Fanfic: Os 10 Olhos de Lince | Tema: Suspense Policial, Romance, Yaoi
A cada passo que Lince dava até a cadeira, o coração de Alexia parecia querer saltar pela boca. Tinha evitado aquele dia durante três longos anos, e agora não podia mais adiar. Interrogaria o homem, e arrancaria dele o máximo de informação possível, para que pudesse deitar a cabeça no travesseiro à noite e dormir sem pensar na justiça que ainda não havia feito.
Igor não era um homem velho. Deveria ter seus 30 anos, no entanto, a barba negra que pendia de seu queixo, e as roupas que mais pareciam trapos, o deixavam muito parecido com um mendigo de sessenta anos de idade. O cabelo, também negro, descia oleoso e sujo até a nuca.
Tinha uma expressão tão dura quanto aço no rosto, mas o sorriso… Ah, aquele sorriso… Ele nunca morria. Em um de seus pesadelos, a única coisa que Alexia via era o largo sorriso amarelo, e os olhos de gato brilhando na escuridão, como o Gato Risonho de Alice no País das Maravilhas.
Francis puxava-o por uma mão enquanto a outra empunhava a arma, apontada para baixo. Talvez fosse um jeito de dizer que, se Lince se rebelasse, seria morto.
O preso foi empurrado de um modo brusco pelo policial para que se sentasse na cadeira. Igor ajeitou-se em seu assento e ofereceu a Francis um sorriso caloroso, provocando-o.
— Deixe-nos – exigiu Alexia, mas percebeu que não podia ficar sozinha com Lince, nem tanto conseguia.
Francis caminhou até a porta da cela onde ocorria o interrogatório e lá ficou, observando tudo, com a arma em mãos. Ele não queria participar de nada daquilo, porém, de um jeito ou de outro, participaria.
— Acho que você precisa ter mais pulso firme com seus policiais – observou Lince –, com esse aí, principalmente. Ele tem cara de ser uma ovelha desgarrada – uma risada escapou de seus lábios.
Percebeu que Francis nem sequer se mexera.
— Sabe porque está aqui, Igor – começou a delegada, rezando para lembrar-se de todas as palavras que ensaiara. – Espero que colabore comigo, e eu serei boa com você – prometeu – Eu quero nomes.
— Você é bem direta. Mas não sei porque seria boa para mim se eu nunca fui bom pra você – Lince sorriu, um sorriso amarelado. Seus olhos azuis como diamantes pareceram cintilar. Ele estava se divertindo naquela situação. – E a história do tira bom, tira mau não funciona comigo, delegada.
— Não tem nenhum tira bom, tira mau aqui. Só tem eu – Alexia retrucou, juntando os dedos.
— E que papel você faz? – Lince perguntou, não esperando por uma resposta. – Ah, delegada… Esperei que você viesse fazer suas perguntas durante três longos anos, e esperaria mais três. Pensei que, depois de todo esse tempo, você teria se transformado em alguém mais firme, mas continua o mesmo vidro frágil de três anos atrás. Pensei que encontraria alguém a minha altura; afinal, você me capturou. Você sempre foi o rato pra mim, e agora que o jogo se inverteu, esperava um pouco mais que…Isso. Estou decepcionado.
Alexia respirou fundo e trocou um olhar com Francis. O mesmo balançou a cabeça negativamente.Ele quer que eu desista, presumiu, Mas eu não vou. Igor vai ter de falar, ou vou fazê-lo piar.
— Seus amigos também devem estar decepcionados, já que se deixou capturar – rebateu, mas Lince continuou com aquela expressão impassível e com aquele sorriso que poderia significar qualquer coisa.
— Quem disse que tenho amigos? – rosnou – Se fossem algo para mim já teriam me tirado desse buraco, mas a única coisa que fizeram foi fugir.
— Me dê os nomes, Lince. Só isso que peço – insistiu a delegada, sentindo-se desconfortável ali. Remexeu-se na cadeira dura e suspirou.
— Eu poderia te dar os nomes, mas de quê adiantaria? Não tem só uma Maria no mundo – ele arqueou uma sobrancelha.
— Alexia – interveio Francis. Sua voz parecia um chicote e estava prestes a estalar naquele momento –, isso não vai dar em nada. Vou pedir uma escolta para levar ele ao presídio. Já chega disso.
