Fanfics Brasil - Capítulo 4 Tudo Muda, Tudo Passa... ( Adaptada) Portiñón

Fanfic: Tudo Muda, Tudo Passa... ( Adaptada) Portiñón | Tema: Portiñon


Capítulo: Capítulo 4

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feira chegou e o dia estava lindo. Saí do laboratório às 17:00h, como sempre. Estava pensando nos serviços que me aguardavam em casa e senti cansaço por antecipação. Caminhei até o ponto de ônibus e vi um amontoado de gente no bloco A. Parecia trote. Ouvi várias vozes e de repente alguém falou a palavra gringa. Senti uma coisa estranha e me misturei no meio do pessoal para ver o que seria aquilo.

Anahí estava no meio de uma roda de rapazes que prendiam minúsculos pedaços de grafite entre os dentes. Eles queriam que ela tirasse a grafite da boca de cada um usando seus dentes.

Outros caras gritavam como bichos e umas garotas zombavam dela, que chorava, nitidamente com medo. Aquilo mexeu comigo e me encheu de ódio. Agi como que por instinto. Coloquei-me no centro da roda a seu lado.

- Chega dessa palhaçada aqui. A garota não tá a fim disso e vocês tão extrapolando!


- Ih... Quem é essa aí? Advogada dos calouros? – perguntou um dos caras.


- Dá um tempo Dulce ! Vai embora! – disse um que me conhecia.
Segurei uma das mãos deAnahí e falei em seu ouvido: - Vem comigo.

Fomos saindo da roda e um cara me pegou pelo braço com agressividade.

- Qual é vagabunda?


Desvencilhei-me com força e dei-lhe um soco certeiro no rosto que o derrubou no chão.

- Se tem alguém vagabundo aqui é você seu babaca. – olhei para todos – Acabou a palhaçada por hoje. Se vocês estiverem a fim a gente vai na sala da diretoria e joga a merda no ventilador.

Todos ficaram meio sem saber o que fazer. Continuei segurando a mão deAnahí e a levei até o banheiro do corredor entre os blocos A,B e C. Entramos e levei-a até a pia.

-Está tudo bem agora querida. – passei água em seu rosto – Não vai acontecer nada com você. Eles são apenas uns idiotas, mas não vão te fazer nenhum mal. – permaneci olhando para ela

Anahí lavou o próprio rosto com mais calma e me afastei. Olhei para minha mão esquerda. Estava dolorida.

- Você se arriscou por mim. Não sabe o quanto me sinto grata! – olhou-me com o rosto ainda molhado

Fiquei perturbada com aquele olhar e nossa proximidade.

- Aqui é difícil de achar papel. Deixa eu ver se... – comecei a procurar papel para poder romper a proximidade – Que sorte! Tem um rolo aqui.

Cortei um bom pedaço de papel e dei a ela.

- Obrigada!

Anahí enxugou o rosto e começou a se arrumar diante do espelho. Ou do que sobrou do espelho. Ela vestia um vestido parecido com o que usava no dia em que a conheci, só que era verde da cor de seus olhos. Calçava sandálias de salto alto. Estava com uma mochila de um tom rosa, bem claro. Vendo-a assim parecia uma menina tão jovem, tão indefesa.

- Por que está na faculdade até uma hora dessas? As aulas da calourada acabam ao meio dia ou às três, no máximo.


- Fui para a biblioteca estudar e acabei às quatro e meia mais ou menos. Caminhei até o ponto de táxi e aqueles rapazes me tiraram de lá dizendo que eu levaria um trote. Então começaram querendo que eu tirasse pedaços de grafite de entre os dentes deles e eu não quis. Depois vieram aquelas moças e elas riam e diziam várias coisas zombando de mim.


Lembrei da imagem daquele pessoal ao redor dela e me deu muita raiva.

- Você não pode dar mole desse jeito. Tá na cara que é caloura, que é estrangeira, e vai aparecer sempre alguém pra encher o saco e te dar trote.

Ela sorriu: - Eu recebo esse tal trote quase todo dia.

-O que??


- Sim. Já fui pintada, suja com ovos, amarrada em uma corda com outros colegas e tive de pedir dinheiro nesta rua aí em frente.


- Meu Deus! O que seus pais dizem disso?


- Eles não sabem. Quando chego em casa dificilmente algum deles está.


