Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

Anahi passou pela recepção da construtora da irmã e não viu a secretária, que provavelmente estava na hora do almoço. Então foi até à sala de Dulce, que estava vazia. Tentou a de Cristian e encontrou-o distraído, trabalhando em um novo projeto.

--Oi. – foi até ele e deu-lhe um beijo no rosto.

Cristian despertou de sua concentração exagerada e sorriu. Quando batia a inspiração, viajava para um mundo só dele e esquecia de tudo a seu redor.

--Oi Cachinhos. – cumprimentou jovialmente.

--Sabe que odeio esse apelido. – a irmã não conteve seu desagrado.

--A não ser quando Dulce te chama assim. Aí se derrete toda.

Anahi ficou irritada com a zombaria do irmão.

--Você não tem nada com isso! – foi cortante.

Cristian percebeu a bola fora e se arrependeu da brincadeira.

--Desculpe, Any. Não quis ser insensível.

--Mas foi. – e fez menção de ir embora.

--Fique, por favor. – Cristian a deteve – Não pretendia fazer pouco dos seus sentimentos. Só não consigo entender por que não diz logo pra ela que a ama.

Anahi ficou em silêncio, abalada com aquelas palavras. Para o irmão era tão fácil resolver o assunto! Era só chamar Dulce para uma conversa e abrir o verbo, contar que era apaixonada por ela desde pequena e que não conseguia esquecê-la nos braços de ninguém. Nunca encontrara uma só pessoa que a fizesse sentir algo semelhante ao que sentia quando estava em sua presença.

Contudo sabia que o tipo de afeto que tinha em seu coração não era recíproco e só criaria uma situação embaraçosa para ambas. E muito mais para toda a família. O melhor era calar-se e sofrer sozinha por aquele amor impossível e que jamais se realizaria.

--Onde ela está? Ainda no almoço?

Cristian ficou constrangido de imediato. Não queria acrescentar mais dor à irmã, contando da escapulida de Dulce com a cliente.

--Está em um almoço de negócios e acho que vai se atrasar um pouco mais. – disfarçou um pouco a realidade.

Anahi assentiu e sentou-se em uma cadeira próxima.

--Vim contar para vocês que consegui um emprego.

--Nossa, que legal! -- Cristian externou sua satisfação com um largo sorriso -- Onde?

--No L´Arpège, um restaurante novo que inaugurou há duas semanas. O Chef precisa de um assistente e eu me candidatei. Hoje fui para uma entrevista e me contrataram.

--Estou impressionado. Minha irmãzinha finalmente vai poder mostrar seu talento para o mundo.

Abraçou-a orgulhoso.

Neste instante Dulce chegou e se reuniu ao abraço, mesmo não sabendo a razão deste. Sempre era ocasião de demonstrar aos irmãos o quanto os amava.

--O que estamos comemorando? – finalmente indagou.

--Cachinhos arrumou um emprego num restaurante daqueles que a gente não consegue pronunciar o nome.

--L’Arpège, seu bobo. – Anahi o censurou com um sorriso condescendente nos lábios.

--Parabéns, meu anjo. – Dulce deu-lhe um beijo carinhoso em sua bochecha como faria com uma criança -- Sempre disse que era questão de tempo até te descobrirem. Só me preocupo se ainda terá tempo de cozinhar para sua velha irmã.

--Sempre terei tempo para você. – respondeu com os olhos brilhando. Mas só Cristian percebeu. Dulce continuava ignorando totalmente o quanto era amada.

--Que tal sairmos todos hoje à noite para comemorarmos? – Dulce propôs.

--Já sei que acabaremos numa pizzaria. – Anahi resmungou.

--Você está se tornando muito esnobe, Cachinhos. Tem que voltar às origens de vez em quando. Lembra quando você era um toquinho e costumava roubar meus pedaços de pizza sorrateiramente?

--Você era uma tonta que se distraia fazendo macaquices e se esquecia de comer. Merecia perder seus pedaços.

--Vou mostrar minhas macaquices. – e começou a fazer cócegas em Anahi

--Pare, Dulce, não sou mais criança! –queixou-se, conseguindo a custo se afastar da irmã.

--Pois para mim sempre será aquela garotinha assustada, me olhando com cara emburrada e dizendo o quanto me odiava.

Anahi tentou controlar sua decepção e manter a compostura. Mas era difícil ouvir aquilo e não se sentir arrasada. Para Dulce ela não passava de uma irmãzinha mais nova, a quem só devotava amor fraternal.

Sorriu com esforço e concordou com a comemoração. Não adiantava insistir em ter esperanças. Tinha que se conformar de vez que Dulce jamais seria dela.

--Vejo vocês mais tarde então. – e saiu o mais rápido que pode para colocar distância entre elas. Precisava de um tempo para controlar-se.

Cristian seguiu Dulce até sua sala e sentou-se na beirada da mesa enquanto a irmã se acomodava na confortável cadeira acolchoada de espaldar alto.

--Então? Como foi o encontro?

Dulce cruzou as mãos atrás da nuca e deu um sorriso sacana.

--Ponto para mim, meu velho. A mulher não quis nem ir para o restaurante. Foi assalto à mão armada.

Cristian riu do jeito convencido da irmã.

--Então a tal da Márcia caiu na teia direitinho.

--Engano seu: foi ela que teceu toda a armadilha. A única coisa que fiz foi me deixar cair nela. E valeu a pena.

--E agora? Como fica a obra? – o irmão indagou, preocupado com os desdobramentos daquele encontro.

--Nada a ver. – Dulce  o tranqüilizou mais uma vez -- Foi só um rolinho sem conseqüências. Ela também não quer se envolver.

--Espero que sim. Não gostaria de jogar fora todo o meu trabalho por conta de uma tarde de sexo.

--Tudo sob controle. Não esquenta.

Cristian balançou a cabeça em concordância, sem querer lembrando-se de Anahí. Queria muito ajudá-la, mas não havia como forçar Dulce a se apaixonar por ela. Todos eles acostumaram a encararem-na como irmã e esse amor que nascera dentro do coração de Anahi era no mínimo inapropriado.

Ele descobrira o que acontecia por puro acaso ao surpreender Anahí em pranto desesperado após Dulce levar uma de suas namoradas para jantar no casarão da família. Tinha sido triste presenciar tamanho sofrimento. É claro que já desconfiava de longa data, pois diversas vezes havia testemunhado seus olhares suspirosos quando achava que ninguém a estava observando.

Desde o princípio Cristian soube que aquilo seria por demais complicado. Anahí no fundo tinha razão em temer que sua confissão de amor acabasse por ocasionar uma fissura nas relações familiares. Havia muito em jogo para agir impensadamente.

Sempre ficava a seu cargo consolar Cachinhos quando Dulce se referia a outra mulher.

Tinha pena de Anahi, mas nada podia fazer. Era frustrante vê-la passar por aquilo vezes sem fim, já que Dulce não era exatamente uma santa. Amava as duas e tudo o que mais queria era que um dia elas se descobrissem e fossem felizes juntas. Mas era apenas um desejo inútil. Se dependesse de Dulce, Anahi seria sempre uma menininha a quem devia proteger e jamais amar como mulher.