Fanfic: Marido e Inimigo | Tema: Vondy

— Basta!

— Por hoje tem de bastar mesmo — concordou ele, rouco. — Estou cansado demais. — Tão exausto que mal consigo manter os olhos abertos.

Christopher virou-se antes que ela pudesse detê-lo. Dulce viu a luz do quarto se apagar; ouviu o ruído do colchão, cedendo sob o peso dele e um bocejo preguiçoso.

"Isso é loucura", pensou. "Não posso deixar que faça isso comigo. Não tem o direito de entrar na minha vida de novo. Egoísta, convencido, inconsequente."

Ela caminhou até o quarto, com os punhos cerrados, e viu a cabeça morena afundada no travesseiro. Saiu e bateu a porta com toda a força.

— Vai embora amanhã cedo, no minuto em que sair dessa cama — gritou, de fora.

Ele não respondeu.

Dulce sentou-se em frente ao aquecedor, trêmula de nervosismo e frio. O casamento deles tinha sido um desastre desde o primeiro dia. Se não estivesse tão louca por ele, teria enxergado que não iria dar certo viver com um homem que nunca ficava no mesmo lugar, e precisava arriscar-se, enfrentando o perigo constantemente. Alguém que ignorava suas constantes súplicas para que mudasse de vida.

Tinham temperamentos muito diferentes. Dulce era gentil, suave, pacata. Gostava de ficar em casa, detestava a violência. Christopher Uckermann jamais poderia ter entrado em sua vida. Mas, trabalhando no mesmo lugar, foi inevitável que se conhecessem.

Dulce ficara tonta com a sensualidade de Christopher. Apaixonara-se à primeira vista, assim que seus olhares se cruzaram.

Nunca chegou a compreender direito por que, mas ele também gostou dela de imediato.

Talvez por serem totalmente opostos. Dulce era delicada, frágil, tinha os olhos doces, sorriso gentil. Sua feminilidade era tão acentuada quanto á masculinidade dele.

Depois do casamento, esperava, secretamente, que Christopher sossegasse, desistindo do perigoso noticiário internacional e pegando um emprego fixo em Londres. O jornal já lhe oferecera cargos melhores, menos arriscados. Mas ele recusara.

Assim, Dulce teve de aprender a conviver diariamente com o seu medo. Enquanto Christopher estava fora, às voltas com alguma missão em outro país, sofria pelos riscos que ele podia estar correndo e temia por alguma notícia ruim. Era raro encontrá-lo em casa, e por isso ela vivia em constante tensão.

Christopher enxergava o casamento de uma forma totalmente diferente da sua. Dulce queria o marido a seu lado, e não na outra face do planeta. Além do mais, a virilidade daquele homem era muito forte e aguçada para deixá-la tranqüila enquanto ele ficava meses fora. Era difícil acreditar que ele não tivesse outras mulheres.

Daí aconteceu o inevitável: Christopher feriu-se enquanto cobria uma guerra no Oriente Médio, e teve de voltar às pressas para ser operado em Londres. Foi aí que Dulce deu-lhe um ultimato: ela ou o emprego. Ele devia escolher.

A princípio, Christopher riu, brincando, sem levá-la a sério. Mas a obstinação de Dulce venceu. Ela não se submeteria mais àquela tortura de estar casada, sem ter um homem sempre a seu lado. Cada vez que ele tentava argumentar, ela dizia: "Eu ou o emprego".

Assim que Christopher se restabeleceu, voltou para o Oriente Médio. Imediatamente, Dulce deu entrada com os papéis de divórcio. Depois disso, recebeu uma carta dele, sarcástica e irônica. Ficou tão furiosa que a rasgou, sem responder.

No começo, trancou-se dentro do apartamento, sentindo-se a última das mulheres. Não teve mais notícias dele. O casamento tinha acabado.

Começou a ficar com raiva. Não deixaria que Christopher arruinasse a sua vida. Forçou-se a sair com as amigas, ir ao cinema, ao teatro, a festas. Num destes encontros, conheceu Martin. Logo se sentiu atraída por sua calma e firmeza de caráter. Passou a vê-lo mais vezes, mantendo-o sempre à distância, embora se sentindo um pouco culpada.

Martin, por sua vez, também sentiu uma grande atração por ela, por seu jeito meigo e gentil.

Dulce logo lhe informou que estava se divorciando, e que ainda não se achava pronta para um novo relacionamento. Precisava de carinho, de conforto. E Martin compreendeu, tratando-a com muita delicadeza e ternura. Ele era paciente. Dia após dia, foi se infiltrando devagar na vida dela.

Apesar de Dulce nunca ter dito que se casaria com ele, depois de a separação se consumar, a idéia já estava em sua cabeça, naturalmente. Apegara-se muito a Martin, embora não sentisse por ele a mesma atração avassaladora que tinha por Christopher.

Com o amor de Martin foi bem mais fácil de conviver, e menos perigoso. Ele a fazia sentir-se amada, querida. Dava-lhe segurança.

Não estava segura ali, agora. Parecia uma presa indefesa nas patas de um felino.