- Olha, eu vou te acompanhar, mas você não vai ficar nesse ponto de táxi, até porque a essa hora já não fica táxi parado lá. Nós vamos pegar o ônibus circular da UFRJ e vamos descer em frente ao hospital.

"Por que eu tô me oferecendo pra ser guarda costas dessa garota?"

- Faria isso? – olhou-me sorrindo. De repente atentou para minha mão – Você machucou a mão? Deixa-me ver. – se aproximou e tomou minha mão delicadamente entre as suas. O toque de seus dedos foi bem vindo, mas perturbou-me bastante.


 


- Não, tá tudo bem. – retirei a mão rapidamente


 


me para fora do banheiro. Ela veio atrás.

Voltamos para o bloco A e não havia sinal daquele pessoal. Saímos do prédio e vi que o ônibus se aproximava.


- Corre, é o ônibus.


- O que ?


- Vem. – segurei em sua mão e corremos


Ela vinha meio desengonçada por causa dos sapatos, mas parecia achar divertido o fato de estarmos correndo. O ônibus estava cheio e nos acomodamos lá no fundo.Anahí agora parecia estar com um certo receio.


-Anahí, nós vamos descer em frente ao hospital universitário. Lá tem um ponto de ônibus e a gente vai pegar o ônibus 485. Pode deixar que te acompanho até a porta de casa.


"E por que isso Dulce ? Que está acontecendo comigo?"


- Você é muito gentil Dulce . – calou-se por uns segundos - Escute, pode me chamar de  Any. É assim que meus pais e familiares me chamam.


- Tá bom  Any.


Descemos no ponto de ônibus e ficamos esperando pelo 485.


- Eu nunca havia andado de ônibus em toda a vida. É diferente!


- Diferente? Não sei se esta seria a palavra certa. Deixa eu te perguntar: por que não iria no seu carro hoje?


- Não é sempre que estou com o motorista. Mamãe fica com ele na maior parte do tempo.


-Voltando para casa eu uso mais o táxi. E você? Sempre usa o ônibus?


- Todo dia. Aliás, é hora de colocar meu disfarce.

Comecei a vestir a blusa do colégio municipal.

- Que está fazendo?


- Visto essa blusa pra não pagar passagem. É do município e os alunos com essa blusa não pagam passagem. Não tenho condição de manter esse gasto e aí a gente improvisa.

Any nada falou, mas percebi que me olhou penalizada.

- Quanto custa passagem do ônibus?


- Setenta centavos. Olha, lá vem ele. Você entra por trás e passa a roleta depois de pagar. Eu entro pela frente porque não pago.

Any entrou no ônibus totalmente sem jeito e se confundiu toda na roleta sendo esmagada pelos mais apressados, mas sobreviveu. Nós nos encontramos no meio do ônibus.


 


- Oi moça do município. – deu-me um lindo sorriso. Meu coração bateu acelerado e não entendi por quê.


- Oi universitária. – retribuí o sorriso


- Eu ainda não sei o que quer dizer município. – falou meio desconcertada


- Ah. É uma divisão territorial. O Brasil é dividido em estados e os estados são divididos em municípios, ou cidades. Os governos federal, estadual e municipal mantêm instituições de ensino públicas. Se você estuda em escolas do município ou do estado você não paga passagem de ônibus. É lei. – aproximei-me de seu ouvido e cochichei - Por isso eu uso essa blusa. Senti o cheiro de seu perfume e isso me perturbou. Afastei-me.


"Por que tá acontecendo isso comigo? Até o perfume que ela usa mexe comigo! O que é isso, Dul??" O ônibus estava cheio e estávamos em pé, porém não demorou muito e uma poltrona de dois lugares vagou. Sentamos


 


-Onde você mora?


- Morro do Cantagalo. Copacabana. 


- Como?


- Morro, favela. Nunca ouviu falar em morro? É um lugar como aquele que você vê antes de entrar na Ilha do Fundão, com casas mal acabadas e muita pobreza. O nome desse amontoado, desse tipo de lugar é favela.

Ela pensou um pouco e me perguntou: - E por que é assim?

- Porque a grande maioria das pessoas que vivem assim são pobres e não têm condições de morar numa casa e em um lugar com infra estrutura. – olhei para ela


- Na Inglaterra não tem pobre não?


- Sim, mas... eu nunca vira uma favela até chegar ao Brasil.

