode dizer, não é o fim do mundo. Só me surpreende que tenha achado tempo e energia para isso. – Cristian tentou aliviar o clima.

--Não foi com uma mulher casada. – Dulce protestou -- É muito pior do que isto, Cris. Muito pior. Foi algo que não podia acontecer. Imoral, entende?

O rapaz ficou ainda mais intrigado. Quem poderia ser? Pessoa conhecida? Mulher de um amigo? O que poderia ser tão imoral?

Então um pensamento louco cruzou sua mente.

--Quem é esta mulher, Dulce?

--Não posso contar.

--Foi a Anahí? – Havia visto quando as duas saíram juntas da festa e arriscou um palpite.

Um par de olhos arregalados o encarou atemorizado.

--Foi ela, não foi? – o irmão insistiu.

--Como soube? – Dulce baixou a cabeça envergonhada.

Cristian sentou na beirada da mesa, como era seu costume, e deu um meio-sorriso de mofa.

--Só você não enxergava o que rolava entre as duas.

--Como assim? – ergueu a cabeça precipitadamente.

--Dulce, a Any te ama desde pequena. E se buscar bem dentro de si mesma, vai perceber que você também a ama.

A morena levantou-se aturdida com o que o irmão lhe falava.

--Não diga asneiras! Ela é nossa irmã, meu Deus. Eu transei com a minha própria irmã.

--Ela não é sua irmã de verdade, sua tonta. Na verdade não temos qualquer parentesco a não ser o afetivo. E mesmo assim, existe uma grande diferença entre o que eu e o Poncho significamos para ela e o que você significa.

--Ela era uma molequinha quando a conheci.

--Meninas crescem e se tornam mulheres.

--Você quer dizer que se ela te desse bola iria em frente e transaria com ela?

--Comigo é diferente. Nós tínhamos quase a mesma idade e convivíamos diariamente, brincando juntos, indo para a escola juntos. Esta rotina inocente criou um vínculo fraterno bem maior. Você não. Logo saiu de casa para estudar fora, voltava apenas nos feriadões e nas férias. Ela te via como a pessoa fascinante e amorosa que surgia de vez em quando para alegrar a vida dela. Você se tornou uma espécie de princesa prometida, um amor secreto.

--Não posso crer nisto. Sempre a tratei como uma irmã. Eu a amo como irmã.

Cristian respirou fundo e resolveu que era o momento de Dulce cair em si. Tinha que perceber o quanto estava envolvida naquela relação.