A delegada sentiu o rosto ferver de raiva. Odiava quando as pessoas duvidavam de sua capacidade na frente dos outros, e aquilo soava como uma afronta para ela na frente do preso. Se o deixasse levar Lince, já não teria nada. Mas, de algum modo, sabia que ele não ajudaria, estando ali ou estando em qualquer outro lugar.
Escondeu o rosto nas mãos, apoiando os cotovelos na mesa de ferro.
— Tudo bem – cedeu, imaginando que outros caminhos a levariam até o resto da Olhos de Lince.
Francis assentiu e caminhou até Igor.
Quando já o carregava até a porta feita de barras de aço, o preso virou-se bruscamente para encará-la.
— Se lhe serve de alguma coisa, aprenda a olhar em volta. Eles estão mais perto do que imagina.
Percebeu o olhar e o sorriso que foram lançados a Francis. O policial grunhiu e o empurrou, fazendo-o tropeçar. Em seguida sumiram no corredor, deixando Alexia sozinha ali, de braços cruzados, ouvindo a frase ecoar em sua mente
Abrir os olhos, ela piscou. Que aquilo deveria significar?
Para Lince era fácil enxergar. Ou ao menos fora, quando estava livre. Sabia que o grupo se chamava Olhos de Lince porque além dos dele, havia outros quatro pares de olhos a espiar por aí e sussurrar em seu ouvido tudo o que quisesse saber.
Além dos dela, que outros olhos poderiam olhar por si? Francis se recusava, e Diogo tinha problemas na visão por causa do albinismo. Acabou rindo de si mesma por imaginar que só os olhos mais perfeitos poderiam enxergar. Lince usava óculos pelo que sabia, mas há muito tinham se quebrado, e, mesmo assim, ele tudo via. Sempre sabia de tudo ali dentro da delegacia, por isso Alexia não ousava confiar nos outros policiais, pois poderiam ser seus espiões.
Mas e se Francis e Diogo também forem seus espiões? Pensou. Vira o olhar que ele dera para Francis, que significado poderia ter? Duvidava que não fosse nada. Porém, poderia vir a ser apenas paranoia.
O resto do dia passara rapidamente e o outro chegara depressa.
Francis já havia conseguido sua escolta, e discutia com Diogo quando ela chegou na delegacia.
— Já vai gente demais – avisava exaltado –, é melhor ficar aqui!
— Mas eu quero ir! – Diogo, às vezes, parecia uma criança birrenta. Naquele momento em questão, só faltou bater o pé para se parecer completamente com uma.
— Já chega vocês dois – Alexia disse, entediada. – Diogo, você fica. Se Francis quer ir sozinho, que vá. Parem de discutir.
Francis saiu da sala da delegada a passos largos.
O albino cruzou os braços, bufando. Naquele dia, usava uma camiseta branca de um tecido fino, que parecia ser transparente. Sua calça jeans preta estava desbotada. Seus cabelos esbranquiçados estavam soltos e desciam em cachinhos até o ombro. Sabia o quanto Diogo amava os cabelos, estava sempre penteando-os, até nas horas mais inconvenientes.
Tinha um nariz fino, que em nada alterava sua aparência exótica e bela, e olhos pequenos.
Alexia invejava a cor de seus olhos. Sua íris era rosada, e quando estava exaltado, ou quando a noite chegava, se tornava vermelha. Mas só podia vislumbrá-los quando estavam em algum lugar fechado, pois ele constantemente usava óculos escuros.
Seu braço direito estava enfaixado por conta do tiro que levara, e a delegada perguntou-se o que ele estava fazendo ali se era para estar de repouso.
— Diogo, porque não está em casa? – perguntou. O albino estava imerso em pensamentos, e virou-se para encará-la com os olhos avermelhados.
— Sou canhoto. Eu estou bem, Alexia – ele sorriu, e percebeu que seus olhos voltavam aos poucos a ficar rosados. – Estou bem, é sério – ele arqueou as sobrancelhas quando Alexia perguntou se ele tinha certeza.
— A escolta só pode sair às 17h. Preferia ir agora de manhã, é menos trânsito – resmungou Francis, voltando à sala novamente. Ele parecia ansioso e nervoso. Alexia não soube dizer porquê.
