Fanfic: Anahí (AyD) | Tema: Portiñon

Na semana seguinte, Dulce ainda decidia se ia fazer a aula de Maite. O ombro já não doía tanto. Havia um segundo piso sobre a área das piscinas, onde dava para ficar assistindo as aulas. Dulce resolveu passar por lá e dar uma espiada. Maite preparava-se para iniciar o aquecimento, quando viu Dulce lá em cima e imediatamente acenou para que descesse. Dulce desceu correndo, meio sem graça. Maite a encarou de brincadeira:
- Eu estou te esperando para iniciar a aula...
Na piscina já haviam algumas pessoas e outras preparavam-se para entrar. Dulce foi pêga de supresa:
- Bom, é que eu não trouxe maiô...
Maite deu um sorriso amigável:
- Bela desculpa... mas tudo bem, mocinha... e o ombro, melhorou?
- Melhorou... só doeu um pouco até domingo...
- Até ontem, você quer dizer? É bom tomar cuidado.
Dulce sorriu, sem saber exatamente o que responder. Maite sorriu também e saiu para buscar os equipamentos. Dulce foi para a sala de musculação, mas estava sem pique. Na verdade, o ombro ainda doía um pouco. Talvez tivesse sido melhor fazer hidroginástica com a Maite. Foi andando novamente em direção às piscinas e subiu para observar a aula. Encostou o corpo no parapeito e apoiou a cabeça sobre as mãos, pensativa, vendo o pessoal animado lá embaixo. Maite gritava entusiasmada, brincando e mostrando os movimentos para os alunos. De repente viu Dulce lá em cima, sorriu e deu uma piscadinha espontânea. Dulce ficou sem graça e sentou-se atrás do murinho do parapeito, abraçando os joelhos. Aquele lugar era bem tranqüilo. Ficou ali meio escondida, ouvindo a voz de Maite lá embaixo. Abaixou a cabeça e fechou os olhos. E a voz de Maite ecoava tão forte que quem não a conhecesse imaginaria que se tratava de uma mulher bem maior.
Passado algum tempo, Dulce sentiu alguém sentando ao seu lado. Era Maite, que também sentou-se no chão e cruzou as pernas. Dulce achou uma gracinha Maite ter ido até lá. Geralmente as pessoas não fazem isso. As duas ficaram em silêncio um pouco e Maite perguntou:
- Quer ficar sozinha?
Dulce levantou a cabeça e respirou fundo. Seu coração acelerou porque estavam ali sozinhas e Dulce queria contar tudo o que estava sentindo, mas não sabia nem por onde começar. Maite já havia estado naquela mesma situação com outras meninas, que sabiam que ela era homossexual e queriam se abrir, queriam conselhos ou fazer perguntas. Maite servia de referência a algumas meninas e sabia disso, por isso tratava o assunto com delicadeza e naturalidade. Não era realmente um papel muito fácil, pois Maite também era jovem e tinha suas próprias dúvidas e conflitos.
- Lembra na semana passada que você disse que poderia conversar comigo? - perguntou Dulce.
- Lembro... - respondeu Maite pacientemente, tentando encorajar a menina.
- Pode ser agora?
- Para isso estou aqui, se você quiser... - respondeu Maite, aproximando-se de Dulce para que pudessem falar mais baixo.
Dulce então respirou fundo e começou a falar, e foi mais direta do que ela mesma imaginou:
- Há um tempo me apaixonei por uma professora. Nós ficamos juntas por alguns meses e foi muito forte, muito marcante. Só que ela teve que ir embora para a França e eu fiquei aqui...
Dulce deu uma pausa e respirou fundo novamente. Maite observava atenta. Dulce continuou:
- Achei que conseguiria agüentar, mas não estou conseguindo me desligar dela. Eu preciso dela... - explicou, sem conseguir dizer mais nada e com uma lágrima já escorrendo pelo rosto.
Colocou as mãos sobre a face e começou a chorar. Maite a abraçou, tentando acalmá-la, enxugando as lágrimas da menina:
- Mas quanto tempo faz isso, Dulce?
- Onze meses...
- E nesse tempo todo não conseguiu esquecê-la? - perguntou.
- Nenhum dia sequer.
Maite pensou um pouco e perguntou novamente:
- Não se relacinou com ninguém nesse período?
Dulce balançou a cabeça, dizendo que não. Maite se surpreendeu, e perguntou novamente:
- Não ficou com ninguém, Dulce?
- Não.
Maite encostou a cabeça no muro e ficou pensando naquilo. Uma menina como Dulce sozinha todo esse tempo. E acabou dizendo meio sem querer:
- Essa sua professora deve ser muito especial mesmo...
- O nome dela é Anahí... - disse Dulce orgulhosa, lembrando de sua paixão.
Dulce havia de certa maneira surpreendido Maite. Ela não havia imaginado que uma menina nova como aquela pudesse ter um amor tão dedicado a alguém. Queria entender como tudo aconteceu e começou a fazer um monte de perguntas. As duas conversaram bastante. No fim, Maite segurou forte as mãos de Dulce e perguntou:
- Dulce... bem dentro de você... você sabe que tem meios para encontrar essa sua professora, não sabe?
Dulce baixou a cabeça e não respondeu. Mas sabia que sim. Maite continuou:
- E por que não fez isso ainda, Dulce?
Dulce pensou um pouco e respondeu:
- Tenho medo de não conseguir... tenho medo de sofrer mais ainda...
- E será que existe dor pior que esta que você está sentindo todo esse tempo? O pior, Dulce, é a dor de não ter feito nada para tentar...
Dulce encostou a cabeça no muro, encheu o peito de ar e deixou os ombros caírem. Ficou pensando no que Maite estava dizendo. Olhou bem para Maite. Ela parecia um anjinho. Dulce gostava do cheiro dela, da voz dela. Maite parecia ter bom senso e experiência. Parece que algo novo aconteceu naquele momento. Dulce entendeu que precisava encontrar Anahí. Talvez agora já estivesse preparada para isso.