Fanfics Brasil - Capítulo 14 Tudo Muda, Tudo Passa... ( Adaptada) Portiñón

Fanfic: Tudo Muda, Tudo Passa... ( Adaptada) Portiñón | Tema: Portiñon


Capítulo: Capítulo 14

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"Bateu o Amor a porta da Loucura:

- Deixa-me entrar, pediu, sou teu irmão,

só tu me limparás da lama escura,

a que me conduziu minha paixão."


No domingo, após a capoeira, me aproximei de Caio. Ele era um colega antigo, que fazia parte da roda, e com o qual ficava de vez em quando.

- Caio, você vai fazer alguma coisa interessante hoje?

- Ah eu preciso ver na agenda! Sabe como é, as mulheres tomam todo meu tempo livre... – fez um olhar sedutor.

- Ah é, eu sei. Então veja aí porque você sabe que os homens também não me deixam em paz e somente hoje surgiram algumas horas livres pra mim. – disse em tom de brincadeira.

- Aí você pensou no seu amigo velho de guerra? É muita consideração da sua parte! – beijou minha mão

- E então?

- Sou todinho seu! – abriu os braços sorrindo.

Caio morava sozinho no morro Dona Marta, em Botafogo, e sempre que ficávamos juntos íamos para o barraco dele. Dessa vez não foi diferente e passamos o resto do dia fazendo sexo como dois desesperados. Saí de lá às 22:30h. Eu fui para lá querendo esquecer. Eu queria me convencer sobre minha sexualidade, provando a mim mesma que era heterossexual e que aquela coisa toda com Any não passava de uma bobagem sem importância. Eu queria mostrar para mim que sentia prazer com homens e era capaz de dar prazer a eles. Eu queria apagar aquele beijo e aquelas sensações da minha memória. No entanto, gozei com o corpo e senti um imenso vazio ao final de tudo, uma louca vontade de sair correndo e nunca mais olhar para Caio. Minhas dúvidas e inquietações pareceram aumentar. "Com quem posso conversar? O que faço? Como vou continuar a trabalhar pra Any desse jeito?"


Subi o morro confusa, tensa e me sentindo extremamente só. Any me inspirava carinho, cumplicidade e amor, sentimentos com os quais eu não estava acostumada. Eu sempre fui impetuosa, buscava o prazer em tudo e achava que bastava. Nunca me deixei envolver, nunca me entreguei, mas Any parecia romper todas as minhas barreiras e sem fazer o menor esforço. "Por que digo amor?? Eu não a amo! Ela é apenas uma garota que está me atraindo e é só. Mas por que ela está me atraindo se eu nunca reparei em mulher alguma?" Rolei na cama por horas. Pensei, chorei em segredo e adormeci já de madrugada.


*********************************


Estava com as Feiticeiras em um trailler pela manhã. Minha cabeça viajava longe e não ouvia o que diziam.

- Que foi Dul? Está tão longe... – disse Aline.

"Como introduzo o assunto sem me revelar?"

- Aconteceu uma coisa que me deixou pensativa. Encontrei uma amiga dos tempos do segundo grau e batemos um longo papo.

- E??? – perguntou Taís

- Ela me disse que conheceu uma garota no trabalho, se interessou por ela e, depois de muita luta com os próprios sentimentos, resolveu deixar rolar...

- Que horror! – Soninha fez cara de nojo.

- E ela já era sapatão desde o segundo grau?

- Não Aline, ela nunca foi sapatão. Ela disse que aconteceu agora, inesperadamente.

- Eu não acredito! Isso é doença e a pessoa já nasce com essa aberração. É que por alguma razão ela só se manifestou agora. – Soninha afirmou duramente
– Afaste-se dela Dul!

- Soninha, se ninguém te disse, homossexualismo não pega. – Taís comentou

- Eu não sabia que você abominava tanto essas coisas. – comentei.


- Tenho nojo dessa gente lésbica, gay, bissexual... Não gostaria de estar na pele deles quando forem submetidos ao julgamento de Deus.

