Fanfic: Anahí (AyD) | Tema: Portiñon
Dulce entregou o guardanapo a Maite e sorriu. Não entendeu muito bem o que foi aquilo. Um momento talvez, um instante. Um desejo, um segundo. Não se preocupou. Apoiou o queixo nas mãos e continuou olhando:
- Guarda segredo? Não conte a ninguém sobre ela... - pediu, com olhar preocupado.
- Pode confiar em mim - respondeu Maite, devolvendo a foto a Dulce.
Dulce olhou a foto e suspirou, com os olhos tristes. E pensou: Onde você está, meu amor?
Naquela mesma noite ia ter uma festa com os colegas da universidade. Os mais chegados insistiam muito que Dulce fosse, mas ela não queria. Ao mesmo tempo, Dulce tentava ser um pouco mais flexível com essas coisas, procurava atender um pouco mais os amigos, mostrar-se presente, interessada. Mas tudo parecia custoso, lento, pesado demais para se fazer.
Dulce entrou no boxe, ligou o chuveiro, baixou a cabeça e deixou a água quente e pesada cair sobre seus ombros. E sorrindo sozinha, para si mesma, lembrou mais uma vez de Anahí. Lembrava do corpo todo, do cabelo liso, macio, que encostava delicadamente em seu rosto e pescoço quando estavam se amando. De repente, seu peito se encheu de coragem. Vou te encontrar, Anahí. E o que quer que acontecesse, Dulce sabia que tinha que encarar, para poder continuar vivendo. E continuava pensando. Já providenciei o passaporte. Agitou-se, pensando em cada detalhe que teria que resolver e no quanto demoraria. Lavou o rosto e o pescoço com água e espuma, esfregou os cabelos com xampu, olhando para os vidros embaçados.
Arrumou-se como uma deusa. Sabia que era bonita. Olhava-se no espelho e sentia-se bem. Secou os cabelos, pintou os olhos, passou batom. Decidiu ir porque queria distrair-se, conversar, ouvir um pouco de música. Reencontraria também antigos amigos do segundo grau, pessoas pelas quais sentia um carinho especial e com as quais dividia muitas histórias da adolescência. Olhou bem. Achava que estava mudando. Sentia-se mais madura, mais segura. O telefone toca, é um menino da mesma sala:
- Você vem, né? - perguntou o menino gritando no meio da música.
- Vou sim, estou quase terminando de me arrumar - respondeu, achando graça.
- Tem umas meninas vindo pra cá, a Ingrid e a Paula. Você não quer que elas passem aí pra te pegar?
- Não precisa. Em vinte minutos estou aí.
Dulce desligou. Queria calçar uma sandália de salto, mas estava muito frio. Preferiu ir de botas. E saiu correndo, deixando um rastro suave de perfume pela casa.
Dava para ouvir a música antes de chegar na casa do menino. Tocava uma música eletrônica meio pesada, que fazia as paredes vibrarem. Dulce foi entrando, com aquele jeitinho meio tímido. Depois de uns passos, uns amigos a reconheceram de longe e vieram correndo, empolgados, já segurando umas latas de bebida. Dulce também entusiasmou-se com aquela recepção e os abraçou, tentando conversar no meio da música alta. Todos um pouco mais maduros. Rostos um pouco mais sérios, mas as mesmas fisionomias, as mesmas brincadeiras.
- E esse cabelo? Tá enorme! - disse uma menina do grupo, segurando nas pontas do cabelo de Dulce, gritando para conseguir ser ouvida.
Dulce riu:
- Gostou?
- Como?
- Gostou? - repetiu, aumentando o volume da voz.
A menina não entendeu muito mas deu um grande sorriso dizendo que sim, qualquer que fosse a pergunta. Afinal, tudo era festa. Todos estavam afim de se divertir. Começou a tocar uma música que Dulce simplesmente amava. E ela quis dançar. Se enfiou no meio das pessoas e sentiu a música nos seus ouvidos. Alguns foram atrás e ficaram lá, compartilhando umas latas de cerveja. Dulce sorria, com aquele sorriso brilhante e tímido, atraindo vários olhares. Mas os meninos não entendiam aquele jeito dela de não tentar uma aproximação. Dulce era escorregadia. Conseguia com muito jeito afastar-se das pessoas.
No clímax da festa, no ponto em que todos já dançaram e beberam muito, onde o pessoal perde aquela moralidade, onde tudo fica mais solto, mais quente, mais livre e as pessoas criam coragem de se aproximar uma das outras, Dulce sabe que é hora de ir embora. Dulce não sentia necessidade desse tipo de envolvimento, apesar de divertir-se ouvindo as histórias no dia seguinte. Caminhou até a cozinha procurando uma cesta de lixo, sem se dar conta de que o chão já estava coberto de latinhas. Haviam dois conhecidos sentados atrás do balcão, entre eles o Gustavo, que se aproximou para abraçá-la:
- Está gostando da festa, Dulce?
Dulce não conteve o sorriso:
- A música está muito boa!
- Senta aqui com a gente - convidou um outro.
