Fanfic: Tudo Muda, Tudo Passa... ( Adaptada) Portiñón | Tema: Portiñon
As aulas recomeçaram e eu cursava apenas duas matérias, as últimas que me sobravam. Notei cochichos pelos corredores e que algumas pessoas riam de mim quando passava. Any notou a mesma coisa em relação a si mesma.
As Feiticeiras já não existiam mais; Aline, Taís e Soninha não falavam comigo, e nem eu com elas. No laboratório em que trabalhava todos agiam como se de nada soubessem, e eu preferi deixar tudo como estava. Any sentia o desconforto em morar na favela conosco, mas estava nos ajudando e não demonstrava insatisfação. Contudo o barraco parecia ainda menor e eu tive de ficar na sala de vez.
Na quarta-feira o coordenador do curso de Engenharia Civil chamou Any e eu para uma conversa na presença da coordenadora da habilitação Estruturas. Fomos juntas para a sala dele a já imaginávamos sobre o que iríamos conversar.
- Bom dia meninas. Sentem-se.
- Bom dia professores. – dissemos quase em jogral.
Sentamos em frente a eles, que ocupavam uma pequena mesa redonda. O coordenador Pedrosa começou a falação caprichando em caras, bocas e gestos.
- Como coordenador do curso eu às vezes tenho de assumir uma função meio... paternal, e me incomodou umas coisas que andei ouvindo. Chamei a professora Silvana para esta conversa pois ela é mulher e de repente isso faria com que vocês ficassem mais à vontade.
- Meninas, não fiquem assustadas, nós só queremos entender o que está acontecendo.
- E especificamente o que os senhores querem saber? – perguntei.
- Sem rodeios entre nós Dulce . – Pedrosa olhou para nós duas – Que conversa é essa de que vocês teriam um relacionamento e já estariam até morando juntas?
"Morando juntas é? A fofoca aqui é mesmo eficiente!"
- É verdade! Só não entendo porque incomoda tanto a Escola de Engenharia. – Any respondeu com toda sua classe.
- Meu Deus! – dona Silvana pôs a mão sobre a boca.
- Não é que incomodeAnahí – Pedrosa cruzou os braços – é que vocês poderiam ter sido mais discretas e não ter dado um show a parte numa chopada cheia de gente. Todos aqui tem mais o que fazer, mas vocês fizeram a coisa de uma tal maneira que viraram o assunto da Escola! E isso poderia ter sido pior, não fossem as férias pra quebrar o ritmo!– e olhando para mim – Dulce , você fez um rapaz fazer papel de idiota na frente de todos! As duas melhores alunas do departamento me fazem um papel desses! Vocês são o cartão de visitas daqui: notas altas, bom comportamento, e de repente isso! Já pensaram se o rapaz leva isso pra frente de alguma maneira? A engenharia civil vai cair em um péssimo estigma e nenhuma moça vai querer mais estudar aqui com medo de pegar fama de sa... – interrompeu a própria fala.
- Fama de que professor? – perguntei controlando minha raiva.
- Nós também podemos levar isso para frente de alguma maneira e o departamento ganhar um estigma de intolerância. Tudo depende de como a notícia seja dada, não é professor?
- Querida por favor – disse dona Silvana – não entendam mal. Estamos só zelando pelo bem comum e nós...
- Vamos parar por aqui? – interrompi o papo – Eu me formo no final do ano e se Deus quiser arrumo um bom emprego, e Any vai continuar estudando e tirando notão sem fazer nada que vá manchar o bom nome do departamento. – disse ironicamente. – Vocês logo vão se livrar de mim e então não têm razão pra isso. E quanto a Rogério, que ele se lixe! Aposto que não disseram que ele veio dar uma de machão pra cima da gente, ou disseram? – levantei-me ao me calar.
- Calma querida. – Any segurou minha mão delicadamente e continuou sentada.
Os professores observaram o fato e ficaram meio desconsertados. Pedrosa então resolveu acabar por ali.
- Olha! – esfregou o rosto com as mãos – Vamos fazer uma coisa então. – olhou para nós e abriu os braços- Essa conversa nunca aconteceu e nós nunca estivemos aqui, tudo bem? Volta a ser tudo como era antes.