- Ai Sônia quando você começa com esses discursos de beata fica um saco! – disse Aline.

- E Deus vai julgá-los pelo que? – perguntei

- Pelo que??? Dulce  por favor! Homem e mulher têm de ficar juntos. Deus abomina estas aberrações que desobedecem aos princípios estabelecidos por Ele. Duas mulheres juntas? Isso é sem vergonhice! Se eu fosse você não dirigiria palavra a essa tal.

- Olha Soninha, eu nunca me revelei, mas acho que agora é hora. – Taís se reclinou para perto dela – Morro de tesão em você e minha "aberração" já não se agüenta quieta. Vamos prum canto escuro, hein?

Essa brincadeira quebrou um pouco do clima tenso que se iniciou com as palavras de Soninha. Soninha, aliás, era conhecida entre nós como "A Santa". Ela era católica, ativamente participante em sua igreja, e se envolvia em muitos trabalhos sociais. Caridosa e delicada, era uma amiga fiel, mas muitas vezes dura em suas opiniões sobre as coisas da vida. Morava com os pais em Bonsucesso, onde ficava a oficina mecânica da família, não tinha namorado e era a mais "calma" do grupo nesse sentido. Era baixa, gordinha, branca, loura dos cabelos encaracolados e olhos azuis; apesar de termos todas a mesma idade ela parecia a mais nova, por causa do ar angelical. Sonhava encontrar o homem de seus sonhos.

- E vocês duas? Também pensam assim? – perguntei

- Eu não tenho nada contra ou a favor. Mas não gostaria de ter uma amiga dessas. – disse Aline.

- E eu conversaria com ela a respeito. Se me convencesse eu até experimentaria pra ver se é mesmo bom colar um velcro de vez em quando. Sexo entre mulheres deve exigir mais criatividade que é o que esses homens menos têm.

- Você sempre leva tudo na sacanagem! – reclamou Soninha


- Me avisa então o dia em que você resolver ter estas experiências alternativas pra eu deixar de andar contigo tá?

- Eh Aline relaxa, porque depois que eu comer a Soninha você vai ser a próxima... –deu um tapa na coxa de Aline
– Coxão, hein?

- Deus me livre! – responderam Aline e Soninha ao mesmo tempo. Rimos.

- E eu Taís? Quer dizer que não faço mesmo o seu tipo? - perguntei

- Ah não! Eu teria de disputar espaço com os homens da tua vida e daí tô fora. Cê sabe que eu não quero ter trabalho, não sabe?

A conversa continuou em clima de brincadeira e percebi que não poderia me abrir com elas. Pedi licença e me despedi. Era hora de aula. Caminhei até o bloco D me sentindo solitária, mais do que sempre me senti.

***************************


Estava em casa estudando. Era quinta à noite. Minha avó bordava na sala e estávamos em silêncio.

- Vó, a senhora não vai acreditar. Encontrei uma colega do segundo grau e ela me disse que se apaixonou e está morando com uma garota.

- Falta de surra!

- Hã??

Parou o bordado.

- Ela não tem mãe? Não tem pai? Eles tinham que ter dado uma boa surra nela pra que entrasse nos eixos. Se fosse minha filha, ela além de apanhar, não colocaria mais os pés nessa casa se não acabasse com a palhaçada. – retomou o bordado

- Não é palhaçada vó. A pessoa não escolhe por quem se apaixona.

- Só quero que você nunca traga essa garota aqui. – disse sem olhar para mim. O assunto morreu ali. Voltei a estudar e senti uma grande tristeza.


O tempo passou e continuei sem conversar com Any sobre o que me incomodava. Continuei com as aulas normalmente e não vi mais os pais dela em casa, graças a Deus. Eu evitava encontrá-la na faculdade. Minha cabeça continuava confusa. Saiu a nota da primeira prova de cálculo e ela tirou 9,5. Podia passar direto tranqüilamente, mas ainda fazia questão das aulas. Em uma quinta-feira, vi Any sentada em um trailler com um rapaz. Havia uma intimidade entre eles que me surpreendeu e perturbou. Quem era aquele cara? Any sempre foi tão inacessível, tão indiferente a todos os caras. Por que aquele era especial? E eu? Mas que eu tenho com isso? Meu Deus...

