Fanfic: Historias de Amor e Fantasma | Tema: Portiñon

Angelique, por sua vez, aproveitou para olhar cuidadosamente o interior do carro, tentando descobrir ali detalhes da personalidade de sua dona. Tudo parecia impecavelmente limpo e bem cuidado. Nada de embalagens vazias de fast food no banco traseiro, ou jornais velhos forrando o assoalho. Dulce era organizada e extremamente atenciosa aos detalhes.

No console, dois porta-cds dividiam o espaço. O primeiro continha músicas eruditas como a que estava tocando no momento. O outro era um apanhado de cds caseiros com nomes que lhe eram estranhos.

Não resistiu à curiosidade e inseriu um deles no aparelho, surpreendendo-se com o ritmo forte de um som eletrônico. Passou para outra trilha e ficou claro que ali estava a verdadeira Dulce, seu verdadeiro gosto musical. E isto a fez rir divertida. Era adorável que ela tivesse se dado ao trabalho de impressioná-la daquela forma, fingindo um requinte que não combinava com sua personalidade real.

Deixou que o cd continuasse tocando e quando Dulce entrou no carro, assustou-se com o som. Olhou para Angelique e havia um esboço de sorriso em sua face. Ela descobrira seu segredo.

--Achei Vivaldi um tanto quanto monótono. – Angelique comentou naturalmente.

--Descobriu meu embuste, não é?

--E isto vai garantir alguns pontos negativos. – fingiu aborrecimento.

--Voltei então à estaca zero?

Angelique não resistiu ao beicinho que Dulce exibia.

--Quem sabe eu a perdoe? Desde que não finja mais ser o que não é. Tenho certeza que possui qualidades dignas de admiração e não precisa recorrer a encenações.

--Sendo assim, peço mil desculpas pela minha infantilidade. E prometo ser absolutamente verdadeira daqui para frente.

Seguiu para o restaurante, embalada pela cadência de suas músicas favoritas, mesmo que em volume reduzido para não judiar dos ouvidos sensíveis de Angelique

*****

Crsitian chegou em casa e ela parecia deserta. Foi para o quarto e logo ouviu o som do chuveiro. Olhou em volta e com um sorriso viu as malas de Alice abandonadas em um canto. Sentou-se na borda da cama e aguardou que ela saísse do banheiro. Estava exausto do dia puxado, mas a alegria de rever a esposa o energizava.

Alice entrou no quarto e os dois se abraçaram apertado.

--Cancelaram o vôo. – a mulher explicou.

--Fiquei com tantas saudades e você nem tinha saído do chão! – Cristian exclamou deixando uma trilha de beijos pelo pescoço de Alice – Dulce já estava tirando sarro de mim pela vela que acendi para que Nossa Senhora a protegesse.

--Essa sua irmã tira sarro de tudo. É uma cínica.

E Cristian riu, concordando que Dulce era impossível de se agüentar quando resolvia exibir seu lado humorístico.

--Mas não se preocupe que hoje talvez ela tome jeito na vida.

--É mesmo? O que vai acontecer?

--Um encontro importante. Ela até pediu meus cds emprestados.

Alice tentou disfarçar a curiosidade, contudo não se conteve.

--Quem é a bola da vez?

--Não, é sério. Ela estava bem animada. Deve ser uma mulher muito especial pela expectativa que demonstrou.

Alice recuou, desvencilhando-se do abraço do marido para em seguida abrir o armário, onde começou a estudar suas opções de roupas a usar. Contudo era perceptível que a notícia causara-lhe certo desconforto.

--Ela sempre se empolga, mas nunca dura muito. – comentou com desdém.

Cristian torceu a boca em frustração, como sempre fazia quando Alice agia daquela forma evasiva ao conversarem sobre Dulce e suas conquistas.

--Quem sabe isto muda? – argumentou com seriedade --  Ela bem que precisa encontrar alguém que a complete. Alguém de quem ela sinta saudades, como sinto de você.

Alice sorriu e sentiu-se culpada por seus pensamentos. Novamente abraçou o marido e lhe deu um beijo apaixonado.