— Quantos policiais? – a delegada quis saber.
— Sete, contando comigo. Um homem dirigindo o camburão, uma viatura vai à frente, com dois policiais de moto, e atrás mais duas viaturas.
— Você vai com Lince no camburão? Sozinho? – Diogo perguntou, parecendo preocupado. Viu Francis revirar os olhos. – Ele é perigoso!
— Ele estará algemado – esclareceu o moreno –, e eu estarei armado, de qualquer jeito.
— Certo – Alexia confiava em Francis cegamente. Estava feliz que pudesse contar com ele para levar Lince ao presídio, uma vez que tinha outros assuntos para resolver na delegacia. Claro que reviraria os arquivos do caso enquanto ele não estivesse ali, pois ainda não tinha desistido da Olhos de Lince. Igor não podia ser seu único meio de chegar até eles. Não podia. – Boa sorte – desejou, com um sorriso
Estou cercado pelos Hermamn, pensou Maroni, ajeitando-se na cadeira de plástico. Do seu lado direito, estava sentado Carlos Hermamn, metido num sobretudo preto e com uma expressão de desgosto na cara. À sua esquerda, estava Renan, vestido com aquele casaco de veludo que nunca tirava, e sua expressão era, visivelmente, entediada.
Jorge Hermamn e Mano Macário estavam em pé logo a frente deles, sendo que poderiam ficar sentados. Estavam atrapalhando sua visão.
O palco improvisado onde as modelos ensaiavam naquele dia não era mais que tábuas em cima de mais tábuas, e Maroni não estava gostando da ideia de ver alguma das moças tropeçando e quebrando o pé ali.
O salão estava praticamente vazio. Nem as cadeiras que serviam para os convidados se sentarem estavam ali, e teve de ir atrás daquelas coisas desconfortáveis para sentar-se. Redecorariam tudo novamente, e aquilo o entediava demais, mas era obrigado a comparecer.
— Pai, sai da frente – pediu o estilista, irritando-se. Mano o encarou por cima do ombro e pediu que se calasse. Maroni fechou a cara enquanto Renan ria. – Cara, para de rir – deu-lhe um soco no braço –, resolveu o assunto da secretária?
— Estou resolvendo – disse o gêmeo.
Maroni observou as modelos quando o pai e Jorge resolveram sair de sua frente. Só haviam três naquele dia, uma novata loira que chegara na semana passada e ia desfilar com um dos vestidos da nova coleção; uma moça que já estava ali há um tempo, tinha a pele cor de ébano e os cabelos cor de chocolate eram espessos e curtos; e tinha a ruiva. A misteriosa Larissa. Estava ali desde que os Hermamn viraram sócios de seu pai, e parecia ser conhecida dos gêmeos.
Observou-as desfilando. Primeiro foi a loira, era alta e esguia, com cabelos cor de ouro descendo lisos pelas costas. Não soube dizer se ela era desajeitada ou se era o palco improvisado que estava atrapalhando sua performance. Jorge gritou-lhe algo sobre ela ficar ereta, e a garota levantou os ombros e empinou o nariz. Usava o vestido verde claro da coleção, um tomara-que-caia que descia grudado ao corpo magro até as coxas. Tinha um bolero verde-escuro que tampava os braços e uma echarpe da mesma cor, listrada com branco enrolada ao pescoço.
— Não vejo onde essa roupa é uma peça de inverno – resmungou Carlos, em voz baixa. O próprio Maroni havia desenhado aquele vestido, e tudo o que fazia desagradava o Hermamn.
Quando ela voltou ao início do palco, a morena começou a desfilar, também se atrapalhando. Seu vestido era de um azul-marinho, e tinha mangas compridas. Não era decotado na frente, mas era bastante aberto atrás, mostrando parte das costas. Maroni achou que aquele vestido era perfeito para ela. Faria questão de dá-lo de presente a modelo.
E por último a ruiva. Notou uma sombra de sorriso no rosto de Carlos quando ela pôs os pés ao trabalho. Diferente das outras, ela não se atrapalhou e não perdeu o rebolado naquela bagunça de tábuas; era cautelosa e focada, com os pés firmes no salto alto. Seus cabelos eram alaranjados como fogo e sua pele era pálida e cheia de sardas. Optara por desfilar com a calça legging cinza da coleção e uma sobre-legging com a estampa de um lobo, meio transparente na parte da frente, mostrando seu sutiã preto, e na parte de trás era um tecido mais quente, todo preto.
