Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

O celular tocou e Maite o atendeu sem se dar ao trabalho de verificar quem era. Estava no meio de uma tarde monótona em que tentava preparar suas aulas do dia seguinte, sem o menor sucesso. Qualquer coisa era melhor do que aquela sonolência.

--Maite, tenho novidades. – Carla foi logo falando animada.

--O que descobriu?

--O Homem que te falei, disse que existe algo para acontecer. Um evento que transformará não só a sua vida como a de muitas outras pessoas com as quais se relaciona. E após isto, tudo será esclarecido.

--Um evento? Que tipo de evento? Uma exposição de gado, um desfile de moda, um show de rock?

--Não sei ao certo. Essa gente gosta de ser vaga. Acho que é de propósito para tornar a informação mais misteriosa.

--E como vou saber que o tal evento está acontecendo?

--Vai saber apenas quando acontecer. É uma coisa que divide a vida da gente em duas partes: antes e depois. Foi o que aconteceu comigo e Marcela.

--Está de brincadeira? Vocês se apaixonaram durante um furacão. Não está pensando seriamente que algo assim possa acontecer, não é?

--Esteja preparada para qualquer coisa.

Maite se jogou na poltrona desanimada. Só faltava ter que acontecer uma hecatombe nuclear para poder se livrar de Letícia.

--Ok, vou ficar atenta. Obrigada Carla

--Boa sorte, Mai. E pense que nem todas as mudanças são para pior.

--Até agora não senti muitas melhoras na minha vida. Mas só me resta esperar por este grande acontecimento e rezar para sobreviver a ele.

--Pode não ser algo tão drástico. Não necessariamente um desastre da natureza.

--Espero que não. A gente se fala então.

--Até.

Maite desligou o telefone, ainda desanimada com o que Carla falara. Algo iria acontecer em sua vida e não fazia a menor idéia do que e por que razão.

Nestas horas sentia tanta falta de Angelique! Ela sempre a ouvia, por mais absurdos fossem seus pensamentos.

Mas a sensação nostálgica foi seguida por uma forte melancolia que preencheu seu coração. Quantas vezes retribuíra o gesto de gentileza e consideração? Quantas vezes procurara saber o que turvava os olhos de Angelique, o que a fazia taciturna em determinadas situações?

O mais terrível era descobrir que não conhecia a mulher por quem se dizia apaixonada. Qual era sua cor favorita? Onde estudara quando menina? Quem fora sua primeira namorada, seu mais querido bicho de estimação? Quais eram seus sonhos, suas expectativas para o futuro, seus medos, suas crenças e esperanças?

Nunca se preocupara em saber. Angelique era a mulher linda e carinhosa que a esperava ao final de cada aventura em que mergulhava de cabeça. Jamais lhe perguntara se concordava em ser deixada sozinha enquanto ela viajava em busca de suas próprias realizações.

--Como fui egoísta, meu Deus!

--Mais um ponto para a professora Maite! O jogo está se animando, minha gente!

Maite abriu os olhos e lá estava Letícia espalhada pelo sofá como se estivesse em casa.

--O que você quer agora?

--Que tome uma atitude. Agora que descobriu seus pecados, que tal partir para a reconquista?

--Acha que quero Angelique de volta?

--Tenho certeza.

--Só que isto não vai acontecer. Primeiro porque não vou ceder às suas chantagens; segundo porque ela merece alguém melhor do que eu. E parece que encontrou essa pessoa naquela machona metida a Don Juan. Por certo ela tem o que me falta.

--Maite, Maite... Você sempre dá um passo para trás a cada passo que dá para frente. Assim não vamos chegar a lugar algum.

--Pela primeira vez na vida estou sendo desprendida. Deveria dizer para mim o quanto isto é louvável, o quanto estou evoluindo como ser humano.

--Diria se o motivo não fosse covardia. Está se borrando de medo de competir com esta outra mulher pelo amor de Angelique.

--E que chances eu tenho sendo essa porcaria sem noção que sempre fui? Precisei perder minha namorada para descobrir o quanto ainda a amo. Sabe o que isto diz de mim? Não é somente ridículo, como também estúpido, tudo ao mesmo tempo. Sempre olhei para mim mesma e nunca para os outros. Não foi só a Angelique que magoei com este jeito insensível de ser. Pensando a respeito, nem sei por que ainda tenho algum amigo. Ou por que minha família não me deserdou de uma vez.

--É bom que olhe agora para o passado e compreenda o quanto errou. Mas é mais importante enxergar à frente e perceber o quanto pode ser feliz se resolver prestar mais atenção ao que acontece ao seu redor. As pessoas precisam de você, Mai. E você precisa delas. A vida é uma troca e até agora você apenas tirou sem contribuir com nada. Está na hora de virar o jogo.

--Acha que ainda posso consertar as coisas com Angelique?

--Acho que precisa pelo menos tentar. Vocês duas merecem mais uma chance, mas isto só vai acontecer se você se conscientizar de seus erros e se dispuser a corrigi-los de verdade, com sinceridade. Não adianta partir para a luta, ganhar e depois voltar aos velhos costumes de antes. Se agir assim, tudo o que vai conseguir é perdê-la outra vez. E dessa vez em definitivo.

Maite soltou um longo suspiro. Seria este o grande evento a que Carla se referira? Sua própria mudança de atitude em relação à vida? Por que não?

--Quero tentar. -- recostou-se pesadamente na cadeira --Você me ajuda?

O pedido foi tão infantil quanto o de uma criança querendo pegar algo no alto que não consegue alcançar.

--E o que acha que eu tenho feito desde o começo, lerdinha?

--Você também precisa de uma lição, sabia? Uma de humildade.

Letícia riu e lentamente foi se esvaecendo, até Maite ficar sozinha, olhando para o sofá vazio.