Fanfics Brasil - CAP 1 - O Tordo Voraz

Fanfic: O Tordo Voraz | Tema: Jogos Vorazes


Capítulo: CAP 1 -

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Entender as pessoas seria fácil, a não ser que você fosse eu. Compreender minha mente é perturbador, compreender a mente das pessoas é assustador. A capacidade que o ser humano tem de realizar façanhas, de atos cruéis, de pensamentos sujos e perversos, e a manipulação, a falsidade pela qual eles se baseiam para fingir que se importam com o próximo.
Denominam humanos como animais racionais, mas, pra mim, eles são os piores. São dissimulados e capazes de atos de tamanha crueldade em favor daquilo que tanto desejam. Não existe justiça aqui, não existe democracia aqui. Nossa escola, nosso hospital, nosso governo, tudo não passa de uma farsa, de algo planejado e mutualmente manipulado. O mais desastroso é que cada cidadão aqui tem a ideia de que isso tá acontecendo, mas, é obrigado a viver uma farsa, como se não soubesse de nada, como se estivesse vendo tudo sobre uma névoa. Mas, infelizmente ou felizmente, comigo as coisas não funcionam assim. Eu nunca serei escrava desse sistema, nunca serei submissa a injustiça, e ela é a coisa mais presente por aqui.
Me chamo Sam, tenho 15 anos e moro no lugar mais ultrapassado do mundo. O lugar onde, mesmo estando hipoteticamente em seu tempo, a politica se esconde em caracteristicas de tempos passados e de pura injustiça. Vivo aqui com minha família, na verdade, com o que sobrou dela. Meu pai, minha mãe e meu irmão mais velho, Simon, num casebre numa vila da cidade. O problema na cidade é que as vilas são abandonadas pelas autoridades, esquecidas, definitivamente. Isso é terrivelmente angustiante já que somos submetidos a ideais de injustiça e inúmeras diferenças sociais pelo órgão que nos representa. A vida por aqui é estranha. As crianças são preparadas para o exército para ser um soldado, para defender a cidade, um médico ou um enfermeiro para cuidar dos feridos que existirão dos resultados da guerra. Meu irmão tem 17 anos, está no último ano escolar, e assim que finalizar ele será transferido para o exército. Nosso prefeito afirma que a preparação logo no infância, o sofrimento vivenciado desde o inicio trará bons resultados para a irá futura de nossos soldados. Como se só existisse dois jeitos, morrer lutando na guerra ou morrer vítima dos bombardeios da guerra.
Estudo no único colégio da Vila, e nunca fui boa com pessoas, nem fui popular, também não quis isso. Na verdade vou ao colégio obrigada, afinal, aqui o sistema é rigído. Temos horários e regras pra tudo, caso recuse isso, você sofrerá as consequências. Eu sei que essas consequências são sérias porque meu melhor e único amigo, Andrew já foi preso. Ele tem 16 anos, e pensa como eu, sabe que sofremos injústiças, que temos nossos direitos e nunca aceitará isso calado. Andrew não tem ninguém, perdeu os pais e os irmãos num bombardeio. Ele mora no abrigo da Vila, trabalha no armazém principal e ainda reserva seu tempo pra estudar. Talvez toda revolta dele esteja relacionada ao fato desastroso que é a vida dele, mas ele nunca abaixou a cabeça pra nenhuma argumento injusto, ou seja, ele sempre é chamado atenção pelos oficias de justiça. Na última vez, o Andrew estava no armazem quando os oficiais chegaram pra recolher o dinheiro do povo. É o seguinte, não basta roubar do povo por meio de trapaças, roubam de maneira clara, descaradamente. O Andrew trabalha com a Suzanne, eles vendem verduras, ela cuida dele desde toda tragédia. Enfim, ela não tem vendido muito, está doente e o Andrew tem que se dobrar entre as vendas e o colégio. O caso é que ela não tinha o dinheiro, e eles bateram a Suzanne, bateram tanto que quando o Andrew chegou ela já estava desacordada. Então ele, sozinho, enfrentou o batalhão do recolhimento. Todos os moradores da vila assistiram os oficiais espancarem a Suzanne e o Andrew, eles não concordam, mas, antes de qualquer ato eles pensam em suas crianças, em sua família, coisa que o Andrew não tinha. Eles machucaram tanto o Andrew, ele ficou internado por semanas e recebeu mais uma advertência. A lei por aqui é clara, dez advertências você vai pra Praça principal ser espancado até a morte. O Andrew já tinha cinco, e eu estava ficando desesperada por ele. Eu tenho três, e se você acha que por eu ser uma menina não apanho está enganado, eu apanho tanto quanto o Andrew. Aqui, os direitos a surra são iguais.