Ela desceu após terminar e acendeu um cigarro. Era proibido fumar ali, mas quem disse que ela ligava?
Maroni levantou-se e se pôs ao lado dela inocentemente. Apavorou-se ao perceber o quão alta a modelo era, deveria ter 1,85 de altura, sem o salto. Com o salto, deveria ter quase dois metros.
— Vai humilhar todas as outras no desfile – disse lisonjeiro. A ruiva sequer respondeu, apenas descalçou o salto alto e os chutou para longe, sem se importar. Deu algumas tragadas no cigarro e em seguida jogou a bituca no chão, apagando-a com os pés descalços.
— Não venha me cantar, Macário – Larissa disse finalmente, com uma expressão impassível. Era tão desprovida de emoções quanto era desprovida de peso. – Fiquei sabendo que foi processado de novo. Não se engane, se fizer isso comigo, nunca mais vai chegar perto de uma mulher na vida – ameaçou. Maroni arregalou os olhos. Não bastava a ameaça, até sua voz o assustou. Era grossa, e desprovida de calor. Tinha um sotaque, e, pelo Renan lhe contara, era descendente de alemães.
— Liebe, estava linda. Vai arrasar no desfile! – ela aceitou de bom grado o elogio de Jorge, e ainda sorriu.
Revirou os olhos e saiu de perto deles. Não se sentia bem perto de ninguém ali, só de Renan, e às vezes, quando ele estava de bom humor.
Enquanto caminhava até sua sala, percebeu que um rapaz caminhava de um lado para o outro com uma pasta na mão. Arqueou uma sobrancelha e foi até ele.
— Tá perdido? – perguntou. O garoto sobressaltou-se com a chegada súbita de Maroni.
— M-Mais ou menos – o garoto gaguejou –, eu só vim largar meu curriculum, sabe onde fica a sala?
Com certeza Renan havia colocado um anúncio em algum lugar. Achou estranho um garoto querer ocupar um lugar que, normalmente, era de mulheres.
— Dá pra mim – pediu. O rapaz prontamente tirou o papel de dentro da pasta e entregou-lhe. – Vou entregar ao Renan, obrigado por se candidatar – disse automaticamente. O garoto agradeceu e seguiu pelo corredor até a saída.
Achava meio improvável que o Hermamn o escolheria, mas entregaria do mesmo jeito.
Quando chegou à sala dele, encontrou-o discutindo com o irmão. Os dois berravam algo sobre “presídio”, “covarde” e algo sobre uma delegada e sobre um jaguar. Maroni franziu o cenho e os dois pararam de discutir assim que o viram. Carlos saiu aos empurrões da sala, com o rosto fervendo de raiva.
— Que houve? – perguntou, curioso.
— Soube da sua ex-noiva? Ela vai voltar a caçar a Olhos de Lince!
Maroni sentiu o sangue gelar.
— Por favor, me leva junto – o albino pediu novamente. Se fizesse aquela carinha mais uma vez, Francis bateria nele.
— Pela milésima vez: não!
Guardou o celular no bolso e pegou a arma que um de seus policiais entregou. Era grande. Adorava armas grandes, mas gostava ainda mais das facas. Eram mais leves, mesmo que fossem grandes também. Sabia que não necessitaria daquilo, no entanto, era preciso um teatro. Lince nem era tão perigoso assim a ponto de precisar de uma escolta até a porcaria de um presídio.
— Fica aí com Alexia, ou então vai pra casa, você levou um tiro e isso aí precisa cicatrizar – disse, cutucando sua ferida de leve.
— Eu não quero voltar pra casa! – retrucou ele, teimosamente. Diogo era tão infantil às vezes, que esquecia que ele tinha quase 25 anos.
Não lhe deu atenção e simplesmente pulou no camburão. Igor estava sentado ao fundo, com os olhos fechados e uma expressão serena no rosto. Quando os policiais fecharam as portas, demorou um pouco para se acostumar com a escuridão parcial. Uma luz acendeu-se.
— Que merda foi aquela? – perguntou, se referindo ao que Lince dissera a Alexia no interrogatório. “Eles estão mais perto do que você imagina”. – Eu vou matar você!