- Concordo. – Any levantou-se – Dito isso, com licença professores porque todos temos muito a fazer, não é mesmo? – olhou para mim – Vamos?
Saímos da sala e meu sangue parecia ferver.
"Tudo como era antes? Nunca mais será como era antes Pedrosa!"
Nunca soubemos o que aconteceu na casa de Any quando seu pai chegou, mas dois dias depois disso, André, o motorista, sobe o morro à noite e chega com seu Neneco na porta de minha casa. Até que ele foi esperto e veio vestido de gente normal ao invés do uniforme de pinguim com o qual trabalha. Estava muito assustado e deu apenas um recado dizendo que o senhor Robert queria nós duas lá na cobertura no sábado pela manhã.
Estávamos desconfiadas e, chegando o dia, Any telefonou para casa pedindo para que os dois nos encontrassem em um quiosque no posto 6. Chegamos a pensar que poderia haver polícia nos esperando lá, e então não facilitaríamos. Muito a contra gosto os pais dela aceitaram. Estávamos escondidas e vimos quando os dois chegaram no carro com André e ninguém mais. Aparentemente, barra limpa.
- Francamente Any, nos fazer passar por esse constrangimento?- disse Jack apreciando o quiosque com cara de nojo.
- Achei que nossa conversa deveria ser em território neutro.
Robert Flatcher me olhou com ódio.
- E pensar que você pisar em meu casa!
- Se iremos começar assim, vamos embora agora! – Any ameaçou.
- Não! Já que viemos até aqui, que não seja em vão.
Pela primeira vez eu concordava com minha "sogra". Para quebrar o clima ruim Any pediu côco para nós.
- E então? Quem começa a falar primeiro? – perguntei.
- Você não querer Europa, não é Any?
- Não papai. Nem insista com isso! Nem mesmo se a vovó cortar minha pensão.
- Anteontem seu pai e eu conversamos longas horas com sua avó ao telefone, e ela disse que não vai mexer em um centavo de sua pensão. Até me pareceu que ela está concordando com isso.
"Grande vovó!"
- Jack, please. Let me talk to my daughter.
- Pai, Dulce está aqui e se quiser conversar será em português.
- Any, quero que volte para seu casa! Seus coisas lá, seu vida lá também.
- Eu não vou desistir da Dulce .
- Eu não dizer isso, só pedir para você voltar.
- Precisamos de um tempo pra resolver tudo isso minha filha! Volte pra casa, por favor! – Jack pediu com cara de choro.
- Resolver tudo o que mamãe? – Any perguntou desconfiada.
- Tudo, como vai ficar. Eu já nem sei o que responder quando me perguntam por você. E olhe suas mãos – segurou as mãos da filha – Anda lavando louças ou fazendo limpeza?? – perguntou chocada – Uma Flatcher não faz isso, jamais! E olha seu cabelo, sua pele... Oh, filha está tão maltratada! Daqui a pouco vai ficar uma mulherzinha como essa daí! –olhou-me com desprezo.
Não perdi meu tempo respondendo. Any recolheu as mãos do contato com Jack.
- Mãe eu não vivo na casa dela para ser servida e ficar a toa. É claro que eu trabalho, mas não estou "maltratada". Além do mais estou no Cantagalo só há alguns dias e nem daria tempo para tanta coisa!
- Não se chega a acordo com conversa vazia. Any, volte seu casa e chega isso tudo! Eu não vou interferir nesse seu... relacionamento. – olhou-me com nojo.
- Filha, façamos assim: você disse que ela se forma em dezembro. Pois bem, você volta pra casa, fica lá e se em dezembro ela arrumar um emprego – e olhando para mim – de verdade, aí vocês moram juntas em algum apartamento e nós não iremos interferir.
- Eu só pedir vocês disfarçar como faziam antes. – complementou o pai.
- Sim, e vocês podem se encontrar quantas vezes quiserem, mas com discrição e cuidado. Daí nós continuaremos vivendo como se nada estivesse acontecendo.
