Fanfic: Anahí (AyD) | Tema: Portiñon

Aquela foto deu forças à jovem. Além da imagem impressa, tinha também a foto arquivada no computador. Às vezes, sozinha, à noite, enquanto digitava seus trabalhos, distraía-se olhando a foto de Anahí e suspirava de saudade. Preciso de um passaporte, pensava.
Sentou-se numa poltrona de leitura e ficou ali parada. Espreguiçou-se, esticando as costas, virou-se de lado e mais uma vez deu uma espiada na foto. Riu de si mesma por estar tão grudada naquela foto e beijou o rosto de Anahí. Lembrou de uma vez que Anahí a olhou de um jeito diferente. O olhar de Anahí era como um raio quando ela estava brava. E geralmente se fazia de indiferente quando Dulce insistia em olhá-la. Mas naquele dia Anahí tinha se entregado pelo olhar. Dulce não sabia bem por que, mas teve certeza. Certeza de que Anahí percebeu, e que gostou, porque deixou escapar um sorriso. E o sorriso de Anahí era uma coisa rara. Para Dulce aquilo foi um consentimento. Tanto é que poucos dias depois estava no apartamento de Anahí, pedindo para ficar lá com ela. Foi a primeira noite das duas.
Sábado de manhã Dulce tinha tempo livre e resolveu ir até à academia. Tinha se acostumado a sempre passar pela área das piscinas e cumprimentar Maite. Lá de cima, debruçou-se no parapeito e procurou Maite. Ela estava sentada num banco com outra mulher e não viu a jovem chegar. Dulce olhou atentamente. A mulher era alta, ombros largos, cabelo curto e escuro. Provavelmente é a namorada de Maite, pensou. Desceu correndo as escadas e foi para a esteira. Seguindo o ritual, caminhou, correu, até o suor escorrer pelas costas e sentir-se exausta. Quando já estava diminuindo a velocidade, Maite apareceu e foi até Dulce.
- Oi! – disse Dulce ainda meio ofegante.
Maite respondeu com um sorriso e ficou ali ao lado:
- E aí, tudo bem? - perguntou Maite.
- Tudo ótimo! E como foi a festa? - perguntou Dulce, referindo-se a uma festa de aniversário de um outro professor durante a semana.
- Pois é... você não apareceu, né? Olha... você perdeu. Foi muito legal.
Dulce ficou sorrindo, pensando no que iria dizer sobre não ter ido e acabou não dizendo nada. Maite não era dessas que ficam pegando no pé.
- Dulce, desce daí, eu quero te dizer uma coisa - e a olhou com aqueles olhos castanhos.
Dulce sorriu meio sem entender, mas desceu e enquanto caminhavam Maite perguntou:
- Pensou no que eu te disse sobre encontrar a sua professora? - perguntou em voz baixa.
- Pensei, pensei muito em tudo o que você disse...
- E decidiu alguma coisa?
Antes que Dulce pudesse responder, um menino avançou pelo meio das duas tentando entrar no vestiário. A academia estava cheia, pois o verão se aproximava. Então Dulce sugeriu:
- Acho melhor conversarmos em outro lugar...
- Eu tenho uma aula daqui a dez minutos e depois estou livre.
- Tudo bem, então eu vou fazer um pouco de musculação e depois a gente se fala.
Poucos minutos depois, enquanto Dulce colocava os pesos na barra, uma conhecida se aproximou. O nome dela era Andréia. Andréia era o tipo de menina entusiasmada, cheia de caras e bocas. Fazia muito sucesso entre os meninos. Deu um longo abraço em Dulce e um beijo no rosto. Esse era o jeito dela. Puxou assunto e começaram a conversar enquanto Dulce fazia os exercícios. Dulce descansava para reiniciar uma nova série e talvez aproveitando a brecha do nome de Maite ter surgido na conversa sobre a festa do professor, a menina perguntou de um jeito meio dissimulado.
- E você? Conhece a professora Maite de onde?
- Hã? - perguntou Dulce sem entender o sentido da pergunta.
