Fanfic: Marido e Inimigo | Tema: Vondy

"As pessoas devem estar na cama, lendo o jornal", pensou. "Enquanto saboreiam uma xícara de chá, lêem distraidamente as atrocidades da primeira página." Sacudiu a cabeça, procurando afastar as lembranças negativas.

Lembrou-se de Martin. Deus! Não podia deixá-lo vir almoçar, com Christopher no apartamento! Foi até a sala e ligou para ele. O telefone tocou várias vezes, mas ninguém atendeu.

Nicole desligou, com a testa franzida. Tentaria novamente mais tarde.

Pensou em Christopher. Que reação poderia esperar de seu marido ao tomar conhecimento de que estava saindo com outro homem? Não sabia. Só tinha certeza de que não estava esperando piadinhas cínicas. Mordeu os lábios, magoada. Será que Christopher acreditava mesmo que ela podia dormir com alguém como se bebesse um copo d`água? Que tipo de pessoa ele pensava que ela era afinal?

Se for essa a imagem que fazia dela, então não a conhecia. Mas... E ela, o conhecia? Eles nunca tinham estado juntos por muito tempo; quase sempre viviam separados. E Christopher, teria sido infiel enquanto estivera fora?

A suspeita sempre existira no fundo de sua mente, mas nunca demonstrara nada a ele. Christopher teria rido dela, e provavelmente não responderia à sua pergunta.

Suspirou. Se ele a amasse de verdade, deixaria o emprego de correspondente e passaria a fazer reportagens em Londres mesmo. Sim, ele teria ficado ao seu lado.

O melhor seria ocupar-se para não pensar muito. Foi preparar o almoço. Depois de ter colocado o frango no forno, tentou falar com Martin novamente. E, mais uma vez, não obteve resposta. Onde é que ele estava? Será que já tinha saído para vir almoçar com ela?

De repente, ouviu um grito abafado. Arrepiou-se toda. O que era aquilo? Outro grito, mais alto. Levantou-se da mesa devagar e foi para o quarto. Abriu a porta silenciosamente. Christopher deu outro berro de arrepiar.

Ele estava tendo um pesadelo; seu corpo convulsionado se debatia sob as cobertas.

Dulce aproximou-se da cama. Christopher sacudia a cabeça, desesperado.

— Pelo amor de Deus... Pelo amor de Deus...

Aquilo era insuportável! Que imagens horrorosas deviam passar por sua mente? Inclinou-se sobre ele, segurando-o pelos ombros.

— Christopher. — Christopher, acorde.

Na convulsão, ele a agarrou pelos pulsos com toda a força, puxando-a e debatendo-se. No instante seguinte, estava sobre ela, com os dedos fortes em sua garganta delicada.

— Christopher! Christopher! — Gritou Nicole, desesperada.

Os olhos dele abriram-se, luminosos, ameaçadores. Toda a tensão do corpo se foi. Os dedos relaxaram, embora continuassem pousados sobre o pescoço dela.

— Dul.

Ainda trêmula, ela sussurrou:

— Você estava tendo um pesadelo.

— Estava.

— Tem tido muitos?

Dulce já adivinhava a resposta, mas queria fazê-lo falar, dar tempo a ele de se recuperar.

— Muitos — respondeu ele, tenso, afastando-se um pouco e livrando-a de seu peso.

Christopher transpirava pela testa, pelo rosto. Uma mecha de cabelos negros grudara em suas têmporas. Dulce passou a mão por eles carinhosamente.

— Horríveis? — Perguntou.

— Não me pergunte Dul — respondeu ele, transtornado, o rosto muito próximo ao dela.

Mais uma vez ele demonstrava fraqueza. Dulce viu um músculo pulsando ao lado da boca viril e instintivamente colocou a mão para detê-lo.

Christopher virou a cabeça, beijando a palma de sua mão, fazendo-a estremecer.

— Oh, Dul, precisei tanto de você! — Murmurou ele, contra a pele de Dulce, com a respiração quente entrando por seus poros, acelerando seu coração. — Pensei que tivesse chegado a minha vez. — Fazia tanto calor. — O sol tinha transformado a cidade num forno, e à minha volta não havia mais nada, apenas a morte. — Nunca senti tanto medo. — Pensei que...

— Pensou o quê? — Perguntou ela, acariciando o rosto áspero e moreno.

— Quando você acha que vai morrer a qualquer instante, a vida torna-se um valoroso tesouro — explicou por fim.

Dulce viu que, sob o bronzeado de sol, ele estava muito pálido. Não disse nada. Continuou a acariciá-lo.