Fanfics Brasil - Prólogo - Chuva Os 10 Olhos de Lince

Fanfic: Os 10 Olhos de Lince | Tema: Suspense Policial, Romance, Yaoi


Capítulo: Prólogo - Chuva

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Choviam tiros das enormes janelas do Banco do Brasil, que ficava no centro da capital de São Paulo. Francis mantinha todos os seus policiais apostos, mas a metade jazia caída no chão, atingidos pelas balas deferidas pelos criminosos. O que mais irritava Francis era o fato de que não acertavam um assaltante sequer. Já estava ficando sem homens e sem munição.


Alexia, a delegada, saberia o que fazer em um momento como aquele, mas a mesma estava numa igreja, casando com um estilista, filho de um grande diretor de uma agência de moda. Desejaria largar tudo e ir atrás dela pedir sua ajuda, nem que para isso, tivesse de atrapalhar o casamento.


Não havia mais de 10 homens no prédio, no entanto, estavam armados com um poder de fogo que fazia seus policiais parecerem formigas lutando contra gafanhotos. Realmente estava dando trabalho.


Diogo se pôs ao seu lado, fugindo da chuva de tiros.


— Temos que chamar Alexia! – berrou o policial à Francis, devido ao barulho. O rapaz era albino, tinha cabelos louro-platinados, quase brancos, que desciam em cachos até os ombros, e a pele pálida como uma folha de papel. No início pensara que o rapaz não duraria um dia no treinamento, mas ele se mostrara dedicado e esforçado, conquistando um lugar na polícia.


— O noivo não vai gostar de ser largado no meio do casamento! – gritou de volta. Os dois se abaixaram, usando a viatura como escudo. A maioria dos policiais fazia aquilo. Provavelmente ficariam inutilizáveis após aquela guerra acabar, pois os furos estavam danificando a lataria. Francis contou 20 viaturas ao todo.


— Há reféns! Alexia sempre sabe o que fazer em situações com reféns! – Diogo disse em desespero. Após terminar a frase, foi atingido no braço e caiu gemendo de dor no asfalto.


Francis baixou a arma e aproximou-se do outro, pressionando a ferida. Não era tão horrível afinal, havia sido de raspão. Gritou “policial ferido”, no entanto, ninguém poderia ajudar. Não fora só ele baleado.


Acabou decidindo que iria atrás de Alexia, estando ela prestes a casar ou não.







 


 


A igreja estava toda decorada para o casamento. Tudo era branco, ironicamente, a cor que Alexia mais odiava. Simplesmente odiava monotonia. Seu vestido era branco, seu sapato era branco; Céus! Até sua roupa íntima era branca! Mas nada pôde fazer.


Só tenho de dizer sim, pensou ela, enquanto caminhava calmamente pelo tapete vermelho até o altar. O padre parecia com sono, ou apenas estava com a mente em outro lugar. Parecia nem haver um casamento naquele instante. Maroni estava com o smoking preto de noivo, com uma flor vermelha no bolso direito do terno; era um homem bastante forte e as vestes pareciam apertadas nele. Era o típico “rato de academia”. Era atraente, mas a delegada não gostava tanto da ideia de casar com alguém que pensava com os músculos.


Seus padrinhos eram os gêmeos Hermamn – Carlos e Renan. Eram rapazes altos, magros e extremamente parecidos, com cabelos negros e uma expressão indecifrável no rosto. Às vezes, parecia a Alexia que um era clone do outro. Seu pai era sócio de seu futuro sogro no negócio de moda, e os rapazes eram estilistas junto de Maroni. Mais uma ironia: Alexia odiava moda.


Não fazia ideia quem era sua aia, nem de onde havia saído, mas era uma garotinha encantadora, com um sorriso que não parecia morrer nunca. Carregava uma almofada roxa com a caixinha das alianças em cima. Parecia andar em um salto melhor que a própria noiva.


Alexia não conhecia metade dos convidados. Na verdade, não conhecia ninguém. Não estava se sentindo nem um pouco à vontade, justo no dia de seu casamento. Desejaria estar entre seus colegas de profissão, que fosse treinando tiro ao alvo ou em uma perseguição em alguma rodovia movimentada.


Finalmente subiu ao altar, Maroni beijou sua mão e sorriu, dizendo alguma coisa lisonjeira que Alexia não ouviu direito. Tinha um pequeno problema de audição – não conseguia ouvir murmúrios, e falava quase sempre aos gritos. Mas não era surda completamente.


O cabelo de seu noivo parecia “normal” naquele dia. Era raspado dos dois lados, e o pouco de cabelo no meio de seu couro cabeludo era negro e estava sempre espavitado ou repartido, com um topete que sempre ficava caído e parecia uma franja, no entanto, ele havia conseguido domá-lo com gel. Parecia um perfeito engomadinho.


O padre começou o discurso. Deve ter lido algo da bíblia, mas Alexia não prestou atenção, estava imersa em pensamentos.