- É que vocês estão sempre juntas... achei que já se conheciam...
Dulce franziu a testa. Teve a impressão de que a menina estava sendo maliciosa. Não estava com muita paciência para responder, mas se esforçou:
- Nossas famílias são conhecidas, mas eu a conheci aqui mesmo... - disse, tentando cortar o assunto.
A menina ficou em silêncio um pouco, mas não se conteve.
- É que, eu não sei se você já sabe, mas a professora Maite gosta de mulher. Por isso é bom você tomar cuidado, ela pode até dar em cima de você. Às vezes ela até me olha de um jeito diferente - disse a menina, não enxergando o quanto estava sendo ridícula ao dizer tais coisas.
Se Dulce fosse um animal meramente instintivo teria jogado o barra com as anilhas em cima de Andréia, de tanto nojo que sentiu ao ouvir tal afirmação. Tinha certeza que era mentira, principalmente porque Andréia fazia um tipo meio vulgar, que só agradava aos homens afim de brincadeira. Dulce respirou fundo e fez mais três repetições, tentando esfriar a cabeça. Tentou relevar um pouco a idiotice da menina:
- Acho que você está fantasiando muito, pensando muita besteira, Andréia. Mas eu já sabia disso sim e não me incomodo nenhum pouco. Não me sinto ameaçada...
- Eu também não me sinto - interrompeu Andréia, tentando se justificar - mas sabe como são as pessoas, vivem fazendo comentários maldosos...
- Bom, até agora o único comentário maldoso que eu escutei foi o seu - respondeu Dulce, não conseguindo conter um grande sorriso irônico, o que não era muito do seu feitio, mas a situação realmente pedia.
Impaciente, se afastou de Andréia para continuar seus exercícios. Era lamentável ter que ouvir aquele tipo de coisa, ainda mais sobre uma pessoa que gostava tanto, a Maite. Dulce não entendia essa fantasia das mulheres acharem que as lésbicas as olham de um jeito diferente. As mais chatas e sem graça são as primeiras a dizerem isso, pensava Dulce. Não era a primeira vez que Dulce ouvia tal coisa.
Dulce caminhou três quadras com Maite até chegarem a uma lanchonete ali perto. Dulce seguiu a sugestão de Maite e também pediu um suco de açaí.
- Eu tenho planos de encontrá-la. Já tenho um número de telefone e acho que sei onde ela está trabalhando. O problema é o idioma. Não falo francês. Mas eles devem falar inglês lá, não acha?
- Com certeza - respondeu Maite sorrindo com entusiasmo e os olhos atentos - e aí? o que mais?
- Também encontrei uma foto dela na internet...
Maite riu, levantando as sobrancelhas e colocando a mão sobre os lábios, como se não acreditasse.
- Quer ver? - perguntou Dulce, fazendo suspense.
Maite deu um gole no suco e balançou a cabeça, indicando que sim. Dulce abriu a bolsa e entregou o papel com a foto de Anahí. Maite olhou atentamente, enquanto engolia o suco. Olhou para Dulce e sorriu, e voltou a olhar para a foto.
- Então essa aqui é a dona do seu coração?
Dulce suspirou. Era verdade. Anahí era a dona de seu coração.
- Não é bonita? - perguntou Dulce, satisfeita por mostrar Anahí para Maite.
- Muito bonita - respondeu Maite, tornando a olhar a foto.
As duas ficaram quietinhas um segundo.
- Você está com um bigode roxo - disse Dulce brincando.
Maite riu e enquanto parecia procurar um guardanapo, passava a língua sobre os lábios. Dulce olhou direto para a boca de Maite. Por uma fração de segundo, aqueles lábios avermelhados típicos de menina despertaram algo em Dulce. E Dulce ficou olhando aquela cena meio sensual até Maite olhar de volta. A jovem desviou o olhar meio sem graça e colou os olhos na mesa, levantando-se em seguida para apanhar o guardanapo. Sem dúvida, Maite era uma mulher bonita, capaz de despertar essas coisas.