"Você deve viver em outro mundo garota!"


- Quantos anos tem? Parece uma garotinha, ainda mais por sempre ter algum adereço rosa.

Ela pareceu não gostar.

- Tenho dezesseis anos! – respondeu com orgulho.


- Ah, sim, uma idade de grandes decisões e responsabilidades.


 


Nós nos entreolhamos e acabamos rindo.

- Acha que sou criança? Não me parece tão mais velha. Só é muito alta.


- Só tô provocando você, que entrou pra faculdade muito novinha. Tenho 22 anos e 1metro e 80 de altura.


- Uau! Como é alta! E se quiser dizer que tem menos de 22 anos seria fácil de acreditar. E me impressiona ainda o modo como derrubou aquele rapaz. Apenas lamento pela violência, pois não gosto disso.


- Não uso violência à toa, mas às vezes é a única escolha.


- Você luta artes marciais?


- Não. Jogo capoeira.


- Capoeira? É uma dança luta, não é? Uma vez vi a apresentação de um grupo de capoeira em Londres lá na Convent Garden. – olhou-me excitada – Você sabe dar aqueles saltos e fazer aqueles movimentos complicados?


- Não sei o que você viu e, certamente, ninguém domina todas as técnicas, mas eu jogo já tem um bom tempo. Passei pra faixa vermelha no final do ano passado.


- Qual é a faixa vermelha?


- A última.


- Wonderfull! – ficou sem graça por ter falado inglês – E... Você tem um grupo fixo?


- Na comunidade onde moro nós temos uns projetos internos. Há pessoas que sabem fazer alguma coisa interessante e ensinam aos moradores a fazer estas coisas, só que de graça. O objetivo é afastar as pessoas da violência e das drogas. Eu mesma trabalho assim também. Dou aulas de matemática para a criançada aos domingos pela manhã, e participo do trabalho com capoeira aos domingos à tarde. Mas aí não atuo como professora, sou aluna. Porém, agora com a faixa vermelha já posso pensar em dar aula.


- E você fará isso?


- Acho que não. Vou continuar jogando com o grupo e de repente dando uma força pro mestre. Não tenho tempo de me dedicar ao esporte como gostaria. Prefiro me dividir entre as coisas todas que gosto de fazer.


- E que coisas são estas?


- Namorar, estudar, sair à noite na medida do possível, ir na praia jogar vôlei e tomar banho de mar, ler, ouvir música... Viver.

Any olhou pela janela para fora do ônibus. Pensou um pouco.


 


- Em Londres eu gostava das minhas aulas de dança, de tocar piano, de ir na igreja anglicana com vovó, de cantar no coral da igreja... O pastor fazia sermões lindíssimos! Tínhamos também trabalho comunitário junto aos imigrantes e demais pobres da cidade. Eu me sentia útil. Gostava de patinar no gelo, andar de cavalo, ler, estudar... Meus tios avós têm uma fazenda perto de Oxford e eu adorava ir para lá nas férias e ajudá-los com os animais e as obrigações do campo. Vovó fez um campo de girassóis, imitando um que ela viu na França, e eu corria como criança no meio das flores. O pôr-do-sol também era lindo e eu gostava de assisti-lo sentada na cadeira de balanço na varanda enquanto meu tio contava estórias de sua infância na Irlanda. Aqui no Brasil ainda estou meio perdida. Apenas estudo e leio. Vou na praia muito de vez em quando; acho que minha cor diz tudo.

- Não gosta de praia?


- Sim. Apenas não tenho companhia.


- Taís me disse que mora aqui há um ano mais ou menos.


- Sim. Chegamos em janeiro do ano passado. Mas minha mãe ouviu nos noticiários sobre um tal arrastão nas praias e daí não é muito simpática a elas aqui no Rio. Mesmo morando de frente para o mar.


- Nossa, mas também não é assim! Jogo vôlei na praia todo sábado de manhã, tomo banho, e nunca me aconteceu nada. Corro pela manhã aos domingos, tomo um banho e nada; graças a Deus.


- Acredito. Mas mamãe é extremada.

O ônibus chegou ao ponto final.

- Onde estamos?


- Praça General Osório. Ponto final. Vamos lá. Te levo até sua casa.