Quando chegou a hora de dizer “aceito”, seu coração nunca pareceu ter batido mais rápido. Então agora estava se “amarrando” até o dia que conseguisse o que queria? Que era seu por direito, aliás, mas jamais obteria se não casasse com Maroni. Abandonaria cada vez mais seu ofício para cozinhar e lavar roupas para o seu marido e algum dia então teriam filhos e ela teria de largar de vez a profissão que tanto amava para se dedicar a eles? Não lhe parecia o futuro que desejava.


— Alexia – alguém entrou na igreja e chamou seu nome justo quando estava prestes a dizer “aceito”. Conhecia aquela voz de longe. Era Francis.


— Que faz aqui?! – Maroni bradou indignado por seu casamento ser atrapalhado. Alexia, por sua vez, vibrava com a ideia de fugir dali para bem longe de toda aquela gente.


— Desculpe, mas não sei mais o que fazer, Alexia – o rapaz arfava e sua voz tinha uma entonação de súplica. Havia sangue em sua camiseta preta e também em seu casaco da mesma cor, mas não parecia ser dele. – Muitos policiais estão feridos, há reféns, e os assaltantes estão armados com armas pesadas! Eu preciso de você. Todos estão precisando de você agora – Alexia sentiu um arrepio percorrer sua espinha.


— Ela não pode ajudar agora, não vê? – Maroni parecia cada vez mais indignado. Sua voz era grave e intimidadora, mas Francis o ignorava. Alexia se viu sem saída para aquela situação.


— Não posso abandonar meus homens lá – disse finalmente, impedindo Maroni de responder por si outra vez. Francis tinha um brilho de esperança nos olhos. Alexia encarou os olhos negros do noivo, que continham um brilho também, mas era de fúria.


— Não pode me abandonar aqui! – mas a delegada não se importou em ferir o orgulho do estilista, e saiu puxando as saias do vestido, voltando o caminho que percorrera pelo tapete vermelho. Os convidados se levantavam e falavam alto, o pai de Maroni proferiu alguma ameaça, mas ela não estava se importante nenhum pouco. Seus homens precisavam de sua ajuda.


Quem via, até parecia que Alexia estava fugindo com Francis, mas apenas ela sabia que estava fugindo, na verdade, com seu emprego.






 


 


Eliseu estremecia a cada tiro, mesmo não estando no local onde os homens se posicionavam nas janelas e atiravam nos policiais; estava no andar de baixo, tomando conta dos reféns. Mais se sentia como um refém quecomo um criminoso.


O lugar estava todo revirado, nem sequer dava para chamar de agência bancária. Os homens e mulheres amarrados uns aos outros no chão deveria trabalhar ali, pois vestiam ternos e as mulheres, roupas sociais, algumas usavam saias.


Eliseu tinha em mãos uma pistola fornecida pelo homem que planejara o assalto. Este, claro, não estava ali. Estava em algum lugar, sentado na frente da TV, rindo e sonhando com o dinheiro que receberia, e nem sequer estava fazendo nada. Não sabia quem era o homem e nem estava interessado em saber, assim como ele não queria saber do nome de seus contratados para o serviço.


Ouviu risos vindos do cofre. Três homens enchiam as mochilas enquanto os outros quatro vigiavam as janelas e afastavam os policiais. Não conseguia ver como estava lá fora, pois as vidraças estavam cobertas de poeira, era um embaço total; mas deveria estar um banho de sangue.


Estava começando a entrar em desespero.


Um dos homens no cofre saiu de lá aos risos e jogou um bolinho de dinheiro no rosto de Eliseu, fazendo-o recuar de susto.


— Você deveria estar mais animado, garoto! – disse o homem, cujo nome não sabia, frustrado por não ter arrancado reação alguma de Eliseu. Este, por sua vez, continuava assustado desde que entrara ali.


— E se eles entrarem? – perguntou receoso, passando a mão pelos cabelos loiros. Nem queria imaginar o que aconteceria se os policiais entrassem ali.


O homem riu alto.


— Vão cair mortos antes de entrar! – mais risadas. Eliseu ouvia o som dos tiros e mais uma vez estremeceu. – Continue cuidando destes aí, eles são a nossa chance de sair vivo.


Eliseu abraçou os próprios braços e deu uma última olhadela nos assustados reféns. Como fora parar ali? Como pôde se rebaixar a tanto?!


Quando pensava na irmã doente em casa e nas diversas contas que tinha para pagar, parava e pensava que o dinheiro que ganharia ali valeria a pena o esforço. Mas a troco de quê?


Deixou uma lágrima escorrer e sentou-se no chão. Sua irmã tinha problema de coração, e toda vez que chegava em casa era recebido pelos choros da mãe, dizendo que a menina, de cinco anos, tivera de ser levada às presas ao hospital. Os médicos diziam que se a cirurgia não fosse feita o mais breve possível, ela corria risco de vida.