- Oi Any! – parei de pé em frente aos dois.

- Oi! – sorriu para mim – Deixe-me apresentá-la ao Denis. Denis esta é Dulce , minha amiga e professora de cálculo.

Denis era um rapaz que aparentava uns 25 anos, moreno, alto e forte. Era completamente careca e dono de um belo sorriso.

- Oi Dulce ! – estendeu a mão

Apertei-a com firmeza.

- Oi.

- Sente-se conosco. Denis faz eletrônica e você precisa ouvir as estórias dele. Acabou de acontecer o concurso de luta entre robôs e a UFRJ foi campeã através da equipe dele.

- É, deve ser interessante mas eu tenho que ir. Fica pra próxima.

- Sábado, então?

- Como sempre. – saí

Esqueci do que deveria fazer na faculdade naquele dia e fui embora para casa. Chegando lá fiquei sozinha e me senti mais vazia ainda. Saí então e desci as escadas meio sem saber para onde ir. Lá embaixo encontrei com Caio, o da capoeira.

- Que cara é essa menina? Parece que está, sei lá, meio aérea.


- Eu não tô me entendendo mais...

- Vamos pra praia então e lá a gente conversa. Você tá visivelmente estranha.

- Caio, não sei como você vai reagir com o que vamos conversar, mas se eu não falar com ninguém vou ficar maluca. Tô sofrendo muito...

- Diz então. Pode confiar.

Fomos para a praia. Abri meu coração e disse a ele tudo sobre Any e eu, incluindo o beijo. Falei do que senti quando a vi empolgada com o rapaz hoje na faculdade. Ele ficou sério, pensou e disse:

- É amiga, você tá apaixonada pela garota. E completamente apaixonada.

- Então acha que me apaixonei? Como pode? Eu? Sabe que sempre gostei de homem. Como pode isso?

- Você ainda gosta de homem, mas se apaixonou por ela. Qual o problema? Acha que se desmerece por isso?

- Não acho que me desmereço, mas... Como que ia ser isso? Imagino a piruona da mãe dela e a bicha velha do pai sabendo que a filhinha está com uma mulher, e além do mais uma "mulherzinha de morro". E minha avó? Essa me expulsaria até de casa! E minhas amigas? Acho que nem falariam mais comigo!

- E por que essa gente toda tem que saber? Além do mais a garota é menor de idade e os pais dela poderiam até te processar.

- E acho que fariam isso com prazer.

- Mas nada disso te impede de tentar...

- Tentar o que? Ficar com ela escondido? Sem chance! E também eu não acho que me apaixonei; é só uma curiosidade boba que pode passar se eu me afastar dela. Além do mais a menina merece coisa melhor do que um "namorico fortuito"!

- Você está é pensando assim: "eu Dulce , a gostosona, apaixonada por uma garota inexperiente de 16 anos? Ah, não! Não eu! Eu não sou lésbica, eu não sou!" Qual é Dulce , desce desse pedestal e encara a realidade.

- Você tá me deixando mais confusa. Mais do que eu já tô.


 


- Dul, vai atrás da garota e faz o que você não teve coragem. Tasca-lhe um beijo na boca e diz o que você sente. Se bobear ela vai virar e te dizer: eu também sinto assim esse tempo todo.

- Eu não me imagino fazendo isso. E eu nem saberia o que fazer depois.

- Olha, o que eu quero te dizer é: não deixa passar, ou vai se arrepender pelo resto da vida pelo que não fez. Viver de remorso é foda!

Passei muito tempo pensando naquele papo.

Mais uma aula de cálculo acabava. Enquanto Any guardava o livro criei coragem para perguntar:

- Quem era o cara com você lá no trailler um dia desses? O tal do Denis. Parecia ser tão íntimo. - mexi em uma folha de papel - Namorado novo e eu não sei?