Descemos e  Any foi falando mais sobre si mesma. Falou de seus pais, de seu falecido avô embaixador brasileiro, de sua vida em Londres e do fato de ser filha única. Cada vez mais sentia simpatia por ela e aquela impressão chata da segunda-feira desmanchou-se completamente. Chegamos na Vieira Souto e andamos mais um pouco.


 


- E você? Disse quase nada a seu respeito, e eu aqui falando...


- Não tenho muito o que falar. – estava preocupada com a hora - Estamos longe da sua casa?

"Vovó vai me comer o fígado!"


- Ali. – apontou um prédio luxuoso de uns oito andares

"Nossa! Essa menina deve ter muita grana!" - E você mora em qual andar?


- Cobertura.


Andamos até a porta do prédio e a entrada consistia de duas portas: uma de vidro fumê, que se abriu quando entramos, e outra de aço, toda entrelaçada. O porteiro nos viu e cumprimentou-nos com a cabeça. Havia dois grandes vasos de argila, como que artesanato africano, ladeando a segunda entrada. Pude ver que internamente réplicas de quadros de Monet e Renoir enfeitavam a portaria. As paredes eram pintadas de uma cor como rosa chá, sendo que a frontal tinha tonalidade mais escura. O próprio porteiro estava impecavelmente uniformizado. "Que luxo!"

- Você quer entrar?

- Não, não. Já tá mais que na hora de eu ir pra casa.

- Eu tenho que agradecê-la por tudo mais uma vez. E essa experiência de usar o ônibus foi bem interessante. – pegou minha mão esquerda novamente – Tem certeza de que sua mão está bem?

- Está sim. – retirei-a de novo – Amanhã a gente se vê às nove, não é isso?

- Sim, é isso.

Ficamos nos olhando em silêncio por alguns segundos.

- Tchau! – dei meia volta

- Dulce ! – olhei para trás

- É... Tchau.

Segui meu caminho até minha casa, mas peguei um outro ônibus para me adiantar. Subi as escadas do morro pensando em como minha antipatia por  Any se converteu em simpatia em um estalar de dedos. Havia algo nela que... Não sabia. Cheguei em casa e minha avó assistia TV. Dei boa noite e ela se limitou a balançar a cabeça. Quando estava assim eu já sabia que não queria conversa. Tomei banho e fui cuidar do serviço que me esperava. Bem tarde puxei meu colchão para dormir e logo apaguei.



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Autor(a): portinons2vondy

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E lá estava eu na hora marcada em frente ao prédio luxuoso. O porteiro logo me abriu a portaria informando    - A senhorita Anahí interfonou me dizendo que a senhora chegaria por este horário e poderia subir direto. É a cobertura, pode subir. – olhou-me de cima à baixo. Olhei-o de cima à baixo também: ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 28



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  • marianac Postado em 22/06/2020 - 21:59:07

    A autora sabe que vc está postando a história dela aqui?

  • madilima Postado em 03/11/2015 - 20:15:32

    Termina a fanfic por favor!!! Quero muito saber o final!!!!

  • tammyuckermann Postado em 27/09/2015 - 00:17:41

    Posta mais pff

  • pekenna Postado em 08/04/2015 - 18:56:08

    voltaaaa please

  • nanda302 Postado em 26/03/2015 - 12:37:33

    Venho aqui diariamente ver se vc tem postado mas capítulos.... Estou louca pra vê o final dessa história... Por favor não demora a posta;-) OBG!!!

  • pekenna Postado em 25/03/2015 - 15:33:16

    volta a postar por favorzinhoooooo!!!

  • anymaniecahastalamuerte Postado em 10/12/2014 - 00:25:38

    Posta mais pleaseee!to morrendo pra saber oq vai acontecer!posta maaaaaais!

  • anymaniecahastalamuerte Postado em 06/12/2014 - 22:00:45

    Posta maaais please!VC pode dar uma passadinha na minha fic Os olhos da alma (portinon) ou divulgar ela??obg

  • anymaniecahastalamuerte Postado em 05/12/2014 - 01:24:15

    Brigaduu por postar!!!!!!nunca li ate o final,e gostaria MT de ler essa historia maravilhosa!!valeu MSM!!!posta maaais?obg

  • anymaniecahastalamuerte Postado em 24/11/2014 - 04:34:58

    Por favor posta mais me cadastrei aq só pra comentar essa fic maravilhosa!postaa please


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