Eliseu tivera de largar os estudos para ajudar a mãe. Por sorte conseguira terminar o ensino médio, tinha 20 anos agora, trabalhava em um bar à noite e parte da madrugada era garoto de programa. Sua mãe não sabia daquilo. Achava que o dinheiro que ganhava “por fora” eram gorjetas. Ele decidira que largaria aquela vida assim que arrumasse outro emprego, no entanto, como não tinha muitas qualificações, estava um pouco difícil.


Como havia ido parar ali, naquele assalto a banco, era um mistérioaté para ele mesmo. Lembrava-se de conversar com alguns fregueses assíduos do bar e de repente já estavam marcando a hora e o lugar para conseguirem as armas. “É dinheiro fácil e rápido, você só vigia os reféns e a gente foge por trás”, diziam eles “é dinheiro fácil, e você nem vai precisar matar ninguém. Se não for necessário”.


Agora estava perdido. Literalmente.


Os sons e tiros cessaram por um tempo, e pareceram recomeçar mais fortes que antes. Eliseu levantou-se e caminhou até a vidraça, passando a mão pelo embaço da poeira. Viu lá fora uma viatura nova chegando, conseguiu ver alguém saindo de dentro e, ou estava louco, ou era uma mulher vestida de noiva.






 


 


Alexia havia extrapolado o limite da loucura ao empunhar aquela arma enquanto estava com aquele vestido ridículo. Conseguira rasgar algumas partes da saia e dissera a Francis que ele pagaria pelo estrago, afinal, o vestido era alugado.


— Atenção, todos os que não estão feridos, corram para cá! – a delegada falou em voz alta o suficiente para que qualquer homem à sua volta ouvisse. Para sua surpresa, apenas cinco homens foram até ela, os outros, ou estavam atirados ao chão com ferimentos ou continuaram escondidos. Alexia não se lembrava de ter treinado covardes. – Temos que entrar lá e tirar os reféns – alertou quando todos fizeram uma roda em volta dela –, eles são nossa prioridade. Eles têm de sair de lávivos; os assaltantes, tanto faz.


E tanto fazia mesmo. Alexia não tinha nenhum desejo vingativo, mas eles pagariam por ter atingido a maioria de seus homens.


— No momento em que eles pararem para recarregar, corram!


Alexia ignorou os risos por ela estar vestida de noiva.


Os tiros cessaram e foi o tempo necessário para que ela e Francis quebrassem os vidros e entrassem no prédio. Os outros foram por trás.


Alguns homens saíram do cofre para ver o que se passara e rapidamente tentaram fugir. Foram encurralados pelos policiais. Para a surpresa de Alexia, estavam desarmados. Menos um.


O garoto era loiro, esguio, usava uma touca na cabeça que provavelmente serviria para esconder seu rosto, mas ele não se importou em baixá-lo. Não deveria ter mais de 20 anos. Seus lábios estavam comprimidos e ele tinha os olhos verdes marejados.


— É melhor soltar a arma, garoto – sugeriu a delegada, levantando as mãos para demonstrar que não havia perigo. O garoto pareceu não escutá-la, pois continuou apontando a arma para os reféns. Ele estava com o dedo no gatilho, a qualquer momento poderia se assustar e puxá-lo.


— Atira nela! – uma voz veio de cima, e Francis, de súbito, atirou no homem que vinha descendo as escadas. Uma AK-47 caiu de sua mão e o homem ficou estirado sobre os degraus, mas não estava morto. Havia acertado em sua perna.


Quando se virou, o rapaz loiro mirava a arma para si.


— Baixa a arma, garoto. Ninguém precisa se machucar – ele parecia mais assustado que qualquer refém ali. Alexia deu um sorriso confortante e caminhou lentamente até o rapaz. Tocou sua mão e lhe tirou a arma. O garoto começou a soluçar. – Desamarre-os, e quando eu pegar os homens que estão lá em cima, eu converso com você – prometeu – Francis, chama os outros, vamos subir.


Alexia viu o rapaz desamarrar os reféns, e assim que Francis apareceu com os outros, trataram de subir as escadas.


Não fora difícil desarmar e algemar os três criminosos que sobraram. A munição já estava no fim, e quando se deram por conta, não tinham mais tempo para recarregar.


Seus policiais carregaram-nos algemados até o terraço, e então, até a viatura. Alexia ainda caminhou um pouco pelo prédio, ajudou a acalmar os reféns, ajudou a carregar os homens feridos para as ambulâncias, e depois voltou para o prédio e não encontrou o rapaz loiro.


Podia dobrar Francis por um tempo e pedir que se esquecesse do rapaz, afinal, ele não havia feito nada de tão grave, apesar que ela jamais esqueceria. E no primeiro momento em que o visse novamente, com certeza ele iria para a cadeia, pelo menos para aprender uma lição.



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Autor(a): Vagalume

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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