Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

--Dulce, deixe de ser idiota e pelo menos fale com a sua namorada. Não vou ficar aqui mentindo para ela dizendo que você precisou se ausentar para o caixa prego e não pode retornar as ligações. Isto não vai colar por muito tempo e fica um bocado chato pra mim. Está agindo como uma criança que quebrou o vaso de cristal da mãe e está com medo de apanhar.

Cristian já perdera a paciência com a fuga da irmã. Quase uma semana era demais para se escapulir das responsabilidades.

--E como está Anahí? – ela perguntou vacilante.

--O que você acha? – respondeu sem se preocupar em disfarçar sua revolta – Ela está até pensando em voltar com aquela namorada apaixonada que não larga do pé dela.

--A Carla? Mas ela não presta!

Cristian deu uma risadinha sarcástica.

--Pelo que sei essa a Carla não dorme com ela e desaparece na manhã seguinte. Então me diga aqui, com toda a sinceridade, quem é mesmo que não presta?

A linha ficou em silêncio.

--Quer saber, Dulce, você é ótima para conquistar as mulheres. Tem o maior charme, o maior papo, ginga, pegada. Mas é um tremendo fracasso em mantê-las. Qual o seu problema, afinal? Aceite de uma vez seus sentimentos por Anahí e venha assumir seu lugar na vida dela. Ou então ela vai seguir em frente e você vai perder uma garota incrível que tudo o que fez até hoje foi te amar.

--E o papis? Vocês contaram para ele?

Cristian teve vontade de entrar no celular e ir até onde Dulce estava para lhe dar uns bons tapas.

--Esqueça o papis, droga! Estamos falando de Anahí! Ela não merece ser abandonada desse jeito sem explicação, por conta do seu medo patológico por compromissos. E Angelique? Vai abandoná-la também de uma hora para a outra?

--Eu estou completamente perdida.

--Pois desse jeito só vai conseguir apanhar de duas mulheres ao mesmo tempo. Sua barra está realmente suja.

--Se levar uma surra resolvesse tudo, me entregaria para ser chicoteada em praça pública.

--Eu sei que as coisas se complicaram de repente. Mas os problemas não vão desaparecer como por encanto.

Cristian pode ouvir o longo suspiro de Dulce do outro lado da ligação.

--Vou procurar a Angelique e contar a verdade. – ela aquiesceu tristemente -- Não quero enganar ninguém. Quero jogar limpo com ela. Depois tenho que conversar com Anahí e dissipar de algum modo esse clima terrível que se formou entre a gente.

--Um clima que você mesma criou com seu ataque de pânico.

--Sei disso. Tudo o que quero é manter a unidade da nossa família. Estamos na véspera do Natal e não gostaria que passássemos os festejos separados.

--Então esteja preparada para enfrentar o Poncho também. Ele está furioso com você por magoar Anahí.

Dulce ficou um pouco mais desolada. Com sua atitude impensada causara uma inevitável crise familiar e não sabia direito como agir para mitigar a situação.

--E você, Cris, o que pensa a respeito? – apelou para o bom-senso do irmão.

Cristian hesitou. Tentava encontrar as palavras certas para expor o que sentia. Não estava à vontade para criticar abertamente a atitude da irmã, tendo ele mesmo sido no passado o estopim de outro momento crítico na vida de todos. Mas no final pensou bem a respeito e decidiu que era melhor usar da bruta sinceridade para ajudar Dulce a reagir de vez, quebrando sua paralisia emocional.

--Nem sei se tenho moral para lhe dizer isto, mas o que você fez com Angelique e com Anahi foi a maior cafajestada. Você não só foi irresponsável como egoísta. Pulou fora quando o caldeirão esquentou, deixando duas mulheres para trás para que se danassem.

--Espera aí... – Dulce tentou defender-se, mas Cristian a interrompeu.