Any me olhou surpresa:
- Isso importa para você?

- Sim – olhei-a nos olhos.


- Não é.

- Então por que é tão cheio de liberdade com você?

- É só um colega. Não há liberdades.

- Vai deixar agora seus colegas serem tão... confiados?

- Onde quer chegar Dulce ?
– encaminhou-se até a porta da biblioteca – Está com ciúmes? – falou como que gostando da hipótese.

Andei até ela:
- E se estiver?

- Digo que não tem porquê. – encarou-me e saiu.

Segui seu andar pelo corredor e mexeu comigo o movimento de suas cadeiras por baixo do vestido comprido. Chegando na sala parei perto da poltrona e coloquei as mãos nos bolsos do short.

- Desde o dia em que nos beijamos eu não consigo pensar em outra coisa. Aconteceu tão no impulso, como se fosse algo que eu precisasse fazer pra continuar viva. – calei-me por uns instantes
– Eu nunca tinha passado por algo assim.

- Pensei que tivesse esquecido. – respondeu suavemente e de costas para mim.


- Em nenhum dia sequer. – caminhei para perto dela – Nunca um beijo mexeu tanto comigo. – respirei fundo e passei a mão pelos cabelos – Eu nunca havia beijado uma garota, e há alguns meses atrás acharia essa hipótese impensável... Mas aconteceu e nunca havia sido tão intenso; com homem algum.

- Eu nunca havia sido beijada...

- E se arrependeu?

- Não disse isso – virou-se de frente – Apenas pedi para que fosse embora porque tive medo.

- De que?

- Isso não é certo! Somos amigas, somos mulheres e assim deve permanecer.

Afastei-me dela e parei perto de uma estátua da sala.

- Imagine se rolasse alguma coisa e as pessoas ficassem sabendo? – disse meio que sem pensar.

- As pessoas ainda têm muitos preconceitos com certas escolhas...

- Têm... – olhei para ela – É melhor eu ir agora.

- É sim.

Andamos até a porta e ela ficou do lado de dentro segurando a maçaneta.

- Até sábado, provavelmente.

- Até.

Beijei-lhe a testa para me despedir. Nem sei porque fiz isso. Ela olhou para mim e levantou mais o rosto.


 


- Ainda tô com o gosto daquele beijo na boca. – falei em voz baixa. "Ai, Dul, frase de homem cafajeste..."



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Autor(a): portinons2vondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 28



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  • marianac Postado em 22/06/2020 - 21:59:07

    A autora sabe que vc está postando a história dela aqui?

  • madilima Postado em 03/11/2015 - 20:15:32

    Termina a fanfic por favor!!! Quero muito saber o final!!!!

  • tammyuckermann Postado em 27/09/2015 - 00:17:41

    Posta mais pff

  • pekenna Postado em 08/04/2015 - 18:56:08

    voltaaaa please

  • nanda302 Postado em 26/03/2015 - 12:37:33

    Venho aqui diariamente ver se vc tem postado mas capítulos.... Estou louca pra vê o final dessa história... Por favor não demora a posta;-) OBG!!!

  • pekenna Postado em 25/03/2015 - 15:33:16

    volta a postar por favorzinhoooooo!!!

  • anymaniecahastalamuerte Postado em 10/12/2014 - 00:25:38

    Posta mais pleaseee!to morrendo pra saber oq vai acontecer!posta maaaaaais!

  • anymaniecahastalamuerte Postado em 06/12/2014 - 22:00:45

    Posta maaais please!VC pode dar uma passadinha na minha fic Os olhos da alma (portinon) ou divulgar ela??obg

  • anymaniecahastalamuerte Postado em 05/12/2014 - 01:24:15

    Brigaduu por postar!!!!!!nunca li ate o final,e gostaria MT de ler essa historia maravilhosa!!valeu MSM!!!posta maaais?obg

  • anymaniecahastalamuerte Postado em 24/11/2014 - 04:34:58

    Por favor posta mais me cadastrei aq só pra comentar essa fic maravilhosa!postaa please


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