- E não se falar mais nisso.
- É como se nós nem soubéssemos de coisa alguma. – Jack sorriu – A Dulce seria só sua coleguinha da faculdade e todos viveríamos felizes para sempre.
- E por que me querem tanto de volta? – perguntou desconfiada – É só com medo de não ter mais desculpas para dizer aos outros?
- Nós querer você em casa. Ter saudade!
- Sentimos sua falta querida.
Any ficou pensativa e me olhou. Decidi me pronunciar.
- Dêem um tempo pra ela. Não vai decidir isso aqui e agora. Deixa ela pensar.
- Pensar em que? Qual o seu interesse? Colocou minha filha para lavar suas calcinhas? – Jack perguntou impaciente
- Não. Nem eu nem ela temos mais tempo de usar isso.
- God, how rough!- Robert se estressou.
- Chega! Dulce tem razão! – Any levantou-se – Não vou decidir isso assim. Vamos embora Dul . – e olhando para eles – Preciso de um tempo.
- But Any you don’t... – o pai se levantou nervoso.
- Robert deixe! – Jack segurou o braço do marido – Ela é teimosa demais, não vai ceder. Quer um tempo Any, então você tem uma semana. Mais que isso sem uma definição e consideraremos que não temos filha. – seu tom era duro.
- Não levarei mais tempo que isso. Agora pare pois não gosto de ameaças, e não tenho medo de suas ameaças. – segurou minha mão.
Saímos do quiosque de mãos dadas e eu parecia sentir os olhos de Jack e Robert queimando minhas costas.
O tempo estava encoberto e um vento frio soprava sem parar. A praia estava bem vazia. Além de surfistas, mais umas poucas pessoas e nós.
- Sabe que o papo com seus pais foi muito menos pior do que imaginava? – caminhava descalça na areia.
- Claro, estávamos na rua e eles não fariam coisa alguma para chamar atenção. – Any olhava para o horizonte fixamente.
- Que achou do que disseram?
- Horrível! Uma solução hipócrita! Estão muito mais preocupados com a opinião pública. – andou até que a água molhasse seus pés e parou diante do mar. Fui até ela.
- Hipócrita, mas é o que de melhor vamos conseguir deles. – cruzei os braços - Sua mãe deve achar que até dezembro a gente termina. Ela até, na certa, planeja te apresentar a alguém, ou a mais de um alguém e com isso me tirar da sua cabeça.
- Perderá tempo! – olhou para mim – Mas e você? O que achou do que eles disseram?
- Acho que você deveria aceitar – olhei para ela.
Any caminhou um pouco mais para longe de mim e perguntou: - Por que? – senti uma certa decepção em sua voz.
Novamente me aproximei.
- Meu amor, a vida no morro é muito difícil! Você agora acorda cedinho, pega ônibus, trabalha em casa... Meu barraco é apertado e você sente essas coisas, eu sei. Não reclama, mas eu sei que está estranhando. Além do mais suas coisas estão na sua casa e vira e mexe você precisa de alguma delas e não tem a mão.
- Isso tudo é bobagem. O ser humano se adapta sempre quando quer. Além do mais sua avó foi rica e vive humildemente há quanto tempo?
- Any, eu sei disso, mas não é por aí. Além do mais tenho medo dos traficantes cismarem com você. Tem gente que sabe que você não é nenhuma pobrezinha.
- Quer que eu vá não é? – seu tom era de tristeza – Tudo bem. Se incomodo não tenho porque ficar... – abaixou a cabeça.
- Ei! – segurei suas duas mãos – Ei! Olha pra mim amor.
Ela lentamente levantou a cabeça
- Você não incomoda! Eu só não quero que tenha uma vida difícil desnecessariamente. Eu te amo e ficar com você não me incomoda nem um pouco. E nem vovó reclamou! Escuta, a sua mãe disse uma coisa certa. Eu me formo no fim do ano e vou arrumar um emprego se Deus quiser. Aí a gente vai morar junta num apartamento alugado e acabou.
- Mesmo?
- Tem minha palavra. Uma vez eu disse que viveria como que casada com você. Aquilo era uma promessa.