--Também senti saudades de você, Cris. É apenas justo que Dulce encontre alguém que a faça feliz como você me faz.

Cristian sorriu e fez de conta que não percebera o momento em que Alice pareceu ressentida com a possibilidade de sua irmã encontrar alguém para finalmente formar uma família.

Não era a primeira vez que percebia esta reação da esposa quando o assunto era   Dulce e suas aventuras amorosas. Seus comentários eram sempre leves e cômicos, nada que pudesse insinuar algum interesse escondido, mas ao mesmo tempo acendia luzes de advertência em Cristian ao recordar-se do passado que havia entre elas.

Ele se intrometera no relacionamento das duas e acabara por travar um indigno duelo em que levara a melhor. Porém, não graças ao seu poder de conquista, disto tinha certeza, mas sim pela retirada altruísta de Dulce da disputa. Ela negava que tivesse abdicado da namorada, contudo Cristian sabia muito bem que a irmã desistira de sua felicidade pela dele. E a prova era que depois de Alice ela nunca mais levara a sério nenhuma outra mulher.

E era esse peso em sua consciência que fazia Cristian tão ansioso pelo momento em que Dulce encontraria sua cara metade e construiria um futuro com essa pessoa. O perdão dela não tinha sido o suficiente para sossegar sua alma. Havia errado demais, talvez pela inexperiência da juventude, talvez por puro egoísmo. Porém muitas vezes sentia-se inseguro quanto ao amor de sua esposa. Será que ela esquecera mesmo o passado? Tudo o que um dia havia compartilhado com Dulce?

E conseguiria ele mesmo esquecer disto também?

Estas eram as incógnitas que o atormentavam em momentos como aquele.

*****

Anahi chegou mais cedo no seu primeiro dia de trabalho no restaurante. Queria demonstrar seriedade e responsabilidade com relação ao posto que assumia. E na verdade estava de tal forma ansiosa que não conseguira esperar sossegada pelo horário determinado para apresentar-se. Era uma oportunidade única para alguém recém-saída da faculdade e não admitia fracassar.

Seu celular tocou anunciando uma mensagem de texto e ao lê-la um sorriso de encantamento surgiu em seus lábios.

“Boa sorte. Sei que vai arrasar. bjs”

Dulce não se esquecera. E pelo visto acordara cedo para enviar-lhe aquelas palavras de incentivo.

Suspirou. Ela fazia com que fosse cada vez mais difícil deixar de amá-la.

Sentindo-se mais confiante com a mensagem que recebera, apresentou-se para o trabalho.

O que ela desconhecia, no entanto, era que a mensagem fora enviada diretamente da cama de Angelique, onde Dulce havia passado uma noite intensa de sexo e agora descansava sob os lençóis.

--Para quem mandou mensagem? – Angelique indagou vinda do banheiro com os cabelos cacheados ainda levemente úmidos.

--Minha irmãzinha. Ela está começando hoje em seu novo emprego e quis dar uma força.

A psicóloga mergulhou em seus braços e beijou-a carinhosamente.

--Você é a pessoa mais atenciosa que já conheci. – afirmou com extrema franqueza -- Em todos os momentos.

--Quer dizer que consegui mais pontinhos? – Dulce puxou-a para mais junto de si – Aliás, tenho o direito de saber quantos já tenho.

--Preencheu toda a caderneta.

--Então isto me habilita a um segundo encontro?

--Terceiro, quarto... Quantos quiser.

--Está me pedindo em namoro?

--Estou quase implorando.

Dulce encantou-se pelo sorriso brincalhão que recebia de Angelique.

--Hum, mas para mim ainda falta um último teste. – provocou.

--E qual seria?

--Descobrir se sabe preparar um café-da-manhã razoável. É o mínimo que exijo de minhas candidatas a namorada.

--Aceito o desafio. E só para me exibir, posso preparar um delicioso jantar para nós hoje à noite.

--Sendo assim, só me resta fechar o acordo. Aceito você como namorada.

E beijaram-se com um erotismo tão grande que deu ensejo a mais um encontro quente e sensual.