— Não se esqueça de quem é que manda, meu querido Jaguar – provocou o homem – Você tem feito um trabalho surpreendente, aliás. Alexia confia em você, e aquele albino… É apaixonado por você. Ficou todo preocupadinho.
— Cala a boca – cuspiu.
— A ideia de me tirar daquela delegacia foi sua? – ele perguntou, descrente. Francis assentiu, colocando a arma de lado. – E eu posso saber porquê diabos eu fiquei três anos naquela porcaria de cela até você decidir se me tiraria de lá ou não?
— Não dava pra te tirar antes. Eu não sabia quando Alexia iria querer você, e se eu fosse te tirar da delegacia, por ser pequena, as pessoas desconfiariam – explicou –, vou te levar para o presídio, lá é muita gente, nem vão dar falta de você. Uns caras vão te buscar à noite e vão te levar para o meu apartamento. Lá, eu vejo o que posso fazer.
— E os outros? – ele perguntou ansioso.
— Que o diabo os carregue – bradou. Francis não gostava dos outros, e ele tinha motivos. – Eu vou te tirar de lá, mas não ache que vou atrás deles. Só estou fazendo isso porque você significa muito pra mim, Igor. Mas não vou deixar que cheguem perto da Alexia ou do Diogo.
— Não me lembro de você ser tão sentimental.
— Não sou como você – disse, dando de ombros.
Reparou em como Lince havia virado um lixo no tempo em ficara preso. Lembrava-se de como ele era belo e sedutor, sempre conquistando as mulheres e depois as destratando. Era rápido quando queria matar, e matava indiscriminadamente, mas não era dele que Francis tinha medo. Lince era um anjinho perto dos outros. Tinha uma dívida com ele, e faria de tudo para pagá-la.
— De quê lado está agora? – o homem perguntou após um tempo em silêncio. O camburão deu uma sacolejada, fazendo com que eles pulassem em seus lugares. – Sabe que vão te procurar.
— Não posso ser um agente duplo? – perguntou com um sorriso, e ele lhe ofereceu outro, mais caloroso que o normal.
— Claro que pode. Mas, no final… Vai trair quem?
Aquela frase ficou em sua cabeça o resto do dia.
Após entregá-lo, cuidar de toda a burocracia, voltou à delegacia. Tratou de alguns assuntos, e quando já era quase oito horas da noite, finalmente chegou em casa.
Ouviu o barulho do chuveiro e supôs que Lince já estava ali. Quando ele saiu do banheiro, era outra pessoa.
— Seus amigos foram bem gentis, colocaram um saco na minha cabeça – brincou o psicopata. Ele havia tirado toda a barba, mas o cabelo continuava comprido. Ao menos estava limpo. Deveria ter gastado todo seu pote de shampoo na cabeça. Estava vestindo uma roupa que era sua. Uma calça jeans preta e usava um casaco cinza fechado, que ficava apertado nele. – Já pensou na resposta?
Francis não respondeu.
Igor caminhou até o sofá enquanto secava o cabelo com uma toalha e jogou-se nele, colocando os pés em cima da mesinha de vidro. Folgado, xingou mentalmente.
Seu apartamento estava uma bagunça naquele dia. Não era grandes coisa; ficava no último andar, tinha dois quartos pequenos e uma cozinha apertada, com uma pequena divisória para a sala, que deveria ser o único cômodo espaçoso do lugar. Não recebia visitas, por isso não fazia questão de deixar tudo brilhando.
— Não saia de dentro do prédio, não chame a atenção dos vizinhos e o mais importante: não mate ninguém. Consegue fazer isso? – perguntou Francis, entregando-lhe uma xícara de café, que Igor tomou em três goles.
— Não é uma coisa difícil – deu de ombros. – Estou com fome. Faz três anos que não como uma comida decente.
— Vou pedir pizza – disse e seu novo hóspede pareceu gostar da ideia.
Quando pegou o celular para fazer a ligação, notou que recebera uma mensagem. Não conhecia o número, mas soube quem era. Tinha um endereço e uma frase no final: “Ouça-me rugir”.
Francis respirou fundo. Era uma péssima hora para a Olhos de Lince querer voltar à ativa.
Autor(a): Vagalume
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