--Você pediu minha opinião, não foi? Então agüenta o tranco.  Deixe de ser criança e pelo menos venha conversar com elas e esclarecer as coisas. Nenhuma das duas merece o que você está fazendo. Não consigo enxergar você nessa pessoa covarde e patética que se esconde das decisões, esperando que tudo se resolva por si só.

Dulce foi pega no contrapé por aquele comentário. Cristian tinha sim o direito de cobrar-lhe um comportamento mais digno, pelo menos igual ao que ele tivera no passado quando viu-se envolvido com Alice. Nunca fugira de sua responsabilidade e enfrentara seu deslize com coragem.

--Você tem toda razão. Vou voltar para casa e encarar o pelotão de fuzilamento. Seja o que Deus quiser.

--Mas pense bem no que vai fazer. Não torne as coisas piores se precipitando. Já teve bastante tempo para analisar os fatos, então não fuja do seu coração. No meu modo de ver, você não está confusa coisa nenhuma, está é com medo e isto é bem diferente.

--Às vezes não é tão fácil compreender os nossos sentimentos. Ou aceita-los.

--Às vezes não, mas em outras ocasiões a resposta está descaradamente na sua frente e só precisa dar o primeiro passo e deixar rolar o que tiver que ser, para o bem ou para o mal.

Dulce soltou um suspiro pesado e desligou o celular, jogando-se de costas na cama do seu quarto de hotel. Lembranças antigas começaram a surgir em sua mente. Cenas distantes no tempo e que nunca dera a devida importância.

--Minha mãe era uma grande concertista. – a menina de cachos loiros dizia com orgulho para sua nova irmã.

--Nossa! O que ela tocava?

--Piano.

--E ela te ensinou a tocar?

--Claro. – a menina afirmou com convicção, para depois corrigir seu exagero -- Um pouco.

--E pode me ensinar?

Anahi a olhou com empolgação.

--Vamos tocar juntas.

E a partir dali sempre se sentavam em duas banquetas, uma ao lado da outra, e ensaiavam seus concertos para a família. Anahi tocava com habilidade, tentando ao máximo ser fiel à partitura. Dulce, por outro lado, sempre dava um jeito de improvisar, trocando os arranjos e fazendo acompanhamentos bizarros para fazer graça. Na realidade jamais pretendera aprender piano, apenas arrumara uma desculpa para ficar na companhia da garota.

Agora lhe parecia tão claro o quanto naquele tempo já era vidrada na pequena Anahi! Era como se tivesse se apaixonado ao primeiro olhar. Quando voltava para casa durante as férias, era a ela que buscava em primeiro lugar, era para ela seu melhor sorriso. E à medida em que cresciam, aquele sentimento tornou-se mais e mais constrangedor e insustentável. Então o abandonou por completo, iniciando um processo interno para construir barreiras inconscientes em seu coração para neutralizar tais emoções crescentes.

E tudo tinha dado certo, até que a venda foi tirada violentamente de sobre seus olhos.

“O que diabos estou fazendo da minha vida?”, pensou em voz alta, “Que inferno!”.

Arremessou longe o travesseiro, que colidiu contra a parede e despencou no chão. Sentia-se sufocada com o peso da decisão que precisava ser tomada e que fatalmente afetaria seu modo de ser e de viver. Valeria a pena jogar para o alto sua independência, sua liberdade, seu cotidiano despreocupado e sem maiores responsabilidades? Tudo por este louco amor que resolvera despertar após anos de hibernação?

Ao mesmo tempo, como poderia prosseguir com sua vida sem dar vazão a um sentimento tão forte, que explodia em seu peito?

Depois de ter Anahi em seus braços, todos os demais encontros que tivera empalideciam-se, tornavam-se desimportantes. Fechava os olhos e a imagem que lhe vinha era daqueles olhos lindos olhando-a com paixão segundos antes de se fecharem durante o gozo. Lembrava-se de seus lábios vermelhos entreabrindo-se sensualmente e do som de prazer que emitira quando seu corpo macio estremeceu sob o seu.

“Inferno!”