Fanfic: Uma vizinha especial AyA (Adaptada) | Tema: AyA

Anahi manobrou a picape no pátio de entrada de uma casa que agora tinha mais grama que cascalho. Desligando o motor, suspirou ao olhar a antiga construção vitoriana que fora, um dia, um quadro de beleza.

A pintura impecável estava agora desbotada, assim como os detalhamentos em madeira, graças ao clima do Alabama. Havia diversos vidros quebrados, alguns deles responsáveis por manter a privacidade da casa.

Desceu do veículo para a ensolarada manhã de julho. Fechou a porta e ajeitou os cabelos sob seu boné de beisebol. Dando uma olhada para a tranqüilidade da rua, perguntou-se onde estaria Lance. Seu assistente prometera encontrá-la ali às oito em ponto, e já estava cinco minutos atrasado.

Anahi atravessou o jardim mal-cuidado em direção à residência. Um veículo chegando no pátio chamou-lhe a atenção, e ela soube, antes de ver quem era, que não se tratava de Lance. Ele tinha uma Harley enorme e barulhenta.

Uma radiopatrulha parou atrás de sua picape, e Phil Gerard desceu, sorrindo largo. Apesar de estar bastante irritada com ele, Anahi forçou um sorriso e se obrigou a manter a calma.

- Bom dia, Any. - Ele se aproximou, rodando seu quepe na mão, o remorso estampado na face. - Tudo bem?

- Bom dia, Phil. - Trocou a sacola de ferramentas para a outra mão. - Estou ótima, mas tenho um dia duro pela frente.

O sorriso dele parecia triste.

- Bem, não vou tomar seu tempo. Só queria ver se você estava bem. Sinto muito pelo outro dia, Anahi. Não parei para considerar como você poderia se sentir com aquela ida até a delegacia. Só queria que você e o sr. Herrera entendessem que estavam se comportando como tolos.

- Não importa. - Deu de ombros. - Você tinha de fazer alguma coisa ou a situação sairia de controle. Não foi culpa de ninguém, exceto minha, ter ido parar numa cela. Sei bem como me comportei.

- Mas ainda assim aquilo deve ter trazido de volta lembranças ruins para você, e lamento muito por isso.

Anahi largou a sacola de ferramentas no chão.

- Phil, você fez seu trabalho. É verdade que mexeu comigo, mas já me restabeleci. Vamos esquecer tudo isso, combinado?

Ele meneou a cabeça e olhou para baixo.

- Não posso. Prometi a Thomas que cuidaria de você, e decepcionei os dois.

Anahi se aproximou, tirou-lhe o quepe das mãos e jogou os braços ao redor do pescoço dele.

- Não decepcionou ninguém, Phil. Você é o melhor policial que conheço e um amigo sincero.

Ele a abraçou apertado e suspirou, aliviado.

- Sabe o quanto me preocupo com você, não, Any? - Encarou-a com os olhos marejados. - Thomas queria muito que fosse feliz.

O sorriso dela foi sincero dessa vez.

- Eu sou feliz.

- Será mesmo? Trabalha tanto... e eu nunca a vejo na cidade com um namorado.

A lembrança do beijo de Poncho estimulou-lhe os sentidos. O aroma dele, o gosto... a pele. Anahi deu risada, e as faces coravam.

- Não preciso de um namorado para ser feliz.

Ele arqueou uma sobrancelha grisalha.

- Ah, é? Notei certas faíscas brilhantes voando entre você e esse seu novo vizinho.

Ela sentiu as faces ainda mais quentes.

- Aquelas faíscas eram de raiva.

- Sei... Pareceu-me algo mais pessoal, isso sim.

Anahi devolveu-lhe o quepe e pousou as mãos na cintura.

- Era pessoal, Phil. Ele ia matar aquela árvore!

- Como você queira.

- Tenho de trabalhar.

- Tudo bem, já entendi. Apenas lembre-se: Thomas queria vê-la feliz.

- Eu sou feliz! - Sorriu.

Phil cruzou os braços, o que significava apenas uma coisa para Anahi: ia dizer suas últimas palavras sobre o assunto. Agradecendo a Deus em silêncio, ela deu ao amigo toda a sua atenção.

- Não vivi sessenta anos para não saber o que é felicidade, menina. Você jamais me fará acreditar que é feliz vivendo sozinha naquele imenso casarão antigo.

Ela chacoalhou a cabeça, mesmo ciente de que o assunto era causa perdida.

- Não estou sozinha. Moro com três amigos: Dulce, Maite e Oscar.

- Eles não contam. Você precisa de um homem.

O som retumbante da Harley chegou aos ouvidos de Anahi.

- E por que precisaria de um, Phil? Eu tenho Lance, e por acaso aí vem ele.

Phil lançou um olhar decepcionado para a barulhenta motocicleta.

- Esse, então, não conta mesmo.

Lance desligou o motor e jogou o filtro do cigarro depois de uma última tragada. Alto e magro, tinha uma boa aparência dentro da calça jeans, camiseta branca e botas de couro. As numerosas tatuagens concediam uma qualidade intimidadora a sua imagem. Ele passou a mão pelos cabelos loiros e atravessou o jardim. Vinte e um anos, pensou Anahi, e cheio de si.

- E aí, amigo? - Lance bateu nas costas de Phil, tirou os óculos espelhados e piscou para Anahi.

- Você está atrasado - ela o informou.

Lance deu de ombros.

- O que posso dizer? A noite foi longa. - Deu risada e abaixou-se para pegar a sacola de ferramentas de Anahi.

- Tenho de ir. - Phil não gostava muito de Lance e não fazia questão de disfarçar. - Ei, Any, quase me esqueço. Nós temos algumas denúncias de que há desocupados rondando esta área. Fique atenta.

- Ficaremos bem - ela o assegurou.

Lance passou um braço sobre os ombros de Anahi.

- Não se preocupe, oficial Gerard, cuidarei de minha chefe.

- Não sei por que, Lance, mas isso não me tranqüiliza muito. - Phil tornou a olhar para Anahi. - Se encontrar um desses sujeitos, não lhe dê dinheiro. Você já doou uma fortuna nos últimos três anos. Dessa vez, só para variar, pense em si mesma.

Ela bateu continência.

- Sim, senhor!

Ele achou graça, entrou na viatura e partiu.