Eu gosto de ficar com o Andrew, nós conversamos sobre tudo, fazemos planos, imaginamos e claro, debatemos sobre tudo que achamos errado. Todo dia bem cedinho nos encontravamos no fim da vila, antes do sol aparecer, antes de todos acordarem, tinhamos de ter cuidado, os oficiais vigiavam vinte e quatro horas por dia em busca de qualquer infrator. Na verdade, o prefeito deixou claro que queria oficiais vigiando a mim e o Andrew, sempre. Naquela manhã de Quinta-Feira, nos encontramos no mesmo horário de sempre, quatro da manhã, sem nenhum restigio do sol: 
– Sam!
– Oi Andrew!
– O que houve garota, parece que está sendo vigiada?
Esqueci de mencionar o senso de humor ridículo que o Andrew tem. Poderia dizer algo, mas, sinceramente não tinhamos muito tempo juntos.
– Andrew, por favor!
– Sam, você precisa de humor. A vida é muito mais que isso.
– Não Andrew. Nossa vida é limitada a tudo. Eu to cansada disso tudo.
– Eu sei. Eu também Sam. Ás vezes tenho vontade de fugir daqui.
– Andrew, você não pode.
– Eu não vou te deixar sozinha. Você é tão insuportável que te matariam. Só está viva graças a mim.
Nós rimos e passamos o resto do nosso tempo sentados, assistindo o sol nascer e pensando na possivel existência de uma vida melhor.
– Andrew, eu tenho medo. Você tem cinco advertências, é impulssivo, desastrado.
– Fica tranquila Sam, ainda faltam cinco. Vou tentar me controlar, não quebrar tudo por ai.
Escutamos a sirene. Ela toca pra avisar a vila toda que é hora de acordar. E nossa conversa precisa acabar.
– Te vejo no fim da noite? Perguntou ele.
– Claro. Te cuida. Tenta não morrer! 
– Não garanto. Minha beleza causa inveja, meu brilho causa insanidade.
– Andrew, cala a boca.
No resto do dia eu teria o colégio, as obrigações de casa, e ainda tinha que me despedir do meu irmão, era a formatura dele, ia pro exército logo.
Ao chegar na escola soube que os formandos, o que incluia meu irmão, foram adiantados e já estavam a caminho da arena do exército, ou seja, ele se fora e eu não tive a oportunidade de me despedir dele. A professora explicou que o país estava em guerra, e que os formandos foram convocados. Eu só conseguia pensar no meu irmão, idiota, tolo, imbécil. Meu irmão, ele estava longe, e eu nem me despedi dele. 
– Alunos, ordem! Temos a honra de trazer nosso prefeito para o pronunciamento oficial dos nomes dos formandos, e a entrega dos diplomas de ordem e obediência aos familiares. Senhoras e senhores. nosso exelentissimo prefeito, o Sr. Loot.
O Sr.Loot governava a cidade. Ele era um cara de meia idade, tinha os cabelos brancos e uma barba estranha. Usava os óculos acima do nariz, e sempre nos olhava por cima deles, com um ar superior e vingativo.
Olhar aquele homem me dava nojo, me fazia ter ódio, um ódio interminavel. Uma mistura insana de todos os possíveis sentimentos. Uma vontade da luta pela justiça, algo que ele nunca nos proporcionou por aqui.
– Exército, familiares, crianças. Nossa nação precisa de vocês, precisamos defender nosso lar. Precisamos defender Wantoo. Conto com vocês para realizarmos nossa façanha de acabar com as esperanças de outros estados. Nos entregaremos a qualquer coisa por nossa nação. Daremos nossa vida por Wantoo. 