Dulce lançou aquele olhar desconfiado, mas acabou sentando. Não tinha nada a ver ficar na retranca. Tinha um menino bêbado com um violão, tentando tocar alguma coisa. Os meninos riam e faziam piadas. Dulce divertia-se também. E ficaram naquele papo furado até alguém desenterrar de algum lugar um bolo de fotos misturadas. Na falta de assunto e procurando pretexto para algazarra, todos se reuniram pra ver. Claro, Dulce já sentia exatamente o que poderia acontecer. Não demorou a aparecer Anahí. Apesar de não gostar de aparecer, Anahí sempre acabava aparecendo, porque se envolvia muito em todas as atividades do curso. O menino que folheava as fotos simplesmente a jogou para o canto e disse "a bruxa da professora Anahí..." e passou para a próxima foto, enquanto espalhava tudo pela mesa. A foto de Anahí foi deslizando e rodando pelo balcão até cair no chão do outro lado. Dulce engoliu seco. Ficou imóvel. De repente, toda a brincadeira perdeu a graça. Dulce levantou-se devagar, juntou a foto e saiu da cozinha. Segurou a foto junto de seu peito e foi embora no meio da garoa. Ninguém percebeu.
Respirou fundo e deu a partida, com a foto sobre as coxas. Por que Deus me castiga desta maneira? Eu não estou entendendo o que eu tenho que aprender. Eu não estou conseguindo. Nunca vou esquecê-la, sussurrava a jovem, sozinha, com frio. Só queria voltar pra casa. Tentar aquecer seu corpo. Dormir. Esquecer que estava viva, mas que lhe faltava um pedaço.
Mas naquela madrugada, ao invés de contornar a rua onde ficava o apartamento de Anahí, Dulce resolveu passar por ali. E foi devagar com o carro, revivendo cada lembrança. Estacionou o carro e subiu as escadas, apertando o botão do interfone:
- Oi, é a Dulce...
O porteiro abriu o portão e Dulce subiu mais alguns degraus e caminhou até ele, com aqueles olhos abatidos e borrados. O velho senhor disse:
- A doutora Anahí ainda não voltou...
Dulce sorriu, achando de certa forma engraçado. E suspirou:
- Eu sei...
Os dois ficaram em silêncio. Dulce baixou o rosto e deixou pingar uma lágrima, recebendo do porteiro um abraço meio desajeitado:
- Calma, menina. Calma... Senta aqui do meu lado - e puxou uma cadeirinha preta.
Dulce sorriu e simplesmente quis ficar ali. Enxugou as lágrimas e perguntou:
- Não tem notícias dela?
- Bem, a irmã dela vem sempre aqui. Quer vender o apartamento, já trouxe até alguém para avaliar o preço. Mas a dona Anahí, teimosa que é, não quer de jeito nenhum. Diz que vai voltar para o Brasil e que não se desfaz do imóvel.
Os olhos de Dulce brilharam e seu peito se encheu de felicidade:
- E como o senhor sabe dessas coisas?
- Mas foi a própria dona Anahí que telefonou aqui neste mesmo telefone - e apontou para o aparelho - e me disse que não deixasse mais nenhum corretor entrar.
Dulce riu, achando graça, e o porteiro continuou:
- E você sabe que ela vira uma onça quando é contrariada. A doutora Anahí é uma mulher muito difícil.
Dulce sorriu novamente, achando graça desse jeito que os porteiros tem de entregar o jogo com facilidade.
E o frio persistia:
- Escuta, minha filha, você não quer um café preto para se aquecer? - ofereceu.
- Estou pensando em comer alguma coisa. O senhor não me acompanharia?
De início o porteiro ficou meio sem jeito, mas acabou aceitando, afinal estava frio e a noite seria longa. Combinaram que Dulce se abaixaria caso alguém cruzasse o hall, para evitar problemas. Dulce pediu pizza e refrigerante por telefone e conversou muito com o porteiro naquela noite, sob o ruído de uma pequena televisão velha e sem cor.
Embora sua vontade fosse ouvir exclusivamente histórias sobre Anahí, Dulce acabou também conhecendo a história de vida daquele homem e a linda história de amor que tinha com sua mulher, a Dona Edvina. Dulce também ouviu muitas histórias sobre Anahí, pois ela tinha vivido um período da infância e adolescência naquele mesmo apartamento. Coisas que Anahí nunca teve tempo de contar. Os olhos de Dulce voltaram a brilhar e seu corpo encheu-se de ternura e força. Anahí pensava em voltar. Antes de ir embora, já do lado de fora, enquanto se despedia do porteiro, debaixo daquela garoa gelada e persistente, Dulce pediu:
- Se ela voltar a telefonar, o senhor faz a gentileza de mandar um beijo pra ela? E diz também que eu estou com muita saudade.
Sua vontade era dizer mil outras coisas, mas se conteve. O porteiro deu um beijo em sua testa e agradeceu a companhia. Dulce voltou para casa. Sentia-se aliviada.
Autor(a): MahSmith
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Dulce fechou os olhos, tentando dormir. Tocava uma música bem suave em seus ouvidos. O corpo de Dulce estava aquecido, relaxado. A água da chuva batia de leve na janela. De olhos fechados, ficou lembrando das histórias que o porteiro contou e no que ele havia dito sobre Anahí querer voltar. Às vezes a saudade era quase insuportável, ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 7
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tammyuckermann Postado em 06/09/2015 - 03:26:50
Posta mais pfff
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flavianaperroni Postado em 03/11/2014 - 13:07:17
Vai postar né??...não vai nos deixar?? não nos deixe por favoor..Ok ok parei com o drama kkkkkkkkkk
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flavianaperroni Postado em 03/11/2014 - 13:06:28
Pooosta mais por favor
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vverg Postado em 01/04/2014 - 13:50:04
Cheguei aqui...Nossa tantos caps?? kkkkk Vou me atualizar..hahaha
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vverg Postado em 09/02/2014 - 15:10:31
Nossa!!! Eita Amor heim..rsrsrs
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vverg Postado em 09/02/2014 - 01:52:55
Gostei..vai ter continuação???
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jessealter Postado em 25/01/2014 - 19:43:54
Continua , to gostando :)))