- Não vai desistir de mim?
- Desistir de você seria desistir de viver.
Ela sorriu e me abraçou. Segurei seu rosto com as mãos.
- Vou te beijar agora.
- Em um lugar público? – perguntou surpresa.
- A gente não deve abusar porque tem muito homofóbico maluco por aí, mas... – beijei seus lábios. E nos perdemos em um beijo delicioso.
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Pouco tempo depois Any voltou para casa e seus pais cumpriram a promessa. Agiam como se de nada soubessem e como se nada houvesse acontecido. Apenas, como eu suspeitava, Jack passou a apresentar vários rapazes a filha, mas em vão. Não nego que tinha ciúmes, mas me controlava.
As coisas foram indo na mesma. Notei que, no fim das contas, havia perdido alguns colegas na faculdade, além das Feiticeiras, o que me entristeceu. As pessoas são preconceituosas e isso dói. Alguns caras jogavam umas indiretas, do tipo de querer sair com nós duas, mas nenhum foi direto ao assunto, e daí eu fingia não entender. Incrível como os homens não respeitam nem o fato de uma mulher se apaixonar por outra.
Rogério e uns caras sujaram o carro de Any com estrume, e foi o que se limitaram a fazer. Ela me proibiu de revidar de qualquer forma que fosse. Escreveram bobagens em portas de banheiro, mas fingimos não reparar. Eu andava trabalhando como louca para concluir meu projeto de formatura, e ao mesmo tempo mandava currículos para vários lugares. Não havia perspectivas de um bom concurso público na minha área, e me concentrei na iniciativa privada.
Estávamos no começo de outubro e eu havia gasto boa parte de setembro em canteiros de obras. Consegui, inclusive, informações suficientes para submeter meu projeto para o concurso da siderúrgica. Any reclamava que eu dava pouca atenção a ela, mas eu queria que ao final de tudo uma boa chance aparecesse e nós pudéssemos montar nossa vida juntas.
Vovó e eu nos descobríamos mais amigas a cada dia. Ela rezava todas as noites para que eu conseguisse um bom emprego. Com o dinheiro de uma das consultorias comprei uma TV nova para ela, e com controle remoto. Ficou toda prosa! Ainda reservei um hotel legalzinho para ela se hospedar e passar o final de semana em Petrópolis. Dona Maria se empolgou com a idéia e decidiu ir junto; daí dividiria a despesa comigo. Dei ainda um dinheiro para que comprasse roupas na rua Teresa.
Autor(a): portinons2vondy
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 28
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marianac Postado em 22/06/2020 - 21:59:07
A autora sabe que vc está postando a história dela aqui?
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madilima Postado em 03/11/2015 - 20:15:32
Termina a fanfic por favor!!! Quero muito saber o final!!!!
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tammyuckermann Postado em 27/09/2015 - 00:17:41
Posta mais pff
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pekenna Postado em 08/04/2015 - 18:56:08
voltaaaa please
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nanda302 Postado em 26/03/2015 - 12:37:33
Venho aqui diariamente ver se vc tem postado mas capítulos.... Estou louca pra vê o final dessa história... Por favor não demora a posta;-) OBG!!!
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pekenna Postado em 25/03/2015 - 15:33:16
volta a postar por favorzinhoooooo!!!
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anymaniecahastalamuerte Postado em 10/12/2014 - 00:25:38
Posta mais pleaseee!to morrendo pra saber oq vai acontecer!posta maaaaaais!
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anymaniecahastalamuerte Postado em 06/12/2014 - 22:00:45
Posta maaais please!VC pode dar uma passadinha na minha fic Os olhos da alma (portinon) ou divulgar ela??obg
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anymaniecahastalamuerte Postado em 05/12/2014 - 01:24:15
Brigaduu por postar!!!!!!nunca li ate o final,e gostaria MT de ler essa historia maravilhosa!!valeu MSM!!!posta maaais?obg
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anymaniecahastalamuerte Postado em 24/11/2014 - 04:34:58
Por favor posta mais me cadastrei aq só pra comentar essa fic maravilhosa!postaa please