Ninguém disse nada. Esse lema de "Tudo por Wantoo" foi criado pelo governo. Ninguém suportava o governo, nem concordava, mas ninguém reivindicava. Wantoo era tomada por medo e repressão. Infelizmente, Sr. Loot continuou:
– Os filhos de Wantoo rumo a guerra. Pela defesa de seu povo!
Olhei de longe e avistei o Andrew, ele estava sentado diferente de todos outros alunos e familiares que estavam em pé, em respeito a imagem do prefeito. Eu não percebi, mas, também estava sentada. Ele me viu, fez sinal negativo, e levantou:
– Prefeito Loot, que direito você tem de levar crianças pra uma guerra?
Ele é idiota, um completo idiota! Eu o odeio, odeio. Eu não posso perdê-lo, não posso.
– Como é garoto?
Nesse momento todos os oficiais estavam preparados para matar o Andrew. Mas o próprio Loot fez um sinal para que eles esperassem.
– Exatamente! Ninguém concorda com nada disso. Essa ação ridícula de convocar crianças a um destino presumido a guerra. Não podemos perder nossos filhos e nos calar. É preciso que se tome alguma iniciativa.
– Garoto, desça daí, e cala a boca se não prefere sofrer com as consequências.
– Que consequências, disse Andrew chorando. - Você já levou minha família. O que eu perderia?
– Levem o garoto. Andrew Hylian, você tem cinco advertências, e essa falta valeu por três, então.
– Não! Eu gritei com toda minha força.
– Segurem a garota, disse o prefeito.
– Vocês não entendem? Isso é ridículo! Tudo que passamos, tudo que sofremos aqui. Nossos parentes e amigos que se vão sem nenhuma escolha, sem nenhuma certeza. Vocês nunca perguntaram o porquê dessa guerra? O motivo de tanto ódio, de tanta repressão? disse Andrew
– Andrew, não! Gritei, mas pouco ouvi minha voz. Levaram ele acorrentado
O problema aqui na cidade é sempre o mesmo, as pessoas assistem a tudo abismada, inconformadas, mas nada fazem.
Olhei ao redor a procura de alguém, avistei meus pais, eles estavam chorando muito. Entrlacei os dedos e segui na direção deles. 
Minha mãe é uma descendente de Méxicanos. Ela tem os cabelos pretos e lisos escorridos sobre os ombros. Os olhos castanhos e a pele escura, no tom marrom. Ela é simplesmente linda. Ela estava com um lindo vestido azul, com os caabelos soltos. Meu pai é um descendente de Escocês. Tem os cabelos loiros, olhos estramamente azuis e uma pele clara. Eu e meu irmão somos totalmente diferentes, Simon tem a cara do papai, ele é loiro, mas possui os olhos castanhos. Eu, tenho os cabelos como os da mamãe, mas, tenho olhos azuis. Aqui em Wartoo as pessoas se parecem. Existem muitos descendentes de méxicanos e de espanhois por aqui.
Papai abraçava mamãe como se tivessem sofrendo alguma perda, e estavam.
– Pai, mãe, eu ... me desculpem.
– Samantha. Onde esteve? Seu irmão se foi, você não tava aqui para se despedir. Você sabe que eles raramente voltam. É uma viagem de ida, disse minha mãe chorando.
– Mãe, eu tentei. Achei que a cerimonia seria á noite, eu ...
– Estou farta de desculpas Samantha. Você é insana. Age como se seus atos melhorassem algo por aqui. Pra mim chega!
Minha mãe nunca gostou de mim, nunca. Ela sempre dizia que eu fui um erro. Algo não planejado. E que desde cedo, levo problemas para a família. A única pessoa que me dou bem é o meu pai, ele me ajuda com tarefas, e quando não está trabalhando, nós andamos muito pelas casas e estradas da vila. Ás vezes, vamos ao rio pescar. Ele sempre diz que eu tenho um dom especial, e que eu preciso me aflorar sobre ele. Meu irmão sempre foi protegido pela minha mãe, ele nunca aprontou nada, e sempre obedeceu as ordens do pai e da mãe. O único problema do meu pai é que ele é submisso as ordens da minha mãe. Aceita o que ela diz e cala-se satisfeito.
– Mãe, me desculpa ... eu
– Chega Samantha! Você nunca tomará jeito. Eu preferia ter o Simon aqui comigo.
