Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

-Anahi, fala comigo.

A ligação foi interrompida bruscamente, dando para Dulce uma boa dica do quanto a jovem estava magoada e nada disposta a aceitar suas desculpas tardias. Mesmo assim insistiu mais algumas vezes, até que lá pela décima vez Anahí bloqueou seu número, pondo um fim a suas tentativas de comunicação.

Cabisbaixa Dulce entrou na sala de Cristian, buscando algum apoio.

--Ela não quer falar comigo. – lamentou-se para o irmão, que não disse absolutamente nada. Para quê? As duas que se entendessem sozinhas.

Dulce se jogou numa das cadeiras como se tivesse corrido quilômetros em uma maratona.

--Ouviu o que eu disse? – insistiu.

O silêncio continuou sendo sua única resposta.

--Você também está contra mim. – finalmente desconfiou do óbvio.

Realmente Cristian não estava inclinado a apoiar mais aquela atitude absurda da irmã.

--E tem jeito de ficar a favor? Pense bem. – Cristian enumerou nos dedos -- Primeiro foge que nem uma barata tonta, sem nem ao menos dizer onde ia. Em segundo volta e ao invés de ir conversar com a menina, fica ligando para o celular dela como se fosse uma adolescente imatura. Já percebeu que até a Suzy está te virando a cara? Ninguém mais te aguenta, Dulce! Vê se cresce, minha irmã! Onde está a grande conquistadora que levava tudo quanto é mulher no bico? Se é a Anahi que você quer, então corre atrás de uma vez.

Dulce olhou para o celular em sua mão e soltou um suspiro, guardando-o no bolso da calça.

--E se ela não me quiser mais? E se ficou tão magoada que agora me odeia.

--Talvez seja isso mesmo e você leve umas boas e merecidas bordoadas, mas pelo menos vai pôr um fim nesse drama todo. Desse jeito é que não dá para ficar. Sempre tive você como um exemplo de firmeza e dignidade, mas já estou repensando.

Dulce ficou de pé com determinação.

--Tem razão. Chega de bancar a vacilona. Eu quero ela e vou conseguir. Ponto final.

Foi em direção à porta, mas antes foi detida por Cristian.

--Por favor, Dulce, vê se toma um jeito na vida e faz ela feliz, está bem? Nada de ficar por aí pulando de galho em galho em busca de carne nova o tempo todo.

--Acha que não posso ser fiel?

--Desculpe se tenho lá minhas dúvidas.

Dulce ergueu a postura, encarando o irmão desafiadoramente.

--Pois fique sabendo que nunca traí ninguém. Sempre joguei limpo com todas as mulheres com quem fiquei.

--Também, nem dava tempo. Era começar um namoro e já terminar no dia seguinte.

O olhar ficou mais enfurecido, entretanto no fundo sabia que o que Cristian dizia era verdade. Seus relacionamentos antes de Angelique nunca duravam o suficiente para ensejar algum compromisso mais sério.

--Só estou deixando bem claro que Anahí não vai ser um joguete nas suas mãos. Isto eu garanto.

--Não é justo duvidar de mim, Cris. Eu a amo demais e sinto dentro de mim que com ela vai ser diferente. Sempre foi. Não é simplesmente uma paixão momentânea, e sim algo para durar a vida toda.

O irmão sorriu.

--Isto eu já sei há tempos. Agora vai atrás da sua felicidade.

Deram-se um abraço e Dulce saiu mais otimista, disposta a resolver de vez aquele impasse.

Passou pela recepção e Suzy ignorou-a quando a viu passando, virando-se de costas para fingir que estava pegando um café na garrafa térmica atrás da mesa.

Dulce fez uma careta de constrangimento. A coisa não estava boa para o lado dela se até a rechonchuda secretária a censurava ostensivamente.

*****

Anahí acompanhou pela janela quando o carro de  Dulce estacionou do lado da casa. Imediatamente recolheu-se para não ser vista e sentou-se na cama, aborrecida. Contudo já havia se resignado ao fato de que a veria diversas vezes, afinal, era apenas justo que viesse ver a mãe de vez em quando, não estava em suas mãos impedi-la. Tudo o que lhe restava era permanecer em seu quarto até que ela fosse embora, ou adiantar-se a suas visitas e sair de casa antes de sua chegada.

Com o tempo, por certo o mal-estar se dissiparia e poderiam até desfrutar de uma convivência menos tormentosa. Mas por enquanto, tudo o que tinha vontade de fazer era agredi-la a tapas por ser a safada insensível que era.

Sabia que em parte a culpa era sua por ter deixado que as coisas se precipitassem. Na verdade, não era o fato de Dulce evitar compromisso o que a incomodava. Compreendia que ela tinha todo o direito de arrepender-se, pois não estava em seu juízo perfeito. Mas por que fugir daquela maneira, como se estivesse fugindo do próprio demônio? Ou como se tivesse a obrigação de casar-se após tirar a honra de uma virgem imaculada?

Em nenhum momento exigiria algo dela a não ser o direito de mostrar o quanto a amava. Não podia aceitar ser tratada com tamanho descaso. Ainda não se destituíra de seu orgulho, de seu amor-próprio.

Levou as mãos ao rosto, exasperada. O destino lhe aprontara uma peça, mas não fugiria disto. Iria enfrentar de frente aquela situação e não seria ela a recuar.