Fanfic: Marido e Inimigo | Tema: Vondy

A voz a deteve. Uma lâmpada de cabeceira foi acesa, e ela virou-se, incrédula.

O homem na cama a fitava, sonolento, enquanto passava a mão pelos cabelos em desalinho.

Os ombros largos, fortes e bronzeados estavam nus.

Dulce perdeu a fala e foi corando devagar.

— O que você está fazendo aqui? — Como entrou?

Ela não reconheceu a própria voz. Parecia rouca fraca.

— Usei a chave.

— Que chave?

Dulce não estava gostando nada do modo insolente como ele a olhava, nem do sorriso irônico e do brilho malicioso em seus olhos. Apertou o cinto do robe com força.

— Esqueceu que eu tenho uma? — Ele riu, mostrando os dentes alvos. — Para falar a verdade, eu também não me lembrava. — Tive sorte de encontrá-la em minha mala.

— O que está fazendo aqui? — Repetiu Dulce, recobrando-se do primeiro choque. — Pensei que estivesse na África.

— Voltei hoje.

Ela o examinou apreensivo, para ver se não estava ferido. Era o que normalmente o trazia de volta a Londres. Talvez ele tivesse enfrentado fogo cruzado mais uma vez. O homem percebeu sua preocupação e sorriu de novo.

— Não, não estou machucado.

Dulce ficou furiosa. Por um instante experimentara novamente aquela sensação de medo, ansiedade, a velha dor.

— Se vista e saia do meu apartamento — ordenou ela.

— Não seja ridícula. — Á essa hora?

— Á hora não tem nada a ver com isso. — Este apartamento é meu e você não tem direitos sobre ele.

— Se não me engano, fui eu quem o comprou — respondeu ele, secamente. — Isso me dá alguns direitos, não?

Dulce rangeu os dentes.

— Ponha a roupa e saia!

Sentia-se em desvantagem assim, descalça só de robe, com as pernas de fora e os cabelos úmidos e desarrumados.

Ele encolheu os ombros.

— Não vou a lugar nenhum.

— Ah, vai, sim.

O homem fitou Dulce por alguns instantes, com a testa franzida. Depois, apagou a luz.

— Vá para o inferno. — Eu vou dormir.

Aquilo era demais para ela! Sentiu o sangue ferver. Marchou até a cama e acendeu a luz novamente. Olhou com ódio para aqueles cabelos negros espalhados no travesseiro.

— Quem você pensa que é? — O que está fazendo? — Entrando no meu apartamento...

— Nosso apartamento.

— Meu; meu!

Dulce estava tão brava que nem percebeu o olhar irônico dele.

— Nosso apartamento; nosso!

Ela tremia de raiva.

— Não vou discutir com você.

— Ótimo!

— Este apartamento é meu. — Nós concordamos.

— Não me lembro de ter concordado com nada.

— O seu advogado concordou.

— Verdade? — Pois não teve o meu consentimento.

— Se teve ou não, não me interessa.

— Pois eu diria que interessa e muito — murmurou ele.

— Não estou a fim de discutir — gritou Dulce. Aquele homem nunca, nunca entregava os pontos.