Você deve pensar que eu me importei com isso, que eu estou triste por minha mãe me odiar e desajar que eu fosse no lugar do meu irmão. Não, isso sempre foi normal pra mim. Minha relação com minha mãe sempre foi muito fraca.
– Eu estou cheia mãe, cheia do governo, cheia das pessoas que são vítimas e sofrem essa repressão e cheia de você.
Saí, eu estava com muita raíva, além de tudo acontecer ao mesmo tempo, com a mesma intensidade. Andrew, prefeito, Simon, minha mãe, a Suzanne. Eu preciso ir contra tudo isso, eu preciso de voz. Morrerei, mas lutarei.
A primeira coisa que eu quis procurar foi o Andrew, ele estava em algum lugar, sofrendo, sozinho. E eu preciso dele aqui, comigo.
– Andrew, Andrew, Andrew !
– Oi, disse uma voz rouca, quase imperciptivel.
– Andrew? 
– Não. Não sou seu amigo.
– Quem é ... quem?
– Sou o Sean. Eu moro aqui na vila, duas casas depois da sua.
– Oi Sean, desculpa, eu preciso do ... achar o Andrew.
– Eu sei onde ele está. Siga-me.
Agora me recordo desse menino, o Sean. Ele é da minha idade e estuda comigo. Como nunca me importei com colegas de classe, nunca reparei bem nele. Mas, ele sempre esteve ali, calado. Ele mora perto de mim, sua família é dona de uma oficina no centro da Vila. Ele mora com os pais e a irmã mais velha, a Elizabeth. Digamos que, além de não ter muitos amigos, alguns não gostavam muito de mim. Elizabeth deve ser a presidenta do fã clube "Odiamos a Sam". 
Sean era mais alto que eu, não como o Andrew, mas, bem parecido. Tinha os cabelos pretos, com alguns cachinhos. Um sinal na bochecha e uma falha na sombrancelha. Sean trabalhava no centro da vila, na loja de automóveis do pai. Vivia sujo de graxa, e hoje estava quase irreconhecível limpo.
– Quase não conheci você.
– Estou limpo demais né?
– Quase isso, falei.
– Olha Samantha, eu ...
– Sam, é ... me chama de Sam.
– Claro, Sam! Eu achei muito corajoso o que seu amigo fez.
– Corajoso e perigoso.
– Se ninguém pensar como ele ficaremos presos aqui, nessa democracia conjurada pra sempre.
– Como assim?
– Sabe Sam, disse ele baixinho - Eu sempre tive esperança que no meio de todo o povo que retribuia aos mandatos rígidos do nosso corrupto governo tinha uma pessoa diferente, tinha alguém que achava que essa injustiça deveria acabar.
– Sean, onde você quer chegar com isso?
– A maneira que ele falou, percebi que pensa como eu, ele quer mudança! Podemos lutar por essa mudança, mesmo sabendo que a morte é certa.
– Não Sean, a morte não é a única opção. Preciso achar o Andrew, você ... você disse que sabia onde ele estava.
– E sei, vamos. Estamos quase lá.
Andamos um pouco, foi quando percebi que nunca tinha notado no Sean, o quanto aquele garoto se parecia comigo e com o Andrew. Andamos alguns metros nos afastando do centro da Vila, e chegamos a cadeia. Com certeza o Andrew estaria ali.
– Ali está ele, Sam! Calma, temos que esperar os oficiais sairem.
Quando pude enxerga-lo tudo ficou claro. Ele tinha levado uma surra. Estava totalmente machucado. Eu comecei a soluçar de uma meneira estranha.
– Ele está machucado!
Sean me segurou pela cintura com força e disse olhando diretamente nos meus olhos, a uns três centimentros de meu rosto:
– Calma! Nós vamos salva-lo. Vamos resgatar seu amigo.
Afirmou com tanta convicção, e depois deu um sorriso meio tímido e disse:
– Você precisa confia em mim, tá?
– Tudo bem! 
Esperamos pacientemente até os cinco oficiais sairam, e chegou um guarda para a vigilia noturna.
– Sam, espera aqui. Disse Sean.
– Nem pensar garoto. Não posso deixar o Andrew.
– Sam !
Entrei no salão e dei um golpe no guarda. Sean abriu a sela e tirou o Andrew de lá.
– Ei, quem é ... 
– Calma garoto. To aqui pra ajudar. Estou com ela!
– Sam!
– Oi Andrew! Você está ... bem. Ele está machucado demais, disse olhando para o Sean - E eu não tenho mais casa.
– Como assim? E a sua casa? Perguntou Sean.
– Briguei com minha mãe, ela com certeza me colocou pra fora.
– Tudo bem. Vamos pra oficina. Afirmou Sean.
– Não tem ninguém lá? pergutei
– Não. A essa hora, com certeza não.
Saímos em direção a oficina. Sean carregava Andrew nos braços e eu ia na frente. Estava com a mochila nas costas, dentro tinha um casaco e os materias escolares. Chegamos na oficina, estava escuro e realemente vazio. Eu rezava para que tivesse água e comida. A essa altura eu me sentia uma fugitiva prestes a morrer desidratada.
– Entre, precisamos avaliar o que aconteeceu com ele. Disse Sean.
Realmente. Olhando por alto eu pude perceber um pé quebrado, um corte imenso no supercilho e uma perfuração profunda no braço direito. Tentei levanta-lo, mas ele gemeu de dor, desesperadamente:
– Talvez tenha quebrado algumas costelas, disse Sean - vou pegar algumas coisas aqui.
Ele estava acabado, eu me sentia culpada. Sentei ao seu lado e debrucei-me sobre seu corpo. Ele estava acordado, gemendo de dor, mas, consciente.
– Ei, eu prometi que ia ficar vivo lembra? disse ele.
– Nem pense em desobedecer.
– Eu seria um louco.
– Sean me ajudou a te achar. Ele foi em busca de remédios.
– O que será de nós?
– Não sei, mas, assim como você, agora não tenho mais família.
– Ah! O que houve com ...
– Eles estão bem. Eu só fui colocada pra fora.
– Você é impossível !
– Descanse Andrew! 
– Eu preciso te proteger.
– Hoje esse é o meu papel.
Debrucei sobre seu rosto, senti que ele sofria, ele queimava em febre. Acariciei seus cabelos e fui me aproximando até que senti seus lábios tocarem os meus.
– Te amo, disse ele delirando.
– Descanse, eu disse friamente.
Algum tempo depois, Sean entrou na sala principal da oficina com uma maleta, um jarro com água e álcool.
– Encontrei algumas coisas.
– Muita coisa, eu disse rindo. - Além de mecânico você é médico?
– To quase lá. Disse sorrindo.
Ele abriu a maleta, tirou algumas coisas de lá e começou o serviço.
– O que eu posso fazer? perguntei
– Descansa um pouco. Eu fico vigiando ele.
Realmente, eu precisava descansar. Estava cansada, com raiva, triste e com muita fome. Mas, não é hora de bancar a coitadinha. Tentei dormir um pouco, esquecer tudo. Mas a preocupação tomava conta de mim. Lá no fundo eu sabia que eles descobririam sobre o Sean, que ele me ajudou a tirar o Andrew da cadeia. Era questão de tempo para estarmos encrencados e provavelmente mortos. Além de morrer, eu teria que sofrer após a morte por levar a culpa sobre a morte do Andrew e do Sean. Pensei no meu irmão. Sozinho, sem a mamãe, ele é tão estúpido. Eu sinto tanto a falta dele. 
– Ei Sam! Acorda, disse uma conhecida voz rouca.
– Sean? O que houve?
– Precisamos sair antes que o meu pai chegue. Vem, eu sei onde vocês podem ficar. Me ajude a levantar o Andrew.
Andrew dormia profundamente. Agora estava com algumas faixas, e aparentemente melhor.
– Ele vai ficar bem?
– Sim. Precisa descansaar um pouco.
– Sean, seus pais ... eles não se preocupam com você? Quer dizer, dormindo fora de casa. Você tem quinze anos não é?
– Sim. Eu durmo aqui na oficina de vez em quando, eles sabem. Vamos, temos que nos apressar.
Observando o Sean percebi que ele também deve ficar sozinho nos cantos. Ele nunca teve muitos amigos. Sempre me recordo de vê-lo sozinho nas aulas ou na oficina sozinho até tarde. Uma vez ele me ajudou a consertar a minha bicicleta. Olhando agora, lembro-me bem. Ele tem uma expressão de conforto. No momento de pavor que tive vendo o Andrew machucado, e ele afirmou que daria tudo certo, eu tive confiança nele. De uma forma indireta, eu sabia pela calma e confiança de sua voz que daria tudo certo.
Andamos uns dois kilometros, eu carregava um bolsa com as coisas do colégio, a maleta de primeiros socorros. Sean carregava o Andrew pelo ombro. E o Andrew roncava. Chegamos numa casinha no meio do mato. Era pequena, tinha um quarto e uma cozinha apenas. Estava bem escondida, parecia ter sido contruída como um abrigo.
– Sean, de quem é essa casa?
– Não sei! Encontrei por ai. Mas fique tranquila, ninguém sabe da existência dela, além de mim, e você agora.
– Obrigada Sean!
– Entre. Eu vou em casa, pegarei algumas coisas pra vocês comerem. Voltarei logo.
– Sean .... eu
– Já volto. Entre, e cuide dele.
Entrei na casa, estava abandonada. Tinha um colchão no chão, tratei rapidamente de arrastar o Andrew e coloca-lo sobre o colchão. Peguei o casado e cobri suas pernas. Vasculhei o outro cômodo a procura de algo para comer. Não aguentaria esperar o Sean. Além do mais, a única água que tinhamos acabou. Se eu não morrer de fome, morro desidratada. Andei pelos arredores da casa a procura de qualquer sinal de água, mas não encontrei nada. Resolvi sair, procurar algo para comer, algum sinal de água, um riacho. Mas, não achei nada. Quando entrei novamente, o Andrew estava acordado, sentado a minha espera.
– Andrew, você se sente melhor?
– Sim. Estou bem! Onde está o garoto?
– Ele foi em busca de comida.
– Por que?
– Porque estamos com fome. E, ele é o único de nós que pode sair sem ser preso por desacato ou morto por fugir da cadeia..
– Como assim, "o único de nós"? Você o conhece?
– Sim. Quer dizer, mais ou menos. Ele estuda na minha sala, trabalha na oficina da família, no centro da Vila.
– Sam. O que aconteceu? Até onde eu lembro, fui pego por desrespeito a autoridade. 
Contei tudo ao Andrew, do inicio, nossa conversa de madrugada, até o momento em que dormimos na oficina do pai do Sean. Não toquei no assunto do beijo, acho que ele estava realmente lunático naquela hora, e eu não tenho ideia do motivo de ter feito aquilo. Mas ele me surpreendeu:
– Sam! Me desculpe! Eu não pude suportar aquele homem falando. Não sei o que houve comigo.
Fiquei calada. Eu esperava uma reação do meu corpo para o motivo de ter beijado o Andrew. Ele era meu melhor amigo. Sabiamos tudo um do outro. Eu não podia mentir para ele sobre o que sentia. Toquei sua testa, ainda estava quente, ordenei para que deitasse e descansasse um pouco. Saí e tentei esquecer tudo por um tempo. Andei sem rumo, até avistar alguém:
– Sean? sussurei
Quando me aproximei pude perceber que eram três oficiais. Eles estavam armados e procuravam por alguma coisa. Mas, como eles chegaram até aqui se o Sean tinha afirmado que mais ninguém sabia dessa casa. Será que ele contou tudo. Eu preciso acordar o Andrew rapidamente e fugir daqui. Corri em direção a entrada da casa, procurei o Andrew por toda parte, não encontrei. Eu estava desesperada. O Andrew tinha sido pego, talvez morto ali mesmo. Tentei procurar de longe, até avista-lo. Ele estava desacordado e algemado, sendo levado no carro oficial para a cadeia ou provavelmente para a Praça principal, onde seria morto na frente de todos os moradores da Vila. Tenho um sério problema em compreender a mente pertubadora das pessoas, e um problema maior ainda em compreender a minha. Não lembro de muita coisa, queria gritar, gritar pelo Andrew, pelo Simon, pela minha mãe, meu pai, pela guerra, pela Suzanna, pelo Loot e principalmente, pelo Sean.



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Autor(a): vanessa_ribeiro

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